sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Remédios para Yanomami foram achados até em fossa em Roraima

Os medicamentos encontrados em uma casa abandonada no bairro São Francisco, na zona Norte de Boa Vista, estavam dentro de sacos de lixo e jogados até dentro de uma fossa, segundo a Polícia Civil. A suspeita é que eles seriam queimados no local. Os remédios seriam destinados para os indígenas da Terra Yanomami.

Ao encontrar os medicamentos, os agentes identificaram que havia "início de queima" deles. Os medicamentos não foram catalogados pela Polícia Civil, mas os agentes estimam que tinham mais de 50 caixas de remédios entre anestésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e outros.

"A gente viu que a dinâmica seria descartar esse medicamento queimando", explicou Magnólia Soares, delegada titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Administração Pública (DRCAP).

À princípio, agentes investigavam denúncias sobre o tráfico de drogas quando fizeram buscas no imóvel e acharam os remédios, nessa quarta-feira (31).

A Polícia Civil constatou que os remédios eram destinados ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) — órgão do Ministério da Saúde (MS) responsável pela saúde indígena Yanomami e, com isso, acionou a Polícia Federal.

Em nota, a PF informou que "não possui informações a serem disponibilizadas para imprensa sobre o caso".

Em entrevista ao g1 e à Rede Amazônica, a delegada Magnólia Soares explicou que pela maneira como os medicamentos estavam parecia que a ideia era mesmo descartá-los.

"Em torno do quintal da residência nós encontramos uma fossa inativa, também com vários medicamentos jogados lá dentro. A ideia era um descarte mesmo para que não viesse à tona a localização desses medicamentos, que já estão vencidos desde 2021", explicou Magnólia.

Imagens divulgadas pela Polícia Civil mostram frascos dos medicamentos encontrados pela Polícia Civil eram, a maioria, de:

Os policiais civis também encontraram frascos de Permenati, remédio utilizado para o tratamento contra parasitas, como piolhos e ácaros. A suspeita é de que todos eles estavam vencidos, a maioria desde 2021.

Os frascos foram encontrados jogados em sacolas, em caixas, alguns sujos com poeira e terra. Em uma das imagens é possível ver os lotes nas caixas dos medicamentos, sendo eles: 1922002 e 1921868.

Procurada, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, disse que repudia "o descarte dos medicamentos" e que a pasta irá colaborar com as investigações, fornecendo todas as informações necessárias às autoridades.

"Desde o início da atual gestão, o Ministério da Saúde trabalha no fortalecimento de medidas e ações para a reestruturação dos Distritos Sanitários Indígenas para retomar a assistência aos Yanomami, após anos de abandono e negligência à saúde indígena", disse o órgão.

Ainda de acordo com a delegada, os agentes chegaram a um possível proprietário do imóvel e fizeram contato por telefone. As informações sobre ele foram repassadas para a Polícia Federal, que apreendeu os medicamentos.

·        Operação Yoasi

Em outubro de 2023, a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Yoasi, que investiga suspeitos de lavar recursos do desvio de medicamentos destinados ao povo Yanomami. Na ocasião, foram cumpridos 4 mandados de busca e apreensão.

Os investigados são empresário e servidores do Dsei-Y que investiram quantias de dinheiro em empresas suspeitas para tentar fazer com que parecesse que o dinheiro desviado era legal.

A primeira fase da operação, deflagrada em novembro de 2022, investigou o suposto esquema que teria deixado mais de 10 mil crianças Yanomami desassistidas, com a efetiva entrega de apenas 30% dos medicamentos adquiridos pelo Dsei-Y.

Maior território indígena do Brasil, a Terra Indígena Yanomami passa por uma grave crise humanitária e sanitária em que dezenas de adultos e crianças sofrem com desnutrição grave e malária. Desde o dia 20 de janeiro de 2023, a região está em emergência de saúde pública.

 

Ø  Associação Yanomami cobra investigação sobre medicamentos vencidos encontrados em casa abandonada em Boa Vista

 

O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Kopenawa, cobrou, nesta quinta-feira (1º), investigação sobre os remédios vencidos desde 2021 que seriam destinados aos indígenas Yanomami e foram encontrados pela Polícia Civil em uma casa abandonada no bairro São Francisco, na zona Norte de Boa Vista.

A HAY é a associação mais representativa do povo Yanomami. No ano de 2021, a Terra Indígena Yanomami já enfrentava crise na saúde. A falta de medicamentos foi alvo duas vezes de operação da Polícia Federal.

Dário pediu que órgãos como o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal (PF) e o Ministério da Saúde apurem o caso e investiguem a gestão que à época coordenava o Distrito Sanitário Indígena Yanomami (Dsei-Y), órgão ligado ao Ministério da Saúde, responsável pelos medicamentos.

"É um absurdo, esses remédios iriam fazer os tratamentos para salvar as crianças, para curar doenças que são mais perigosas. Queremos que as autoridades, o Ministério Público, a Polícia Federal e outras instituições do governo, façam uma investigação profunda. Esse dinheiro foi jogado fora e era para os Yanomami, para prestar assistência", disse a liderança ao g1.

g1 procurou o MPF e a PF, citados pelo vice-presidente e aguarda resposta.

Procurada, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, disse que repudia "o descarte dos medicamentos" e que a pasta irá colaborar com as investigações, fornecendo todas as informações necessárias às autoridades.

"Desde o início da atual gestão, o Ministério da Saúde trabalha no fortalecimento de medidas e ações para a reestruturação dos Distritos Sanitários Indígenas para retomar a assistência aos Yanomami, após anos de abandono e negligência à saúde indígena", disse o órgão.

Na avaliação de Dário, esses medicamentos poderiam ter "poupado a vida" de crianças e adultos que morreram por falta de assistência.

"Por isso, cobramos investigação. Quem são responsáveis? Quem eram os coordenadores da gestão passada? Quem era o responsável de farmacêutica no Distrito Yanomami que cuidava do abastecimento dos remédios? A Justiça precisa correr atrás para investigar as pessoas e como a gestão passada não cuidou bem, não distribuiu e não abasteceu os remédios na Terra Yanomami. Isso é muito triste e perdemos bastante as nossas crianças", disse.

Na ação da Polícia Civil, foi identificado que as caixas estavam endereçados ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) -- órgão do Ministério da Saúde responsável pela saúde indígena Yanomami.

“Os policiais da DRE [Delegacia de Repressão a Entorpecentes] ao se depararem com esses medicamentos acionaram a equipe da DRCAP. Nas buscas no local, constatamos que os medicamentos eram destinados ao DSEI Yanomami. Eram muitas caixas, com diversos medicamentos, muitos vencidos desde 2021. Desta forma, entendemos que não era competência da Polícia Civil e acionamos a Polícia Federal”, destacou a delegada Magnólia Soares, da DRCAP.

Os frascos foram encontrados jogados em sacolas, em caixas, alguns sujos com poeira e terra. Em uma das imagens é possível ver os lotes nas caixas dos medicamentos, sendo eles: 1922002 e 1921868. Procurado, o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou sobre o assunto.

 

Ø  Garimpo na terra Yanomami voltou com a redução da fiscalização, aponta jornalista

 

Segundo o jornalista Rubens Valente, entidades indígenas percebem o recrudescimento do garimpo na Terra Yanomami desde o segundo semestre de 2023.

"Tanto em regiões que nunca foram retiradas, quanto no retorno de garimpeiros que haviam saído, muitas vezes operando a partir de bases de aviões na Venezuela", disse o escritor e jornalista da Agência Pública em entrevista ao podcast O Assunto desta quinta-feira (1º).

Isso coincide, segundo ele, com a redução de fiscalização.

"Esse movimento de retorno coincide com uma redução das atividades de fiscalização e controle dentro do território."

Maior reserva indígena do Brasil em extensão territorial, a Terra Indígena Yanomami viveu grave crise sanitária em janeiro do ano passado. Na época, o Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública para enfrentar a desassistência na região. A portaria foi publicada em edição extra do "Diário Oficial da União" após o registro de casos de desnutrição severa e de malária.

"Essas atividades dependem muito das Forças Armadas, porque lá são regiões de grande distância. Por exemplo: de uma pista de pouso do Exército até uma aldeia são 400 km. Então, essa redução na atividade das Forças Armadas parece ter sido determinante para o cenário que hoje nós percebemos", avalia Rubens.

·        'Comida não chegava à boca dos indígenas'

O jornalista também falou sobre a entrega de cestas básicas na Terra Yanomami no lado do Amazonas, o que deve ser feito por meio fluvial. Reportagem da Agência Pública revelou que, até novembro de 2023, 40 mil cestas básicas disponibilizadas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) aguardavam a distribuição.

"Segundo as informações que eu tenho, não chegaram a ser entregues. O que aconteceu foi que piorou o cenário. Aquelas 5.000 cestas se acumularam a outras 35.000 cestas. Em novembro do ano passado, havia 40.000 cestas básicas aguardando distribuição na Terra Yanomami", disse ele.

"O que é incrível porque nós temos, ao mesmo tempo, 29 Yanomami mortos por desnutrição em 2023. Ou seja, havia comida, a comida não chegava à boca dos indígenas."

 

Fonte: g1

 

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