EUA e países europeus não devem ajudar na
reconstrução de Gaza; BRICS, sim, avaliam pesquisadores
A recente expansão do
BRICS, incluindo sobretudo países do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Irã e
Emirados Árabes Unidos, pode tornar o grupo um potencial financiador da
reconstrução da Faixa de Gaza, segundo os entrevistados do programa Mundioka,
da Sputnik Brasil, desta quarta-feira (30).
Para o presidente da
Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, e a doutoranda em
ciência política da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora de política
externa russa Giovana Branco, a atuação do BRICS daria mais autonomia e legitimidade
ao povo palestino na administração dessa reconstrução, uma vez terminado o
conflito que vem devastando a região há mais de um ano.
"Seria realmente
um marco desse grupo, de se diferenciar em relação às potências ocidentais mais
tradicionais, que ao longo do tempo foram associadas à destruição dessa região
no mundo", comentou a pesquisadora.
O BRICS contava até o
ano passado com cinco países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Neste ano o grupo ganhou novos membros: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e
Emirados Árabes Unidos.
Rabah frisou que a
ajuda do BRICS pode possibilitar que a administração seja feita pelo povo
palestino, com um governo de unidade e de reconciliação nacional.
"Os países que
participam do BRICS, entre eles países da própria região, é que são confiáveis
para isso", opinou.
"É um grupo que
vem adquirindo um tom muito crítico aos Estados Unidos e, consequentemente, à
Europa de uma forma geral, e que vem tentando se posicionar como esta grande
alternativa que olharia de uma forma mais empática para conflitos que tenham sido
esquecidos pelo Ocidente ou mesmo rejeitados", acrescentou Branco.
Para Rabah, é imoral
que depois de "financiar o genocídio do povo palestino", os EUA
participem da reconstrução de Gaza, lucrando com construções e materiais de
empresas norte-americanas:
"Eles deram para
Israel, para o genocídio, na casa de US$ 22,8 bilhões, ou seja, R$ 125 bilhões
de reais. Isso dá incríveis R$ 2,4 milhões para cada palestino exterminado em
Gaza."
De acordo com a
Organização das Nações Unidas (ONU), serão necessários pelos menos US$ 40
bilhões (cerca de R$ 230 bilhões) para que a Faixa de Gaza, que ainda está
sendo destruída por Israel, seja restaurada.
Ele acrescentou que,
em 65 anos, os EUA enviaram para Israel mais de US$ 250 bilhões (cerca de R$
1,4 trilhão), 150% mais do que destinaram para a reconstrução da Europa após a
Segunda Guerra Mundial, no chamado Plano Marshall — US$ 100 bilhões (R$ 550 bilhões)
em valores atualizados —, acrescentou ele.
Além da destruição
física, os ataques ao território, iniciados em 7 de outubro de 2023, já mataram
mais de 45 mil pessoas, de acordo com cálculos das autoridades palestinas.
A pesquisadora também
avaliou que seria uma hipocrisia, neste momento, pensar uma reconstrução de
Gaza partindo dos Estados Unidos e dos países europeus.
"Não me parece
que exista um interesse genuíno por parte das lideranças ocidentais de dar aos
palestinos uma autoridade política, de reconhecer a sua soberania estatal, de
reconhecer a sua nacionalidade e identidade cultural e também de reconstruir o
seu território, que foi sistematicamente violado ao longo de anos."
O representante da
federação palestina no Brasil afirmou que 80% da Faixa de Gaza está sob
escombros:
"Ela supera a
destruição da cidade mais afetada pela […] Segunda Guerra Mundial inteira, que
durou seis anos […]. Segundo a ONU, […] precisará de 7 a 14 anos para que esses
escombros sejam removidos. E mais, há, neste momento agora, pessoas sob esses
escombros, animais, tudo que nós possamos imaginar sob esses escombros."
O representante da
federação também ressaltou que os EUA são o motivo por que a Organização das
Nações Unidas não tem posicionamento mais combativo em relação aos ataques de
Israel.
"Porque existem
os Estados Unidos e Israel, que votam contra, mais quatro ou cinco países
insulares que, somados, não totalizam 2 milhões de habitantes. E, claro, os
países europeus que se abstêm" comentou ele.
Entretanto, pontuou,
quase a totalidade dos demais votos da ONU é pró-Palestina:
"[…] a Ásia
inteira vota com a Palestina, inclusive o Japão, veja só. O continente africano
inteiro vota com a Palestina e, à exceção do Paraguai [e dos EUA], o restante
do continente americano também vota com a Palestina nas resoluções essenciais, inclusive
as de reconhecimento da Palestina como Estado soberano", defendeu ele.
A cientista política
lembrou que injetar dinheiro na região e reconstruí-la materialmente não será
suficiente sem o reconhecimento internacional da Palestina enquanto Estado
nacional soberano e independente, aceito pelos demais países das Nações Unidas
e de outros fóruns multilaterais.
"Pensar em outras
formas de reconstrução e de legitimidade é muito mais importante hoje do que
apenas disponibilizar dinheiro e ajuda internacional para a reconstrução ou
desenvolvimento."
Entretanto,
argumentou, esse seria um movimento de longo prazo, pois no cenário atual,
embora o movimento pró-palestino seja forte entre essas lideranças, a maioria
evita uma conexão direta com o grupo palestino Hamas.
"Principalmente
porque o Hamas tem um estigma de ser entendido por alguns países e alguns
grupos como um grupo terrorista, então se associar a ele seria como reconhecer,
por exemplo, a liderança do Talibã no Afeganistão, que pode ser, sim, uma
posição muito difícil de sustentar politicamente", disse. "Talvez sem
conflito na Ucrânia, talvez uma China mais estabilizada politicamente, aí, sim,
a gente pode ver esse envolvimento, mas hoje eu não vejo essa
perspectiva", ponderou ela.
¨ Hamas reitera as condições para o cessar-fogo
O líder sênior do
Hamas, Sami Abu Zuhri, disse na terça-feira que o movimento está aberto a
discutir “qualquer acordo” que garanta um cessar-fogo permanente em Gaza e a
retirada completa das forças de ocupação israelenses da Faixa.
Em um discurso
televisionado, Abu Zuhri afirmou que o Hamas atendeu às solicitações dos
mediadores para discutir novas propostas de cessar-fogo.
O funcionário do Hamas
afirmou que a delegação do movimento confirmou, durante essas reuniões, sua
abertura a todas as propostas que garantissem várias condições, incluindo o fim
da agressão, a retirada das forças de ocupação, o levantamento do cerco, a entrada
irrestrita de ajuda em Gaza e a conclusão de um acordo de troca tangível.
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Responsabilidade histórica e moral
Abu Zuhri também se
dirigiu à “nação árabe e islâmica”, conclamando-a a interromper suas
declarações sobre a agressão israelense ao enclave sitiado, que Tel Aviv
desconsidera totalmente, e a tomar a decisão de romper o cerco a Gaza e levar
ajuda humanitária à Faixa, especialmente ao norte.
“A incapacidade dos
países árabes e da comunidade internacional de interromper a ocupação e levar
ajuda ao povo de Gaza não é mais aceitável”, afirmou o líder do Hamas.
Ele também pediu aos
países árabes e islâmicos que “assumam sua responsabilidade histórica e moral e
superem os ditames da administração americana, que apoia a ocupação e é
parceira de sua agressão”.
Além disso, Abu Zuhri
pediu a outros países árabes e islâmicos que socorram as centenas de milhares
de palestinos feridos e famintos atualmente sitiados no norte de Gaza e que
“pressionem efetivamente os apoiadores da ocupação para que parem com suas agressões
e crimes”.
Em seu discurso
televisionado, o representante do Hamas também pediu aos países que
normalizaram suas relações com a ocupação que cortem imediatamente suas
relações com Israel.
“Não é razoável que
vários países estrangeiros tenham tomado a iniciativa de fazer isso, enquanto
vários países árabes insistem em manter e normalizar suas relações com o
inimigo”, enfatizou Abu Zuhri.
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‘Violações flagrantes’
Com relação à última
medida tomada por Tel Aviv para banir a Agência das Nações Unidas para os
Refugiados da Palestina (UNRWA) em Israel e nos territórios palestinos
ocupados, Abu Zuhri classificou a medida como uma “continuação da guerra
sionista contra nosso povo, sua terra, seus direitos e sua causa nacional”.
Ele afirmou que a
última medida israelense contra a UNRWA é uma “violação flagrante das leis
internacionais que exige a expulsão da entidade sionista das Nações Unidas e a
imposição de sanções a ela”.
Abu Zuhri também
condenou as recentes declarações do Ministro das Finanças de Israel, Bezalel
Smotrich, que pediu a expansão dos assentamentos judeus ilegais e a expulsão
dos palestinos.
“A reiteração das
declarações provocativas do criminoso de guerra Bezalel Smotrich é uma extensão
da política fascista e agressiva do governo de ocupação contra nosso povo e
nossa terra, e revela a extensão do perigo dessa política racista para a
segurança e a estabilidade da região”, afirmou Abu Zuhri.
Ele conclamou todos os
países a denunciarem e rejeitarem tais declarações e a envidarem todos os
esforços para pôr fim aos crimes de Israel contra o povo palestino e suas
terras.
O líder do Hamas
encerrou seu discurso na televisão renovando a convocação para manifestações em
todo o mundo e conclamou os manifestantes a cercarem as embaixadas israelenses
e as dos países que as apoiam em seu genocídio em Gaza.
“O povo palestino
permanecerá comprometido com sua terra e seus lugares sagrados,
independentemente do tamanho dos sacrifícios”, concluiu.
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O genocídio em Gaza continua
Desrespeitando uma
resolução do Conselho de Segurança da ONU que exige um cessar-fogo imediato,
Israel tem enfrentado a condenação internacional em meio à sua contínua e
brutal ofensiva em Gaza.
Atualmente em
julgamento perante a Corte Internacional de Justiça por genocídio contra
palestinos, Israel vem travando uma guerra devastadora em Gaza desde 7 de
outubro.
De acordo com o
Ministério da Saúde de Gaza, 43.020 palestinos foram mortos e 101.110 ficaram
feridos no genocídio contínuo de Israel em Gaza, que começou em 7 de outubro de
2023.
Além disso, pelo menos
11.000 pessoas estão desaparecidas, supostamente mortas sob os escombros de
suas casas em toda a Faixa.
Israel afirma que
1.200 soldados e civis foram mortos durante a operação Dilúvio de Al-Aqsa em 7
de outubro. A imprensa israelense publicou relatórios que sugerem que muitos
israelenses foram mortos naquele dia por “fogo amigo”.
Organizações
palestinas e internacionais afirmam que a maioria dos mortos e feridos são
mulheres e crianças.
A guerra israelense
provocou uma fome aguda, principalmente no norte de Gaza, resultando na morte
de muitos palestinos, em sua maioria crianças.
A agressão israelense
também resultou no deslocamento forçado de quase dois milhões de pessoas de
toda a Faixa de Gaza, sendo que a grande maioria dos deslocados foi forçada a
ir para a cidade de Rafah, ao sul, densamente povoada, perto da fronteira com o
Egito, no que se tornou o maior êxodo em massa da Palestina desde a Nakba de
1948.
Mais tarde, durante a
guerra, centenas de milhares de palestinos começaram a se deslocar do sul para
o centro de Gaza em uma busca constante por segurança.
¨ ONU e FMI já não representam cenário global, diz chanceler
brasileiro, Mauro Vieira,
O ministro das
Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, declarou nesta quarta-feira (30)
que os principais organismos institucionais no mundo não representam
adequadamente o cenário global.
Ao destacar as
prioridades do Brasil na presidência rotativa do G20, ele ressaltou a reforma
dos mecanismos de governança global, para que se mudem as estruturas dessas
representações "que não mais refletem a realidade do mundo de hoje".
"Da mesma forma,
com o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional [FMI] e, mais
recentemente, a Organização Mundial do Comércio [OMC], são todas organizações
importantes em um multilateralismo global para defender os interesses dos
países e desenvolvimentos no futuro e que estão fora da realidade atual
[…]."
As declarações foram
dadas durante a entrega da revitalização do Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro (MAM), que sediará a próxima cúpula dos líderes do G20, em meados de
novembro.
Além de Vieira,
participaram da entrega das obras do museu o prefeito do Rio de Janeiro,
Eduardo Paes (PSD), e a primeira-dama do país, Janja Lula da Silva. O governo
federal assumiu a gestão do espaço até o fim da conferência, em 19 de novembro.
Na ocasião, Paes
ofereceu a cidade para sediar a reunião do BRICS, que terá o Brasil na
presidência em 2025.
Em coletiva à
imprensa, da qual participou a Sputnik Brasil, Vieira comentou que entes como
Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial e o FMI precisam ser
reformados, pois foram concebidos para um contexto de cerca de 50
países-membros e agora abrigam 193.
Mauro Vieira destacou
ainda a importância da reunião do G20 deste ano ocorrer no MAM.
"Porque o G20 é
uma plataforma de articulação global hoje de grande importância. As grandes
decisões geopolíticas são tomadas nas reuniões do G20, e ter [a cúpula] no Rio
de Janeiro, que é o cartão-postal do Brasil, […] acho que tem tudo a ver hoje em
dia com o que representa o G20 do Brasil — é um marco de uma mudança também,
como foi a construção do Aterro [do Flamengo], a construção do museu na década
de 1960."
O MAM está localizado
no Parque do Flamengo, que passou pela maior revitalização dos últimos 25 anos,
segundo a prefeitura, em uma área de mais de 100 mil m², com reformas nas áreas
internas do museu e no entorno, incluindo a recomposição do paisagismo de Burle
Marx.
<><> O que
é o G20 e qual seu objetivo?
O grupo é composto por
África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá,
China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão,
México, Reino Unido, Rússia e Turquia, e dois órgãos regionais: a União Africana
e a União Europeia.
Os membros do G20
representam cerca de 85% do produto interno bruto (PIB) mundial, mais de 75% do
comércio e cerca de dois terços da população global.
Principal fórum de
cooperação econômica internacional, desempenha um papel importante na definição
e no reforço da arquitetura e da governança mundiais em todas as grandes
questões econômicas internacionais.
O G20 conta com
presidências rotativas anuais. O Brasil exerce a presidência do G20 de 1º de
dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024. A próxima nação a assumir a
presidência do grupo será a África do Sul.
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Rússia lança projeto Mensagem ao Futuro em simpósio internacional com cerca de
40 países
De 4 a 6 de novembro,
os convidados do Simpósio Internacional Criando o Futuro poderão enviar uma
Mensagem ao Futuro, como parte de um projeto especial do Centro Nacional
Rossiya e dos Correios da Rússia. O evento também tem como foco discutir as
questões da nova ordem mundial e o papel dos países nesse contexto.
Os participantes
poderão deixar seus desejos ou visões para o futuro, compartilhar planos e
sonhos em cartões-postais especiais, com a possibilidade de serem enviados para
seus entes queridos ou até para si mesmos diretamente do local do evento.
Ao todo foram
preparados 4 mil cartões-postais para os participantes do simpósio. O evento
será dedicado a questões atuais da nova ordem mundial, assim como ao papel da
Rússia e de outros Estados nesse contexto. Os participantes ainda vão discutir
as principais tendências e os desafios das relações interestatais modernas.
Entre as autoridades presentes está o ministro das Relações Exteriores da
Rússia, Sergei Lavrov.
"Não há dúvida de
que o simpósio receberá uma ampla resposta positiva em todo o mundo. Ele surgiu
como uma espécie de resposta ao apelo dos cidadãos do nosso país e de várias
potências mundiais para promover a posição da Rússia no cenário internacional
em relação aos problemas mais urgentes do nosso tempo", declarou a
representante oficial do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.
Também participa do
evento o diretor de pesquisa da DD Geopolitics dos Estados Unidos, John Molera,
que participará do debate "O futuro da família: compromisso,
responsabilidade, tradição".
"Espero ser
inspirado no simpósio por pessoas de todo o mundo que imaginam um futuro para a
humanidade além do neoliberalismo ocidental. Nosso objetivo é construir um
movimento que respeite as tradições e os interesses baseados no reconhecimento
mútuo e na cooperação", afirmou Molera.
Mais de 60 atividades
estão previstas para os participantes, com um programa focado em quatro áreas
de pesquisa: o futuro do homem, o futuro da tecnologia, o futuro do mundo
multipolar e o futuro das civilizações.
Delegados de cerca de
40 países vão comparecer, incluindo Arábia Saudita, Argentina, Armênia,
Áustria, Bulgária, Canadá, China, Egito, Espanha, Emirados Árabes Unidos,
França, Hungria, Índia, Itália, Irã, Kuwait, Sérvia, Síria e Turquia.
Fonte: Sputnik Brasil
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