segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Secas reduzem vazão do rio São Francisco para menos da metade em 30 anos, aponta estudo

As mudanças climáticas afetaram gravemente a vazão do rio São Francisco. Um estudo do Laboratório de Análise Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) apontou que o volume de água do Velho Chico foi reduzido para menos da metade em 30 anos, de 1991 a 2020.

A vazão do Velho Chico, que há 30 anos passava de 4.500 m³/s, fica abaixo 1.000 m³/s nos períodos de seca extrema, como a que o Brasil enfrenta. A estiagem também reduziu o volume de água de todos os 168 afluentes do rio.

"Essa redução de 60% está muito ligada às altas temperaturas, isso acarreta uma alta demanda de consumo diário pelas plantas e solos e atividades humanas, mas o que a gente viu também que o processo da perda da cobertura vegetal nesses últimos 20 anos acelerou, então, o que a gente vê no futuro é que o São Francisco pode secar ainda mais", afirmou o meteorologista da Ufal, Humberto Barbosa.

Os resultados do estudo foram publicados no periódico internacional Water, que divulga pesquisas científicas relevantes na área de gestão de recursos hídricos em todo o mundo.

"Nos últimos anos é que está secando cada vez mais. E aí, prejudicando muito a população também, temos que racionar água, vez ou outra, porque algumas bombas não conseguem puxar as águas do rio São Francisco até chegar às residências", disse o guia de turismo Fábio Moura.

Segundo os pesquisadores, essa situação afeta toda a extensão do São Francisco, desde a nascente, em Minas Gerais, até a foz, entre os estados de Alagoas e Sergipe, mas é mais grave no Baixo São Francisco, entre a represa de Xingó e a foz do rio, onde enormes ilhas continuam se formando.

Os ribeirinhos transformam essas ilhas em roças e pastos. Aos poucos, a mata ao longo do leite do Velho Chico vai ficando cada vez mais escassa.

Sem vegetação, as margens do rio ficam desprotegidas e formam imensos bancos de areia. O vento e água batem e arrastam essa terra para o leito do rio, que está cada vez mais raso e largo.

O rio mais raso atrapalha a navegação e afeta o transporte de carga e o turismo na região.

"O rio São Francisco vem vivenciando uma situação muito difícil porque todos estão querendo tirar água do rio São Francisco e poucos estão pensando na sua recuperação poucos estão pensando na preservação, na recarga do aquífero. então nós precisamos unir forças para que nós possamos ter o nosso Velho Chico pujante", disse o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Maciel Oliveira.

 

•        Seca transforma margem do Rio Negro em 'parque' com grama verde e atrai visitantes em Manaus

A seca severa continua transformando paisagens no Amazonas. Em Manaus, um vasto campo de grama verde surgiu às margens do Rio Negro nas últimas semanas, do outro lado da Ponte Jornalista Phelippe Daou, em direção às cidades da região metropolitana. A área já ficou conhecida como "parque" e tem atraído visitantes, que se encantam com sua beleza e aproveitam para produzir conteúdos e realizar ensaios fotográficos.

O Rio Negro, que banha a capital amazonense, ainda enfrenta a instabilidade da estiagem de 2024, considerada a mais severa dos últimos 122 anos. Na pior cota registrada na história, o nível do rio atingiu 12,11 metros em 9 de outubro. Em todo o estado, a seca já afeta mais de 800 mil pessoas, conforme dados da Defesa Civil.

Com a queda do nível do rio, inicialmente a área se tornou um vasto banco de areia que antes era submerso. Com o tempo, uma vegetação densa se desenvolveu, transformando o local em um "ponto turístico" temporário.

Segundo o professor de biologia André Menezes, a vegetação que surgiu no local é típica de áreas que enfrentam períodos de estiagem, funcionando como uma nova colonização do espaço.

"Essa vegetação que cresce após a várzea, com aparência semelhante a capim, é chamada genericamente de Canarana. Especificamente, o capim marreca e outras variedades são comuns em áreas onde o solo pós-várzea é extremamente nutritivo, propiciando uma nova colonização de vegetação. Essa nova flora é sempre composta por espécies de gramíneas, como os capins que observamos nessas regiões", explicou.

Nesta sexta-feira (1º), o Rio Negro atingiu a cota de 12,18 metros, um nível associado ao "repiquete". Esse fenômeno, comum nos rios da região amazônica, provoca oscilações nas águas, que sobem e descem de forma semelhante a uma sanfona.

O empreendedor óptico Gladson Palma relatou ao g1 que costuma fazer viagens de moto para o outro lado da ponte e gravar vídeos. Em uma dessas viagens, no dia 28 de outubro, ele se deparou com um campo coberto de grama e decidiu parar para registrar o local.

Ele editou os registros que fez do espaço e publicou o vídeo em suas redes sociais. Para sua surpresa, o vídeo viralizou rapidamente.

"Eu acabei postando um vídeo completo sobre a área verde. As pessoas acharam muito bonito e alguns até pensaram que era montagem, já que muitos não conhecem o lugar por ser distante. Para chegar lá, é preciso atravessar a ponte e descer, e geralmente só quem vai são os motociclistas ou pessoas mais jovens com carro. No dia em que fui, havia muitas famílias e casais tirando fotos. O cenário estava realmente bonito, então decidi gravar o vídeo", contou Palma.

 

Fonte: g1

 

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