“É uma derrota mas não é uma catástrofe, a
esquerda não está sitiada”, afirma Genoino
Em entrevista ao
programa Conversa de Política, o ex-deputado e ex-presidente nacional do PT
José Genoino analisou os resultados do segundo turno das eleições municipais de
2024, destacando a necessidade de reavaliação estratégica para a esquerda
brasileira. Embora reconheça que o desempenho do campo progressista tenha
ficado abaixo das expectativas, Genoino pontua que "não é uma
catástrofe". Ele acredita que o cenário ainda oferece oportunidades para
reorganizar forças e resgatar o engajamento popular.
“A derrota é um
termômetro, mas não significa que a esquerda esteja sitiada,” declarou Genoino,
sublinhando que o Partido dos Trabalhadores (PT) e outras forças progressistas
possuem ainda uma base sólida que pode ser fortalecida. Para ele, o momento exige
autocrítica e uma reorganização das alianças, principalmente em torno de pautas
comuns e com um foco mais inclusivo e transparente.
Ao longo da conversa,
Genoino criticou a fragmentação de alianças entre partidos de esquerda,
apontando essa divisão como um dos maiores obstáculos para a formação de uma
frente sólida. “O maior desafio é reunir forças com ideais em comum, mas que,
por divergências, acabam enfraquecendo a própria causa,” comentou. Segundo ele,
a necessidade de união é urgente, especialmente frente ao avanço de pautas
conservadoras que vêm ganhando espaço no cenário nacional.
O ex-deputado também
comentou sobre o papel das emendas parlamentares nas eleições, destacando que o
uso desse recurso influencia o fortalecimento de lideranças locais e perpetua
práticas assistencialistas. "As emendas podem transformar, mas, quando mal
direcionadas, atendem apenas a interesses individuais", afirmou. Segundo
ele, essa dinâmica favorece prefeitos e candidatos que preferem atender
demandas específicas em troca de apoio político, enfraquecendo o debate
público.
Durante a entrevista,
Genoino também destacou o avanço de lideranças conservadoras, como o governador
de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito reeleito Ricardo Nunes, e
alertou para a necessidade de uma reação estratégica da esquerda frente a esse
crescimento. “É preciso dialogar de forma honesta com a população, fazer uma
política verdadeira, comprometida com o bem-estar coletivo e com a democracia,”
defendeu.
Para Genoino, a
eleição de 2024 deixa um aprendizado importante para a esquerda: o de
reorganizar suas bases com foco no diálogo e na inclusão. Segundo ele, esse
processo será essencial para reverter os resultados desfavoráveis e consolidar
um projeto de país mais justo e democrático.
• “A realidade foi de derrota catastrófica
da esquerda nas eleições municipais”, diz Altman
Durante uma análise no
Bom Dia 247, o jornalista e analista político Breno Altman destacou sua
avaliação contundente sobre o desempenho da esquerda nas eleições municipais de
2024. O jornalista afirmou que os resultados revelaram uma “derrota catastrófica”
da esquerda brasileira, apesar de pequenos avanços em números absolutos. A
análise abordou a vitória do campo conservador e da extrema direita em diversos
municípios, enquanto setores progressistas, mesmo em posições de governo,
perderam espaço e influência nas regiões de maior densidade populacional.
Altman observou que a
análise geral não deve ser limitada ao segundo turno, mas sim ao conjunto das
eleições, refletindo o panorama completo de vitórias e derrotas. “Nós devemos
fazer uma avaliação das eleições como um todo, porque agora podemos fazer um
balanço geral, sem separar os turnos como se fossem eleições distintas”,
comentou. O jornalista apontou que os critérios de avaliação mais relevantes
envolvem a predominância política entre os campos ideológicos e os avanços em
áreas chave, como capitais e municípios estratégicos.
<><> O
avanço da direita e da extrema direita
Segundo Altman, a
eleição de candidatos ligados à extrema direita e ao conservadorismo
tradicional simboliza o fortalecimento dessas forças políticas, o que, para
ele, representa uma ameaça à hegemonia da esquerda. Em uma análise de dados,
ele citou o crescimento do PL (partido do ex-presidente Jair Bolsonaro) e do
Republicanos, que juntos conquistaram uma parcela significativa do eleitorado
municipal, demonstrando força eleitoral em todo o território brasileiro. “Em
todos os critérios — seja o número de prefeitos eleitos, a população governada
ou o desempenho em grandes cidades — a direita venceu e consolidou seu avanço,”
afirmou.
No âmbito das
capitais, a esquerda governará apenas seis das maiores cidades brasileiras,
resultado próximo ao de 2020 e que, segundo Altman, sinaliza uma estagnação. O
analista destaca que as grandes cidades são fundamentais para moldar o debate
público e político no país, e que a baixa representatividade da esquerda nesses
espaços limita sua capacidade de influenciar a agenda nacional. "A direita
tradicional e a extrema direita dominaram as eleições e estão organizando uma
aliança conservadora robusta," advertiu Altman.
<><> Uma
recuperação limitada para o PT e a esquerda
Altman reconheceu que,
apesar do quadro desfavorável, o PT (Partido dos Trabalhadores) teve um
crescimento em comparação às eleições de 2020, ao eleger mais prefeituras e
algumas capitais. Ele citou o exemplo de Fortaleza, onde o PT recuperou a
prefeitura, mas ressaltou que o avanço foi insuficiente frente ao domínio
conservador. No total, o PT e aliados da esquerda devem governar cerca de 5,2%
da população brasileira, uma recuperação tímida considerando o cenário
favorável de ter o partido no governo federal.
“Mesmo com a esquerda
no governo nacional, o crescimento foi pífio e isso deve ser reconhecido.
Vender uma narrativa de vitória não representa a realidade, especialmente para
a militância que se esforçou e merece ouvir a verdade,” afirmou Altman, criticando
avaliações internas que tentam minimizar os resultados desfavoráveis. Para o
analista, a insistência em uma leitura otimista que não corresponda à realidade
pode levar a estratégias equivocadas em eleições futuras.
<><>
Perspectivas e desafios para 2026
Na avaliação de
Altman, os resultados da eleição municipal podem ter um impacto a longo prazo
para a esquerda nas eleições de 2026. O avanço conservador e a aliança entre a
direita tradicional e a extrema direita, exemplificada pela vitória de Ricardo
Nunes em São Paulo com apoio explícito de Tarcísio de Freitas e de setores
bolsonaristas, apontam para uma possível frente unificada nas eleições
nacionais. “É um alerta para a esquerda. Se esses setores conservadores se
articularem, a disputa presidencial pode se tornar ainda mais desafiadora para
o PT,” ponderou Altman.
Ele também indicou que
as derrotas em municípios relevantes como Salvador e as dificuldades em
consolidar votos em regiões metropolitanas revelam uma necessidade urgente de
reestruturação política e de estratégias de reconquista do eleitorado popular.
• PT fará conferência em dezembro para
discutir os rumos da legenda
Em dezembro, o Partido
dos Trabalhadores (PT) realizará uma conferência para reavaliar seu papel e
seus caminhos diante das transformações políticas, sociais e econômicas que o
Brasil tem enfrentado nas últimas décadas. Conforme noticiado por Mônica Bergamo,
da Folha de S.Paulo, a iniciativa surgiu antes mesmo do segundo turno das
eleições municipais deste ano, mas os resultados insatisfatórios das urnas
intensificaram a necessidade de um debate interno sobre a identidade e a
direção da legenda.
Em 2025, o PT deverá
escolher sua nova liderança, e a expectativa é que essa conferência desempenhe
um papel importante na definição dos rumos que a legenda seguirá. Dividido
entre manter-se fiel às suas bases tradicionais e a possibilidade de adotar um
posicionamento mais ao centro para atrair novos eleitores, o partido se vê em
um momento decisivo. Entre as principais questões em pauta, está a abordagem de
temas contemporâneos sem perder o compromisso com os valores históricos que
definem a legenda.
A presidente do PT,
Gleisi Hoffmann, é uma das vozes mais firmes contra a ideia de uma guinada para
o centro. Para ela, o PT deve manter sua essência e não ceder a pressões para
mudar de identidade em busca de votos. “É essencial discutir o papel do PT em
um contexto novo de trabalho, de comunicação digital, mas sem abandonar os
valores e as bandeiras que sempre nos definiram,” afirma Gleisi, que ressalta a
importância de temas como igualdade de gênero e inclusão social na pauta da
legenda. Ela reage com firmeza às críticas de que o PT teria um enfoque
"identitário" demais, insistindo que questões como a igualdade para
as mulheres, maioria da população brasileira, são centrais para qualquer
projeto político que se proponha a transformar o país. "Dizem que o PT
está identitário. Mas a questão da mulher é identitária? As mulheres são a
maioria do país, e é preciso defender seus direitos”, destacou.
Gleisi ainda rebateu
críticas que sugerem uma aproximação do partido com uma visão conservadora
sobre o papel da mulher, como foi manifestado pela ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro em declarações recentes. “Vamos agora fazer como a Michelle
Bolsonaro?”, ironizou Gleisi, ao criticar a ideia de uma política centrada em
um "maridão machão e gestor" enquanto a mulher assume um papel
restrito ao social. "Não é essa a nossa pegada", reforçou, defendendo
que o PT mantenha uma agenda de luta pela equidade e inclusão.
A conferência contará
com a presença de nomes respeitados do meio acadêmico e intelectual, como José
Luís Fiori, Sebastião Velasco, Marcio Pochmann, André Singer, Margarida
Salomão, Renato Meireles e Renato Janine Ribeiro, que contribuirão para debates
sobre temas como as mudanças na economia e o impacto das novas tecnologias na
sociedade. Essas discussões serão fundamentais para que o PT avalie os caminhos
que pretende seguir e os valores que quer preservar para enfrentar os próximos
desafios.
Fonte: Brasil 247
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