José Reinaldo Carvalho: ‘O bloqueio a Cuba
é uma "política de guerra em tempos de paz"’
A Assembleia Geral da ONU
aprovou nesta quarta-feira (30), pelo 32º ano consecutivo, uma resolução que
exige o levantamento do bloqueio econômico, financeiro e comercial imposto há
quase seis décadas e meia pelo imperialismo estadunidense a Cuba. Foi uma
vitória retumbante do povo e do governo revolucionário de Cuba. A resolução foi
aprovada com 187 votos a favor, 2 contra (EUA e Israel) e uma abstenção
(Moldávia).
O documento, além de
denunciar os efeitos nefastos do bloqueio para a economia e a vida social em
Cuba, exige que se suspendam todas as sanções e leis coercitivas impostas pelos
Estados Unidos, contrárias ao espírito da Carta das Nações Unidas, do direito
internacional e do direito internacional humanitário.
Desde a imposição do
bloqueio nos anos 1960, o mundo testemunha uma das mais cruéis formas de
agressão contra uma nação soberana. Como tem reiteradamente denunciado o
governo cubano, trata-se de uma ação de guerra em tempos de paz.
O chanceler cubno,
Bruno Rodríguez, que além de ser uma das mais importantes autoridades do
governo cubano, é também membro do Birô Político do Partido Comunista, fez uma
viva denúncia dos efeitos nefastos do bloqueio, ao apresentar o Relatório
elaborado pelo governo e disponibilizado para toda a comunidade
internacional. “Durante cinco dias, de sexta-feira,18, a
quarta-feira 23 de outubro, as famílias cubanas estiveram privadas, exceto por
algumas horas, de eletricidade, com a preocupação de que a comida se estragasse
e não fosse possível ou muito caro substituí-la , e muitas delas não tinham
água corrente”, disse o ministro das relações Exteriores, referindo-se aos
recentes momentos em que a crise energética do país atingiu o auge, após a
desconexão do Sistema Elétrico Nacional, um reflexo direto do bloqueio
econômico e financeiro. O governo cubano caracterizou a situação como de
“emergência nacional”.
“A principal causa da
falha do Sistema Elétrico Nacional foi a falta de combustível, que afetou a
geração e causou instabilidade associada ao estado precário das nossas
centrais, ambas consequências diretas das medidas extremas de guerra econômica
aplicadas pelo Governo dos EUA desde 2019, especificamente “destinados a
impedir o fornecimento de combustíveis e peças e peças para manutenção técnica
das nossas centrais e instalações eléctricas, bem como a dificultar o
investimento e o acesso ao financiamento”, denunciou o Chanceler.
Bruno Rodríguez
enfatizou que os danos causados por cinco
meses de bloqueio no ano de 2024 equivalem ao total das importações anuais de combustíveis cubanos, que ascendem em média a cerca de 2 bilhões de dólares. E apontou que em valores corrigidos, no total, após quase seis décadas e meia de bloqueio, os prejuízos acarretados a Cuba ultrapassam 1 trilhão e 499 bilhões de dólares. O chanceler
denunciou ainda que o comércio exterior cubano
foi severamente afetado com a inclusão do país na infame lista de países
“patrocinadores do terrorismo”, elaborada pelo Departamento de Estado dos
Estados Unidos.
Desde a imposição do
bloqueio econômico, comercial e financeiro a Cuba nos anos 1960, o mundo tem
testemunhado uma das mais persistentes e cruéis formas de agressão contra uma
nação soberana. O bloqueio, totalmente condenado pela comunidade internacional,
não é apenas uma afronta às normas de convivência democrática entre as nações,
mas também um ataque contínuo ao desenvolvimento do país e ao bem-estar do povo
cubano.
O bloqueio a Cuba
começou em 1960, após o triunfo da Revolução Cubana de 1959. Em resposta às
reformas sociais e econômicas iniciadas pelo governo revolucionário, os Estados
Unidos adotaram uma série de medidas econômicas punitivas. O objetivo era
claro: asfixiar economicamente o país para incitar a insatisfação popular e,
eventualmente, provocar uma rebelião que derrubasse o governo.
Este bloqueio,
inicialmente limitado às restrições comerciais, foi expandido e reforçado ao
longo das décadas. A Lei Torricelli de 1992 e a Lei Helms-Burton de 1996
ampliaram o alcance extraterritorial do bloqueio, afetando não apenas as
relações bilaterais entre Cuba e os Estados Unidos, mas também as relações de
Cuba com outros países e empresas internacionais.
Além dos danos
econômicos, o bloqueio também representa uma violação flagrante dos direitos
humanos. Ao privar o povo cubano de acesso a bens essenciais e oportunidades de
desenvolvimento, os Estados Unidos impõem um doloroso sofrimento a uma nação
que tem o direito à autodeterminação, à soberania e a escolher seu próprio
caminho. O bloqueio é, portanto, uma forma de opressão coletiva que afeta
diretamente os mais vulneráveis. Nesse sentido pode ser considerado como uma
arma com fins genocidas.
O impacto do bloqueio
se manifesta nas privações diárias enfrentadas pela população. A escassez de
medicamentos e equipamentos médicos, por exemplo, é uma das consequências mais
cruéis dessa política. Cuba, apesar de seu sistema de saúde avançado e acessível,
luta com dificuldades para fornecer certos tratamentos e medicamentos devido às
restrições impostas pelo bloqueio, o que coloca vidas em risco.
Além disso, o bloqueio
afeta a segurança alimentar do país. As dificuldades para importar
fertilizantes, máquinas agrícolas e outras tecnologias para a produção de
alimentos forçam Cuba a buscar alternativas locais e, muitas vezes, menos
eficientes. Isso resulta em uma produção agrícola limitada, que não é
suficiente para atender à demanda interna. As restrições ao comércio
internacional também complicam a importação de alimentos, provocando períodos
de escassez que impactam diretamente a dieta da população.
Outro aspecto
importante é o impacto do bloqueio no acesso a tecnologias e recursos
educacionais. Cuba possui um dos sistemas educacionais mais inclusivos e
avançados da América Latina, com uma taxa de alfabetização quase universal e
uma forte ênfase em ciência e tecnologia. No entanto, o bloqueio limita o
acesso a materiais didáticos, softwares e tecnologias de ponta, que são
essenciais para manter o nível de excelência acadêmica. Isso cria barreiras
adicionais para os jovens cubanos, que lutam para alcançar seu pleno potencial
em um ambiente de restrições impostas externamente.
O bloqueio a Cuba não
é apenas moralmente injusto, é também uma clara violação do direito
internacional. A Carta das Nações Unidas, da qual os Estados Unidos são
signatários, estipula o princípio de não intervenção nos assuntos internos de
outros Estados nacionais, bem como o respeito à soberania nacional. O bloqueio
econômico imposto unilateralmente viola esses princípios fundamentais.
Além disso, o bloqueio
constitui uma forma de opressão coletiva, o que é proibido pelo direito
internacional humanitário. Embora Cuba e os Estados Unidos não estejam em
guerra, o bloqueio econômico pode ser visto como uma forma de agressão que visa
a submeter a população cubana a dificuldades para alcançar objetivos políticos,
o que é inaceitável sob qualquer interpretação das normas internacionais.
A
extraterritorialidade do bloqueio, especialmente através da Lei Helms-Burton,
também levanta sérias questões jurídicas. Ao punir empresas e países terceiros
que mantêm relações comerciais com Cuba, os Estados Unidos estão impondo suas
leis além de suas fronteiras, o que é uma ofensa à soberania de outras nações.
Esse comportamento não só prejudica as relações diplomáticas, mas também
compromete a integridade do sistema de comércio internacional, que deve ser
baseado em regras justas e acordos multilaterais.
Um dos aspectos mais
notáveis do bloqueio a Cuba é a hipocrisia que ele revela na política externa dos Estados Unidos. Enquanto
os EUA justificam o bloqueio como uma medida para promover a democracia e os
direitos humanos em Cuba, eles mantêm relações diplomáticas e comerciais com vários países que têm históricos de violações dos direitos humanos e déficit de governança democrática. Essa duplicidade expõe a verdadeira natureza do bloqueio: não se trata de direitos humanos, mas de
punir Cuba por sua escolha de um caminho socialista e independente.
“O governo do
presidente Biden costuma declarar que “ajudar e apoiar o povo cubano” é a sua
política. “Quem pode acreditar?”, disse ele, descrevendo o que a administração
dos EUA está a fazer como uma tentativa de sabotar o desenvolvimento da ilha.
O Estado cubano
trabalha incansavelmente para encontrar soluções para as tensões que vive, o
que é surpreendente se tivermos em conta que, nas nossas condições extremas,
Cuba ainda constrói uma obra social reconhecida mundialmente.
Por sua vez, denunciou
que, com o bloqueio, o imperialismo alerta que qualquer nação que tente
defender a sua soberania pagará o preço.
“Nenhum país, mesmo
aqueles com economias muito mais robustas que as de Cuba, poderia enfrentar uma
agressão tão brutal, assimétrica e prolongada ao longo do tempo, sem um custo
considerável para o nível de vida da sua população”, alerta.
A luta para garantir a
soberania nacional e o bem-estar social e persistir no caminho do socialismo
representam um enorme desafio para o povo e o governo cubanos. Não há receita
mágica. Continua presente a necessidade de dar novos passos na modernização do
país, no aperfeiçoamento do modelo econômico, na atualização do socialismo e é
cada vez mais necessário unir e mobilizar o povo em torno dos valores
patrióticos e revolucionários.
• Enfretamento à crise de energia
elétrica: México doa mais de 400 mil barris de petróleo para Cuba
A presidente do
México, Claudia Sheinbaum, confirmou o envio de 400 mil barris de petróleo para
Cuba com o intuito de ajudar o país caribenho no enfretamento da crise no
sistema elétrico.
"Sim, são 400 mil
[barris]. Só para se ter uma ideia: o México produz de 1,6 a 1,8 milhão de
barris por dia. Portanto, 400 mil barris não é a produção de nem um dia",
enfatizou a presidente durante entrevista coletiva.
No dia 23 de outubro
de 2024, Sheinbaum anunciou que seu governo estava analisando o envio de
combustível a Cuba para ajudar na recuperação do sistema elétrico da ilha após
o colapso ocorrido em 18 de outubro.
"Vamos apoiar
Cuba por razões humanitárias. Além disso, o México nunca foi a favor do
bloqueio, é histórico. […] Embora haja críticas, vamos ser solidários com a
ilha caribenha", sublinhou a presidente mexicana.
Segundo a imprensa
mexicana, o petroleiro Vilma saiu no último fim de semana do porto de
Pajaritos, Veracruz, em direção a Cuba, com uma carga de petróleo bruto leve, o
mais valorizado do mercado.
O governo de Cuba
agradeceu a solidariedade de mais de 40 países e organizações internacionais
face ao apagão geral que o país sofreu durante quatro dias, após três falhas
que provocaram o colapso do sistema de produção de eletricidade. As autoridades
cubanas anunciaram no dia 22 de outubro que restauraram 70,89% de seu serviço
elétrico após o incidente.
• Polícia venezuelana ameaça Lula e o
Brasil em publicação após veto nos Brics
A Polícia Nacional da
Venezuela publicou, nesta quinta-feira (31), um post em que ameaça o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como forma de expressar a insatisfação pelo
veto do chefe de Estado brasileiro à entrada do país no bloco dos Brics.
“Quem se mete com a
Venezuela se dá mal”, diz a publicação em espanhol.
A frase faz referência
a uma declaração do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que garantiu que os
que tentaram calar ou vetar a Venezuela no passado se deram mal.
Para integrar os
Brics, a Venezuela precisava da aprovação de todos os membros atuais do bloco
econômico. Porém, Lula teria recomendado ao Itamaraty que impedisse a adesão
dos venezuelanos ao grupo, apesar do apoio da Rússia.
“Nossa pátria é
independente, livre e soberana. Não aceitamos chantagem de ninguém, não somos
colônia de ninguém. Estamos destinados a vencer”, informa a publicação.
A relação entre os
países apresenta rusgas desde julho, após a reeleição de Maduro, quando o
Planalto não reconheceu a vitória do líder venezuelano. Maduro declarou
vitória, mas não apresentou as atas de votação.
¨ Brasil prepara reação a ataques da Venezuela em meio à escalada
da tensão entre os dois países
O governo brasileiro,
após uma sequência de provocações vindas do governo do presidente venezuelano
Nicolás Maduro, está prestes a se manifestar de forma oficial. A reação vem na
esteira de uma postagem feita pela Polícia Nacional da Venezuela em sua conta
no Instagram, onde uma imagem com uma bandeira brasileira aparece ao fundo de
uma silhueta que remete ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), embora
com traços e contornos borrados, com a frase "quem se mete com a Venezuela
se dá mal".
Segundo o jornal O Globo,
fontes oficiais confirmaram que uma nota do Itamaraty será divulgada, na qual o
Brasil expressará sua surpresa e desagrado com o tom agressivo das declarações
recentes de altos funcionários venezuelanos, embora sem especificar nomes ou
detalhes. "Sem cair em provocações", afirmou uma fonte, o governo
brasileiro pretende esclarecer que as expressões oriundas de Caracas sobre o
governo e suas autoridades "não estão em linha com a forma respeitosa como
devemos tratar nossas divergências". O texto ainda está em fase de
revisão.
Ainda de acordo com a
reportagem, funcionários do governo brasileiro analisam que as falas e
posicionamentos do regime de Maduro "perderam o sentido da
realidade". Até o momento, o governo Lula vinha adotando uma postura de
contenção diante dos ataques provenientes de Caracas, mas a imagem da Polícia
Nacional, ao atacar um símbolo nacional, mudou essa abordagem.
A avaliação é de que
"uma coisa é criticar, ainda que sem fundamento, autoridades ou até mesmo
instituições de governo", mas o ataque à bandeira do Brasil elevou a crise
a um novo patamar, levando o Brasil a decidir abandonar o silêncio. A resposta
do governo brasileiro, contudo, deverá ser moderada, sem manifestação de
repúdio a declarações ou ações específicas. "Não queremos escalar",
disseram os interlocutores, embora tenham enfatizado que "não podíamos
tolerar ataques que passaram dos limites".
A tensão entre Brasil
e Venezuela atingiu níveis sem precedentes desde a volta de Lula ao poder, em
janeiro de 2023. O primeiro ano foi marcado por tentativas de reconciliação,
mas as relações começaram a se deteriorar no final do ano passado, em meio às
ameaças de Maduro de invadir a Guiana para recuperar o território do Essequibo.
O clima se agravou
após a eleição presidencial de 28 de julho, cujo resultado, anunciado pelo
Conselho Nacional Eleitoral (CNE), não foi reconhecido pelo Brasil. Desde
então, o governo brasileiro fez diversas solicitações ao governo de Nicolás
Maduro, incluindo a entrega de atas eleitorais que comprovassem a reeleição do
presidente, as quais nunca foram apresentadas.
Na semana passada, o
Brasil também se opôs à entrada da Venezuela no BRICS, bloco que inclui Brasil,
Rússia, China, Índia e África do Sul, contribuindo ainda mais para o aumento
das tensões. Maduro não hesitou em atacar o Itamaraty, convocando o embaixador
em Brasília, Manuel Vadell, para consultas.
Em nota, o governo
venezuelano expressou "a mais firme rejeição às recorrentes declarações de
ingerência e grosseiras" de representantes do governo brasileiro,
especialmente do assessor especial para Assuntos Externos, Celso Amorim, que
foi acusado de se comportar como "mais um mensageiro do imperialismo
norte-americano".
Além disso, o
encarregado de Negócios da embaixada brasileira em Caracas foi chamado para
prestar esclarecimentos na chancelaria venezuelana.
Fonte: Brasil
247/Jornal GGN
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