Carlos Carvalho: Não há nada de errado no
comentário feito por Lula
Tempos indóceis exigem
líderes com posicionamentos firmes acerca dos desmandos que costumam ocorrer,
quando a mão de ditadores e genocidas pesa sobre os fracos e indefesos. Nesses
momentos, os homens e as mulheres que governam o mundo têm a obrigação de erguer
suas vozes, pois se você fica neutro em situações de injustiça, lembra Desmond
Tutu, você escolhe o lado do opressor.
Em viagem à Etiópia, o
presidente Lula subiu o tom e ao falar à imprensa sobre o extermínio do povo
palestino, disse: “o que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum
outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.
Como grande estadista que é Lula disse o que deveria ser dito por todo
estadista. Lula não mentiu. Lula não se omitiu. Ao contrário, reafirmou seu
posicionamento e se firmou ainda mais como um dos maiores políticos de todos os
tempos. Como alguns tentaram fazer crer, o discurso de Lula não é contra o povo
judeu, como nunca foi, mas contra os desmandos de um governante cujas ações
estão completamente fora de qualquer controle.
Isolado e caindo
rapidamente em desgraça aos olhos da comunidade mundial, eis que o governante
em questão declara Lula persona non grata. Ressalte-se que a
comparação feita pelo presidente brasileiro já foi feita por Hannah Arendt,
Erdogan, Macron e pela escritora Masha Gessen. Mais recentemente, a
pesquisadora Arnesa Buljušmić-Kustura, uma das maiores estudiosas de genocídios
do mundo afirmou (ver sua conta no X, em 19/02/24), que não há nada de errado
no comentário feito por Lula. E complementou: "A única questão acerca do
comentário é que Lula está claramente esquecendo-se de outros genocídios que
ocorreram depois do Holocausto (Bósnia, Ruanda, Sudão, etc.). Fora isso, não há
nada de errado com este comentário. É uma comparação justa baseada nas ações e
atitudes de Israel". Em outras palavras, Lula tem razão.
O referido governante
já começa a perder a serventia. O ocidente o olha de banda e seu titereiro, que
quer a reeleição, não tem como esconder a montanha de cadáveres, em sua
maioria, civis, mulheres e crianças, enquanto o mundo sabe que não há
absolutamente nada que justifique a limpeza étnica em curso. Não é guerra,
quando apenas um dos lados, armado até os dentes com tudo o que há de mais
moderno em treinamento e armas, mata indiscriminadamente mulheres e crianças.
Não é antissemitismo dizer a verdade e denunciar crimes de guerra. O nome para
isso é decência em defesa da dignidade humana. Lula tem razão!
No Brasil, no entanto,
a imprensa comercial gourmet se assanha, convocando seus “especialistas” para
“analisar” o discurso de Lula, buscando cabelo em ovo e anunciando as sete
pragas que se abaterão sobre o país por conta do que disse o presidente. Curioso
mesmo é que tais “jornalistas” e seus “especialistas” amestrados passaram
quatro anos levando porrada do sujeito que empurraram goela abaixo do povo, e
que deixou um rastro de roubalheira, sangue, morte e destruição ao sair da
presidência. E como seu “alecrim dourado” vai puxar uma cana, levando consigo
boa parte da sua trupe golpista é necessário buscar uma distração, uma cortina
de fumaça, como fizeram quando o genocida que colocaram no poder matou por
volta de 700 mil pessoas.
Luiz Inácio falou. E
Luiz Inácio sabe muito bem o que fala, quando fala, para quem fala. Que cada
país chame seus embaixadores! Faz parte do jogo diplomático. Lula pautou o
debate e colocou o guizo no pescoço dos políticos extremistas locais, playboys
que exploram pobres em programas de auditório e “enxadristas” que posam de
intelectual em “jornalísticos” de baixíssima qualidade. Em tempos tão indóceis,
temos a chance de estar lado a lado com Lula, Susan Sarandon e Roger Waters ou
sermos macetados por eles. Então, que tipo de ser humano vamos ser quando
crescermos?
Ø
Chanceler de Israel que vem atacando Lula
diz que líder neonazi é “amigo” do país
O chanceler
israelense, Israel Katz, chamou Geert Wilders, líder do partido holandês de
extrema-direita PVV (Partido pela Liberdade), de “verdadeiro amigo de Israel”
em post nas redes sociais. A sigla liderada por ele já usou símbolos
neonazistas para protestar.
A sigla gerou
repercussão mundial em 2018 após seus militantes participarem de protesto
utilizando bandeiras com as cores laranja, branco e azul, as mesmas usadas pelo
Dutch NSB, o Movimento Nacional Socialista nos Países Baixos, durante a Segunda
Guerra Mundial.
O PVV também é
conhecido por ser anti-islâmico e por atacar muçulmanos na Holanda.
Mesmo assim, o
chanceler israelense considera o líder do partido um “amigo” de seu governo.
Nesta terça (20), ele relatou que teve uma conversa com Geert Wilders e o
chamou de “parceiro do povo israelense em valores partilhados”.
A publicação foi feita
em meio a uma crise diplomática entre os governos de Israel e do Brasil. O chanceler tem feito provocações diárias ao presidente Lula desde que ele comparou, no último domingo (18), os ataques
contra Gaza ao Holocausto. Foi ele que conferiu a Lula o título de
“persona non grata” em seu país.
Ele tem pressionado o
petista para que faça uma retratação após a comparação entre os ataques
israelenses ao povo palestino e o extermínio de judeus promovido por Adolf
Hitler durante o regime nazista.
Ø
Liszt Vieira: A metáfora de Lula, a mídia e
o massacre de palestinos
O Governo de Israel
matou mais de 30 mil civis na Palestina. Bombardeou 34 hospitais e 104 escolas
e universidades. Milhões de pessoas estão sem condições mínimas de
sobrevivência: sem comida, remédios, condições sanitárias e abrigo.
O nome desse
extermínio é genocídio. Mas a mídia ignora isso e prefere criticar a denúncia
de Lula que usou uma comparação que pode ser chamada de metáfora. O Holocausto
foi um massacre de 6 milhões de judeus. O extermínio de palestinos é um
massacre de, até agora, 30 mil civis, dos quais mais de 10 mil crianças.
O Governo de Israel
não é proprietário da palavra Holocausto. Essa palavra pode ser usada por
qualquer um, como metáfora de extermínio, embora sejam diferentes o extermínio
de judeus – e também de socialistas, comunistas, homossexuais, portadores de
necessidades especiais e ciganos - pela Alemanha nazista e o extermínio atual
de palestinos pelo governo neofascista de Israel. As condições são muito
diferentes no que se refere a quantidade de pessoas assassinadas, situação
histórica, condições políticas etc.
É verdade que, mudando
a quantidade, muda a qualidade, mas a metáfora não é uma imitação. Uma
comparação metafórica de X com Y não significa que X seja igual a Y. Significa
que ambos têm algo em comum. Por definição, metáfora é uma figura de linguagem
utilizada para fazer comparações por semelhança. É o uso de uma palavra com o
significado de outra. No caso, o que existe em comum é o extermínio em massa de
pessoas inocentes.
Lula só foi criticado
pelo governo de Israel e pela mídia brasileira. Nenhum Governo, de nenhum país,
criticou Lula, que se tornou uma referência importante para a opinião pública
mundial, escandalizada com o genocídio dos palestinos. Lula colocou o dedo na
ferida e penetrou no coração das trevas. A mídia brasileira, porém, prioriza a
decisão de Israel de considerar Lula como persona non grata. O embaixador
brasileiro, humilhado em Israel, foi chamado de volta ao Brasil. Uma pequena
crise diplomática que está sendo usada como vã tentativa de tapar o sol com a
peneira e ignorar o genocídio dos palestinos.
Na realidade, o atual
Governo de Israel sempre apoiou o governo Bolsonaro, e autorizou a venda de
equipamento de espionagem para Bolsonaro espionar seus adversários políticos. A
extrema direita no Brasil conta agora com uma nova base de apoio: o desenvolvimento
atual do chamado sionismo cristão, bandeira dos neopentecostais com seu apoio
irrestrito a Israel.
Manifestações de
massa, em todo o mundo, protestaram nas ruas contra o massacre de palestinos.
Organizações de judeus progressistas condenaram com veemência a guerra de
extermínio levada a cabo pelo governo de Netanyahu. Mas isso vem de longe. Logo
após a criação do Estado de Israel pela ONU em 1948, o novo governo decidiu que
“a fronteira será definida pela guerra”. Assim, Israel rapidamente tornou-se um
país colonialista que invadiu terras da Palestina, expulsou seus moradores e,
muitas vezes, violou mulheres e matou civis nas aldeias, conforme depoimento de
antigos soldados do Exército de Israel.
O antissemitismo vem
sendo usado como pretexto para defender o atual governo de extrema direita de
Israel. O antissionismo e o antissemitismo são colocados no mesmo saco. O
Holocausto é usado como um argumento passe partout para justificar a invasão da
Palestina e o extermínio de seus habitantes. No Brasil, quem criticava o
governo Bolsonaro era chamado de anti patriota pela direita. Da mesma forma,
quem critica o atual governo Netaniahu é chamado de antissemita.
Em 20 de fevereiro
último, o Governo Norte-americano vetou pela 3ª vez o cessar-fogo em Gaza no
Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos usaram seu poder de veto para
rejeitar uma resolução de cessar-fogo na Faixa de Gaza proposta durante reunião
do Conselho de Segurança da ONU (UOL, 20/2/2024). Por outro lado, o diplomata
Celso Amorim disse que a fala de Lula “sacudiu o mundo e pode ajudar a resolver
a questão da guerra”.
Em meio à crise
diplomática com Israel, o Governo Brasileiro pediu que a Corte de Haia declare
ilegal a ocupação por Israel dos territórios palestinos. A Delegação brasileira
defende a criação de dois Estados. "A ocupação de Israel dos territórios palestinos
que persiste desde 1967 em violação ao direito internacional e a várias
resoluções da Assembleia-Geral da ONU e do Conselho de Segurança não pode ser
aceita, muito menos normalizada", afirmou a diplomata Maria Clara Paula de
Tusco, representante do Brasil no Tribunal. Ela defendeu que a Corte declare a
ocupação israelense ilegal (G1 e UOL, 20/2/2024).
Não há solução militar
para o conflito de Israel com a Palestina. Mas o atual Governo de Israel
precisa de guerra para sobreviver. Sabe que pode cair se e quando a guerra
terminar. Com o apoio dos EUA, o governo israelense conquistou vitórias
militares, mas perdeu a batalha política na opinião pública e se tornou inimigo
da sociedade civil mundial e de seus valores humanitários. Sem apoio político,
os tiranos não se sustentam por muito tempo. O mundo dá voltas. A longo prazo,
as vitórias de hoje podem ser uma vitória de Pirro.
Fonte: Brasil 247/DCM
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