Trump impõe tarifas contra ilha sem
habitantes e povoada por pinguins e focas, e vira meme nas redes
O
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, nesta quarta-feira (2), a
imposição de tarifas recíprocas contra uma série de países. No entanto, chamou
atenção a aplicação de taxas ao território das Ilhas Heard e McDonald, que
não possui habitantes.
Ao
todo, 185 territórios foram taxados por
Trump,
com tarifas mínimas de 10%. A medida, que entra em vigor em 5 de abril, tem o
objetivo de retaliar países que cobram tarifas sobre produtos norte-americanos
importados. O Brasil também foi afetado.
No caso
das Ilhas Heard e McDonald, a tarifa imposta foi de 10%. Segundo o site
Axios, a Casa Branca justificou a medida afirmando que o arquipélago é um
território externo da Austrália — país que também recebeu a mesma taxa.
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Como são as Ilhas Heard
e McDonald
As Ilhas Heard e McDonald abrigam os únicos
vulcões ativos da Austrália. No entanto, a região fica a mais de 4.100 km do
continente australiano. Para chegar às ilhas, é necessário obter uma permissão
do governo e enfrentar uma viagem de navio que dura cerca de 10 dias.
O território é lar de diversas colônias de
pinguins, focas e aves incluídas em listas de conservação nacionais e
internacionais. As águas ao redor das ilhas também abrigam espécies marinhas
únicas.
Em 1997, as ilhas foram declaradas Patrimônio
Mundial da Unesco pela importância ecológica e geológica.
"Todo o local permanece praticamente
intocado pela atividade humana, o que significa que o que existe ali está o
mais próximo possível da natureza em seu estado puro", afirma o governo
australiano.
Um dos principais atrativos naturais da
região é o vulcão Big Ben, que tem 2.745 metros de altura.
As ilhas foram oficialmente descobertas no
século 19. Segundo o governo australiano, durante algumas expedições no século
20, o território chegou a contar com um posto dos correios. No entanto,
atualmente não há nenhuma infraestrutura oficial na região.
A cada três anos, são organizadas expedições
científicas ao local durante o verão. O governo australiano também afirmou que
não existem programas turísticos comerciais para visitar as ilhas.
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Tarifas recíprocas:
bolsas dos EUA afundam no mercado futuro após anúncio de Trump
As
bolsas de valores dos Estados Unidos fecharam em alta nesta quarta-feira
(2), antes do anúncio das tarifas recíprocas pelo presidente Donald Trump.
Mas,
enquanto o norte-americano detalhava as medidas, os índices futuros das bolsas
americanas mergulharam. O S&P 500 caiu 1,6%, enquanto o Nasdaq recuou 2,4%.
- 🔎 Os índices
futuros são contratos negociados enquanto as bolsas estão
fechadas, e que permitem especular sobre a direção do mercado no dia
seguinte. A queda mostra que investidores esperam grandes perdas quando
Wall Street abrir nesta quinta-feira (3).
"Palavras
de presidentes importam", disse Christopher Wolfe, presidente e diretor de
investimentos da Pennington Partners & Co, à agência Reuters. "Elas
podem, e de fato, mudam políticas e a forma como a América corporativa responde
às coisas. Esse é o peso que todos estamos sentindo agora."
O
presidente dos EUA detalhou nesta quarta-feira (2) quais serão as tarifas
recíprocas que pretende cobrar de produtos importados a partir de abril.
O republicano afirmou que o país
cobrará ao menos 10% de todas as importações feitas pelo país,
inclusive do Brasil, e que as demais tarifas que serão cobradas dos países que
taxam produtos norte-americanos serão ao menos metade da alíquota cobrada dos
EUA.
As
taxas serão aplicadas a partir de 5 de abril. Já as tarifas recíprocas
individualizadas, mais altas, serão impostas aos países com os maiores déficits
comerciais com os EUA a partir do dia 9.
Chamada
pelo republicano de "Dia da Libertação", esta quarta-feira (2) marca
o início de um conjunto de tarifas que, segundo Trump, libertarão os EUA de
produtos estrangeiros.
"A
partir de amanhã, os EUA implementarão tarifas recíprocas sobre outras nações.
[...] Vamos calcular a taxa combinada de todas as suas tarifas, barreiras não
monetárias e outras formas de trapaça. [...] cobraremos deles aproximadamente
metade do que eles têm cobrado de nós", afirmou Trump.
Trump
afirmou que "teria sido difícil para muitos países" cobrar a mesma
alíquota cobrada dos EUA, e que daria descontos porque os americanos são
"muito gentis".
"Se
vocês olharem para aquela primeira linha da China, 67%, essas são as tarifas
cobradas dos EUA, incluindo manipulação cambial e barreiras comerciais. [...]
vamos cobrar uma tarifa recíproca com desconto de 34%", disse.
"União
Europeia, eles são muito duros, comerciantes muito, muito duros. Vocês sabem,
vocês pensam na União Europeia, muito amigáveis. Eles nos exploram. É tão
triste de ver. É tão patético. 39%, vamos cobrar deles 20%."
O
presidente norte-americano disse ainda que, caso os países não queiram ser
taxados, devem transferir suas fábricas para os EUA. "Tarifas dão ao nosso
país proteção contra aqueles que nos fariam mal econômico. [...] Mas, ainda
mais importante, elas nos darão crescimento", afirmou Trump.
Na
última semana, o presidente norte-americano chegou a afirmar que as tarifas devem incluir todos os países, mas disse que as
taxas podem ser mais suaves do que se espera e que está disposto a fazer
acordos.
Além
das tarifas recíprocas, outras taxas já anunciadas por Trump também passaram a
valer nesta quarta-feira (2), como a cobrança de 25% sobre carros
importados pelos
EUA e as taxas de 25% sobre as exportações feitas ao país e que não se
enquadrem no USMCA (acordo comercial que existe entre os três países), por
exemplo.
As
incertezas sobre como essas taxas devem funcionar e quais os impactos podem ter
nas economias do mundo têm impactado o mercado financeiro nas últimas semanas e
causado uma série de reações de diferentes países.
No
Brasil, o Senado Federal aprovou, na véspera,
em regime de urgência, um projeto que cria mecanismos e autoriza o governo a
retaliar países ou blocos que imponham barreiras comerciais a produtos
brasileiros.
O
projeto recebeu apoio amplo do Congresso e do governo, e veio após Trump citar
o Brasil como exemplo de um país que deve ser taxado.
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Mercados financeiros da
Ásia despencam após anúncio de Trump
Os
mercados financeiros asiáticos despencaram nesta quinta-feira (3), após o anúncio do presidente Donald Trump de
grandes aumentos nas tarifas sobre importações de bens de todo o mundo.
No
mercado asiático, o índice Nikkei 225 de Tóquio caiu 4% brevemente, com grandes
impactos em montadoras e bancos. Pouco antes do fechamento do mercado, estava
em queda de 3,4%, a 34.498,31.
As
ações do Mitsubishi UFJ Financial Group despencaram 8,3% já o Mizuho Financial
Group caiu 9,2%.
Já os
ativos da Sony Corp. caíram 5,6% e as da Toyota Motor Corp. recuaram 6,3%.
O iene
japonês ganhou força, com o dólar americano caindo para 147,04 ienes japoneses,
de 149,28 ienes. O euro subiu para US$ 1,0949, de US$ 1,0855.
Na
Coreia do Sul, que foi atingida por uma tarifa de 25%, o índice Kospi caiu
1,1%, para 2.478,49.
O Hang
Seng de Hong Kong perdeu 1,9%, para 22.776,00, enquanto o índice composto de
Xangai caiu 0,2%, para 3.342,39.
O
anúncio foi considerado um "grande choque", disse Yeap Junrong, da
IG, em um comentário. "A China, em particular, foi atingida por uma tarifa
adicional de 34%, elevando sua carga total de tarifas para 64%, considerando as
medidas anteriores."
Mesmo
assim, as perdas foram parcialmente atenuadas pelas expectativas de mais
estímulos econômicos de Pequim para compensar o impacto das tarifas mais altas.
Na
Austrália, o S&P/ASX 200 caiu 0,9%, para 7.859,70.
O SET
de Bangkok caiu 1% depois que a Tailândia foi atribuída a uma tarifa de 36%
sobre suas exportações para os EUA. Isso pode fazer com que as exportações
tailandesas caiam de US$ 7 bilhões a US$ 8 bilhões, ou cerca de 2,3% do total,
disse Kasem Prunratanamala, da CGS International, em um relatório.
Em
outras negociações na manhã de quinta-feira, o petróleo bruto de referência dos
EUA caiu US$ 1,86, para US$ 69,85 por barril. O Brent crude, padrão
internacional, perdeu US$ 1,83, para US$ 73,12 por barril.
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No Brasil, Câmara aprova
Lei da Reciprocidade, em resposta a 'tarifaço' de Trump
A Câmara dos Deputados aprovou nesta
quarta-feira (2) o projeto que permite ao governo brasileiro retaliar países ou blocos que
imponham barreiras comerciais a produtos do Brasil. É a chamada Lei
da Reciprocidade.
O texto já havia sido aprovado nesta
terça (1º) pelo Senado Federal, em caráter de urgência. Agora, segue para
sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A votação acontece em meio ao anúncio
de taxação dos Estados Unidos a produtos de diversos países,
incluindo o Brasil.
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O que prevê a lei
Entre
as contramedidas previstas estão a possibilidade da imposição de direito de
natureza comercial incidente sobre importações de bens ou de serviços de país
ou bloco econômico e a suspensão de concessões ou outras obrigações do Brasil
em relação a direitos de propriedade intelectual firmados em acordos
comerciais.
Para
que sejam implementadas as medidas de retaliação são exigidas a realização de
consultas públicas para a manifestação dos setores interessados e prazo
razoável para análise das novas medidas. O projeto, entretanto, prevê que
"em casos excepcionais, o poder executivo é autorizado a adotar
contramedida provisória" de forma imediata.
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Movimentação política
Nesta
terça (1°), o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), fez um apelo
aos deputados para que governo e oposição se unam para aprovar a matéria.
"Este
episódio entre Estados Unidos e Brasil deve nos ensinar definitivamente que,
nas horas mais importantes, não existe um Brasil de esquerda ou de direita,
existe apenas o povo brasileiro e nós representantes do povo temos de ter a
capacidade de defender o povo acima de nossas diferenças", disse.
Infográfico
sobre a proposta de Lei de Reciprocidade — Foto: Arte/g1
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Obstrução
O apelo
ocorre em meio à obstrução – tentativa de impedir votações – imposta pelo PL, que cobra a votação do projeto da anistia aos presos do 8 de
janeiro.
🔎 A obstrução é
permitida regimentalmente e acontece quando deputados buscam atrasar votações
por meio de requerimentos de adiamento de discussão e retirada de pauta, ou
mesmo por longos discursos proferidos em plenário.
O líder
do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), disse que a obstrução
deve ser mantida hoje, mas isso não deve impedir a votação do projeto, apenas
prolongar sua análise.
Apesar
de buscar pregar unidade da oposição em prol da anistia, o PL teve pouca adesão
de outros partidos em sua tentativa de obstrução nesta terça-feira (1º). O
plenário da Câmara concluiu a votação de uma medida provisória que estava em
análise.
Por
outro lado, a obstrução impediu que as reuniões da Comissão de Constituição e
Justiça e da Comissão de Segurança Pública fossem adiante.
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Veja quais são os
produtos que o agro do Brasil mais vende para os EUA
O Brasil
é o principal fornecedor de café para os Estados Unidos e o país de Donald Trump é o maior cliente externo dos
produtores nacionais desse grão.
O café
lidera as exportações do agro para os EUA em valor, ficando atrás apenas de
produtos florestais, como as madeiras, segundo dados do governo brasileiro.
Em
2024, as vendas de café para os EUA somaram US$ 2 bilhões. Depois, vieram as
carnes e os sucos, especialmente o de laranja, e produtos da cana, como açúcar
e etanol.
Nesta
quarta-feira (2), Trump determinou que o país passará a
cobrar uma taxa de, no mínimo, 10% sobre os produtos importados do Brasil a partir do
próximo sábado (5).
Atualmente, a importação nos EUA do café
brasileiro não torrado, não descafeinado e em grão está sujeita a uma tarifa de
9%.
A tarifa para carnes bovinas desossadas e congeladas é de 10,8%. Para o etanol,
2,5%.
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Setor do café aguarda
O
Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) disse ao g1 que não vai se
pronunciar por ora. A entidade mantém contato com a Associação Nacional do Café
dos Estados Unidos (NCA, em inglês), para avaliar possíveis impactos.
"Nossa
avaliação ainda é preliminar e considera que o Brasil foi taxado em 10%, a
Colômbia, também em 10%, e o Vietnã, em 46%", afirmou Pavel Cardoso,
presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), citando outros
países que também são fortes na exportação do grão.
Ele
destacou que a exportação de café torrado moído representa uma parcela menor no
volume total, onde predomina o grão verde, mas que é relevante saber qual seria
o impacto.
No
texto onde a Casa Branca detalha a ordem de Trump e defende que as novas
tarifas são um ato de reciprocidade dos EUA com parceiros comerciais, o Brasil
foi citado por causa do etanol.
"Brasil
(18%) e Indonésia (30%) impõem uma taxa mais alta no etanol do que os Estados
Unidos (2,5%)", diz a ordem assinada por Trump.
Fonte: g1

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