'Começar pelo exercício mais fácil' e
outros erros comuns de alunos em provas como o Enem, segundo a ciência
Estudar horas a fio na
noite anterior à prova e começar o exame pelo exercício mais fácil são
estratégias comumente usadas por muitos estudantes, em especial em tempos de
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - cujas provas serão realizadas em 3 e 10
de novembro -, vestibulares e provas finais.
Mas será que essas
estratégias realmente nos fazem aprender ou nos sair melhor nas provas?
Um livro de dois
pesquisadores americanos e um britânico especializados em neurociência
desmistifica algumas táticas de estudo e dá sugestões com embasamento
científico para estudar e ir bem nas provas.
"As pessoas
muitas vezes pensam, equivocadamente, que se conseguirem reduzir o estresse
diante da prova, vão se sair melhor. Mas a razão de seu estresse não é o teste
em si, e sim que elas não sabem estudar corretamente nas semanas e meses antes
do teste", argumenta à BBC News Brasil a pesquisadora Barbara Oakley, uma
das autoras do livro Aprendendo a Aprender para Crianças e Adolescentes: Como
se Dar Bem na Escola (editora Best Seller).
"Fazer isso com
mais eficiência pode resultar em uma enorme diferença em seu desempenho nas
provas e na vida."
A seguir, algumas
dicas do livro coescrito por Oakley:
• Varar a noite estudando na véspera da
prova não ajuda o cérebro a aprender
Aprender, na prática,
consiste em criar novas (ou mais fortes) correntes cerebrais em nosso cérebro.
Quanto mais praticamos essas coisas e acrescentamos complexidade ao
aprendizado, mais fortes e compridas ficam essas correntes.
Ao varar a noite
estudando na véspera da prova, você não dará ao cérebro tempo para fortalecer
as correntes cerebrais daquele determinado assunto, nem o descanso necessário
para ele solidificar esse aprendizado, afirma o livro.
"Tempo e treino
trabalham juntos para ajudá-lo a cimentar as ideias no seu cérebro. Se o tempo
é curto, você não consegue criar novas estruturas no cérebro e ainda perde
energia preocupando-se com isso", agrega Oakley.
Qual, então, é a
melhor estratégia para aprender?
• Revisar logo, e constantemente, é mais
eficaz do que passar horas estudando na véspera
"Quando
aprendemos algo novo, precisamos revisá-lo logo, antes que as espinhas
dendríticas e as conexões sinápticas (termos técnicos que se referem à
atividade em nossos neurônios durante a aprendizagem) comecem a desaparecer. Se
elas desaparecerem, temos que começar o processo de aprendizagem todo
novamente", explica Oakley no livro.
Por conta disso, ela
sugere que, ao longo dos estudos para a prova — e não só na véspera —, façamos
o seguinte:
Revisar o conteúdo
assim que ele for aprendido, para reforçar as correntes cerebrais ligadas a
aquele aprendizado, evitando perdê-las;
Manter vivas as
ideias-chave daquele conteúdo; tente lembrar dessas ideias em voz alta, sem
lê-las no papel, ou explicá-las a alguém. Isso vai fixar a informação na sua
cabeça.
Estudar um pouco, por
vários dias. Isso também ajuda a reforçar o conhecimento dentro do cérebro.
• Começar pelo exercício difícil, em vez
do fácil
"Por muitos anos,
os alunos ouviram que devem começar a prova pelos problemas fáceis",
explica Oakley. "A neurociência diz que isso não é uma boa ideia."
Isso porque você pode usar as questões mais fáceis a seu favor, quando estiver
empacado nas mais difíceis.
Nosso cérebro, diz
Oakley, trabalha de dois jeitos diferentes, que se complementam no aprendizado:
o modo focado (quando estamos prestando atenção a um exercício, a um filme ou
ao professor, por exemplo) e o modo difuso (quando o cérebro está relaxado).
E relaxar a mente
muitas vezes permite encontrar soluções para problemas – é o motivo pelo qual
às vezes temos boas ideias durante caminhadas ou depois de uma boa noite de
sono, período em que o cérebro entra no modo difuso.
Sendo assim, passar de
um exercício difícil para um mais fácil pode colocar o cérebro nesse modo mais
relaxado, o que pode ajudá-lo a resolver a questão inicial.
"Quando começar a
prova, olhe-a rapidamente por inteira. Marque as questões que achar mais
difíceis. Escolha uma delas e comece a trabalhar, por mais ou menos dois
minutos ou até se sentir empacado. Quando empacar, pare. Procure uma questão
mais fácil para aumentar sua confiança; resolva uma ou duas questões fáceis e
então volte à difícil. Talvez agora você consiga progredir um pouco."
• Prestar atenção ao 'pensamento viciado'
Se sobrar tempo ao
final da prova, tente revisar as questões em uma ordem diferente da qual fez
inicialmente. Isso pode ajudá-lo a questionar: será que a minha resposta para
cada exercício realmente fez sentido?
"Assim que
escrevemos a resposta para uma questão, é fácil pensar que ela está
correta", diz Oakley. "Tente fazer sua mente olhar para as questões
de novo, com novos olhos. (...) Sua mente pode levar você a pensar que o que
fez está correto, mesmo que não esteja. Sempre que possível, pisque, desvie sua
atenção e verifique suas respostas."
• Dormir bem e fazer atividades físicas
ajudam, e muito, o cérebro
Oakley compara o sono
à "argamassa que consolida as paredes do aprendizado" no cérebro. É
dormindo, diz ela, que o cérebro ensaia o que aprendeu durante o dia, fortalece
as correntes de aprendizado e elimina toxinas.
"Quanto mais você
aprende, pratica e dorme, mais espinhas dendríticas e conexões sinápticas (os
termos técnicos referentes à atividade dos neurônios durante a aprendizagem)
são formadas", explica o livro.
Além disso, praticar
atividades físicas não faz só bem ao corpo, como também ao cérebro. O exercício
físico faz novos neurônios crescerem, além de proporcionar momentos ótimos para
estimular o modo difuso (relaxado) do cérebro, essencial ao aprendizado.
Fonte: BBC News Brasil
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