segunda-feira, 4 de novembro de 2024

“É uma derrota mas não é uma catástrofe, a esquerda não está sitiada”, afirma Genoino

Em entrevista ao programa Conversa de Política, o ex-deputado e ex-presidente nacional do PT José Genoino analisou os resultados do segundo turno das eleições municipais de 2024, destacando a necessidade de reavaliação estratégica para a esquerda brasileira. Embora reconheça que o desempenho do campo progressista tenha ficado abaixo das expectativas, Genoino pontua que "não é uma catástrofe". Ele acredita que o cenário ainda oferece oportunidades para reorganizar forças e resgatar o engajamento popular.

“A derrota é um termômetro, mas não significa que a esquerda esteja sitiada,” declarou Genoino, sublinhando que o Partido dos Trabalhadores (PT) e outras forças progressistas possuem ainda uma base sólida que pode ser fortalecida. Para ele, o momento exige autocrítica e uma reorganização das alianças, principalmente em torno de pautas comuns e com um foco mais inclusivo e transparente.

Ao longo da conversa, Genoino criticou a fragmentação de alianças entre partidos de esquerda, apontando essa divisão como um dos maiores obstáculos para a formação de uma frente sólida. “O maior desafio é reunir forças com ideais em comum, mas que, por divergências, acabam enfraquecendo a própria causa,” comentou. Segundo ele, a necessidade de união é urgente, especialmente frente ao avanço de pautas conservadoras que vêm ganhando espaço no cenário nacional.

O ex-deputado também comentou sobre o papel das emendas parlamentares nas eleições, destacando que o uso desse recurso influencia o fortalecimento de lideranças locais e perpetua práticas assistencialistas. "As emendas podem transformar, mas, quando mal direcionadas, atendem apenas a interesses individuais", afirmou. Segundo ele, essa dinâmica favorece prefeitos e candidatos que preferem atender demandas específicas em troca de apoio político, enfraquecendo o debate público.

Durante a entrevista, Genoino também destacou o avanço de lideranças conservadoras, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito reeleito Ricardo Nunes, e alertou para a necessidade de uma reação estratégica da esquerda frente a esse crescimento. “É preciso dialogar de forma honesta com a população, fazer uma política verdadeira, comprometida com o bem-estar coletivo e com a democracia,” defendeu.

Para Genoino, a eleição de 2024 deixa um aprendizado importante para a esquerda: o de reorganizar suas bases com foco no diálogo e na inclusão. Segundo ele, esse processo será essencial para reverter os resultados desfavoráveis e consolidar um projeto de país mais justo e democrático.

 

•        “A realidade foi de derrota catastrófica da esquerda nas eleições municipais”, diz Altman

Durante uma análise no Bom Dia 247, o jornalista e analista político Breno Altman destacou sua avaliação contundente sobre o desempenho da esquerda nas eleições municipais de 2024. O jornalista afirmou que os resultados revelaram uma “derrota catastrófica” da esquerda brasileira, apesar de pequenos avanços em números absolutos. A análise abordou a vitória do campo conservador e da extrema direita em diversos municípios, enquanto setores progressistas, mesmo em posições de governo, perderam espaço e influência nas regiões de maior densidade populacional.

Altman observou que a análise geral não deve ser limitada ao segundo turno, mas sim ao conjunto das eleições, refletindo o panorama completo de vitórias e derrotas. “Nós devemos fazer uma avaliação das eleições como um todo, porque agora podemos fazer um balanço geral, sem separar os turnos como se fossem eleições distintas”, comentou. O jornalista apontou que os critérios de avaliação mais relevantes envolvem a predominância política entre os campos ideológicos e os avanços em áreas chave, como capitais e municípios estratégicos.

<><> O avanço da direita e da extrema direita

Segundo Altman, a eleição de candidatos ligados à extrema direita e ao conservadorismo tradicional simboliza o fortalecimento dessas forças políticas, o que, para ele, representa uma ameaça à hegemonia da esquerda. Em uma análise de dados, ele citou o crescimento do PL (partido do ex-presidente Jair Bolsonaro) e do Republicanos, que juntos conquistaram uma parcela significativa do eleitorado municipal, demonstrando força eleitoral em todo o território brasileiro. “Em todos os critérios — seja o número de prefeitos eleitos, a população governada ou o desempenho em grandes cidades — a direita venceu e consolidou seu avanço,” afirmou.

No âmbito das capitais, a esquerda governará apenas seis das maiores cidades brasileiras, resultado próximo ao de 2020 e que, segundo Altman, sinaliza uma estagnação. O analista destaca que as grandes cidades são fundamentais para moldar o debate público e político no país, e que a baixa representatividade da esquerda nesses espaços limita sua capacidade de influenciar a agenda nacional. "A direita tradicional e a extrema direita dominaram as eleições e estão organizando uma aliança conservadora robusta," advertiu Altman.

<><> Uma recuperação limitada para o PT e a esquerda

Altman reconheceu que, apesar do quadro desfavorável, o PT (Partido dos Trabalhadores) teve um crescimento em comparação às eleições de 2020, ao eleger mais prefeituras e algumas capitais. Ele citou o exemplo de Fortaleza, onde o PT recuperou a prefeitura, mas ressaltou que o avanço foi insuficiente frente ao domínio conservador. No total, o PT e aliados da esquerda devem governar cerca de 5,2% da população brasileira, uma recuperação tímida considerando o cenário favorável de ter o partido no governo federal.

“Mesmo com a esquerda no governo nacional, o crescimento foi pífio e isso deve ser reconhecido. Vender uma narrativa de vitória não representa a realidade, especialmente para a militância que se esforçou e merece ouvir a verdade,” afirmou Altman, criticando avaliações internas que tentam minimizar os resultados desfavoráveis. Para o analista, a insistência em uma leitura otimista que não corresponda à realidade pode levar a estratégias equivocadas em eleições futuras.

<><> Perspectivas e desafios para 2026

Na avaliação de Altman, os resultados da eleição municipal podem ter um impacto a longo prazo para a esquerda nas eleições de 2026. O avanço conservador e a aliança entre a direita tradicional e a extrema direita, exemplificada pela vitória de Ricardo Nunes em São Paulo com apoio explícito de Tarcísio de Freitas e de setores bolsonaristas, apontam para uma possível frente unificada nas eleições nacionais. “É um alerta para a esquerda. Se esses setores conservadores se articularem, a disputa presidencial pode se tornar ainda mais desafiadora para o PT,” ponderou Altman.

Ele também indicou que as derrotas em municípios relevantes como Salvador e as dificuldades em consolidar votos em regiões metropolitanas revelam uma necessidade urgente de reestruturação política e de estratégias de reconquista do eleitorado popular.

 

•        PT fará conferência em dezembro para discutir os rumos da legenda

Em dezembro, o Partido dos Trabalhadores (PT) realizará uma conferência para reavaliar seu papel e seus caminhos diante das transformações políticas, sociais e econômicas que o Brasil tem enfrentado nas últimas décadas. Conforme noticiado por Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, a iniciativa surgiu antes mesmo do segundo turno das eleições municipais deste ano, mas os resultados insatisfatórios das urnas intensificaram a necessidade de um debate interno sobre a identidade e a direção da legenda.

Em 2025, o PT deverá escolher sua nova liderança, e a expectativa é que essa conferência desempenhe um papel importante na definição dos rumos que a legenda seguirá. Dividido entre manter-se fiel às suas bases tradicionais e a possibilidade de adotar um posicionamento mais ao centro para atrair novos eleitores, o partido se vê em um momento decisivo. Entre as principais questões em pauta, está a abordagem de temas contemporâneos sem perder o compromisso com os valores históricos que definem a legenda.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é uma das vozes mais firmes contra a ideia de uma guinada para o centro. Para ela, o PT deve manter sua essência e não ceder a pressões para mudar de identidade em busca de votos. “É essencial discutir o papel do PT em um contexto novo de trabalho, de comunicação digital, mas sem abandonar os valores e as bandeiras que sempre nos definiram,” afirma Gleisi, que ressalta a importância de temas como igualdade de gênero e inclusão social na pauta da legenda. Ela reage com firmeza às críticas de que o PT teria um enfoque "identitário" demais, insistindo que questões como a igualdade para as mulheres, maioria da população brasileira, são centrais para qualquer projeto político que se proponha a transformar o país. "Dizem que o PT está identitário. Mas a questão da mulher é identitária? As mulheres são a maioria do país, e é preciso defender seus direitos”, destacou.

Gleisi ainda rebateu críticas que sugerem uma aproximação do partido com uma visão conservadora sobre o papel da mulher, como foi manifestado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em declarações recentes. “Vamos agora fazer como a Michelle Bolsonaro?”, ironizou Gleisi, ao criticar a ideia de uma política centrada em um "maridão machão e gestor" enquanto a mulher assume um papel restrito ao social. "Não é essa a nossa pegada", reforçou, defendendo que o PT mantenha uma agenda de luta pela equidade e inclusão.

A conferência contará com a presença de nomes respeitados do meio acadêmico e intelectual, como José Luís Fiori, Sebastião Velasco, Marcio Pochmann, André Singer, Margarida Salomão, Renato Meireles e Renato Janine Ribeiro, que contribuirão para debates sobre temas como as mudanças na economia e o impacto das novas tecnologias na sociedade. Essas discussões serão fundamentais para que o PT avalie os caminhos que pretende seguir e os valores que quer preservar para enfrentar os próximos desafios.

 

Fonte: Brasil 247

 

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