Trump e Kamala fazem da eleição um
referendo sobre o adversário
Dois discursos de
encerramento de campanha em 48 horas evidenciaram o contraste
absoluto entre Donald
Trump e Kamala Harris.
No parque The Ellipse, onde no dia 6 de janeiro de 2021 o ex-presidente encorajou seus partidários a uma insurreição para anular a
vitória de Joe Biden, a candidata
democrata, vice-presidente e ex-procuradora-geral da Califórnia expôs o seu argumento final para convencer os eleitores: virar a página do trumpismo, unir o país e ser uma presidente
para todos os americanos.
“É uma escolha entre
um país enraizado na liberdade para cada americano ou outro governado pelo caos
e pela divisão", disse. Ela descreveu o adversário como um pequeno
tirano — “instável, obcecado por vingança, consumido por queixas e em busca do
poder descontrolado”.
Na arena do Madison
Square Garden, neste domingo (27), o ex-presidente e seus oradores
convidados despejaram uma onda de mentiras e ofensas racistas e
xenófobas dirigida aos imigrantes e à atual vice-presidente.
Mais tarde, Trump qualificou o evento como um “festival de amor absoluto” — definição semelhante à usada para descrever a invasão ao Capitólio por uma turba de simpatizantes armados.
Ambos os candidatos
parecem beber na mesma fonte, traçando um cenário apocalíptico e apelando ao
medo, caso o oponente saia vencedor na próxima terça-feira, para seduzir os que
ainda estão indecisos. Trump antevê a recessão econômica, a Terceira Guerra
Mundial e o enfraquecimento dos EUA, transformado no que chama de “lata do lixo
do mundo”.
Sob esse prisma,
diante de 75 mil pessoas que lotaram o parque nas imediações da Casa
Branca, a candidata também fez previsões sombrias sobre o futuro do país: o
desmonte das instituições, a perseguição aos opositores e a democracia sob
ameaça, numa repetição dos argumentos usados há quatro anos por Joe Biden
contra Trump.
“Em menos de 90 dias,
Donald Trump ou eu estaremos no Salão Oval. E no primeiro dia no cargo, Donald
Trump entrará com uma lista de inimigos. Eu entrarei com uma lista de
afazeres e alguém que trabalhará para unir os americanos.”
Kamala procurou
transmitir uma mensagem clara e objetiva, na tentativa de demarcar este duelo
como o combate entre o bem e o mal. Expôs propostas que impactam no seu dia a
dia: um crédito tributário para quem quer ter o seu primeiro imóvel
ou a expansão do sistema de saúde para cobrir gastos de assistência
médica em casa, entre elas.
Os comícios de
encerramento dos candidatos, a uma semana do fim da campanha, seguem uma
lógica: atingir a tempo os eleitores que antecipam o voto. Mais de 50 milhões
já o fizeram, e o prazo para o envio das cédulas pelo correio está se
esgotando.
A eles, Trump e
Kamala tentaram descrever a eleição como um referendo sobre o adversário, em
que o eixo principal é a demonização do outro.
¨ Quem são os candidatos a presidente dos EUA?
A democrata Kamala Harris e
o republicano Donald
Trump são os favoritos à Casa Branca nas
eleições presidenciais deste ano, mas não os únicos a disputar o voto do
eleitor americano. Partidos de terceira via e candidatos independentes também
estão na corrida e, embora não tenham chances reais de vitória, podem
ter impacto no resultado.
📊 As pesquisas de intenção de voto apontam praticamente para um
empate entre Kamala e Trump, e a presença de
outros nomes nas cédulas de votação pode fazer a balança pender para um
dos lados.
🗳️ Em 2016, por exemplo, Jill Stein, candidata do Partido Verde
que concorre neste ano também, foi acusada de atrapalhar o desempenho da
democrata Hillary Clinton em três estados, fazendo com que Trump fosse eleito.
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E, nesta eleição, o
Partido Democrata volta a se preocupar com Jill, em especial por conta do
eleitorado árabe. Descontente com o posicionamento do governo Biden em relação
ao conflito no Oriente Médio, esse público pode escolher a candidata do Partido
Verde, que chegou até a ser presa em um ato pró-Palestina, tirando, assim,
votos que podem fazer a diferença para Kamala.
Também estão na
disputa Chase Oliver, do Partido Libertário, e Cornel West, que é independente.
Mas há ainda outros nomes alternativos que vão aparecer nas cédulas de votação:
de acordo com levantamento do site Ballotpedia, serão 24 no total, que variam conforme
o estado.
👉 Como os Estados
Unidos não têm um órgão eleitoral nacional
como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Brasil, cada estado americano faz
as suas próprias regras, inclusive para determinar os candidatos que vão para
as cédulas e em qual ordem.
Por isso, mesmo em uma
eleição nacional, os candidatos a presidente da República não são os mesmos em
todos os estados. Tirando os partidos Republicano e Democrata, que são os
maiores e definem seus candidatos em primárias e caucus, as legendas menores precisam
se qualificar e atender a requisitos mínimos, como ter recebido um determinado
número de votos em eleições anteriores ou apresentar uma certa quantidade de
assinaturas em apoio.
👉 Abaixo, saiba mais sobre os candidatos mais relevantes nas
eleições de 2024:
Kamala
Harris
Kamala Harris é a
atual vice-presidente dos Estados Unidos e concorre pelo Partido Democrata. Ela
foi indicada pela legenda para disputar as eleições deste ano após o atual
presidente, Joe Biden, desistir de tentar a reeleição.
A democrata tem 60
anos e foi a primeira mulher a se tornar vice-presidente dos Estados Unidos. Se
vencer, também se tornará a primeira mulher presidente.
Formada em Direito e
Ciências Políticas, Kamala foi procuradora da cidade de São Francisco e,
depois, do estado da Califórnia. Ela também foi senadora pelo estado entre 2017
e 2020.
Em 2020, ela chegou a
se apresentar como pré-candidata à Casa Branca e liderou algumas pesquisas
dentro do Partido Democrata. No entanto, perdeu apoio e desistiu por falta de
recursos financeiros.
Depois, foi escolhida
por Joe Biden para integrar a chapa dele à Casa Branca. A estratégia foi usada
para atrair minorias, já que Kamala é negra e filha de imigrantes.
A opção por Kamala foi
fundamental para a vitória de Biden, funcionando como um chamariz para
convencer eleitores negros a votar no pleito de 2020.
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Donald Trump
Donald Trump tem 78
anos e concorre pelo Partido Republicano. Empresário e bilionário, Trump já foi
presidente dos Estados Unidos entre 2017 e 2021. Ele chegou a tentar a
reeleição em 2020, mas foi derrotado por Biden.
Antes de chegar à Casa
Branca, Trump construiu uma carreira empresarial de sucesso. O pai dele fez
fortuna erguendo prédios nos bairros do Brooklyn e do Queens, em Nova York.
Em 1968, ele se formou
em Economia na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia e, em seguida,
sucedeu o pai no comando da empresa familiar.
Enquanto o pai dele
construía casas para a classe média, Trump optou pelas torres luxuosas, hotéis,
cassinos e campos de golfe. Já nos anos 1980, ergueu diversos empreendimentos
em Nova York, incluindo a Trump Tower e o Trump Plaza.
A fama como grande
empresário também fez com que ele fizesse aparições constantes na TV e no
cinema. Nos anos 2000, apresentou a versão americana do programa "O
Aprendiz".
Como presidente, Trump
foi criticado pela condução das políticas para o combate à pandemia de Covid-19
e pelo comportamento controverso. Ele também foi visto como uma ameaça à
democracia ao não aceitar os resultados das eleições de 2020 e é réu em um processo na Justiça que investiga a invasão do prédio
do Congresso dos EUA em janeiro de 2021.
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Jill Stein
Jill Stein tem 74 anos
e é a candidata do Partido Verde. Ela é médica formada pela Universidade de
Harvard e conhecida pelo ativismo na saúde ambiental e combate às mudanças
climáticas.
Em 1990, Jill passou a
pesquisar a influência dos poluentes na saúde humana. A partir daí, começou a
lutar por uma sociedade sustentável e auxiliou organizações não governamentais.
Ela liderou um
movimento por limpar usinas de carvão em Massachusetts, o que resultou em
padrões mais limpos para instalações do tipo em todo o país.
Ao longo da carreira,
recebeu vários prêmios por saúde e proteção ambiental. Já como política, Jill
concorreu à Presidência nas eleições de 2016, quando obteve 1,4 milhão de
votos.
Ela recebeu mais votos
no Michigan, em Wisconsin e na Pensilvânia do que a diferença pela qual Donald
Trump derrotou Hilllary Clinton em cada um desses estados, garantindo a eleição
do republicano naquele ano.
Por isso, ela é
apontada por muitos democratas como a responsável pela vitória de Trump e
acende novamente o alerta do Partido Democrata neste ano, principalmente com
relação ao eleitorado árabe. Stein chegou a ser presa em um protesto
pró-Palestina no Missouri em abril deste ano.
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Chase Oliver
Chase Oliver tem 39
anos e é o candidato do Partido Libertário. Em 2022, ele foi apelidado pela
revista "Rolling Stone" como o libertário mais influente dos Estados
Unidos.
A carreira política de
Oliver começou nos anos 2000, quando ele se opôs à Guerra do Iraque durante o
governo de George W. Bush. Chegou a ser filiado ao Partido Democrata, mas mudou
para os Libertários em 2010.
Oliver é abertamente
homossexual e já disse ser "armado e gay". Além de ser pró-armas, ele
defende os direitos individuais contra o poder dos políticos e burocratas, além
de reformas na polícia.
Em 2020, tentou ser
eleito deputado pela Geórgia, mas acabou recebendo poucos votos. Dois anos
depois, concorreu ao Senado.
A campanha dele de
2022 teve boa projeção nacional, mas rendeu apenas 2% dos votos. Ainda assim, o
resultado acabou fazendo com que houvesse segundo turno na disputa entre o
candidato republicano e democrata ao Senado.
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Cornel West
Cornel West tem 71
anos e possui uma candidatura independente. Ele é conhecido pelo trabalho como
professor nas melhores universidades americanas, além de ser um ativista
progressista.
West se formou em
Harvard e tem mestrado em Filosofia, pela Universidade de Princeton. Ele também
se tornou a primeira pessoa negra a receber um doutorado em Filosofia pela
instituição.
Ao longo da carreira,
West escreveu mais de 20 livros, sendo conhecido pela obra "Questão de
Raça". Ele também produziu três álbuns, trabalhando em colaboração com
artistas como Prince e Jill Scott.
O professor afirma que
resolveu entrar na disputa presidencial por acreditar que os Estados Unidos
vivem uma crise de "falência moral e obscenidade espiritual".
Segundo West, a
candidatura dele representa uma alternativa ao império, supremacia branca,
capitalismo, patriarcado e aos limites do sistema bipartidário dominado por
corporações.
¨ Entenda por que nem sempre o candidato mais votado pelo povo é
eleito presidente dos EUA
Nem sempre o candidato
mais votado pela população na eleição presidencial dos Estados
Unidos é quem ganha o pleito. O país adota o
sistema de voto indireto, em que o Colégio Eleitoral é quem, de fato,
escolhe o novo presidente.
Cada um dos 50 estados
e o Distrito de Colúmbia (onde fica a capital federal, Washington) tem um
número de delegados no Colégio Eleitoral, que é relativo à quantidade de
habitantes. Ou seja, quanto mais populoso um estado, mais delegados terá.
Ao todo, são 538
delegados e, para ser eleito, o candidato vencedor precisa conseguir
o voto de pelo menos 270.
Isso não significa que
o voto popular, vindo dos eleitores, não tenha importância. Os delegados vão
tomar suas decisões com base nos resultados da votação do dia 5 de novembro.
Alguns estados fazem a votação antecipada por correio ou presencial, entre eles, a
Geórgia.
👉 Em geral, o Colégio Eleitoral tende a refletir o resultado
das urnas e elege o mesmo candidato votado pelo povo. No entanto, nem sempre
isso acontece.
Na história recente,
dois candidatos foram os mais votados pelo povo, mas acabaram derrotados no
Colégio Eleitoral: Al Gore, em 2000, e Hillary Clinton, em 2016.
Além disso, tem
vantagem o candidato que vencer nos estados que possuem o maior número de
delegados, uma vez que o mais votado em um estado leva todos os delegados da
área, mesmo que ganhe por apenas um voto.
Em vigor há mais de
200 anos, o objetivo desse modelo é equilibrar a votação entre os 50 estados
norte-americanos.
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1. Por que nem sempre quem 'ganha' leva?
No sistema do Colégio
Eleitoral, o candidato que for o mais votado pela população de um estado leva
todos os delegados daquele estado. Isso vale mesmo que ele vença por apenas um
voto de diferença.
Desta forma, pode
acontecer que um candidato tenha a maioria dos votos populares a partir do
ponto de vista nacional. Mas, na soma dos votos do Colégio Eleitoral, seja
derrotado.
Em 2016, por
exemplo, a então candidata democrata Hillary Clinton teve quase 3 milhões
de votos a mais do que o republicano Donald Trump na soma nacional. No entanto, ela conquistou apenas 232 delegados, enquanto
Trump teve 306.
Isso aconteceu porque
Hillary venceu com ampla vantagem em estados populosos, como a Califórnia e
Nova York. Já Trump venceu em estados-chave por uma margem de votos pequena.
No entanto, como o
mais votado de um estado leva todos os delegados da região, Trump se saiu
melhor.
Já em 2000, o
democrata Al Gore teve 500 mil votos a mais que o republicano George W. Bush
somando os votos populares no âmbito nacional. No entanto, ele conquistou 266
delegados, enquanto Bush teve 271.
Neste caso, o que
pesou foi a votação extremamente acirrada na Flórida. Bush venceu no estado com
uma vantagem pequena, de cerca de 500 votos.
Naquele ano, alguns
condados da Flórida usaram um tipo de cédula chamada borboleta. Esse modelo
tinha uma diagramação confusa, que fez com que alguns eleitores votassem no
candidato errado.
O Partido Democrata
entrou com uma ação na Suprema Corte exigindo uma recontagem dos votos. No
entanto, os juízes decidiram que o resultado deveria permanecer como estava.
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2. Quantos delegados tem cada estado?
Atualmente, o Colégio
Eleitoral dos Estados Unidos é composto por 538 delegados. Cada estado possui
um número de representantes diferente, que varia de acordo com o tamanho da
população e do número de parlamentares na Câmara e no Senado.
Resumidamente, estados
mais populosos tendem a ter mais delegados. Já os menores não têm um peso tão
grande, mas ainda podem ser decisivos.
Além dos estados que
aparecem no mapa, o Colégio Eleitoral tem outros 3 delegados que representam o
Distrito de Colúmbia.
Já em relação aos
estados de Nebraska e Maine, ambos possuem um sistema diferente de delegados:
- No caso de Nebraska, são três distritos — cada um com
1 delegado. Além disso, o estado tem dois delegados adicionais que
representam a escolha do voto popular em toda a área. Sendo assim, o
estado tem um total de 5 delegados.
- Já no Maine existem dois distritos, com um
delegado cada. Outros dois delegados são escolhidos com base na votação
popular do estado todo. Desta forma, o Maine tem um total de 4
delegados.
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3. Os delegados são obrigados a seguir o voto popular?
Em muitos estados, os
delegados que representam aquela região são obrigados a votar no Colégio
Eleitoral de acordo com o resultado da votação popular. Enquanto isso, outras
regiões não possuem uma obrigatoriedade expressa.
O papel do Colégio
Eleitoral, que se reúne só dezembro para votar, é, em tese, apenas para
confirmar o resultado das urnas de novembro.
No passado, porém,
alguns delegados se recusaram a seguir o voto popular e escolheram um candidato
diferente do que havia vencido no estado. Esses delegados são chamados de
"infiéis".
Ainda assim, um
movimento do tipo é muito raro e dificilmente alteraria o resultado final da
eleição.
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4. O que acontece se não houver maioria?
Existe a possibilidade
de que nenhum candidato conquiste a maioria dos 538 delegados. Atualmente, esse
cenário é praticamente improvável, mas não impossível. Há uma pequena chance de
que Kamala Harris e Donald
Trump terminem as eleições com 269
delegados cada.
Nesse caso, seria
acionada a 12ª Emenda da Constituição, e a eleição seria decidida pela Câmara
dos Representantes. Neste cenário, cada estado teria direito a um voto,
independentemente do tamanho.
Ao fim, o candidato
que tivesse a maioria dos votos na Câmara seria eleito. Enquanto isso, o Senado
seria responsável por eleger o vice-presidente.
Como os Estados Unidos
possuem 50 estados, ainda haveria hipótese de um novo empate em relação aos
votos dos deputados. Neste cenário, as negociações e votações continuariam até
o fim do impasse. Um presidente interino poderia ser nomeado caso a situação
não fosse resolvida até o dia marcado para a posse.
Essa situação
aconteceu apenas em 1824, quando nenhum dos quatro candidatos que disputou as
eleições conquistou a maioria absoluta dos delegados.
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5. Como surgiu o Colégio Eleitoral?
O sistema do Colégio
Eleitoral surgiu ainda no século 18, quando a Constituição dos Estados Unidos
estava em elaboração. Naquele momento, o país ainda estava sendo povoado em
algumas áreas, enquanto outras localidades eram mais desenvolvidas.
Diante de um
território tão grande e dos desafios da comunicação da época, fazer uma eleição
nacional com voto popular seria praticamente impossível. Escolher um presidente
apenas com base na opinião de autoridades que estavam na capital também estava
fora do baralho.
Com isso, surgiu o
Colégio Eleitoral. Delegados foram nomeados em cada estado para formar uma
eleição representativa, que atendesse aos interesses de cada região do país.
Esse foi um modo de
equilibrar o processo, garantindo que diferentes perspectivas e necessidades
fossem consideradas. Os estados menores, por exemplo, ganharam poder de voz e
certa igualdade frente aos maiores.
Fonte: g1
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