terça-feira, 8 de abril de 2025

Negacionismo: Mais uma criança morre nos EUA em piora de surto de sarampo, doença antes declarada eliminada do país

Mais uma criança morreu de sarampo durante um surto do vírus, que atinge o oeste do Texas, nos Estados Unidos.

A menina tinha 8 anos e não estava vacinada. Ela não tinha problemas de saúde prévios e foi hospitalizada por complicações decorrentes da doença, disse à BBC Aaron Davis, vice-presidente de um hospital em Lubbock, no Texas.

Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde do governo Donald Trump e que ficou conhecido por seu ceticismo em relação às vacinas, visitou o Estado após a notícia da morte. Ele enfrenta críticas por sua gestão do surto.

O Texas registrou mais de 480 casos de sarampo neste ano até a última sexta-feira (4/4), um aumento de 60 casos em relação ao início da semana. O surto se estendeu aos Estados vizinhos ao Texas.

"Este infeliz acontecimento sublinha a importância da vacinação", disse Davis em um comunicado.

"O sarampo é uma doença altamente contagiosa que pode levar a complicações graves, particularmente para aqueles que não estão vacinados."

A criança morreu na madrugada de quinta-feira.

Em fevereiro, uma menina de seis anos não vacinada da comunidade menonita local foi a primeira criança a morrer de sarampo nos EUA em uma década. Em março, um homem não vacinado morreu no Estado do Novo México após contrair o vírus, embora a causa da morte ainda esteja sob investigação.

Houve mais casos de sarampo nos EUA durante os primeiros três meses de 2025 do que em todo o ano de 2024, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

O departamento de saúde do Estado do Texas e o Departamento Federal de Saúde não listaram a morte em suas contagens de casos na sexta-feira.

Em um comunicado, Kennedy confirmou a morte da menina.

"Minha intenção era vir aqui discretamente para consolar as famílias e estar com a comunidade em seu momento de luto", disse o secretário no comunicado.

Ele também disse que estava em contato com autoridades locais para "apoiar os funcionários de saúde do Texas e aprender como nossas agências podem fazer uma parceria melhor com eles para controlar o surto de sarampo".

Kennedy disse que estava enviando uma equipe, como fez em março, para ajudar a distribuir vacinas, medicamentos e outros suprimentos, entre outros serviços de apoio.

"A maneira mais eficaz de prevenir a propagação do sarampo é a vacina MMR", escreveu Kennedy.

Antes de ser nomeado por Trump para comandar a saúde, Kennedy se notabilizou por sua posição crítica em relação às vacinas — e por liderar movimentos que questionam a regulamentação e a segurança dos produtos farmacêuticos.

Em 2007, RFK Jr. fundou a organização Children's Health Defense, uma entidade dedicada a denunciar o que considera práticas nocivas da indústria farmacêutica.

A ONG é considerada por parte da comunidade científica como uma fonte perigosa de desinformação sobre vacinas.

¨      Doador australiano com sangue raro salvou a vida de 2 milhões de bebês

Um dos doadores de sangue de maior sucesso do mundo — cujo plasma salvou a vida de mais de 2 milhões de bebês — morreu aos 88 anos.

James Harrison morreu dormindo em uma casa de repouso em Nova Gales do Sul, na Austrália, em 17 de fevereiro.

Conhecido na Austrália como o homem do braço de ouro, o sangue de Harrison continha um anticorpo raro, o Anti-D, que é usado para fazer medicamentos dados a mães grávidas cujo sangue corre o risco de atacar seus bebês ainda não nascidos.

O Serviço de Sangue da Cruz Vermelha Australiana, que prestou homenagem a Harrison, disse que ele prometeu se tornar um doador após receber transfusões durante uma grande cirurgia torácica quando tinha 14 anos.

Ele começou a doar seu plasma sanguíneo quando tinha 18 anos e continuou fazendo isso a cada duas semanas até os 81.

Em 2005, ele tinha o recorde mundial de mais plasma sanguíneo doado — um título que manteve até 2022, quando foi ultrapassado por um homem nos EUA.

A filha de Harrison, Tracey Mellowship, disse que seu pai estava "muito orgulhoso de ter salvado tantas vidas, sem nenhum custo ou dor".

"Ele sempre disse que não dói, e a vida que você salva pode ser a sua", disse ela.

Mellowship e dois netos de Harrison também receberam a imunoglobulina anti-D. "Ficou [James] feliz em ouvir sobre as muitas famílias como a nossa, que existiram por causa de sua gentileza", disse ela.

As vacinas anti-D protegem os bebês em gestação de um distúrbio sanguíneo mortal chamado doença hemolítica do feto e do recém-nascido.

A condição ocorre na gravidez quando os glóbulos vermelhos da mãe são incompatíveis com os do bebê em crescimento.

O sistema imunológico da mãe então vê as células sanguíneas do bebê como uma ameaça e produz anticorpos para atacá-las. Isso pode prejudicar seriamente o bebê, causando anemia grave, insuficiência cardíaca ou até mesmo a morte.

Antes que a vacina imunoglobulina anti-D fosse desenvolvida em meados da década de 1960, um em cada dois bebês diagnosticados com doença hemolítica morria.

Não está claro como o sangue de Harrison se tornou tão rico em imunoglobulina anti-D, mas há suspeitas de que o quadro tenha relação com a transfusão de sangue maciça que ele recebeu aos 14 anos.

Existem menos de 200 doadores anti-D na Austrália, mas eles ajudam cerca de 45 mil mães e seus bebês todos os anos, de acordo com o Serviço de Sangue da Cruz Vermelha Australiana, também conhecido como Lifeblood.

A Lifeblood tem trabalhado com o Instituto de Pesquisa Médica Walter e Eliza Hall da Austrália para desenvolver anticorpos anti-D em laboratório replicando células sanguíneas e imunológicas de Harrison e outros doadores.

Os pesquisadores envolvidos esperam que o anti-D feito em laboratório possa um dia ser usado para ajudar mulheres grávidas em todo o mundo.

"Criar uma nova terapia tem sido um 'santo graal' há muito tempo", disse o diretor de pesquisa da Lifeblood, David Irving.

Ele observou a escassez de doadores comprometidos com a doação regular, que sejam capazes de produzir anticorpos em qualidade e quantidade suficientes.

 

Fonte: BBC News

 

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