sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Carlos Carvalho: Não há nada de errado no comentário feito por Lula

Tempos indóceis exigem líderes com posicionamentos firmes acerca dos desmandos que costumam ocorrer, quando a mão de ditadores e genocidas pesa sobre os fracos e indefesos. Nesses momentos, os homens e as mulheres que governam o mundo têm a obrigação de erguer suas vozes, pois se você fica neutro em situações de injustiça, lembra Desmond Tutu, você escolhe o lado do opressor. 

Em viagem à Etiópia, o presidente Lula subiu o tom e ao falar à imprensa sobre o extermínio do povo palestino, disse: “o que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.  Como grande estadista que é Lula disse o que deveria ser dito por todo estadista. Lula não mentiu. Lula não se omitiu. Ao contrário, reafirmou seu posicionamento e se firmou ainda mais como um dos maiores políticos de todos os tempos. Como alguns tentaram fazer crer, o discurso de Lula não é contra o povo judeu, como nunca foi, mas contra os desmandos de um governante cujas ações estão completamente fora de qualquer controle. 

Isolado e caindo rapidamente em desgraça aos olhos da comunidade mundial, eis que o governante em questão declara Lula persona non grata.  Ressalte-se que a comparação feita pelo presidente brasileiro já foi feita por Hannah Arendt, Erdogan, Macron e pela escritora Masha Gessen. Mais recentemente, a pesquisadora Arnesa Buljušmić-Kustura, uma das maiores estudiosas de genocídios do mundo afirmou (ver sua conta no X, em 19/02/24), que não há nada de errado no comentário feito por Lula. E complementou: "A única questão acerca do comentário é que Lula está claramente esquecendo-se de outros genocídios que ocorreram depois do Holocausto (Bósnia, Ruanda, Sudão, etc.). Fora isso, não há nada de errado com este comentário. É uma comparação justa baseada nas ações e atitudes de Israel". Em outras palavras, Lula tem razão.

O referido governante já começa a perder a serventia. O ocidente o olha de banda e seu titereiro, que quer a reeleição, não tem como esconder a montanha de cadáveres, em sua maioria, civis, mulheres e crianças, enquanto o mundo sabe que não há absolutamente nada que justifique a limpeza étnica em curso. Não é guerra, quando apenas um dos lados, armado até os dentes com tudo o que há de mais moderno em treinamento e armas, mata indiscriminadamente mulheres e crianças. Não é antissemitismo dizer a verdade e denunciar crimes de guerra. O nome para isso é decência em defesa da dignidade humana. Lula tem razão!

No Brasil, no entanto, a imprensa comercial gourmet se assanha, convocando seus “especialistas” para “analisar” o discurso de Lula, buscando cabelo em ovo e anunciando as sete pragas que se abaterão sobre o país por conta do que disse o presidente. Curioso mesmo é que tais “jornalistas” e seus “especialistas” amestrados passaram quatro anos levando porrada do sujeito que empurraram goela abaixo do povo, e que deixou um rastro de roubalheira, sangue, morte e destruição ao sair da presidência. E como seu “alecrim dourado” vai puxar uma cana, levando consigo boa parte da sua trupe golpista é necessário buscar uma distração, uma cortina de fumaça, como fizeram quando o genocida que colocaram no poder matou por volta de 700 mil pessoas. 

Luiz Inácio falou. E Luiz Inácio sabe muito bem o que fala, quando fala, para quem fala. Que cada país chame seus embaixadores! Faz parte do jogo diplomático. Lula pautou o debate e colocou o guizo no pescoço dos políticos extremistas locais, playboys que exploram pobres em programas de auditório e “enxadristas” que posam de intelectual em “jornalísticos” de baixíssima qualidade. Em tempos tão indóceis, temos a chance de estar lado a lado com Lula, Susan Sarandon e Roger Waters ou sermos macetados por eles. Então, que tipo de ser humano vamos ser quando crescermos?

 

Ø  Chanceler de Israel que vem atacando Lula diz que líder neonazi é “amigo” do país

 

O chanceler israelense, Israel Katz, chamou Geert Wilders, líder do partido holandês de extrema-direita PVV (Partido pela Liberdade), de “verdadeiro amigo de Israel” em post nas redes sociais. A sigla liderada por ele já usou símbolos neonazistas para protestar.

A sigla gerou repercussão mundial em 2018 após seus militantes participarem de protesto utilizando bandeiras com as cores laranja, branco e azul, as mesmas usadas pelo Dutch NSB, o Movimento Nacional Socialista nos Países Baixos, durante a Segunda Guerra Mundial.

O PVV também é conhecido por ser anti-islâmico e por atacar muçulmanos na Holanda.

Mesmo assim, o chanceler israelense considera o líder do partido um “amigo” de seu governo. Nesta terça (20), ele relatou que teve uma conversa com Geert Wilders e o chamou de “parceiro do povo israelense em valores partilhados”.

A publicação foi feita em meio a uma crise diplomática entre os governos de Israel e do Brasil. O chanceler tem feito provocações diárias ao presidente Lula desde que ele comparou, no último domingo (18), os ataques contra Gaza ao Holocausto. Foi ele que conferiu a Lula o título de “persona non grata” em seu país.

Ele tem pressionado o petista para que faça uma retratação após a comparação entre os ataques israelenses ao povo palestino e o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler durante o regime nazista.

 

Ø  Liszt Vieira: A metáfora de Lula, a mídia e o massacre de palestinos

 

O Governo de Israel matou mais de 30 mil civis na Palestina. Bombardeou 34 hospitais e 104 escolas e universidades. Milhões de pessoas estão sem condições mínimas de sobrevivência: sem comida, remédios, condições sanitárias e abrigo.

O nome desse extermínio é genocídio. Mas a mídia ignora isso e prefere criticar a denúncia de Lula que usou uma comparação que pode ser chamada de metáfora. O Holocausto foi um massacre de 6 milhões de judeus. O extermínio de palestinos é um massacre de, até agora, 30 mil civis, dos quais mais de 10 mil crianças.

O Governo de Israel não é proprietário da palavra Holocausto. Essa palavra pode ser usada por qualquer um, como metáfora de extermínio, embora sejam diferentes o extermínio de judeus – e também de socialistas, comunistas, homossexuais, portadores de necessidades especiais e ciganos - pela Alemanha nazista e o extermínio atual de palestinos pelo governo neofascista de Israel. As condições são muito diferentes no que se refere a quantidade de pessoas assassinadas, situação histórica, condições políticas etc.

É verdade que, mudando a quantidade, muda a qualidade, mas a metáfora não é uma imitação. Uma comparação metafórica de X com Y não significa que X seja igual a Y. Significa que ambos têm algo em comum. Por definição, metáfora é uma figura de linguagem utilizada para fazer comparações por semelhança. É o uso de uma palavra com o significado de outra. No caso, o que existe em comum é o extermínio em massa de pessoas inocentes.

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Lula só foi criticado pelo governo de Israel e pela mídia brasileira. Nenhum Governo, de nenhum país, criticou Lula, que se tornou uma referência importante para a opinião pública mundial, escandalizada com o genocídio dos palestinos. Lula colocou o dedo na ferida e penetrou no coração das trevas. A mídia brasileira, porém, prioriza a decisão de Israel de considerar Lula como persona non grata. O embaixador brasileiro, humilhado em Israel, foi chamado de volta ao Brasil. Uma pequena crise diplomática que está sendo usada como vã tentativa de tapar o sol com a peneira e ignorar o genocídio dos palestinos.

Na realidade, o atual Governo de Israel sempre apoiou o governo Bolsonaro, e autorizou a venda de equipamento de espionagem para Bolsonaro espionar seus adversários políticos. A extrema direita no Brasil conta agora com uma nova base de apoio: o desenvolvimento atual do chamado sionismo cristão, bandeira dos neopentecostais com seu apoio irrestrito a Israel.

Manifestações de massa, em todo o mundo, protestaram nas ruas contra o massacre de palestinos. Organizações de judeus progressistas condenaram com veemência a guerra de extermínio levada a cabo pelo governo de Netanyahu. Mas isso vem de longe. Logo após a criação do Estado de Israel pela ONU em 1948, o novo governo decidiu que “a fronteira será definida pela guerra”. Assim, Israel rapidamente tornou-se um país colonialista que invadiu terras da Palestina, expulsou seus moradores e, muitas vezes, violou mulheres e matou civis nas aldeias, conforme depoimento de antigos soldados do Exército de Israel.

O antissemitismo vem sendo usado como pretexto para defender o atual governo de extrema direita de Israel. O antissionismo e o antissemitismo são colocados no mesmo saco. O Holocausto é usado como um argumento passe partout para justificar a invasão da Palestina e o extermínio de seus habitantes. No Brasil, quem criticava o governo Bolsonaro era chamado de anti patriota pela direita. Da mesma forma, quem critica o atual governo Netaniahu é chamado de antissemita.

Em 20 de fevereiro último, o Governo Norte-americano vetou pela 3ª vez o cessar-fogo em Gaza no Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos usaram seu poder de veto para rejeitar uma resolução de cessar-fogo na Faixa de Gaza proposta durante reunião do Conselho de Segurança da ONU (UOL, 20/2/2024). Por outro lado, o diplomata Celso Amorim disse que a fala de Lula “sacudiu o mundo e pode ajudar a resolver a questão da guerra”.

Em meio à crise diplomática com Israel, o Governo Brasileiro pediu que a Corte de Haia declare ilegal a ocupação por Israel dos territórios palestinos. A Delegação brasileira defende a criação de dois Estados. "A ocupação de Israel dos territórios palestinos que persiste desde 1967 em violação ao direito internacional e a várias resoluções da Assembleia-Geral da ONU e do Conselho de Segurança não pode ser aceita, muito menos normalizada", afirmou a diplomata Maria Clara Paula de Tusco, representante do Brasil no Tribunal. Ela defendeu que a Corte declare a ocupação israelense ilegal (G1 e UOL, 20/2/2024).

Não há solução militar para o conflito de Israel com a Palestina. Mas o atual Governo de Israel precisa de guerra para sobreviver. Sabe que pode cair se e quando a guerra terminar. Com o apoio dos EUA, o governo israelense conquistou vitórias militares, mas perdeu a batalha política na opinião pública e se tornou inimigo da sociedade civil mundial e de seus valores humanitários. Sem apoio político, os tiranos não se sustentam por muito tempo. O mundo dá voltas. A longo prazo, as vitórias de hoje podem ser uma vitória de Pirro.

 

Fonte: Brasil 247/DCM

 

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