segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Tânia Maria de Oliveira: Bolsonaro e o medo da prisão

A divulgação do vídeo da reunião dos ministros e aliados do governo Bolsonaro, ocorrida no dia 5 de julho de 2022, que se encontrava no computador do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, e que veio à tona com o levantamento do sigilo pelo ministro Alexandre de Moraes é a prova definitiva de que a tentativa de golpe contra a democracia brasileira, que teve seu ápice no dia 8 de janeiro de 2023, não foi fruto dos desvarios de pessoas acampadas em frente aos quartéis: ela foi tramada dentro do Palácio do Planalto, sob o comando do próprio presidente, seus comandados e apoiadores.

As narrativas de Mauro Cid em sua colaboração premiada ganham provas concretas, como a elaboração e aprovação de uma minuta encontrada na sala ocupada por Jair Bolsonaro, na sede do Partido Liberal, que previa a decretação de estado de sítio no país após sua derrota nas urnas, a realização de novas eleições e a prisão de autoridades, entre elas os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco.

Além do vídeo, as trocas de mensagens entre auxiliares, fossem civis ou militares, com toda sorte de medidas ilegais para impedir a posse do presidente eleito, Lula da Silva (PT), eram tratadas sem qualquer pudor ou disfarce. A conversa em que o general Braga Neto chama de “cagão” o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, por não aderir à conspiração golpista é espantosa e reveladora da intensidade do propósito golpista.

Alvo da operação Tempus Veritatis, em que a Polícia Federal cumpriu 33 mandados de busca e apreensão, 4 mandados de prisão preventiva e 48 mandados de medidas alternativas, entre elas a apreensão de seu passaporte, Bolsonaro resolveu apostar na sua capacidade de mobilização e convocou um ato na avenida paulista para o domingo, 25 de fevereiro, em apoio ao “Estado Democrático de Direito”, em suas palavras, para se defender das acusações que segundo ele lhe são injustamente imputadas.

Bolsonaro e democracia nunca fizeram parte de uma mesma frase coerente senão na negativa. O ex-presidente e ex-militar sempre foi um defensor da ditadura, da tortura, um opositor ferrenho de que o Estado garanta direitos de minorias, de instituições independentes e fortes.

Quando conclama um ato em defesa do Estado Democrático de Direito, Bolsonaro joga com o preceito como jargão, do mesmo modo que faz exaustivamente ao defender o princípio da liberdade de expressão para a prática de discursos de ódio contra minorias e para propagar informações mentirosas. A narrativa não é apenas contraditória, é propositalmente voltada para uma inversão de ordem e de valores onde quem deseja abolir a Constituição e governar com armas e sem instituições se coloca como vítima, ao lado dos “homens bons” e da família cristã.

Ao chamar o ato do dia 25, Bolsonaro conseguiu seu primeiro intuito: pautou a imprensa e desviou o foco das investigações. Saber quem estará presente tomou o lugar dos desdobramentos da trama da tentativa de golpe para evitar as eleições ou burlar seus resultados.

Mas é fundamental enxergar que, ao convocar uma manifestação em sua defesa, Bolsonaro não está apenas testando sua popularidade e capacidade de mobilização. Ele mostra desespero e medo real de ser preso e aposta que é preciso garantir e fortalecer a narrativa de perseguição, se colocando como vítima.

Ao ficar calado no depoimento à Polícia Federal, Bolsonaro, o sempre falastrão, entendeu que pode se incriminar ao responder aos questionamentos. Como não tem alternativa para tentar sair das cordas, ele aposta alto e no risco.

Alto não em relação ao número de seus seguidores que estarão na avenida paulista. A considerar a organização de caravanas por apoiadores endinheirados, líderes políticos e religiosos, além da popularidade que ainda mantém, a manifestação pode ser numericamente grande.

O risco é que, caso haja repetição de qualquer ação dos atos anteriores, de agressão às instituições, seja em faixas, cartazes ou falas, ou violência de qualquer natureza, será desmascarada a já ineficaz tentativa de que o chamamento tenha caráter de manifestação “dentro das quatro linhas”, para usar o jargão do próprio Bolsonaro. Manifestações de confronto podem ser consideradas como reincidência do discurso golpista e incitação ao crime.

Nesse caso Bolsonaro terá dado um tiro no pé. E seu chamamento supostamente de protesto para se defender das acusações será revelado como o que é de fato: mais um agrupamento de pessoas para, sob o falso argumento de defender a democracia, atacá-la novamente.

·        Bolsonaro na mira: alvos disseram à PF que querem colaborar

Como Metrópoles informou neste sábado, entre os figurões do entorno de Jair Bolsonaro que acompanham de perto as investigações da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal que envolvem o ex-presidente há quem aposte que há outros delatores além de Mauro Cesar Cid.

Um investigador com amplo acesso ao caso jura que, até o momento, não há outros colaboradores. Mas faz uma importante revelação: nos depoimentos da chamada superquinta, quando o próprio Bolsonaro e um batalhão de aliados dele tiveram que comparecer à PF para serem interrogados, houve investigados que manifestaram interesse em virar colaboradores.

Os nomes deles, por óbvio, são mantidos em segredo.

APÓS FICAR EM SILÊNCIO, EX-ASSESSOR DE BOLSONARO PEDE NOVO DEPOIMENTO

A defesa do ex-assessor de Jair Bolsonaro, coronel do Exército Marcelo Câmara, pediu nesta sexta-feira (23) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que seja realizado um novo depoimento à Polícia Federal (PF), no âmbito da Operação Tempus Veritatis. Na quinta-feira, porém, o militar permaneceu em silêncio durante a oitiva da PF.

O ex-assessor não respondeu às perguntas dos investigadores, pois não estava acompanhado de seu advogado, Eduardo Kuntz. O defensor, na ocasião, acompanhou o depoimento de outro cliente, o também ex-assessor de Bolsonaro Tércio Arnaud. A Polícia Federal marcou os depoimentos para o mesmo horário a fim de coibir combinação de versões.

“A defesa do coronel Marcelo Câmara esclarece que não teve oportunidade de responder às perguntas, pois a autoridade policial disse que não tinha tempo para aguardar o encerramento do depoimento de Tércio Arnaud”, justifica o advogado em nota divulgada pela imprensa.

A PF, por outro lado, rebate a versão da defesa. Segundo a corporação, o ajudante de ordens foi intimado com “antecedência regulamentar”. Apesar de poder depor sem a presença de um advogado, a Câmara manteve-se em silêncio. Para Kuntz, seu cliente “foi coagido a usar do silêncio, sem a presença de sua defesa técnica”, sobretudo pela sua “intenção de “de colaborar com as investigações”.

Após o depoimento, Marcelo Câmara foi levado à prisão às 18h. Desde 8 de fevereiro, deflagração da Operação Tempus Veritatis, o coronel está preso preventivamente. Ele e Arnaud são apontados pelas investigações como participantes do núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro.

 

Ø  Traidores das Diretas Já! Por Alex Solnik

 

No ensolarado 25 de janeiro de 1984, São Paulo deu o pontapé inicial da jornada que culminou com o encerramento da ditadura militar que durava 20 anos.

Ouviu-se, na lotada Praça da Sé, o primeiro grito pela liberdade, contra as cassações, contra as prisões arbitrárias, contra a tortura.

Dentre os líderes desse episódio inesquecível das Diretas Já, Mário Covas, que seria governador nos anos 90, ocupava lugar de destaque.

Seu neto e herdeiro político, Bruno Covas, foi eleito prefeito de São Paulo em 2020. Derrubado pela doença, morreu no cargo, dando lugar a seu vice, Ricardo Nunes, atual prefeito.

Político inexpressivo, amorfo, sem nenhuma história, sem realizações, sem discurso, agarra-se ao sobrenome Covas para se reeleger.

A estratégia começa a ir por água abaixo a partir de hoje.

Neste domingo, 25, mas de fevereiro, uma caravana infame invade São Paulo em apoio ao ex-presidente que será condenado por tentativa de golpe de estado, o maior crime que é possível cometer contra a democracia, tantas são as provas já apresentadas contra ele e seu grupo.

A Justiça ainda não deu a sentença, o que é só uma questão de tempo.

Além de permitir a invasão intolerável, Nunes promete estar no palanque, ao lado daquele que representa tudo contra o que Mário Covas sempre lutou. E venceu.

Todos que compartilharem aquele palanque estarão apoiando o golpe de estado, a ditadura que Bolsonaro tentou viabilizar até o último minuto de seu repugnante governo.

Talvez eles não saibam, mas vão ficar sabendo, que São Paulo tem ódio e nojo dos que apoiam ditadores.

Todos naquele palanque são traidores das Diretas Já.

 

Fonte: Jornal GGN/Metrópoles/Congresso em Foco/Brasil 247

 

Nenhum comentário: