quarta-feira, 9 de abril de 2025

Bolsonaro manda deputados recuarem e PL da Anistia é usado só para incitar horda de radicais

Usando a justificativa esfarrapada de que é para tirar "velhinhas com bíblia na mãos", presas no 8 de Janeiro, da prisão, o Projeto de Lei da Anistia deve ir para a gaveta na Câmara dos Deputados e servir apenas para incitar a horda de radicais para tentar evitar a prisão de Jair Bolsonaro (PL).

O próprio ex-presidente entrou em campo nesta segunda-feira (7) e determinou ao líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que recue na estratégia já divulgada de expor fotos de deputados que não aderiram à proposta em um "carômetro" na internet.

"Atendendo a um pedido do nosso eterno presidente Jair Bolsonaro vamos, estrategicamente, adiar a publicação dos nomes dos parlamentares que assinaram e dos que ainda estão indecisos", escreveu Cavalcante em seu perfil na rede X.

O recuo foi determinado por Jair Bolsonaro após uma declaração do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que sinalizou que não vai atuar para tentar aprovar o PL e livrar o ex-presidente da cadeia.

"Não vamos ficar restritos a um só tema, vamos levar essa decisão ao Colégio de Líderes, vamos conversar com o Senado e com os Poderes Judiciário e Executivo, para que uma solução de pacificação possa ser dada. Aumentando uma crise, não vamos resolver esses problemas, não embarcaremos nisso", afirmou Motta, sobre o PL da Anistia, em evento realizado na Associação Comercial de São Paulo.

O presidente da Câmara ainda sinalizou que deve atuar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para "corrigir algum exagero que vem acontecendo com relação a quem não merece receber uma punição" e que não tem pretensão em entrar na guerra declarada pelo bolsonarismo à corte.

"Acho que essa sensibilidade é necessária, toca a todos nós. E a responsabilidade de poder, na solução desse problema, que é sensível e é justo, nós não aumentarmos uma crise institucional que nós estamos vivendo", emendou.

Bolsonaro entendeu o recado e, em entrevista a um site aliado, voltou a dizer, mansamente, que Motta está sofrendo pressão para retirar o PL da pauta.

"O que eu acho do Hugo Motta - e eu já conversei com ele algumas vezes. Ele leva pressão do ministro lá do Supremo, que não deveria acontecer, que é interferência. Leva pressão por parte do Executivo", afirmou o ex-presidente.

"O que eu acho que se faz, na imprensa, é que nós, os mais interessados na anistia, partamos para o confronto. E daí, sim, você tem um clima desfavorável. Então eu peço a alguns parlamentares do PL - e de outros partidos também -: vai com calma", afirmou.

Por volta das 12h30 desta terça-feira, Cavalcante voltou às redes para confirmar que seguiu as ordens de Bolsonaro e a oposição está desbloqueando a pauta no Congresso.

"A Liderança do PL informa que irá retirar toda obstrução no Congresso Nacional. Estamos apostando no diálogo com os colegas parlamentares, que vêm se sensibilizando com essa pauta de justiça, de humanidade e de pacificação nacional", publicou o líder do PL no X.

No entanto, nas redes, Bolsonaro segue incitando radicais para criar um sentimento de revolta, usando mentiras sobre a condenação dos apoiadores que foram presos causando quebra-quebra na Praça dos Três Poderes atendendo justamente ao chamado da organização criminosa, comandada por ele, para desencadear um golpe de Estado.

Na manhã desta terça-feira (8), o ex-presidente divulgou trecho de seu discurso na Paulista em que tenta provocar um choro para falar "dessas pobres pessoas que estão condenadas a penas de até 17 anos de cadeia".

<><> Pesquisas

O recuo também está relacionado a novas pesquisas que mostram que a pauta da anistia é rechaçada pela população brasileira.

Pesquisa Quaest divulgada neste domingo (6), dia do ato na Paulista, mostra que 56% da população acredita que os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro devem continuar presos por mais tempo e cumprirem suas penas. Isto é, a maioria é contra a anistia aos golpistas.

Apenas 18% dizem que os golpistas deveriam ser soltos porque nem deveriam ter sido presos, enquanto outros 16% afirmam que essas pessoas deveriam ser soltas porque já estão presas por muito tempo.

A pesquisa Quaest aponta ainda que cerca de um terço do eleitorado de Bolsonaro (32%) acredita que os golpistas devem continuar presos – ou seja, uma parcela significativa dos próprios bolsonaristas são contra a anistia.

As más notícias para Jair Bolsonaro não param por aí. Segundo a pesquisa Quaest, a maior parte da população (49%) acredita que o ex-presidente participou do planejamento da tentativa de golpe de Estado, enquanto 35% dizem que ele não participou.

O mesmo levantamento aponta ainda que a maioria (52%) considera justo o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado. 36% avaliaram a decisão do STF como injusta.

<><> Datafolha

Nesta terça-feira (8), uma nova pesquisa do Datafolha mostra que 56% dos brasileiros são contra a anistia aos golpistas envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Outros 37% são a favor do perdão, enquanto 6% não souberam responder e 2% se disseram indiferentes.

O estudo ainda aponta que a maioria dos brasileiros defende a prisão de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

Segundo o levantamento, 52% dos entrevistados acreditam que o ex-presidente deve ser preso por ter liderado uma trama golpista. Outros 42% são contra a prisão, enquanto 7% não souberam ou não quiseram responder.

•        Malafaia e Mourão protagonizam briga pública com troca de xingamentos: "Falastrão; covarde, frouxo"

O senador Hamilton Mourão, general da reserva do Exército e ex-vice-presidente, e o pastor bolsonarista Silas Malafaia, vêm protagonizando uma briga pública com direito a trocas de ofensas e xingamentos.

No ato pela anistia aos golpistas realizado no último domingo (6) na avenida Paulista, em São Paulo, Malafaia atacou os generais do Alto Comando do Exército por não se posicionarem sobre as prisões de militares envolvidos na trama golpista, citando como exemplo o caso do general Walter Braga Netto, que foi preso preventivamente por participação na tentativa de golpe e obstrução das investigações.

"Cadê esses generais de quatro estrelas do Alto Comando do Exército? Cambada de frouxos, cambada de covardes, cambada de omissos! Vocês não honram a farda que vestem. Não é para dar golpe, não. É para marcar posição", disparou Malafaia na manifestação.

Na madrugada desta terça-feira (8), Mourão foi às redes sociais para responder Malafaia, sem citar o nome do pastor. Na publicação, o ex-vice-presidente se referiu ao bolsonarista como "falastrão".

"Ao se aproveitar de um ato em defesa da necessária ANISTIA aos envolvidos no 08/Jan para ofender os integrantes do Alto Comando do Exército, o falastrão que assim o fez demonstrou toda sua total falta de escrúpulos e seu desconhecimento do que seja Honra, Dever e Pátria; a tríade que guia os integrantes do Exército de Caxias", escreveu Mourão.

Malafaia, então, decidiu rebater Mourão com mais xingamentos.

"RESPOSTA AO TRAÍRA DO GENERAL MOURÃO. Você nunca foi leal e fiel a quem te promoveu na vida política que o foi o presidente Bolsonaro. Sempre omisso, em cima do muro e fazendo jogo duplo. Não vi você em nenhuma manifestação para defender Bolsonaro e agora na questão da anistia. Você é tão e covarde como seus coleguinhas do alto comando", publicou Malafaia.

"Vou repedir mais uma vez. Cambada de frouxos, covardes e omissos. Não honram a farda que vestem. MOURÃO! Você perdeu uma oportunidade de ficar calado. Está apanhando muito nas redes sociais. COVARDE FALASTRÃO!", prosseguiu o pastor.

•        Não foi apoio. Veja por que 7 governadores foram ao ato de Bolsonaro

Quem acompanhou a cobertura do fracassado ato de Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista no domingo (6), sob o pretexto de pedir anistia para os golpistas criminosos do 8 de janeiro de 2023, deve ter ficado impressionado com a foto de sete governadores de estado perfilados ladeando o “mito” antes do bizarro e rocambolesco discurso constrangedor regado a muita popcorn e ice cream.

Os repórteres que estavam no local, no calor da coisa, informavam em tempo real e com entusiasmo que o ex-presidente “recebia expressivo apoio” desses líderes estaduais. No mundo real, o negócio era outro e o clima foi inclusive descrito por muita gente como de “mal-estar” e notório “interesse político”. Ou seja, nenhum deles estava ali demonstrando “apoio” coisíssima nenhuma. Aliás, vamos corrigir: dois possivelmente até estavam, mas os outros cinco não.

Jorginho Melo (PL), de Santa Catarina, e Mauro Mendes (União Brasil), de Mato Grosso, por razões semelhantes são bolsonaristas até a medula e subservientes clássicos. Liderando dois estados vistos como os mais bolsonaristas do país, eles de fato queriam levar “sua força” ao “capitão” pré-presidiário. Já os demais, esses estavam mais para frequentadores de velório que comparecem só para brigar pela herança.

Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas, está em seu segundo mandato e possivelmente tentará o Senado. Ele é uma importante figura política num estado onde outros dois homens têm forças eleitorais semelhantes à dele: os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Eduardo Braga (MDB-AM), que ora se configuram como “quase aliados”, ora aparecem como adversários ferrenhos. Aziz teve papel central presidindo a CPI da Covid no Senado, em 2021, e virou a figura do próprio demônio para os bolsonaristas, enquanto Braga é amplamente visto como um aliado do governo Lula (PT). Só resta a Lima se agarrar a Bolsonaro para que no próximo ano tente tragar seus eleitores amazonenses, evitando assim morrer na praia.

Já Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Ratinho Junior (PSD), do Paraná, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, alimentam o sonho da Presidência da República, embora em dimensões diferentes. O primeiro seria notoriamente o sucessor natural de Jair Bolsonaro, até porque sempre foi colocado como seu pupilo e tem conseguido manter um eleitorado fidelíssimo em São Paulo, o estado mais rico e populoso do Brasil. Tarcísio não pode nunca, jamais, se distanciar de Bolsonaro, ou contrariá-lo, já que uma simples ordem do “mito” o lançaria no balde dos traidores.

Caiado, o apressado, já lançou pré-candidatura à Presidência e precisa aparecer em toda e qualquer aglomeração de direita ou de extrema direita. Embora não consiga de forma alguma nacionalizar o seu nome, e mesmo tendo despertado a fúria de Bolsonaro ao desobedecê-lo e lançar seu nome ao Planalto, ele não teria trinta segundos de vida eleitoral em 2026 se se tornasse um pária no bolsonarismo.

Ratinho Junior e Zema, embora sonhem com a chefia do Estado, sabem que esse sonho está muito distante. No fundo, bem lá no fundo, projetam alguma possibilidade num cenário em que Bolsonaro esteja preso e a extrema direita se fragmente em vários núcleos, apostando na desordem do eleitorado ultrarreacionário numeroso. Eles precisam aparecer nacionalmente e, sobretudo, aparecer ao lado de Bolsonaro para pegar o máximo de migalhas possível.

•        Ato perto da Paulista pediu prisão de Bolsonaro e lembrou vítimas da ditadura

A poucos metros da avenida Paulista, um ato silencioso ecoou forte contra a impunidade e a violência de Estado. A 5ª edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado reuniu neste domingo (6) centenas de pessoas em São Paulo para homenagear vítimas da ditadura militar e pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Com flores, velas, faixas e cartazes com rostos de desaparecidos, manifestantes caminharam do antigo DOI-Codi – símbolo da repressão durante o regime militar – até o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.

<><> "Ditadura nunca mais"

O lema do ato, “Ainda estamos aqui”, foi inspirado no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que resgata a história de Eunice Paiva e seu marido, o deputado Rubens Paiva, desaparecido político. A frase resume o espírito do movimento: resistir, lembrar e lutar por justiça – especialmente em um momento em que bolsonaristas pedem anistia para golpistas.

A psicóloga Vera Paiva, filha de Rubens e Eunive, destacou o simbolismo do silêncio como forma de protesto:

“Com velas nas mãos, com rosas nas mãos, homenageando os nossos mortos, dizemos: ditadura nunca mais! Pela vida e pela paz".

<><> Bolsonaro e os golpistas

No mesmo dia da Caminhada do Silêncio, Jair Bolsonaro reuniu apoiadores na avenida Paulista em defesa da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Enquanto o ex-presidente discursava, participantes da caminhada exigiam sua prisão, apontando-o como líder da tentativa de golpe de Estado. Também foi pedido o indiciamento do general José Antônio Belham, responsável pelo assassinato de Rubens Paiva.

“O nosso objetivo é fazer esse ato todo ano. Cada vela acesa é uma afirmação contra a impunidade e contra os discursos de ódio que voltaram a ganhar espaço”, disse Vera Paiva.

<><> Violência policial

A mobilização deste ano ampliou o debate para além da ditadura. Denunciou também a violência policial atual, que atinge principalmente jovens negros e periféricos.

Lorrane Rodrigues, do Instituto Vladimir Herzog, reforçou essa conexão entre passado e presente. “Estivemos mais próximos de movimentos que discutem a violência de Estado no Brasil contemporâneo. Essa caminhada também é sobre hoje", declarou.

Já a procuradora Eugênia Gonzaga, presidenta da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, foi enfática. “Esses atos continuam se repetindo. Hoje, defendem quem executa sem julgamento. Precisamos de responsabilização", pontuou.

A Caminhada do Silêncio foi organizada por entidades como o Núcleo de Preservação da Memória Política, o Instituto Vladimir Herzog e a OAB-SP, com apoio de organizações como a Anistia Internacional, a Comissão Arns, a UNE e o mandato do deputado Antonio Donato (PT) – autor da lei que tornou o evento parte do calendário oficial da cidade.

•        PL da Anistia: a resposta de Hugo Motta ao ato bolsonarista

No ato bolsonarista realizado na Avenida Paulista neste domingo (6), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi criticado e atacado por algumas das figuras políticas que discursaram no ato. Todos cobrando que o PL da Anistia, que pretende anistiar investigados e condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, seja colocado em tramitação na Casa.

Participando de um evento da Associação Comercial de São Paulo nesta segunda-feira (7), Motta falou sobre o projeto, sem citar diretamente a manifestação. Defendeu a pacificação nacional para enfrentar o que considera ser uma radicalização política no país e disse que a pauta da anistia é uma manifestação válida. Contudo, para ele, não se pode agravar uma crise constitucional entre os Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo.

"Não vamos ficar restritos a um só tema, vamos levar essa decisão ao Colégio de Líderes, vamos conversar com o Senado e com os Poderes Judiciário e Executivo, para que uma solução de pacificação possa ser dada. Aumentando uma crise, não vamos resolver esses problemas, não embarcaremos nisso", afirmou, sobre o PL da Anistia.

<><> Sensibilidade

Motta afirmou que é preciso "sensibilidade" para corrigir algum exagero que esteja acontecendo em relação às penas impostas aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro.

"Defendo dois pontos. Primeiro, a sensibilidade para corrigir algum exagero que vem acontecendo com relação a quem não merece receber uma punição. Acho que essa sensibilidade é necessária, toca a todos nós. E a responsabilidade de poder, na solução desse problema, que é sensível e é justo, nós não aumentarmos uma crise institucional que nós estamos vivendo", disse Motta

Segundo o presidente da Câmara, a obstrução regimental realizada pelo PL é legítima, mas há outras pautas que interessam ao Brasil. “Vamos tratar as pautas dos outros partidos, não podemos ficar uma Casa de uma pauta só”, disse.

<><> Fim da escala 6X1

Questionado sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) que acaba com a escala de trabalho semanal de 6 dias, protocolada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

Motta pontuou que o mérito da proposta é válido, mas é preciso avaliar a viabilidade econômica do tema.

“Eu não discuto a justiça da proposta. Eu discuto se a proposta é viável para o país ou não. É claro que todo trabalhador sonha com a redução da jornada de trabalho, ganhando a mesma coisa, e ninguém está aqui para dizer que isso está errado”, disse o presidente da Câmara.

 

Fonte: Fórum

 

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