Lula sugere 'referendo' sobre territórios
na Ucrânia e diz que G20 não vai discutir a guerra
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
voltou a comentar, nesta sexta-feira (1º), a guerra
entre a Rússia e a Ucrânia.
Na fala, o petista
repetiu o argumento de que "falta conversa" entre os dois lados do
conflito e cobrou que a comunidade internacional se posicione para mediar
um debate.
Lula também avisou que
a Cúpula do G20, reunião dos chefes de Estado do bloco que reúne as
maiores economias do mundo, marcada para este mês de novembro, no Rio de Janeiro, não deve colocar em pauta o conflito no Leste Europeu.
"Nós temos dois
pequenos problemas. Nós não convidamos o [presidente da Ucrânia, Volodymyr]
Zelensky para participar, e o [presidente da Rússia, Vladmir] Putin não vai
participar. Nós não achamos que esse fórum do G20 será espaço para discutir a
guerra entre os dois países. Achamos que esse fórum é para discutir os temas
abordados no ultimo G20", frisou.
Na fala, Lula cobrou
os organismos internacionais, em especial, a Organização das Nações Unidas
(ONU) por uma participação mais atuante no conflito, e defendeu que falta mais
"estrutura, poder e credibilidade" dentro do Conselho de Segurança para
discutir a guerra na Ucrânia.
"Não vai ser no
G20 que a gente vai discutir esse assunto. E acho que os companheiros Putin e
Zelensky não virão a esse encontro. Não virão. E eu acho que isso é importante,
porque nós queremos discutir outras coisas que são importantes para a humanidade,
e não transformar o G20 em uma discussão sobre a guerra seja de Israel, seja da
Ucrânia e da Rússia", seguiu.
O chamado
G20 abrange dois terços da população mundial.
🔎Durante o mandato, a agenda do Brasil tem se concentrado em três
temas: desenvolvimento sustentável, reforma das instituições multilaterais e
combate à fome, à pobreza e à desigualdade.
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Referendo sobre
regiões anexadas
Ainda nesse âmbito, o
petista lembrou que o Brasil e a China têm se colocado à disposição para mediar
negociações de paz, e defendeu que uma "boa solução" para o fim dos
confrontos e da disputa pelos territórios invadidos seria a realização de um referendo nas
áreas ocupadas.
"Eu fico
imaginando que falta conversa entre as pessoas. Eu fico pensando: a Rússia diz
que o território que eles estão ocupando é russo. A Ucrânia diz que é deles.
Por que ao invés disso, não se faz um referendo para saber com quem o povo quer
ficar?", questionou o presidente.
"Seria muito mais
simples, muito mais democrático muito mais justo deixar o povo decidir.
Consultar o povo pra saber com quem eles querem ficar", declarou em
entrevista à radio francesa TF1, nesta tarde.
Porém, em setembro de
2022, a Rússia promoveu uma iniciativa semelhante. A votação ocorreu
durante cinco dias em quatro regiões da Ucrânia — Donetsk e Luhansk, no leste,
e Zaporizhzhia e Kherson, no sul. Juntas, elas respondem por 15% do território
ucraniano.
Segundo o resultado
parcial anunciado pelo governo russo, 96% dos moradores da região, que
estão na Rússia e votaram à distância, teriam escolhido ser anexados
ao governo de Vladmir Putin. É o que afirmou a agência de notícias estatal do país
Tass.
Kiev e os países
aliados do Ocidente não reconheceram os resultados e afirmaram que
a consulta pública se tratou de uma farsa. Já o chefe do Parlamento
russo disse que, com o resultado, as áreas seriam anexadas.
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Avanço sobre
territórios
A Rússia tomou 196,1
km² do território ucraniano entre os dias 20 a 27 de outubro, marcando o avanço semanal mais rápido das forças russas neste ano, segundo informou a agência Reuters.
A guerra que já dura
dois anos e meio está entrando na fase que os oficiais russos dizem ser a mais
perigosa, à medida que as forças russas avançam e o Ocidente pondera sobre como
o conflito irá terminar, conforme a agência.
A Rússia controla a
Crimeia, que anexou da Ucrânia em 2014, cerca de 80% do Donbas — uma zona de
carvão e aço composta pelas regiões de Donetsk e Luhansk — e mais de 70% das
regiões de Zaporizhzhia e Kherson.
¨
Lula torce para que
Kamala Harris vença as eleições nos EUA para 'fortalecer' a democracia
O presidente do
Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse em entrevista nesta sexta-feira (1º)
que espera que a candidata democrata, Kamala Harris, vença as eleições nos
Estados Unidos.
"Com Kamala
Harris é muito mais seguro fortalecer a democracia; vimos o que foi o
presidente (Donald) Trump [...] aquele ataque ao Capitólio, algo que era
impensável que acontecesse nos Estados Unidos, porque foram apresentados ao
mundo como modelo de democracia, e esse modelo ruiu", disse Lula em
entrevista a um canal de TV da Europa.
O presidente ressaltou
que ele é "um amante da democracia", definida por Lula como "a
coisa mais sagrada que foi construída para governar".
"Obviamente
espero que Kamala ganhe as eleições", arrematou.
O presidente do Brasil
Lula da Silva está discursando na reunião dos líderes de
Esta é a primeira vez
que Lula expressa abertamente seu apoio para que Kamala Harris seja eleita
presidente dos EUA.
As eleições nos EUA
serão realizadas na próxima terça-feira (5). Neste momento as pesquisas apontam
para um empate técnico entre Harris e Trump.
¨ Brasil x Venezuela: analistas veem pior momento da relação desde
que Lula assumiu, mas divergem sobre ruptura
Diplomatas, analistas
e professores ouvidos pela GloboNews avaliam que o momento na
relação com a Venezuela é o mais
"tenso" desde o começo do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2023. Eles divergem, contudo, sobre a possibilidade de uma
ruptura diplomática.
Embora aliados
históricos, Lula e Nicolás
Maduro passaram a ter divergências políticas
públicas, que chegaram a níveis diplomáticos.
Essas divergências
começaram a partir do momento em que o brasileiro começou a questionar o desenrolar do processo eleitoral
venezuelano, contestado pela comunidade
internacional em razão da falta de transparência sobre o resultado.
Em julho, após a
votação no país, o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano reconheceu a vitória de Maduro, mas não divulgou as
chamadas atas eleitorais.
Além disso, a Suprema
Corte do país, alinhada a Maduro, também reconheceu sua vitória e proibiu a divulgação das atas, que, segundo a oposição, demonstrariam a vitória de Edmundo
González.
Nos episódios mais
recentes:
- o Brasil articulou nos bastidores para que a Venezuela não entrasse
no Brics;
- o ex-chanceler Celso Amorim,
assessor especial de Lula, disse que houve uma "quebra de confiança" entre
os dois governos;
- e a Venezuela convocou o embaixador em Brasília, o que, em linguagem diplomática, mostra o incômodo de um
país com o outro.
Além disso, em um ato
de um órgão de governo e não da diplomacia, a Polícia Bolivariana da Venezuela
publicou uma imagem com a bandeira do Brasil e a silhueta de um homem que
aparenta ser o presidente Lula com a seguinte mensagem: "Quem se mete com a Venezuela se dá mal."
Em resposta, o Itamaraty divulgou nota em
que diz ver com "surpresa" o tom ofensivo adotado pela
Venezuela contra o Brasil.
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Chance de ruptura
Segundo um
diplomata, não há "chance alguma" de o Brasil romper as relações
com a Venezuela, a menos que o país vizinho adote essa medida drástica.
Já o
professor Amâncio Jorge, do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de São Paulo (USP), entende que a estratégia do governo brasileiro é a de tentar
"diminuir a temperatura". Ele, contudo, avalia que há o
"risco" da ruptura diplomática em razão das medidas adotadas pelo
regime de Maduro.
"Acho que é o
momento mais tenso nas relações. Houve um momento muito tenso na relação Brasil
e Venezuela no governo Bolsonaro. [...] Mas, em toda a história do Lula e do PT
no poder, este é o pior momento das relações", afirmou o professor.
"À medida em que
o governo Maduro pede a volta do embaixador, acho que existe a possibilidade
[de ruptura das relações diplomáticas]. Claro que o governo brasileiro vai
fazer todo o esforço para uma ruptura formal não acontecer, mas esse risco está
dado", acrescentou.
Para o
professor José Luis Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de
Brasília (UnB), se os dois países
"escalarem" o conflito, pode se chegar a um cenário de rompimento das
relações diplomáticas.
Para ele, faltou, por
parte de Brasil e Venezuela, "combinar" como seriam as divergências
públicas, o que deixou o clima "muito mais tenso".
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Estratégia 'equivocada'
Hussein Kalout,
conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações
Internacionais (Cebri), afirma que o Brasil adotou uma estratégia
"equivocada" nas relações diplomáticas com a Venezuela desde que o
presidente Lula tomou posse para o terceiro mandato.
Ele afirma que o
governo brasileiro "antecipou legitimidade em demasia" a Maduro,
"elevou de forma muito rápida e sem a ponderação necessária" o
prestigio do presidente venezuelano e buscou reintegrar o regime "achando
que o Brasil teria influência, o que não se materializou".
"O que existe
hoje é uma política de insultos e de hostilidades por parte do governo Maduro,
o que é ultrajante, com um governo, digamos, complacente com muitos erros [...]
O governo brasileiro foi complacente e a razão disso foi buscar não condenar e
não criticar abertamente, numa tentativa de influenciar positivamente e se
chegar a uma solução no contexto interno", afirmou.
"Acho que o
governo brasileiro precisa definir o que quer com a Venezuela. A complacência
obedecia a uma estratégia: tentar ajudar a encontrar consenso no país para
acomodar governo e oposição. A estratégia subestimou as intenções do Maduro.
[...] Foi uma estratégia equivocada, achando que o Brasil teria influência, o
que não se materializou", completou.
Para o conselheiro do
Cebri, a situação do Brasil está "difícil" porque, avalia, o regime
de Maduro não vai parar até que o Brasil retire o veto à entrada da Venezuela
no Brics.
"Tem que ver até
onde vai o limite da paciência do Brasil. Qual o risco? O Brasil ter a
embaixadora expulsa de Carcas", declarou.
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Oportunidade 'de ouro'
Para Pio Pena
Filho, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília
(UnB), o governo brasileiro tem uma oportunidade "de ouro" para
se distanciar do governo de Nicolás Maduro.
Ressalta, porém, que a
tradição diplomática brasileira é não desafiar nenhum governo e não
"encarar" chefes de Estado.
"Não interessa a
ruptura, mas, por outro lado, a densidade das relações é muito baixa. A gente
só tem prejuízo nessa relação. [...] A postura da Venezuela tem sido atirar
contra todo mundo, é um país que desafia, segue a lógica de que, quanto mais tensão
internacional houver, mais o governo usará isso para se firmar
internamente", disse.
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Analistas não esperam ruptura
Dados levantados pelo
jornal "Valor Econômico" mostram que o fluxo comercial entre os
dois países, isto é, a soma das exportações e das importações, chegou a US$ 752
milhões entre janeiro e junho deste ano, resultado que se manteve estável na
comparação com o mesmo período de 2023.
Ainda conforme o
"Valor", os principais itens negociados entre os dois países são
açúcares e melaços; gorduras e óleos vegetais; e adubos ou fertilizantes
químicos.
Nesse
contexto, Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, afirma
ser "pouco provável" que Brasil e Venezuela rompam as relações
diplomáticas. Ele avalia que deve prevalecer o interesse dos dois países,
principalmente na cooperação na área econômica.
Na mesma
linha, Carlos Braga Monteiro, do Grupo Studio, defendeu a busca pelo
diálogo afirmando que não espera uma "ruptura completa", mas a
"tendência" é que a tensão atual acabe refletindo no comércio entre
os dois países. Diante disso, afirma, Brasil e Venezuela precisam
"estabelecer um diálogo mais pragmático".
Alex Andrade, da Swiss
Capital Invest, por sua vez, diz ser "notável" que o governo
brasileiro busca postura "cautelosa", o que, para ele, sugere
"esforço para manter as linhas de diálogo abertas".
"Apesar das
evidentes tensões, é improvável que haja uma ruptura total nas relações,
considerando a importância da estabilidade regional para ambos os países",
declarou.
¨ Brasil vê com surpresa ataques em 'tom ofensivo' da Venezuela
contra Lula e diplomatas
O Itamaraty divulgou
uma nota em que considera uma "surpresa" os ataques da Venezuela ao presidente Lula (PT) e a diplomatas brasileiros após o país ter atuado nos
bastidores para bloquear a sua entrada no Brics, bloco dos países emergentes.
No documento, o Brasil
define como "tom ofensivo" o teor das declarações dadas pelo
presidete Nicolás Maduro contra o presidente da República, Lula, diplomatas
brasileiros e assessores do Palácio do Planalto.
"A opção por
ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e
diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro
trata a Venezuela e o seu povo", se posicionou o governo brasileiro, que ressaltou
respeitar "plenamente a soberania de cada país".
Mais cedo nesta
sexta-feira (1), o Itamaraty definiu a divulgação da nota para deixar claro que não gostou dos ataques de
Maduro direcionados ao Brasil.
Na avaliação de uma
fonte do ministério, não dava mais para a diplomacia brasileira se calar diante
de tantos ataques. "Foram várias ofensas dirigidas ao Brasil", diz
essa fonte.
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Eleição e recusa nos Brics
Nesta semana, a Venezuela agravou a crise diplomática ao convocar o embaixador
do país no Brasil e afirmou que o assessor especial da
Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, atua como "um
mensageiro do imperialismo norte-americano".
A crise entre os
países teve início quando o Brasil não reconheceu a autoproclamada vitória de Nicolás Maduro na eleição do país, em julho. A vitória foi confirmada por
órgão eleitorais venezuelanos que são alinhados a Maduro.
Mais recentemente,
o Brasil e posicionou contra a entrada da Venezuela no Brics, o bloco dos países emergentes. Maduro cobrou que Lula se pronunciasse sobre a posição contrária.
Ainda nesta semana,
a polícia da Venezuela publicou uma foto com bandeira do Brasil e os dizeres "Quem se mete com a Venezuela se dá
mal". Na imagem também aparece silhueta de um homem que aparenta ser o
presidente Lula.
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Íntegra da nota do Itamaraty
"O
governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por
manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus
símbolos nacionais.
A opção
por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais
políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo
brasileiro trata a Venezuela e o seu povo.
O Brasil
sempre teve muito apreço ao princípio da não-intervenção e respeita plenamente
a soberania de cada país e em especial a de seus vizinhos.
O
interesse do governo brasileiro sobre o processo eleitoral venezuelano decorre,
entre outros fatores, da condição de testemunha dos Acordos de Barbados, para o
qual foi convidado, assim como para o acompanhamento do pleito de 28 de julho.
O governo
brasileiro segue convicto de que parcerias devem ser baseadas no diálogo
franco, no respeito às diferenças e no entendimento mútuo."
Fonte: g1
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