Afundamento do solo em Maceió: PF indicia
20 pessoas por crimes
A Polícia Federal (PF)
indiciou 20 pessoas por crimes relacionados à exploração de sal-gema pela
petroquímica Braskem, em Maceió. A PF informou, nesta sexta-feira (1º), que o
inquérito foi encaminhado para a 2ª Vara Federal de Alagoas para as “devidas providências”.
A extração nas minas de sal-gema na capital alagoana foi feita durante pouco
mais de 40 anos e terminou em 2019, após o afundamento do solo em pelo menos
cinco bairros e o colapso de uma das minas. Cerca de 60 mil pessoas foram
atingidas.
Os nomes das pessoas
indiciadas não foram informados pela PF. Em nota encaminhada à Agência Brasil,
a assessoria da corporação explicou que “o caso encontra-se sob segredo de
justiça decretado pela Justiça Federal”.
Caso a Justiça acolha
o inquérito, os indiciados responderão por crimes como exploração de
matéria-prima da União, em desacordo com a autorização concedida e com a
legislação ambiental; dano qualificado praticado contra o patrimônio da União,
Estado e Município; deterioração ou inutilização de bens alheios, crime
ambiental com agravante de apresentação de dados falsos e omissão de
informações. As penas variam entre reclusão e multas.
De acordo com o
Movimento Unificados de Vítimas da Braskem (MUVB), aproximadamente 60 mil
pessoas e 15 mil imóveis foram afetados em razão do afundamento do solo, que
levou ao desaparecimento dos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto
e parte do Farol.
Ainda segundo o
movimento, as comunidades dos Flexais, de Quebradas, Marquês de Abrantes, do
Bom Parto e a Rua Santa Luzia, na Vila Saem, também foram afetadas. No dia 10
de dezembro de 2023, uma das 35 minas da Braskem ruiu sob a Lagoa Mundaú, no
Mutange.
Em setembro deste ano,
os moradores realizaram um protesto durante reunião dos ministros da Economia
dos países do G20, em Maceió, chamando a atenção para a necessidade de
reparação ambiental pelos danos causados pela atividade exploratória da
Braskem.
Em julho, a Braskem
foi condenada por um tribunal da Holanda a indenizar nove vítimas do
afundamento provocado pela extração de sal-gema na capital alagoana.
Na decisão, a Justiça
holandesa não fixou valores a serem pagos, mas determinou que as partes
entrassem em acordo sobre o quanto deve ser indenizado. A Braskem ainda pode
recorrer da decisão. A ação é individual, ajuizada por nove pessoas, mas poderá
servir de base para outros processos.
No mesmo mês, durante
audiência realizada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH),
vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), vítimas do rompimento de
barragens em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, dos incêndios da Boate Kiss,
em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e do Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro, e
do afundamento de bairros em Maceió, cobraram a responsabilização pelas
tragédias nos âmbitos judicial e legislativo.
“Solicitamos que a
comissão inste o Estado brasileiro a restaurar ou reabrir processos penais ou
administrativos, estabelecer um efetivo controle social sobre a atividade do
Ministério Público e dos órgãos de fiscalização e análise de riscos e conceber
uma legislação específica para casos de tragédias coletivas e de grande impacto
social, prevendo mecanismos de prevenção e responsabilização”, disse, na
audiência, a advogada Tâmara Biolo Soares, representante da defesa das vítimas.
• ES: ‘Se não nos unirmos, mais uma vez
irão nos destruir’
“A mesma conversa que
reconheço aqui, emprego e renda, nós ouvimos na década de 1970, quando a
Aracruz Celulose [atual Suzano e ex-Fibria] chegou em nosso território. Se não
nos unirmos, mais uma vez irão nos destruir, porque isso não é para as
comunidades tradicionais, é para os grandes empresários”.
O alerta da quilombola
Gessi Cassiano ressoou a tensão entre os interesses de grupos econômicos e a
necessidade de proteção socioambiental provocada pelo processo de implementação
do Programa de Desenvolvimento de Unidades de Conservação (Peduc), que privatiza
a área, debatido em audiência pública nessa quarta-feira (30), na Assembleia
Legislativa.
O debate convocado
pela Comissão de Meio Ambiente reuniu representantes de comunidades
tradicionais, moradores do entorno dos parques estaduais, servidores e
ambientalistas, além de parlamentares e o secretário de Estado de Meio
Ambiente, Felipe Rigoni, para tratar dos impactos do projeto, que provocou
resistência da sociedade civil diante das ameaças à sobrevivência ambiental e
ao modo de vida das comunidades locais. O programa estabelece a exploração
econômica de seis unidades de conservação integral no Espírito Santo, por meio
de uma concessão de 35 anos ao setor empresarial.
“Nós lutamos, meu pai
morreu lutando, e hoje vejo pessoas que não têm conhecimento do que é o
sofrimento na pele querer destruir. Precisamos nos fortalecer e proteger a
natureza, porque é dela que tiramos o sustento”, ressaltou a quilombola
residente da comunidade de Linharinho, nas proximidades da vila de Itaúnas, um
dos locais que serão impactados pelo Peduc, no município de Conceição da Barra,
norte do Estado.
A pesquisadora Simone
Machado, que desenvolve estudos sobre comunidades tradicionais da região do
Sapê do Norte, onde Itaúnas está inserida, destacou que a vila é um território
tradicional, por isso é a unidade de conservação onde ocorreu a reação mais forte
contra o Peduc até então.
“As comunidades
tradicionais que estão no entorno do parque fazem a conexão com as unidades de
conservação, são responsáveis pelos corredores ecológicos, até porque dependem
dessa sociobiodiversidade e sabem como manejar. Além disso, elas já realizam o
empreendedorismo local e esses empreendimentos que estão sendo propostos, na
verdade, podem comprometer a estrutura que já existe e prejudicar quem vive
ali, como os barraqueiros que nunca puderam ser regularizados”, relatou.
Além do Parque
Estadual de Itaúnas (PEI), o programa estabelece a transferência do manejo dos
parques Cesar Vinha (PEPCV), em Guarapari; Cachoeira da Fumaça (PECF), em
Alegre, sul do Estado; Forno Grande (PEFG) e Mata das Flores (PEMF), em
Castelo, e Pedra Azul (Pepaz), em Domingos Martins, na região serrana; e prevê
a realização de um leilão para concessão das unidades em 2025.
O biólogo Walter Luiz
Oliveira Có ressaltou que o programa da Secretaria Estadual de Meio Ambiente
(Seama) coloca em risco não apenas a biodiversidade dos ecossistemas, que
representam os últimos refúgios para diversas espécies, mas também a confiança
pública nos órgãos de preservação ambiental, ao permitir empreendimentos
econômicos que conflitam com o objetivo primordial de proteção integral dessas
áreas.
“Esse turismo de massa
não faz sentido nenhum sob o ponto de vista de uma área de conservação
integral. Se perdemos a última linha de defesa da vida, que faz as pessoas
acreditarem na capacidade dos órgãos ambientais, em que momento vamos começar a
fazer as coisas certas como sociedade? Precisamos de mais parques nas cidades,
e não mais cidades nos parques”, defendeu.
O também biólogo Hugo
Silva Cavaca frisou que a audiência pública foi possível devido à iniciativa da
Assembleia Legislativa, enquanto o Governo do Estado afirma que prevê realizar
consultas com a população que vive nas áreas dos parques e entornos apenas em
2025. Ele criticou a forma como os projetos conceituais têm sido divulgados na
imprensa antes de escuta às comunidades e pediu que Rigoni apresentasse o termo
de referência para a contratação e quais estudos têm sido desenvolvidos pela
consultora Ernst & Young.
Para Hugo, ocorre uma
inversão de prioridades, pois os planos de manejo estão sendo adequados para a
concessão. “É obrigatório a participação social para desenvolver esses
projetos, e os planos de manejo e as mudanças não podem acontecer sem o
acompanhamento da sociedade civil”, cobrou.
Um dos conselheiros do
Parque Paulo César Vinha, Lúcio Lopes, apontou as deficiências do governo em
garantir a fiscalização e conservação das áreas de preservação e compartilhou
sobre a situação preocupante da vegetação exótica que invadiu as ilhas de Guarapari.
“Uma concessão de 35 anos é muito preocupante. Eu implorei à gestora do parque
para ter acesso ao projeto e nem eles tinham conhecimento. Como liderança
comunitária, vejo a omissão e a degradação. Se não temos condições nem para
cuidar do nosso patrimônio, como vamos entregar isso para terceiros?”,
questionou.
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Incompatível com a preservação
As deputadas Iriny
Lopes (PT) e Camila Valadão (Psol) questionaram a viabilidade legal do programa
da Secretaria de Estadual de Meio Ambiente. Para Iriny, a iniciativa não tem
sustentação jurídica, porque entre em desacordo com dispositivos da Constituição
Federal, como o artigo 255, e a Lei 9985 de 2000, que garantem a proteção
integral das áreas de conservação.
“Esse projeto tem um
problema de origem insanável, os empreendimentos dentro das unidades são
incompatíveis com o conceito de preservação. Não existe meia preservação.
Então, eu pergunto ao secretário: por que contratou uma consultora que não tem
expertise em questões ambientais? Custou R$ 8 milhões dos cofres públicos e eu
quero saber exatamente de onde esses recursos foram tirados”.
Durante sua fala no
plenário, o secretário de meio ambiente, Felipe Rigoni, defendeu a iniciativa,
ressaltando que irá gerar empregos e melhorar o aproveitamento das áreas do
entorno. Reconheceu, ainda, que os projetos tiveram inadequações identificadas pelos
técnicos do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema),
que, segundo ele, têm orientado para a realização de ajustes. “Se eu estivesse
fazendo uma privatização simples e pura, eu venderia o parque e ponto, então
fariam o que quisessem. Os projetos têm sido modificados, justamente por
indicação dos técnicos do Iema”, argumentou.
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Extensão do governo
A Federação das
Indústrias do Estado (Findes) enviou sua especialista do Conselho Temático de
Meio Ambiente e Sustentabilidade, Graciele Zavarize Belisário, para defender o
programa da gestão Renato Casagrande (PSB). A representante criticou o
movimento de oposição à iniciativa. “Vocês não vieram buscar informações sobre
o projeto, a grande maioria que está aqui, veio fazer uma defesa
político-partidária”, acusou.
A deputada Camila
Valadão reagiu à defesa corporativa da especialista da Findes e apontou como
reflexo da relação construída entre a Seama e a entidade industrial, que se
comporta como uma extensão do governo: “É muito curioso como a Findes tem
acesso à totalidade do projeto, enquanto as comunidades não foram consultadas.
Isso demonstra a incapacidade da Secretaria de Meio Ambiente e do Iema em
resolver os problemas existentes. O Espírito Santo teve um superávit de R$ 1,23
bilhões em 2022, poderia utilizar para essas questões, mas a abordagem adotada
é transformar a proteção ambiental em mais uma estratégia de mercado”.
<><> Iema
fragilizado
A diretora do Sindicato
dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos) e servidora
do Iema, Silvia Sardenberg, expôs a fragilização da autarquia ao longo dos
anos, enfatizando a escassez de concursos públicos e a nomeação de diretores
ligados ao setor privado. Ela mencionou as tentativas de extinção do instituto,
que foram barradas pelo movimento dos servidores, mas ressaltou que, desde
então, o governo estadual não tem proporcionado as condições necessárias para o
funcionamento do órgão ambiental.
“Tentam extinguir o
Iema por inanição. Queremos que os servidores tenham voz nesse processo, mas
falar em público que vai ter participação quando estão prevendo somente
apresentar o projeto depois da modelagem terminada, não é consultar.
Participação é deliberação, mudar as cláusulas, porque vai ficar em uma área
sensível, porque se tem alguma área degradada dentro de um parque, é porque não
foi recuperada. Então não é isso que se quer, reforçou.
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‘Lucro pelo lucro’
O diretor do Sindicato
dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro), Alex Pereira, denunciou as
privatizações em curso no Estado, a exemplo do setor petrolífero, o que tem
resultado em uma série de desastres ambientais causados por negligência, como o
recente derramamento de petróleo em São Mateus.
“O pior é que nós
avisamos, fizemos uma reunião com o governador, que assinou um documento
público dizendo que seria contra as privatizações, mas tivemos um banco aqui no
Estado que financiou essas vendas. Então, a gente sabe exatamente o que essas
empresas fazem, só querem o lucro pelo lucro. A concessão é uma palavra bonita
para as privatizações e não é o capixaba que vai ganhar com isso”, alertou.
<><>
Descaracterização
Os projetos
idealizados por Felipe Rigoni, já anunciados para o Parque Estadual de Itaúnas
e o Parque Estadual Paulo César Vinha, na modelagem da consultora Ernst &
Young, contratada sem licitação, incluem estruturas de grande impacto em áreas
naturais protegidas, como teleféricos, tirolesas, restaurantes, hospedagens e
estacionamento para centenas de veículos.
O projeto prevê cinco
polos de exploração turística para o Parque Estadual de Itaúnas. O primeiro, na
área do Hotel Barramar, inclui duas pousadas com 15 quartos cada, um
restaurante e estacionamento com 200 vagas. No segundo, localizado na antiga
foz do Rio Itaúnas, as mesmas estruturas serão replicadas, conectadas por
trilhas suspensas.
A área da sede do
parque será reestruturada com escritórios, alojamento para 16 pessoas e um
centro de visitantes. No polo histórico, um memorial da será criado sobre a
vila soterrada, na Casa de Tamandaré, acompanhado de cafés e lojas, além de uma
tirolesa. Também haviam sido apresentadas mudanças para a tradicional área das
barracas, que receberia uma estrutura única.
No Parque Estadual
Paulo César Vinha, o plano divide as intervenções em dois núcleos. No primeiro,
que engloba a portaria principal, a Lagoa de Caraís e o Mirante do Alagado,
serão instalados teleféricos, uma torre de tirolesa e trilhas suspensas. O segundo,
que cobre o acesso secundário, abrange a Lagoa Feia e áreas alagadas e
receberia a instalação de 28 glampings e bangalôs, decks flutuantes, piscina e
um restaurante na rocha.
Fonte: Agencia
Brasil/Século Diário
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