O que há por trás da loteria política de
Elon Musk
Elon Musk não
pode ser presidente dos Estados Unidos.
Nascido na África do
Sul, ele é constitucionalmente inelegível para o cargo de chefe do Executivo.
Existe, porém, um cargo que ele pode ocupar: CEO dos Estados Unidos da América
S.A.
No começo deste mês,
Elon Musk incorporou discretamente a expressão “Estados Unidos da América S.A.”
ao endereço de seu “family office”, um serviço privado de gestão financeira, no
estado do Texas — a notícia foi divulgada por Sarah Emerson na Forbes, e confirmada por uma busca no registro
comercial do Texas. Embora ainda não se
conheçam os planos exatos de Musk para os “Estados Unidos da América S.A.”, não
é preciso forçar muito os olhos para enxergar os contornos de sua perspectiva.
Durante a campanha de
Donald Trump, Musk já começou a reunir uma espécie de sócios, ao oferecer 47
dólares (268 reais) a quem indicasse um eleitor de algum dos estados
indecisos para assinar seu abaixo-assinado, que ele diz estar usando na campanha de Trump para convencer
as pessoas a irem votar. Ele também transformou isso num sorteio, e afirmou
que, até as eleições, todo dia um signatário aleatório diferente receberá 1
milhão de dólares (5,6 milhões de reais), uma maneira bem-sucedida de chamar a
atenção da imprensa. (O abaixo-assinado se destina aos apoiadores de Trump, mas
qualquer pessoa de um estado indeciso pode assinar, e se os liberais
participarem, podem atrapalhar as métricas e a distribuição, mas aí é outra
conversa.)
O comitê de ação
política de Musk (um dos chamados Super PACs), que está movimentando essa
loteria, o abaixo-assinado, e uma campanha, tem um apelido igualmente
patriótico, America PAC, e os registros da Comissão Eleitoral Federal mostram
que Musk já injetou nele 75 milhões de dólares (428 milhões de reais).
Mas o que Musk está
tentando comprar, exatamente?
A perspectiva de Musk
para os EUA — um lugar de grande liberdade econômica, onde a atividade política
pode ser criminalizada, sob o domínio das empresas de capital aberto
controladas pela tecnologia — é uma das narrativas mais importantes destas
eleições.
Seja como veículo de
atividade política, escudo contra a fiscalização, ou uma tentativa mais formal
de captura corporativa sobre o governo estadunidense, “Estados Unidos da
América S.A.” aponta em uma direção clara: capitalizar o governo para o benefício privado. Mas
pouca coisa no passado ou no presente de Musk permite imaginar que ele esteja
simplesmente interessado na corrupção cotidiana dos contratos públicos. Sua
admiração pelo presidente libertário da Argentina, Javier Milei, e pelo
cripto-governante de El Salvador, Nayib Bukele, governantes oriundos da
fermentação filosófica da Nova Direita, insinuam que pode haver um projeto mais
profundo em curso.
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Acelerando para o absolutismo corporativo
Nick Land é um
filósofo conhecido por inspirar as ideias básicas do “aceleracionismo”. Em um
verbete da Wikipédia que o próprio Land considera excelente, o aceleracionismo é descrito como “a
ideia de que o capitalismo e a mudança tecnológica devem
ser ‘acelerados’ e intensificados drasticamente para criar uma mudança social
radical”, ou, para outros — “a teoria de que o fim do capitalismo deveria ser
causado por sua aceleração”. Em 2012, Land publicou uma série de blogs
relacionados: O Iluminismo das Trevas.
Em O
Iluminismo das Trevas, Land menciona o acadêmico de direita Hans-Hermann
Hoppe, autor de Democracia, o Deus que Falhou. Land cita Hoppe
para defender que a democracia é irrecuperável — o que nos deixaria à mercê de
“zeladores temporários eleitos”, que tentam explorar o máximo que podem durante
seu tempo de mandato. Por esse argumento, os reis pelo menos podem pensar a
longo prazo enquanto exploram seus súditos.
Em busca de uma
solução, Land e outro pensador da Nova Direita, Curtis Yarvin — um blogueiro e
desenvolvedor de software, que desenvolveu muitas das ideias escritas pela Nova
Direita sob o pseudônimo “Mencius Moldbug” — imaginaram uma nova forma de governo:
uma grande empresa. (Yarvin às vezes usa alternativamente “monarquia” e
“corporação”, descrevendo a própria corporação como “monarquia absolutista”, e
vem recentemente tendendo mais ao monarquismo que ao corporativismo, se é que a
diferença existe.)
Em vez de serem
cidadãos de um estado, os estadunidenses seriam clientes de uma corporação —
dirigida por um CEO responsável perante os acionistas, que seriam os
proprietários diretos do governo corporativo. Esses acionistas seriam os
lobistas e agentes de bastidores que atualmente detêm informalmente o poder
político. Land e Yarvin defendem que formalizar seu poder, e deixar
transparentes os seus incentivos, tornaria o governo mais eficiente. Como
escreve Land em O Iluminismo das Trevas:
Uma vez
que o universo da corrupção democrática seja convertido em uma S.A. de
governo (de livre transferência), os proprietários do estado podem iniciar
uma governança corporativa racional, a começar pela nomeação de um CEO. Como
acontece com qualquer empresa, os interesses do estado agora estarão
formalizados precisamente como a máxima ampliação de valor para os acionistas a
longo prazo. Não há mais necessidades de que os habitantes (clientes) se
interessem por nada na política. Na verdade, fazer isso equivaleria a
apresentar tendências semi-criminosas. Se a S.A. de governo não
entregar um valor aceitável em troca de seus tributos (renda soberana), eles
podem notificar o serviço de atendimento ao cliente, e, se necessário, trocar
de fornecedor. A S.A. de governo estaria focada na gestão de um país
eficiente, atraente, vital, limpo e seguro, capaz de atrair clientes. Sem
opinião, com saída livre.
Mais francamente,
segundo Gil Duran na revista Nova República, Yarvin propôs uma “reengenharia dos governos, divididos em
entidades menores chamadas ‘colchas de retalhos’, que seriam controladas por
sociedades de capital aberto soberanas chamadas ‘domínios'”:
“A ideia
básica da Colcha de Retalhos é que, quando os péssimos governos que herdamos da
história forem destruídos, eles deveriam ser substituídos por uma teia global
de centenas, ou até milhares de mini países soberanos e independentes, cada um
deles governado por sua própria sociedade anônima sem levar em conta as
opiniões dos habitantes.”
Um dos princípios da
“gestão empresarial soberana” desses domínios, segundo Yarvin:
Um domínio
é um negócio, não uma instituição de caridade. O objetivo é maximizar o retorno
do investimento. Caso o domínio de alguma forma se esqueça disso, a longo prazo
irá se deteriorar, desenvolver a síndrome da gigante
vermelha, e se tornar gigantesco, corrupto e
malcheiroso. Ele pode até mesmo se transformar em uma democracia.
Em uma interpretação
generosa, Yarvin compara essa gestão a um hotel. “A ideia fundamental é que os
proprietários lucrem ao proporcionar aos residentes um lugar agradável para
morarem, serem felizes, e claro, serem produtivos. Se você não for legal, eles
vão embora, os proprietários não terão um negócio, e você não terá um emprego.”
(Os residentes podem ir embora, mas todos os outros governos também seriam
domínios controlados pela tecnologia). Yarvin, porém, acrescenta:
Você
exerce soberania indivisível (…) Sem restrições. Seus habitantes são como
formigas na sua cozinha. Nenhuma combinação entre eles poderia se opor a você.
Nem mesmo se eles se reunirem em uma grande multidão enfurecida, gritando,
pulando para cima e para baixo, agitando seus pequenos cartazes e atirando paus
e pedras. Todos serão massacrados por seus invencíveis exércitos de robôs. Pour
la canaille: Faut la mitraille! [“Para a gentalha, use a metralha”]
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Uma mistura entre China e Hong Kong
Yarvin e Land comparam
esse sistema a lugares modernos como Hong Kong e Dubai, os “fragmentos perdidos
do Império Britânico”. Land escreve em O Iluminismo das Trevas:
Esses
estados aparentemente oferecem uma qualidade muito alta de serviços a seus
cidadãos, sem nenhum tipo de democracia significativa. Eles têm uma
criminalidade mínima e altos níveis de liberdade pessoal e econômica. Eles
tendem a ser bastante prósperos. São fracos apenas na liberdade política, e a
liberdade política não é importante, por definição, quando o governo é estável
e eficiente.
Hong Kong é uma
referência importante. A ex-colônia britânica e zona econômica especial é há
muito tempo um sonho libertário, que captura a imaginação de radicais do livre
mercado, defensores do fim dos impostos, e magnatas dos negócios desde que
Milton Friedman estreou ali sua série Free to Choose (Liberdade
de Escolha), na rede PBS, como detalha Quinn Slobodian em seu livro Crack-Up Capitalism (Capitalismo
do Colapso).
Dentre os principais
aspectos do governo de Hong Kong estão o sufrágio limitado, nível baixo de
tributação, e participação política reservada às empresas. É um sistema
semelhante, para fins de comparação, à China contemporânea, onde o acordo é que
o partido cuidará das coisas com tranquilidade e segurança para você, e, em
troca, você não participará da política.
O paralelo pode
parecer difícil de perceber para alguns leitores americanos, mas Musk, que faz
muitos negócios com a China, sem dúvida consegue enxergá-lo. Isso aparece
quando ele compartilha sua perspectiva mais ampla para o Twitter, que ele renomeou como X na
busca de torná-lo “o aplicativo de tudo”. Como ele mesmo já observou várias
vezes, esse aplicativo existe na China, e é chamado de “WeChat”. Ele admira há
muito tempo a joia da coroa do mercado tecnológico chinês, e busca imitá-la. “A
vida diária nas cidades chinesas é quase impossível de lidar sem o WeChat, a
tal ponto que ser bloqueado no super aplicativo do país já foi comparado a uma
‘morte digital'”, escreveram Dan Milmo e Amy Hawkins, no jornal The Guardian.
Para além das redes sociais, o WeChat é usado para pagar contas, comprar
passagens de trem e avião, e fazer pagamentos, e Musk gostaria que o X fosse
“igualmente indispensável no Ocidente”.
“Nos próximos meses,
incluiremos comunicações amplas, e a possibilidade de conduzir todo o seu mundo
financeiro”, disse Musk sobre o X, em julho de 2023. Embora alguns pudessem
esperar que Musk, ostensivamente libertário, se horrorizasse diante do controle
distópico do WeChat, ele está, em vez disso, buscando reproduzi-lo com o X.
Segundo Shirin Ghaffary, no site Vox, em uma reunião em junho de 2022,
Musk teria dito à sua equipe: “você
praticamente vive no WeChat na China, porque é tão fácil de usar e útil na vida
cotidiana, e eu acho que, se conseguirmos atingir isso, ou chegar perto disso
no Twitter, seria um enorme sucesso”.
Yarvin tem ideias
semelhantes para o X. Entrevistado em um podcast em março desse ano, com a
chamada “Conselhos de Curtis Yarvin para Elon Musk”, ele criticou a forma como
Musk administra o X e viu oportunidades muito maiores. “É preciso transformar
as Notas da Comunidade em algo que funcione tão bem quanto um tribunal, ou até
melhor, e aí você estará construindo poder real”, disse. E continuou: “seria
incrível formalizar essas credenciais e transformar o Twitter no principal
intermediário do capital de reputação”.
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Linha direta com Trump
As ideias da Nova
Direita de Yarvin e Land assumiram um lugar central na estrutura de apoio
intelectual de Trump. Um mês depois da posse de Trump em 2017, o site Politico publicou que Yarvin
“havia criado um canal com a Casa Branca de Trump, comunicando-se com Steve
Bannon [consultor de Trump] e seus assessores por meio de um intermediário”.
(Yarvin negou os relatos de que teria conversado com Steve Bannon). Peter
Thiel, descrito como um amigo de Yarvin, que investiu em sua startup em
2013 e recebeu Yarvin em
uma festa na noite das eleições de 2016, teria ficado decepcionado com o
governo Trump por não levar tão adiante ideias como as de Yarvin. “Thiel
fantasiava que a eleição de Trump de alguma forma obrigaria a um acerto de
contas nacional”, segundo Barton Gellman, que
publicou uma extensa entrevista com o empresário em 2023. “Ele acreditava que
alguém precisava destruir as coisas, eliminar a regulação, acabar com o estado
administrativo, para que o país pudesse se reconstruir.”
J.D. Vance, candidato
a vice-presidente, ex-funcionário de uma das empresas de Thiel, já discutiu
ideias semelhantes, citando Yarvin. Ao participar de um podcast em 2021, Vance
foi convidado a oferecer seus conselhos a Trump em um possível segundo mandato.
Vance mencionou Yarvin, e aconselhou: “demita todos os burocratas de nível
intermediário, todos os fucionários públicos do estado administrativo, e
substitua-os pelo nosso pessoal”. Como apontou Gaby Del Valle,
do site The Verge, o conselho dado por Vance foi a proposta de
Yarvin, “Aposente Todos os Funcionários Públicos” (RAGE, na sigla em inglês) —
com o objetivo de “‘reiniciar’ o governo sob o controle de um executivo
todo-poderoso”.
Podemos ver a osmose
dessas ideias na política dominante do Partido Republicano com o “Anexo F”: um
decreto que eliminaria as proteções trabalhistas para os funcionários públicos
federais, e permitiria ao governo Trump aposentar todos os funcionários públicos
e desmontar o estado administrativo. Trump assinou o decreto em 2020, e se
Biden não tivesse sido eleito naquele ano, ele teria entrado em vigor.
Vance encerrou suas
declarações acrescentando: “estamos em um período republicano tardio. Se vamos
resistir a isso, precisamos ficar muito delirantes e muito ousados, e partir em
direções que deixam muitos dos atuais conservadores desconfortáveis.” James
Pogue, da revista Vanity Fair, observa que essa terminologia também
vem da ideologia da Nova Direita de Yarvin: evoca o “período republicano tardio” dos EUA, aguardando um
César que chegue e tome o poder.
Um ano depois, em
2022, Thiel fez a maior contribuição de todos os tempos para um comitê de ação política em apoio à campanha um
único candidato ao Senado — 10 milhões de dólares para a campanha de Vance em
Ohio.
Cristalizando a
influência de Yarvin e da Nova Direita, Thiel e os bilionários de tecnologia
teriam escolhido J.D. Vance a dedo para ser o vice-presidente de Trump,
após meses de negociação entre
Trump e um elenco que incluía Thiel, David Sacks (que foi cofundador do PayPal
com Thiel), e Jacob Helder (consultor da empresa de Thiel, Palantir). O mesmo
artigo citava uma fonte próxima a Thiel, que teria dito: “para Thiel, Vance é
uma aposta geracional”.
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Elon Musk e seus políticos de estimação
Dias depois de Trump
escolher Vance como candidato a vice, Elon Musk se comprometeu publicamente a
doar 45 milhões de dólares por mês para
a campanha de Trump.
Desde a escolha de
Vance, Musk se tornou uma figura-chave na campanha de reeleição de Trump. Em
agosto, Trump aventou a ideia de nomear Musk para seu gabinete. Um mês depois,
Trump atendeu à sugestão de Musk e prometeu criar um “Departamento de Eficiência
Governamental” (DOGE), que seria chefiado pelo próprio Musk. Sua função seria
realizar uma “auditoria financeira e de desempenho completa de todo o governo
federal e fazer recomendações de mudanças drásticas” — como substituir todos os
funcionários públicos.
“Thiel e Vance,
juntamente com Elon Musk, Steve Bannon, David Sacks, e outros integrantes do
movimento antidemocracia”, escreve Robert Reich no
jornal The Guardian,
“acreditam que a única forma dos verdadeiros libertários vencerem nos EUA é se
uma figura estilo César arrancar o poder do sistema e instalar um regime
monárquico, administrado como uma startup”.
Musk pode só ter
incorporado isso. Mas ele tem em quem se inspirar.
Desde que assumiu o
cargo, em dezembro de 2023, o libertário argentino Javier Milei vem fazendo um
intensivo das ideias de Yarvin e Thiel, conduzindo seu país por uma terapia de
choque econômica e de privatização em seu primeiro ano — que incluiu reduzir a
aposentadora dos trabalhadores, desmontar os serviços públicos (ele fez
campanha com uma motosserra), e abrir os recursos do país para as empresas
estrangeiras. “Tudo que puder estar nas mãos do setor privado”, disse Milei a
uma estação de rádio local, “irá
para as mãos do setor privado”. No início do ano, Thiel visitou Milei na
Argentina, com a pauta do novo presidente já em curso. Após a reunião,
Thiel teria observado que
“as ideias de Milei são tão relevantes mundialmente quanto são para a
Argentina”.
Musk apoiou Milei
desde o início. Há apenas um mês, ele observou que “o
presidente [Milei] está fazendo um excelente trabalho restaurando a grandeza da
Argentina” — e, com espantosa semelhança aos comentários de Thiel, disse
a Milei: “o exemplo que você está criando com a Argentina será um modelo útil
para o resto do mundo”. (Créditos para Jacob Sugarman, que escreveu para
a revista The Nation.) De
forma mais honesta, talvez, o embaixador da Argentina nos EUA, Gerardo
Werthei, observou que Musk
“manifestou um desejo de ajudar a Argentina, e tinha uma visão muito positiva
de tudo que temos, especialmente o lítio”.
Musk já fez elogios
semelhantes ao presidente de El Salvador, Nayib Bukele, o governante que adotou o Bitcoin como moeda corrente no país, e criou um programa de “cidadania por investimento”, que oferece vistos de residência para investidores
estrangeiros que invistam 1 milhão de dólares (5,6 milhões de reais) na
economia usando Bitcoin (“disponível para os primeiros mil investidores”). A
lei ainda oferece cidadania direta para estrangeiros que façam doações em Bitcoin de quantias não divulgadas ao
governo.
Após uma reunião entre
Musk e Bukele na sede da Tesla, em Austin, Musk tuitou: “Acabei de ter uma excelente conversa com
[o presidente Bukele]. Falamos muito sobre a natureza da realidade, o futuro da
humanidade, e como as tecnologias como IA e robótica afetarão o mundo. El
Salvador tem um líder incrível.” Bukele publicou no X um
resumo em vídeo, onde Musk lhe diz que o local da Tesla tem “três vezes o
tamanho do Pentágono”.
O próprio Musk
adora parcerias público-privadas.
Ele se beneficia de bilhões de dólares em contratos públicos através da
SpaceX, essencialmente substituindo as funções da Nasa, e da Starlink. Ele recebe outros bilhões em subsídios do
governo e créditos tributários para a Tesla. (No segundo trimestre de
2024, quase 60% do faturamento da Tesla decorria da venda de créditos de carbono). Com um segundo
governo Trump e um novo presidente da Comissão Federal de Comunicação, Musk
também pode estar na fila para receber outros bilhões em subsídios federais para banda larga, que lhe foram negados pelo governo Biden.
Essa estratégia, de se
tornar um monopólio por meio de contratos com o setor público, é endossada pelo
próprio Peter Thiel em seu livro De Zero a Um — que destaca a
Tesla como exemplo. A própria empresa de Thiel, Palantir, saiu do papel com um
investimento da In-Q Tel, ligada à CIA, e, recentemente, fechou um contrato com o governo britânico para integrar todos os dados de saúde dos pacientes do
sistema público NHS em um repositório central, dentre uma série de clientes
públicos e corporativos que compõem a expectativa de que ela se torne a maior
empresa de IA do mundo.
Em O
Iluminismo das Trevas, Land realiza seu próprio experimento mental sobre
como transformar o governo em uma empresa de propriedade dos acionistas. O
primeiro passo para isso, escreve ele, inclui:
mapear de
forma precisa todo o cenário social de suborno político (‘lobby’), e converter
os privilégios administrativos, legislativos, judiciais, midiáticos e
acadêmicos obtidos com esses subornos em ações fungíveis.
Nesse ponto, as
pessoas que detêm o verdadeiro poder político podem ser identificadas.
Uma vez
que vale a pena subornar os eleitores, não há necessidade de excluí-los
completamente desse cálculo, embora a parcela de sua soberania seja estimada
com o escárnio adequado. A conclusão desse exercício é o mapeamento da entidade
governante que é a instância realmente dominante da política democrática.
Se é possível haver
alguém em condições de “mapear de forma precisa todo o cenário social de
suborno político (‘lobby’), e converter os privilégios administrativos,
legislativos, judiciais, midiáticos e acadêmicos obtidos com esses subornos em
ações fungíveis”, seria a pessoa encarregada de fazer uma “auditoria financeira
e de desempenho completa de todo o governo federal”.
Talvez as ações
constituam os “Estados Unidos da América S.A.”.
Fonte: Por Sam Butler, em The Intercept
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