Doação de óvulos: como funciona
procedimento no Brasil e quem pode fazer
Aline Caires, de 28
anos, diz que já perdeu as contas de quantas doações
de óvulos realizou.
Ela conta que passa
pelo procedimento a cada três meses e só deu uma pausa durante a pandemia de covid-19.
"Inclusive estou
me preparando para mais uma doação e, nos próximos dias, farei a coleta",
conta.
A criadora de conteúdo
diz que começou a fazer isso há cinco anos e que soube do procedimento por meio
da irmã, que também é doadora.
Em um relacionamento
com outra mulher há dois anos, a moradora de São Paulo afirma que ainda não tem
vontade de ser mãe, mas que sabe que, se quiser ter um filho, terá de recorrer
à reprodução assistida.
"Eu me sinto com
o coração quentinho e abraçado por poder de alguma forma ajudar mulheres a
realizarem o sonho da maternidade",
diz.
Para fazer a doação,
Aline recebe respaldo de uma clínica de fertilização assistida, como a
medicação usada, ajuda de custo para o transporte e alimentação no dia da
doação.
O pagamento pela
doação de óvulos é proibido no Brasil.
O processo para a
doação, conta Aline, começa 15 dias antes da doação.
Nesse período, ela faz
a aplicação de injeções de hormônios para estimular a produção de óvulos e, na
hora de fazer o procedimento, na clínica, é necessária sedação.
"Após a coleta,
eu preciso ficar de repouso por algumas horas na própria clínica",
explica.
Atividades físicas
mais pesadas e intensas também são proibidas por cerca de uma semana após o
procedimento.
Aline compartilha sua
rotina como doadora de óvulos nas redes sociais, onde tem mais de 347 mil
seguidores.
Ela conta que recebe
muitas dúvidas sobre o procedimento e sobre a prática de ser doadora. Tudo é
respondido com bom humor por ela.
"Muita gente
pergunta se não fico com a sensação de que os óvulos são meus filhos",
diz.
"Mas, não. Porque
são apenas óvulos, não passa disso e com isso não consigo ter afeto algum para
considerar filho."
·
Como funciona a doação
de óvulos no Brasil
A ovodoação, ou doação
de óvulos, é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) pela
resolução 2.320 de 2022.
A doação deve ser
sempre voluntária e não pode envolver pagamento, ou seja, ela não pode ter
caráter lucrativo ou comercial.
Ela pode ser direta
entre parentes de até quarto grau (pais, filhos, avós, irmãos, tios e primos)
ou anônima.
Quando a doação é
anônima, a doadora não sabe para quem serão destinados os óvulos e não tem
contato com a mulher que vai receber o material.
A idade mínima para
ser uma doadora é de 18 anos e máxima é de 37 anos.
Essa idade é colocada como limite porque
a partir dela as taxas de fertilidade começam a diminuir consideravelmente na
mulher e qualidade dos óvulos também é afetada, aumentando as chances de
mutações genéticas.
Após coletados os
óvulos, as doadoras não têm mais controle sobre eles.
Segundo o CFM, em
situações específicas, por motivação de saúde, podem ser fornecidas
exclusivamente aos médicos informações sobre as doadoras.
A quantidade de óvulos
que uma mulher pode doar depende do número de habitantes da cidade em que a
doação é feita.
A regra busca evitar
que uma doadora tenha produzido mais de dois nascimentos de crianças de sexos
diferentes em uma área de 1 milhão de habitantes.
"A exceção é
quando uma mesma família receptora escolher uma mesma doadora que pode, então,
contribuir com quantas gestações forem desejadas", explica João Dias, que
atende no setor de medicina reprodutiva do Hospital Israelita Albert Eistein e
é chefe da Originare, clínica de reprodução assistida.
·
Como ser doadora
A mulher que deseja
ser uma doadora voluntária de óvulos precisa procurar uma clínica especializada
em reprodução assistida ou hospitais que fazem tratamentos com óvulos doados.
Para passar pelo
procedimento, a doadora faz diversos exames de saúde para descartar infecções,
problemas ginecológicos ou genéticos.
Também é feita uma
investigação do histórico médico familiar.
Além disso, a doadora
não pode ter doenças como diabetes e hipertensão, já que essas comorbidades
podem ter alguma predisposição genética.
Se estiver apta, a
doadora precisa se preparar para a coleta e usar, por um período de 10 a 14
dias, injeções que estimulam a produção dos óvulos.
Nesse intervalo, cinco
ultrassons são realizados para acompanhar o processo.
A coleta é feita com
dia marcado. A mulher precisa ir até a clínica, e, sob efeito de sedação, os
óvulos são coletados.
"Os óvulos
podem ficar congelados por tempo
indeterminado, não há um prazo de validade", explica Paula Marin,
ginecologista colaboradora do Centro de Reprodução Humana do Hospital das
Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e sócia fundadora da Clínica
Venvitre Reprodução Assistida.
"Temos gestação
de óvulos congelados há mais de uma década, e esse tempo só tende a aumentar,
uma vez que o congelamento de óvulos é uma técnica relativamente recente, que
foi melhorando ao longo dos anos."
·
Doação pode reduzir
custos da fertilização in vitro
A doação de óvulos não
pode ter caráter comercial, mas o CFM autoriza que seja feita uma redução de
custos de tratamentos reprodutivos para as mulheres que são doadoras e
precisarão passar por uma fertilização in
vitro.
Nestes caso, em
específico, a doação precisa ser compartilhada.
Ou seja, uma mulher
que precisa fazer uma fertilização in vitro para ter filhos
pode doar alguns de seus óvulos para outra mulher que vai passar pelo mesmo
procedimento e não tem óvulos próprios.
A receptora, que
recebe os óvulos doados, arca com parte dos custos do tratamento da doadora,
que tem assim seu tratamento financeiramente viabilizado, explica Marin.
"As duas partes
saem ganhando. De forma geral, pode-se obter desconto de cerca de 40% no valor
da feritlização in vitro até abatimento quase total do valor
do seu tratamento", diz a ginecologista.
O procedimento de
fertilização in vitro custa, em média, R$ 24 mil reais,
incluindo as medicações e a primeira anuidade do congelamento, segundo o
Sistema Nacional de Produção de Embriões.
O valor da manutenção
do congelamento de óvulos e embriões é de R$ 1 mil a R$ 2 mil por ano.
Os procedimentos de
fertilização in vitro dobraram no Brasil na última década,
segundo os dados do relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões
(SisEmbrio).
Somente em 2022 foram
realizados mais de 42 mil ciclos de fertilização, o que representa um aumento
de 100% em comparação a 2012, quando foram realizados pouco mais de 21 mil
procedimentos.
Fonte: BBC News Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário