Ricardo
Lodi: Genocídio em Gaza - Lula teve a coragem de dizer o que precisava
ser dito
Demorei um pouco para
me manifestar sobre a declaração de Lula a respeito do conflito de Gaza pois
achei que a racionalidade estava escassa nesse debate. Por isso, preferi deixar
a poeira baixar para consegui resumir o que penso a respeito.
Desde logo, já adianto
que acho que Lula teve uma coragem gigantesca em enfrentar um tema que
muitos líderes mundiais estão evitando comentar.
Em segundo lugar, é
preciso que líderes mundiais com a respeitabilidade de Lula enfrentem esse tema
a fim de tentar fazer cessar essa carnificina contra a população civil
palestina. O grande pecado aqui é a omissão.
Não me parece que
possa ser esquecido desse debate os atos terroristas praticados pelo Hamas e
nem a posição radical de muitos que defendem a causa palestina contra a
existência do Estado de Israel. Nem cabe nesse espaço discutir as razões
das intermináveis questões que envolvem os conflitos árabes-israelenses.
Porém, a despeito
disso, é forçoso reconhecer que o governo de extrema direita de Netanyahu se
aproveita da posição extremista do Hamas para atacar a população civil de Gaza.
E essa postura não pode ser admitida pela comunidade internacional, que, após a
Segunda Guerra Mundial, viabilizou a instituição do Estado de Israel. A
atuação de um Estado membro da comunidade internacional nunca pode ser
comparada a atuação de grupos paramilitares.
A extrema direita
israelense, em postura que tem sido aproveitada pela oposição brasileira ao
governo Lula, tem repudiado com violência a declaração do presidente sobre o
argumento de que não se pode comparar Gaza com o Holocausto, seja
quantitativamente, seja qualitativamente.
No entanto, ao
analisar a declaração de Lula fica claro que não se pretendeu tal
comparação.
O que Lula disse foi
que as violações aos direitos dos civis que acontecem em Gaza só existiram
quanto Hitler resolveu matar os judeus. Entendo que a declaração possa
causar desconforto entre os que não admitem que o tema do Holocausto seja
trazido a qualquer debate. Mas não se pode extrair dali a conclusão de que
haja uma equiparação dos dois fenômenos.
O que Lula deixou
claro é a incoerência de usar o sofrimento do povo judeu no Holocausto,
tragédia de perversidade inigualável na história da humanidade, para legitimar
ações de um governo de extrema direita que podem ser comparadas sim às ações
que a extrema direita, inclusive Hitler contra os judeus, fez uso
historicamente.
É de um confortável
simplismo considerar antissemita qualquer declaração contrária ao governo de
extrema direita em Israel.
Interessante perceber
que, excetuando-se a extrema direita israelense e a oposição brasileira, que
esperam obter dividendos políticos do episódio, a declaração de Lula foi
recebida na comunidade internacional como um importante e corajoso "basta"
às ações ilegais do governo de Israel contra a população civil de
Gaza. Com o passar dos dias se percebe que Lula saiu internacionalmente
fortalecido do episódio.
Por aqui é patético o
pedido de impeachment de Lula assinado por mais de uma centena de deputados
brasileiros em razão da declaração. Se não fosse juridicamente absurdo seria o
primeiro impeachment por um clamor pela paz. Mas é jogo para arquibancada.
Ainda é cedo pra analisar as consequências eleitorais da declaração, mas tenho
certeza de que em futuro próximo poucos líderes discordarão da declaração do
presidente brasileiro.
Ø
Não só Lula. 50 pesquisadores do Holocausto
criticam Israel por 'incitamento ao extermínio'
Enquanto nossa mídia
continua vocalizando as ofensas do Chanceler de Israel Israel Katz ao
presidente Lula e o tratamento humilhante dado ao
nosso embaixador naquele país, é bom lembrar que a fala de Lula comparando
ações do governo de Israel às de Hitler foi usada antes, no início do
ano, por 50 pesquisadores do Holocausto.
Eles escreveram uma
carta ao presidente do Yad Vashem [memorial oficial de Israel para lembrar as
vítimas judaicas do Holocausto] , Dani Dayan, para expressar um "apelo
moral inequívoco condenando o discurso público que apela ao extermínio e à
prática de crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza".
O jornal
israelense Haaretz publicou a matéria com destaque, usando inclusive
a palavra "genocídio", que não foi dita por Lula:
"O
'incitamento ao extermínio' ouvido nas palavras de autoridades e personalidades
israelenses 'pode atingir o estágio do genocídio', dizem os investigadores.
Eles estão convocando o Yad Vashem para aprender com as lições do
Holocausto".
São pesquisadores do
Holocausto fazendo advertência ao governo de Israel por práticas semelhantes
aos do Holocausto. Antes de Lula.
Na carta, os
investigadores citam políticos eleitos, personalidades dos meios de comunicação
social e pessoas nas redes sociais de Israel que fizeram declarações neste
espírito, semelhantes às citadas na acusação contra Israel que foi submetida ao
Tribunal Internacional de Justiça em Haia pela África do Sul.
"Nós, os
abaixo assinados, sabemos pela história judaica e humana, especialmente pelo
estudo do Holocausto e da sua memória, que o incitamento ao extermínio e à
prática de crimes graves, usando uma linguagem que cria a desumanização e a
incriminação de todos os membros de um grupo rival dentro de um conflito, são
em muitos casos um primeiro passo para cometer crimes que podem atingir o
estágio de genocídio", escreveram os pesquisadores.
A carta é
assinada por pesquisadores da Universidade Hebraica, da Universidade de Tel
Aviv, da Universidade de Haifa e da Universidade Ben Gurion.
Portanto, como disse
o assessor para assuntos internacionais da presidência da República, Celso
Amorim, comentando a frase do Chanceler de Israel de que Lula deveria se
desculpar por suas palavras ( “O que está acontecendo na Faixa Gaza não
existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu
matar os judeus”):
—
"Não há hipótese de pedido de desculpas. Quem tem que pedir desculpas é
Israel, e não é ao Brasil, mas à humanidade".
Ø
Nas redes sociais, Lula reverte repercussão
negativa sobre Israel
Um estudo feito pela
empresa de dados Arquimedes mostra uma reversão na repercussão da declaração do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a guerra entre Israel e Hamas.
O levantamento feito
pela empresa mostra que, no domingo (18), no dia em que o brasileiro comparou o
conflito com o Holocausto, as menções negativas representavam 57% do total.
Na segunda-feira (19),
no entanto, após o governo petista iniciar movimento de defesa do presidente,
as menções positivas passaram a representar 61%.
No domingo, Lula
comparou a invasão de Gaza por Israel para revidar o ataque do Hamas ao
genocídio dos judeus por Hitler, o que gerou forte reação do governo
israelense, que o declarou pessoal não grata.
Nesta terça-feira
(20), uma conta oficial da diplomacia israelense ironizou o Brasil nas redes
sociais e acusou o presidente brasileiro de negar o Holocausto.
Fontes do Palácio do
Itamaraty lembram que Lula não negou o Holocausto e dizem que, por enquanto,
não vão responder à provocação.
As atenções da
chancelaria estão voltadas para uma manifestação brasileira hoje na Corte
Internacional de Justiça em Haia, onde o país planeja reiterar que Israel
comete genocídio de palestinos — uma definição controversa.
Ø
Israel insiste em embate; fontes do governo
brasileiro falam em exploração do sofrimento de vítimas
O chanceler isralense,
Israel Katz, voltou a publicar nas redes sociais uma provocação ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta-feira (21).
Fontes do governo
afirmam que, por enquanto, não pretendem responder e dizem que o foco atual é a
preparação do país para o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo).
Nos bastidores, no
entanto, dizem que postagem é um “show” com uso do sofrimento das vítimas.
Em um vídeo publicado
na plataforma X (antigo Twitter) nesta quarta-feira (21), Katz aparece ao lado
de uma brasileira que participou do festival de música durante o ataque do
Hamas, em outubro de 2023.
O chanceler de Israel
diz que “após a comparação entre a nossa guerra justa com o Hamas e os atos
desumanos de Hitler e os nazistas”, Lula deveria ouvir a
mensagem da brasileira.
Em um trecho do vídeo,
Rafaela Triestman afirma se sentir esquecida pelo governo do brasileiro.
“O Brasil, o governo
brasileiro, em nenhum momento entrou em contato comigo, com Rafael Zimmerman,
com Jade Cocher, com Ranani Glazer, com a família de Ranani Glazer, que foi
brutalmente assassinado no dia 7 de outubro, com a família da Karen, que foi brutalmente
assassinada no ataque do dia 7 de outubro, com a família da Bruna, foi
brutalmente assassinada no dia 7 de outubro e, realmente o governo não foi
mobilizado e simplesmente nós sentimos que esqueceram da gente.”
Diplomatas ouvidos
pela CNN falam em “covardia” e dizem que o vídeo é
“repugnante”.
Uma fonte no Planalto
lembra que o Brasil condenou os ataques do Hamas, pediu a libertação dos reféns
e ofereceu retorno a todos os brasileiros e israelenses que quisessem deixar o
país.
Para diplomatas, a
publicação é mais uma manipulação do governo isralense.
“Falta de respeito com
a brasileira com a tragédia que ela viveu, ela passou por uma experiência
traumática e o que se espera que ela fale? Ela vai dizer a experiência dela, o
lado dela”, comentou uma fonte sob a garantia do sigilo.
Parte do corpo
diplomático também acredita que essa é uma tática do governo de Israel para
manipular o sentimento das pessoas.
Aliados de Lula
afirmam ainda que o presidente brasileiro sempre tentou atuar para auxiliar em
uma saída pacífica para o conflito. Destacam que a pedido do presidente de
Israel, Isacc Herzog, Lula conversou no início da guerra com países mediadores
para falar sobre a situação dos reféns israelenses.
Na ocasião, Lula fez
contatos com o Qatar, Egito, Autoridade Palestina e Irã. Na época, Lula chegou
a conversar três vezes com o presidente israelense. Duas por telefone e uma
pessoalmente, a pedido do próprio presidente de Israel, em Dubai (Emirados Árabes
Unidos).
Após as falas de Lula,
porém, o presidente israelense condenou o discurso de Lula publicamente.
Fonte: Fórum/CNN Brasil
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