segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Ameaça existencial pode levar Irã a mudar política nuclear

O Irã não deseja a expansão da guerra no Oriente Médio, mas ele está totalmente preparado para isso – e eventuais mudanças potenciais na doutrina nuclear iraniana seguem sendo uma possibilidade, principalmente se uma “ameaça existencial” for encontrada.

Em entrevista ao site libanês Al Mayadeen, o chefe do Conselho Estratégico de Relações Exteriores do Irã, Kamal Kharrazi, articulou a posição do Irã sobre as tensões regionais, enfatizando a preparação da nação para responder a qualquer escalada, ao mesmo tempo em que expressou o desejo de evitar mais guerras.

Diante de tal contexto, Kharrazi destacou que o Irã deixou claras suas capacidades de dissuasão por meio da Operação True Promise II, quando centenas de mísseis foram lançados contra Israel.

Segundo o diplomata, fica a cargo de Israel: caso escolham manter suas operações militares, o Irã irá responder de acordo.

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Ambições militares, religião e política

Questionado sobre possíveis mudanças na doutrina nuclear iraniana, Kharrazi destacou que tais mudanças são possíveis principalmente se uma “ameaça existencial” for detectada.

Além disso, o alto funcionário iraniano destacou que as mudanças se aplicariam a projéteis, mas ressaltou as capacidades técnicas do país para a produção de armas nucleares, e não encontra obstáculos consideráveis a esse respeito.

Porém, a Fatwa emitida pelo líder iraniano Sayyed Ali Khamenei serve como a única restrição que impede o Irã de buscar armamento nuclear.

No momento, o foco atual do Irã está nos alcances dos mísseis usados até agora, nos quais os iranianos consideraram as preocupações dos ocidentais

Por outro lado, o alto funcionário destacou que as nações ocidentais não reconhecem as preocupações do Irã, especialmente sobre sua soberania e integridade territorial, o que deve levar o país a desconsiderar as preocupações ocidentais, abrindo a possibilidade de desenvolver e estender o alcance dos mísseis.

¨      Líder supremo do Irã diz que retaliação contra Israel e EUA será "devastadora"

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou neste sábado (2) que haverá uma resposta firme contra Israel e os Estados Unidos em reação aos recentes ataques israelenses a instalações militares iranianas.

“Os inimigos, tanto os EUA quanto o regime sionista [Israel], devem saber que certamente receberão uma resposta devastadora pelo que estão fazendo contra o Irã e a frente de resistência”, disse Khamenei, referindo-se a grupos aliados ao Irã. As declarações foram feitas durante um encontro com estudantes.

Ele ressaltou que o Irã está tomando medidas para preparar o país militar e politicamente para qualquer confronto. 

“Estamos certamente fazendo todo o necessário para preparar a nação iraniana para enfrentar a arrogância, seja em termos de prontidão militar, armamentos ou ações políticas, e graças a Deus, nossos oficiais estão atualmente engajados nisso”, afirmou.

Segundo a CNN, o Irã tem avaliado a retaliação aos recentes ataques israelenses. Fontes próximas ao governo iraniano indicaram que a resposta deve ocorrer antes das próximas eleições presidenciais nos EUA.

¨      Hamas rejeita proposta de cessar-fogo temporário para a troca de prisioneiros, diz fonte à Sputnik

O movimento palestino Hamas não acredita que a proposta de um cessar-fogo temporário na Faixa de Gaza — para trocar um número limitado de prisioneiros, recentemente expressa pelos mediadores — seja do interesse do povo palestino, disse uma fonte do movimento palestino à Sputnik nesta sexta-feira (1º).

"Nos últimos dias, a delegação do movimento ouviu certas ideias de mediadores egípcios e catarianos sobre um cessar-fogo temporário por vários dias, o aumento do número de caminhões com ajuda humanitária e uma troca parcial de prisioneiros durante esse período. Essas propostas não incluem nem a cessação completa da agressão, nem a retirada das forças de ocupação de Gaza, nem o retorno dos refugiados", disse a fonte.

Essas propostas não atendem às necessidades de estabilidade e segurança do povo palestino e também excluem a retomada das operações normais dos postos de controle de fronteira, principalmente a passagem de Rafah, acrescentou a fonte.

O Hamas quer "um cessar-fogo completo, abrangente e permanente, a retirada completa das tropas israelenses da Faixa de Gaza, o retorno de pessoas deslocadas e o levantamento do bloqueio israelense no enclave", disse a fonte.

As necessidades vitais dos palestinos, como comida, moradia, suprimentos médicos e infraestrutura funcional são o pré-requisito para qualquer conversa séria sobre a libertação de reféns israelenses, acrescentou.

"O Hamas está aberto a ideias e negociações para atingir esses objetivos e implementar a Resolução 2735 do Conselho de Segurança da ONU", diz o comunicado.

No final de outubro, o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi propôs um cessar-fogo de dois dias na Faixa de Gaza para uma troca de quatro reféns israelenses mantidos pelo Hamas por vários palestinos sob custódia israelense.

As negociações sediadas em Doha ficaram em um impasse por vários meses devido a desentendimentos entre o governo israelense e o Hamas. Em outubro, as Forças de Defesa de Israel (FDI) eliminaram o chefe do Hamas, Yahya Sinwar, ação oposta ao acordo de paz.

Em mais de um ano de conflito na Faixa de Gaza, cerca de 43 mil palestinos morreram e mais de 100,8 mil ficaram feridos. Entre os israelenses, cerca de 1,1 mil morreram e 5,5 mil ficaram feridos após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.

 

¨      Palestina faria Israel repartir US$ 524 bilhões em petróleo e gás

Caso o Estado palestino independente fosse criado, Israel teria que repartir receitas de petróleo e gás estimadas em mais de meio trilhão de dólares. Atualmente, a exploração de ricos campos de gás natural no Mar Mediterrâneo, em frente à Faixa de Gaza, tem sido feita exclusivamente por Israel.

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A Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) estimou que as reservas de gás natural na Bacia do Levante, em frente à Faixa de Gaza, possuem 122 trilhões de pés cúbicos de gás natural a um valor líquido de US$ 453 bilhões (a preços de 2017) e 1,7 bilhão de barris de petróleo recuperável a um valor líquido de cerca de US$ 71 bilhões. Ao todo, são US$ 524 bilhões em combustíveis que deveriam ser compartilhados com os palestinos

“Isso significa que esta bacia é um dos recursos de gás natural mais importantes do mundo. Elas são recursos comuns compartilhados, cuja exploração por qualquer parte diminui a participação das partes vizinhas. A ocupação continua a impedir os palestinos de desenvolver seus campos de energia para explorar e se beneficiar de tais ativos”, afirmou a Unctad.

Para especialistas consultados pela Agência Brasil, a disputa entre Israel e um possível futuro Estado palestino por essas riquezas influencia a guerra no Oriente Médio. Afinal, o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – o Likud, que governou Tel-Aviv em 19 dos últimos 23 anos – tem apostado na expansão econômica do país pela via da produção de energia.

“Israel silenciosamente se tornou um produtor e exportador significativo de gás nos últimos 3 a 4 anos, dobrando o tamanho de sua cadeia de valor de gás com o combustível produzido offshore fluindo para o mercado interno israelense e exportações para a Jordânia e o Egito”, informou pesquisa do Instituto da Oxford para Estudos sobre Energia (OIES, em sigla em inglês), publicada em novembro de 2023.

De acordo com o estudo da OIES, Israel passou de uma condição completamente dependente de combustíveis importados para produzir quase 50% da energia que necessita, chegando a 21,9 bilhões de metros cúbicos (bmc) em 2022. “Isso é substancialmente maior do que qualquer produtor da União Europeia (EU)”, afirma a pesquisa.

<><> Pax Israelense

O professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bernardo Kocher avalia que as ações militares na Faixa de Gaza buscam viabilizar uma economia à base do gás. “A exploração de gás tem correlação com o ocorre em Gaza”, comentou.

Para o especialista, o projeto político de Israel, e seus aliados, é o de criar uma Pax Israelense para liderar todo o Oriente Médio, do Egito até o Irã, assim como a Pax Romana deu a Roma o controle de boa parte do mundo na Antiguidade.

“Porque aí tem energia e é o caminho que leva a Europa até o extremo oriente. É uma zona de turbulência e os países que têm petróleo, tem poder”, comenta Kocher, que avalia que apenas Líbano, Síria e Irã estão fora da influência ocidental e israelense na região, além de serem nações contestadoras.

“Israel aproveitou o 7 de outubro e está atuando para resolver todos esses impasses, várias frentes de batalha com apoio ocidental, não é uma coisa só interna de Israel. O mais difícil é alcançar o Irã pela distância e pelo poderio militar que o Irã tem”, explica..

<><> Novo Oriente Médio

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem defendido a criação de um “Novo Oriente Médio” livre da influência do Irã e de organizações como o Hezbollah, do Líbano, e o Hamas, da Palestina.

A pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Karina Stange Caladrin, que também é assessora do Instituto Brasil-Israel, ressalta que o projeto do Novo Oriente Médio busca fortalecer as lideranças sunitas em oposição às xiitas.

Em especial, a Arábia Saudita, que é uma grande aliada dos Estados Unidos e rival histórica do Irã, que é uma nação de maioria xiita. O projeto criaria uma plataforma para exportação de petróleo e gás passando por Israel. “Ainda mais a partir dos portos de Israel e do relacionamento que Israel tem com as potências ocidentais”, avaliou Karina.

<><> Israel assume gás

De acordo com o relatório da Agência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento, o período em que as descobertas de gás natural foram feitas no mar da Faixa de Gaza coincidiu com crises políticas, indo da 2ª intifada – revolta palestina contra a ocupação israelense iniciada em 2000 – até o isolamento e o bloqueio de Gaza a partir de 2007.

Em 1999, a companhia BG Group (BBG) assinou um contrato de 25 anos de exploração de gás com a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que atualmente controla apenas 18% da Cisjordânia, mas na época controlava também Gaza. No entanto, em 2003, Israel proibiu que os recursos fossem para a ANP afirmando que eles poderiam ser usados ​​para apoiar o terrorismo.

“A BGG tem lidado com o governo de Israel efetivamente ignorando a autoridade governante em Gaza com relação aos direitos de exploração e desenvolvimento sobre os campos de gás natural”, afirma o relatório da Unctad, acrescentando que “os campos de gás natural de Gaza foram, em violação ao direito internacional, de fato integrados às instalações offshore de Israel, que são contíguas às da Faixa de Gaza”.

A agência da ONU destaca também o controle que Israel assumiu sobre o campo de petróleo e gás natural de Meged, localizado dentro da Cisjordânia na área administrada por Israel. “Meged foi descoberto na década de 1980 e começou a produção em 2010. Suas reservas são estimadas em cerca de 1,5 bilhão de barris de petróleo, bem como algum gás natural”, afirmou.  

<><> 7 de outubro e Europa

O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 teve efeitos imediatos na exploração de gás offshore na região, com Tel-Aviv fechando o campo de Tamar, que produziu, em 2022, 47% do gás de Israel. Com isso, a exportação para o Egito foi suspensa, embora parte dela tenha sido redirecionada para a Jordânia.

De acordo com a pesquisa do centro de estudos da Oxford, essa mudança põe dúvidas sobre a proposta de a União Europeia substituir o gás russo cortado após Moscou invadir a Ucrânia por produção do Mediterrâneo Oriental. De acordo com os pesquisadores, o “clima geral de investimentos” na exploração de gás em Israel pode ser comprometido.  

Os pesquisadores da Oxford citam acordo firmado em junho de 2022 entre Egito, Israel e União Europeia afirmando que as “partes se esforçarão para trabalhar coletivamente para possibilitar uma entrega estável de gás natural para a União Europeia”. 

Apesar das incertezas após o 7 de outubro, o fornecimento de gás para o mercado interno de Israel não foi prejudicado com o fechamento do campo de Tamar. “principalmente por causa do aumento do campo de Karish, mas os volumes de exportação serão afetados”, concluíram.

<><> Grande Israel

Para a pesquisadora da USP Karina Stange Caladrin, a questão econômica do petróleo e gás é importante para entender o conflito atual no Oriente Médio, mas a especialista avalia que posições religiosas dos partidos de extrema-direita israelenses, que querem tomar terras árabes, têm um peso ainda mais importante no conflito.

“Há interesse em expandir essa exploração de gás porque isso ajudaria economicamente o país, mas acho que há outras questões mais importantes. Hoje, dentro da coalizão que governa Israel, tem os partidos religiosos e de extrema direita que veem a ocupação de Gaza, ou até mesmo do sul do Líbano, como uma justificativa religiosa, da Grande Israel e da terra bíblica de Israel”, afirma.

Algumas correntes dentro do governo israelense têm defendido a proposta da Grande Israel, que prevê a expansão do território controlado por Tel-Aviv do Rio Nilo ao Rio Eufrates, tomando partes do Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e até Arábia Saudita. A proposta da Grande Israel existe desde o início do movimento sionista, que deu origem ao Estado de Israel. 

O pesquisador Roberto Kocher cita que já está sendo anunciada a venda de terras no Lìbano e em Gaza exclusivamente para judeus. “O processo de incorporação de terras está em marcha. Agora mais intensamente em Gaza, em segundo lugar, na Cisjordânia e, em terceiro lugar, no Líbano”, afirma.

Atualmente, existem cerca de 700 mil colonos ocupando terras na Cisjordânia. Esses assentamentos são considerados ilegais pelo direito internacional, segundo declarou em julho deste ano a Corte Internacional de Justiça (CIJ), ligada à ONU. Em resposta, o governo de Israel voltou a afirmar que as terras são do Estado judeu. 

<><> Água

A autonomia do povo palestino também exigiria uma nova divisão das águas da região, já que os israelenses consomem, por ano, quase oito vezes mais recursos hídricos que os palestinos.  

Enquanto o consumo médio per capita de água de um israelense é de 1,9 mil metros cúbicos (m³) por ano, o do palestino é de 238 m³ por ano. Em 2004, mais de 85% da água palestina da Cisjordânia havia sido tomada por Israel, servindo para cobrir 25% da necessidade de água dos israelenses, segundo dados da Agência da ONU para Comércio e Desenvolvimento.

Segundo a agência da ONU, a ocupação da Palestina por Israel limita o acesso à água dos palestinos. “Os palestinos também têm negado seu direito de utilizar recursos hídricos do Rio Jordão e do Rio Yarmouk. Os fazendeiros da Cisjordânia historicamente usaram as águas do Rio Jordão para irrigar seus campos, mas essa fonte foi poluída, com Israel desviando os fluxos de água ao redor do Lago Tiberíades para o baixo Jordão”, destacou a organização.

 

¨      EUA anunciam envio de contratorpedeiros de defesa antimísseis e bombardeiros ao Oriente Médio

Os Estados Unidos ordenaram o envio de mais contratorpedeiros de defesa antimísseis, caças e bombardeiros de ataque ao Oriente Médio, anunciou o secretário de imprensa do Pentágono, major-general Pat Ryder, nesta sexta-feira (1º).

"Mantendo nossos compromissos com a proteção dos cidadãos e forças dos EUA no Oriente Médio, a defesa de Israel e a redução da tensão por meio da dissuasão e da diplomacia, o secretário de Defesa ordenou o envio de mais contratorpedeiros de defesa antimísseis balísticos, […] caças e aeronaves-tanque, além de vários bombardeiros de ataque de longo alcance B-52 da Força Aérea dos EUA, à região", disse Ryder.

As forças começarão a chegar nos próximos meses, enquanto o grupo de ataque do porta-aviões USS Abraham Lincoln se prepara para partir, acrescentou ele.

Desde que a guerra entre o Hamas e Israel começou, em outubro do ano passado, navios dos EUA já lançaram mais de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,57 bilhões, na cotação atual) em interceptadores para impedir que o Irã e seus representantes atacassem Israel e navios que viajassem pelo mar Vermelho, de acordo com a Marinha estadunidense.

Os EUA lançaram uma dúzia de mísseis padrão durante o ataque de mísseis do Irã contra Israel em 1º de outubro, além de empregar outros sistemas de defesa aérea.

No início deste mês, na preparação para o ataque retaliatório de Israel ao Irã, o Pentágono implantou o Terminal High Altitude Area Defense, ou sistema THAAD, em Israel, um movimento que permite aos EUA usar interceptadores além dos mísseis padrão para reforçar as defesas de Israel.

O Pentágono também moveu sistemas adicionais de defesa de mísseis Patriot para o Oriente Médio, o que exigiu a troca do número limitado de baterias em estoque para também atender à demanda na Ucrânia.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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