Secas reduzem vazão do rio São Francisco
para menos da metade em 30 anos, aponta estudo
As mudanças climáticas
afetaram gravemente a vazão do rio São Francisco. Um estudo do Laboratório de
Análise Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de
Alagoas (Ufal) apontou que o volume de água do Velho Chico foi reduzido para
menos da metade em 30 anos, de 1991 a 2020.
A vazão do Velho
Chico, que há 30 anos passava de 4.500 m³/s, fica abaixo 1.000 m³/s nos
períodos de seca extrema, como a que o Brasil enfrenta. A estiagem também
reduziu o volume de água de todos os 168 afluentes do rio.
"Essa redução de
60% está muito ligada às altas temperaturas, isso acarreta uma alta demanda de
consumo diário pelas plantas e solos e atividades humanas, mas o que a gente
viu também que o processo da perda da cobertura vegetal nesses últimos 20 anos
acelerou, então, o que a gente vê no futuro é que o São Francisco pode secar
ainda mais", afirmou o meteorologista da Ufal, Humberto Barbosa.
Os resultados do
estudo foram publicados no periódico internacional Water, que divulga pesquisas
científicas relevantes na área de gestão de recursos hídricos em todo o mundo.
"Nos últimos anos
é que está secando cada vez mais. E aí, prejudicando muito a população também,
temos que racionar água, vez ou outra, porque algumas bombas não conseguem
puxar as águas do rio São Francisco até chegar às residências", disse o guia
de turismo Fábio Moura.
Segundo os
pesquisadores, essa situação afeta toda a extensão do São Francisco, desde a
nascente, em Minas Gerais, até a foz, entre os estados de Alagoas e Sergipe,
mas é mais grave no Baixo São Francisco, entre a represa de Xingó e a foz do
rio, onde enormes ilhas continuam se formando.
Os ribeirinhos
transformam essas ilhas em roças e pastos. Aos poucos, a mata ao longo do leite
do Velho Chico vai ficando cada vez mais escassa.
Sem vegetação, as
margens do rio ficam desprotegidas e formam imensos bancos de areia. O vento e
água batem e arrastam essa terra para o leito do rio, que está cada vez mais
raso e largo.
O rio mais raso
atrapalha a navegação e afeta o transporte de carga e o turismo na região.
"O rio São
Francisco vem vivenciando uma situação muito difícil porque todos estão
querendo tirar água do rio São Francisco e poucos estão pensando na sua
recuperação poucos estão pensando na preservação, na recarga do aquífero. então
nós precisamos unir forças para que nós possamos ter o nosso Velho Chico
pujante", disse o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São
Francisco, Maciel Oliveira.
• Seca transforma margem do Rio Negro em 'parque'
com grama verde e atrai visitantes em Manaus
A seca severa continua
transformando paisagens no Amazonas. Em Manaus, um vasto campo de grama verde
surgiu às margens do Rio Negro nas últimas semanas, do outro lado da Ponte
Jornalista Phelippe Daou, em direção às cidades da região metropolitana. A área
já ficou conhecida como "parque" e tem atraído visitantes, que se
encantam com sua beleza e aproveitam para produzir conteúdos e realizar ensaios
fotográficos.
O Rio Negro, que banha
a capital amazonense, ainda enfrenta a instabilidade da estiagem de 2024,
considerada a mais severa dos últimos 122 anos. Na pior cota registrada na
história, o nível do rio atingiu 12,11 metros em 9 de outubro. Em todo o
estado, a seca já afeta mais de 800 mil pessoas, conforme dados da Defesa
Civil.
Com a queda do nível
do rio, inicialmente a área se tornou um vasto banco de areia que antes era
submerso. Com o tempo, uma vegetação densa se desenvolveu, transformando o
local em um "ponto turístico" temporário.
Segundo o professor de
biologia André Menezes, a vegetação que surgiu no local é típica de áreas que
enfrentam períodos de estiagem, funcionando como uma nova colonização do
espaço.
"Essa vegetação
que cresce após a várzea, com aparência semelhante a capim, é chamada
genericamente de Canarana. Especificamente, o capim marreca e outras variedades
são comuns em áreas onde o solo pós-várzea é extremamente nutritivo,
propiciando uma nova colonização de vegetação. Essa nova flora é sempre
composta por espécies de gramíneas, como os capins que observamos nessas
regiões", explicou.
Nesta sexta-feira
(1º), o Rio Negro atingiu a cota de 12,18 metros, um nível associado ao
"repiquete". Esse fenômeno, comum nos rios da região amazônica,
provoca oscilações nas águas, que sobem e descem de forma semelhante a uma
sanfona.
O empreendedor óptico
Gladson Palma relatou ao g1 que costuma fazer viagens de moto para o outro lado
da ponte e gravar vídeos. Em uma dessas viagens, no dia 28 de outubro, ele se
deparou com um campo coberto de grama e decidiu parar para registrar o local.
Ele editou os
registros que fez do espaço e publicou o vídeo em suas redes sociais. Para sua
surpresa, o vídeo viralizou rapidamente.
"Eu acabei
postando um vídeo completo sobre a área verde. As pessoas acharam muito bonito
e alguns até pensaram que era montagem, já que muitos não conhecem o lugar por
ser distante. Para chegar lá, é preciso atravessar a ponte e descer, e
geralmente só quem vai são os motociclistas ou pessoas mais jovens com carro.
No dia em que fui, havia muitas famílias e casais tirando fotos. O cenário
estava realmente bonito, então decidi gravar o vídeo", contou Palma.
Fonte: g1
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