segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Andrew Fishman: ‘Os melhores ladrões de eleições ou a ‘maior democracia do mundo’?’

As eleições americanas são horríveis. Isso é intencional.

Você pode ser perdoado por não entender por que, na próxima terça-feira, os Estados Unidos usarão o colégio eleitoral, uma série de disputas em que o vencedor em cada estado leva tudo, para determinar o resultado de sua eleição presidencial, em vez da contagem nacional. A candidata com milhões de votos a mais pode, de fato, perder a corrida, como aconteceu com Hillary Clinton em 2016.

Você tem razão em ficar confuso sobre como os valores democráticos são promovidos pelo fato de o dia da eleição ser em uma terça-feira que nem é feriado nacional.

Você não seria o único a ficar chocado com o fato de que cada cidadão precisa se registrar com muita antecedência para poder votar. Nem de que, a cada quatro anos, surge uma onda de notícias sobre tentativas indecorosas dos republicanos de invalidar os registros de centenas de milhares de eleitores, intimidá-los com ameaças de multas ou prisão se cometerem um erro ou, de várias formas inovadoras, alterar as regras do jogo no último minuto.

E, embora a lei federal proíba a remoção em massa de eleitores a menos de 90 dias das eleições, esta semana, apenas sete dias antes da eleição, a Suprema Corte, dominada por republicanos radicais e ideológicos, decidiu que o governador republicano da Virgínia poderia fazer exatamente isso. Autoridades estaduais e do partido republicano alinhadas a Trump também tentaram truques sorrateiros nos estados do Alabama, Geórgia, Nebraska, Carolina do Norte, Michigan, Arizona, Nevada e além.

Enquanto essa sujeira virou o novo normal, este ano, no entanto, a tensão está maior do que nunca, pois Trump ainda se recusa a aceitar que perdeu em 2020 e alguns de seus apoiadores mais fervorosos, que estão remoendo essa mentira há quatro anos, estão prontos para causar um inferno se a eleição for novamente “roubada” dele. Isso traz outra dimensão, muito mais medonha, ao jogo do roubo eleitoral, fazendo com que muitos mesários de longa data desistissem por medo de violência.

Olha, a “maior democracia do mundo” (alguém ainda acredita nisso?) foi projetada desde o início para ser antidemocrática. James Madison, o “pai da Constituição”, reverenciado por ambos os partidos, escreveu de forma célebre que o sistema de governo que ele e seus amigos da elite projetaram serviria para evitar “a tirania da maioria” – que é como as pessoas ricas e eruditas da época aparentemente se referiam à “democracia”.

Os tribunais, o sistema eleitoral, o Senado – tudo foi criado para frear a vontade popular e proteger os interesses dos donos do poder. Madison escreveu a Constituição em uma época em que as elites estavam assustadas com as revoltas populares de fazendeiros pobres e veteranos militares descontentes com a crescente desigualdade, a ganância da elite e uma crise de dívida que estava fazendo com que pessoas normais perdessem suas fazendas para banqueiros e comerciantes. Eles sabiam que isso era injusto e exigiram sua fatia da prosperidade que o novo país havia prometido.

Atualmente, os Estados Unidos enfrentam níveis de desigualdade maiores do que os registrados durante a “Era Dourada” dos “barões ladrões” do início do século 20, que levou à Grande Depressão. Portanto, não é de surpreender que a elite política e econômica esteja novamente inovando em maneiras de reprimir a democracia.

Algumas das piores derrotas vieram de juízes nomeados pelos republicanos nos tribunais, incluindo a infame decisão Citizens United de 2010, que efetivamente removeu os limites dos gastos de bilionários e empresas para influenciar campanhas – que podem ser feitos sem revelar quem pagou o quê – sob o argumento da liberdade de expressão. (Liberdade para os ricos, mas os demais que se danem, para variar.)

O Open Secrets, um grupo que monitora a corrupção legalizada de Washington, estima que R$ 92 bilhões serão gastos neste ciclo eleitoral, o mais caro da história.

Mas, embora os republicanos sejam os principais protagonistas desse projeto vergonhoso, os democratas também merecem grande parte da culpa, porque são aparentemente alérgicos à vitória. Em primeiro lugar, por serem indesculpavelmente mansos diante de fraudes e roubos flagrantes – eles não estão dispostos a propor políticas ousadas que bloqueariam essas medidas antidemocráticas porque seus maiores doadores não querem isso.

Em segundo lugar, porque eles se recusam a oferecer uma verdadeira alternativa eleitoral aos republicanos que poderia servir de válvula de escape para o crescente descontentamento popular que atualmente se sente mais representado no circo de Trump, apesar das contradições óbvias.

Joe Biden prometeu aos doadores ricos em 2019 que podia “discordar nas margens, mas a verdade é que tudo está dentro do nosso alcance e ninguém precisa ser punido. O padrão de vida de ninguém mudará, nada mudará fundamentalmente” se ele se tornasse presidente.

Isso não era totalmente verdade. Sob o comando de Biden e Harris, os democratas caminharam ainda mais para a direita em muitos assuntos, aproximando-se dos extremistas republicanos, abraçando a política de imigração de Trump, por exemplo, que eles chamavam de bárbara e maligna.

Harris agora está ostentando orgulhosamente o endosso de criminosos de guerra como Dick Cheney, o ex-vice-presidente do George W. Bush que foi a força motriz da invasão do Iraque pelos EUA, que matou centenas de milhares de pessoas inocentes e quebrou o Oriente Médio em cacos, enquanto enriquecia sua antiga empresa.

Como resultado dessas falhas dos democratas, espera-se que cerca de um terço dos eleitores aptos a votar fiquem em casa na terça-feira, e a eleição que deveria ser uma vitória esmagadora está empatada neste momento.

As travessuras locais em um estado podem ser suficientes para determinar o jogo todo. O mesmo pode acontecer devido à insistência de Biden e Harris em apoiar totalmente o genocídio de Israel em Gaza, o que ficou tão escancarado que supostamente fez que até um jornal da grande mídia, o LA Times, decidiu não endossar nenhum candidato este ano (pelo menos a filha do dono bilionário afirmou isso, mas a porta-voz do seu pai nega). Centenas de milhares de eleitores devem fazer igual, inclusive no estado chave de Michigan.

Existem, é claro, diferenças entre os dois presidenciáveis, mas não o suficiente para que isso seja considerado “democracia” ao meu ver. A maior diferença está no clima: Se Trump vencer, qualquer pessoa que se preocupe em salvar o planeta deve chorar. Mas, ao mesmo tempo, se Harris for bem-sucedida, há poucos motivos para ter esperança, pois o rabo do seu partido está profundamente preso com as empresas petrolíferas e o setor financeiro.

Você pode ter certeza de que uma vitória de Trump também encorajaria os golpistas no Brasil a tentar a sorte novamente em 2026.

Os Estados Unidos são um país quebrado, com um império em rápido desmoronamento, corrupção legalizada para os oligarcas correndo solta e uma população cada vez mais raivosa e desesperada. Essa eleição é uma triste prova de que ninguém deve olhar para este país como fonte de inspiração ou coragem. Se este sonho existia, já acabou.

Precisamos urgentemente de uma liderança alternativa se quisermos ter alguma esperança de evitar uma catástrofe civilizacional. E, nesse sentido, o Brasil, um dos líderes da crescente coalizão BRICS, é incrivelmente importante para o futuro da humanidade. O primeiro passo para a esperança é expulsar o viralatismo de dentro de nós e acreditar que somos capazes de olhar para dentro de nós mesmos para construir algo melhor. O mundo depende disso.

¨      Falsa democracia: presidentes dos EUA sofrem mais atentados que o 'comum'; confira os mais marcantes

A história eleitoral dos Estados Unidos é marcada por episódios de violência que desafiam o ideal democrático do país. Desde que a nação foi fundada, presidentes, candidatos e figuras políticas têm sido alvos de atentados e assassinatos, refletindo um clima de tensão e polarização.

Recentemente, Donald Trump foi alvo de violência durante sua presidência e em eventos relacionados à sua candidatura.

O ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, embora não um atentado direto, simboliza a escalada da violência política nos Estados Unidos, muitas vezes capitaneada pelas próprias lideranças, fazendo da frágil democracia norte-americana um exemplo do que não seguir em termos ocidentais.

Confira os casos mais memoráveis:

Ainda no século XIX, destaca-se o assassinato de Abraham Lincoln, em 1865. Enquanto assistia a uma peça no Teatro Ford, em Washington, o 16º presidente americano foi atingido por tiros disparados por John Wilkes Booth. O impacto desse ato de violência reverberou por toda a nação.

O século XX não ficou imune a essa violência. William McKinley, o 25º presidente, foi assassinado em 1901 por Leon Czolgosz durante uma exposição em Buffalo, Nova York. McKinley morreu dias após o ataque, um ato que escandalizou a sociedade americana.

Outro marco trágico ocorreu em 1963, quando John F. Kennedy, o 35º presidente, foi assassinado em Dallas, Texas, por Lee Harvey Oswald. Esse evento não apenas chocou a nação, mas também deixou uma marca indelével na história americana.

Além dos presidentes, outros líderes políticos enfrentaram tentativas de assassinato. Em 1981, Ronald Reagan sobreviveu a um atentado em Washington, quando John Hinckley Jr. disparou várias vezes, ferindo o presidente e outros ao redor.

Esses episódios revelam a complexa relação entre política e violência na história eleitoral americana, desafiando o conceito de uma democracia estável e segura. A persistência desse fenômeno sugere que a luta por uma política civilizada e democrática é uma batalha em aberto.

¨      'Truques do ofício': como a Casa Branca e a mídia tradicional inventam narrativas pró-democratas

Donald Trump anunciou recentemente que pretende processar a CBS News em US$ 10 bilhões (R$ 10,7 bilhões), alegando que a edição da entrevista de Kamala Harris no programa 60 minutos constitui "interferência eleitoral".

Em um movimento paralelo, os republicanos da Câmara dos Representantes realizam uma investigação sobre como a Casa Branca teria editado um comentário onde o presidente Joe Biden chama de "lixo" apoiadores de Trump. Segundo os parlamentares, isso pode representar uma violação legal.

O partido Republicano alega que tanto a Casa Branca quanto a mídia estão engajadas em mostrar Biden e Harris de forma mais favorável à medida que o dia da eleição se aproxima. Isso parece ser parte de uma tendência maior de colaboração entre a imprensa e a equipe da Casa Branca que já está em andamento há algum tempo.

Em meados de agosto, o The National Interest criticou duramente a grande mídia dos EUA pelo que chamou de "rebranding" de Kamala Harris. A publicação destacou que Harris recebeu "perfis de capa glamorosos" e cobertura positiva, apesar de seus índices de aprovação historicamente baixos como vice-presidente e sua incapacidade de lidar com a crise fronteiriça após ser nomeada por Biden como "czar da fronteira".

Já em meados de outubro, o âncora da Fox News, Bret Baier, confrontou Harris com uma série de perguntas desafiadoras sobre imigração, sua agenda econômica e seu histórico de vice-presidente. Essa linha de questionamento levou os assessores de Harris a interromper a entrevista após menos de 30 minutos.

Anteriormente, a Casa Branca já vinha minimizando e tratando de forma branda as "gafes" de Joe Biden, incluindo a que diz respeito à "defesa militar" dos EUA em Taiwan.

Em julho, a Civic Media, uma estação de rádio em Milwaukee, reconheceu que havia feito duas edições em uma gravação no dia 3 daquele mês de uma entrevista com Biden que foi ao ar mais tarde, após um pedido de sua campanha. Esta entrevista foi ao ar logo após o fraco desempenho de Biden em seu debate de 27 de junho contra Trump.

A primeira edição dizia respeito à alegação de Biden de que seu governo incluía mais autoridades negras do que "todos os outros presidentes juntos". A segunda edição, por sua vez, removeu seus comentários sobre o pedido de Trump pela pena de morte para os adolescentes do Central Park Five, que foram posteriormente exonerados.

No início de julho, Andrea Lawful-Sanders, apresentadora da rádio WURD da Filadélfia, conduziu uma entrevista a parte com Biden e mais tarde admitiu que quatro das oito perguntas feitas por ela foram elaboradas pelos assessores de Biden. Michael LaRosa, ex-secretário de imprensa da primeira-dama Jill Biden, comentou ao Axios que a prática de "pré-enviar perguntas" para os entrevistados tem sido uma estratégia da equipe de Biden há muito tempo.

Em fevereiro de 2024, a Casa Branca pressionou a Fox News para revisar sua cobertura de alegações de corrupção contra o presidente Biden, argumentando que as denúncias eram baseadas em dados enganosos fornecidos pelo informante do FBI Alexander Smirnov, que supostamente inventou as acusações contra o presidente.

A Fox News recusou o pedido, citando casos de corrupção mais amplos apresentados pelos investigadores da Câmara sobre a família Biden.

 

¨       Como Trump Financia a Corrida Presidencial sem Um Centavo do Próprio Dinheiro

Já se passaram mais de 30 anos desde que o Trump Shuttle encerrou suas atividades, mas Donald Trump encontrou uma maneira de ganhar dinheiro fácil enquanto faz campanha: com a aviação.

Até o final de setembro, a campanha do ex-presidente e os comitês políticos que apoiam sua candidatura pagaram US$ 7,1 milhões (R$ 41 milhões) para os negócios de Trump, de acordo com registros da Comissão Eleitoral Federal (FEC). A maior parte desses pagamentos, US$ 5,9 milhões (R$ 34 milhões), foi pelo uso do Boeing 757 de 1991 de Trump. No total, 16 empresas pertencentes ao ex-presidente receberam dinheiro de seus comitês políticos por serviços que também incluem hospedagem, alimentação, transporte terrestre e estacionamento.

Uma parte significativa desse montante provavelmente teve origem no dinheiro dos contribuintes. O Serviço Secreto, que precisa viajar com o ex-presidente e atual candidato à presidência, pagou US$ 1,6 milhão (R$ 9 milhões) à campanha de Trump por viagens aéreas até 30 de setembro. A campanha, por sua vez, paga à Trump Organization pelo uso de seu avião. Esse valor deve aumentar: a agência deve à Donald J. Trump for President 2024, Inc. mais US$ 2,9 milhões (R$ 16 milhões), de acordo com um registro da FEC. A campanha de Trump também paga a empresa do candidato pelo  uso do avião.

Mar-a-Lago, o clube privado e residência de Trump em Palm Beach, na Flórida, tem sido seu segundo maior gerador de receita, arrecadando US$ 907.000 (R$ 5 milhões). Mais de 40% desse total foi pago pelo Comitê Conjunto de Arrecadação de Fundos Save America de Trump em um único dia de fevereiro pelo aluguel do clube e catering. O clube de golfe de Trump em Bedminster, Nova Jersey, onde ele reside durante o verão, recebeu US$ 106 mil (R$ 613 mil).

A maior parte dos pagamentos — 144 das 183 transações, totalizando US$ 5,5 milhões (R$ 31 milhões) — veio da campanha de Trump. Seu fundo de arrecadação (PAC), batizado de Save America, contribuiu com mais US$ 377 mil (R$ 2 milhões), enquanto três comitês de arrecadação conjunta que beneficiam sua campanha foram responsáveis pelo restante.

Esses US$ 7,1 milhões (R$ 41 milhões), é claro, não incluem os US$ 60 milhões (R$ 346 milhões) que Trump direcionou de seu PAC de liderança para cobrir despesas legais, embora isso certamente ajude a manter suas obrigações sob controle.Em uma declaração, Karoline Leavitt, secretária de imprensa da campanha, não abordou os pagamentos políticos de Trump para suas empresas.

“O presidente Trump se afastou de seu império imobiliário de bilhões de dólares para se candidatar ao cargo e abriu mão de seu salário do governo, tornando-se o primeiro presidente a realmente perder patrimônio líquido enquanto servia na Casa Branca”, disse Leavitt. “Ao contrário da maioria dos políticos, o presidente Trump não entrou na política por lucro — ele está lutando porque ama o povo deste país e quer fazer a América grande novamente.”

Trump, é claro, não se afastou realmente de seus negócios enquanto estava no cargo. Na verdade, ele apenas colocou seus ativos em um truste revogável do qual era o único beneficiário.

Embora ele tenha renunciado ao seu salário, o pagamento anual de US$ 400 mil (R$ 2,3 milhões) era uma quantia insignificante em comparação com a quantia de dinheiro público que ele direcionou para seus negócios. E, embora seu patrimônio líquido tenha diminuído enquanto ele estava no cargo, isso foi mais resultado de suas decisões de investimento do que de qualquer sacrifício em nome da nação. Além disso, ele conseguiu alavancar seu capital político em um aumento muito maior após a Casa Branca, graças à sua participação majoritária no Truth Social.

 

Fonte: The Intercept/Sputnik Brasil

 

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