segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Desdolarização no mundo seguirá um esquema de várias moedas, diz especialista

A desdolarização no mundo seguirá um esquema de várias moedas, em que moedas de outros países vão estar circulando ativamente junto com o dólar, disse Vladimir Milovidov, vice-diretor do Instituto Nacional de Pesquisa de Economia Mundial e Relações Internacionais (IMEMO) da Academia de Ciências da Rússia, à Sputnik.

Um sistema econômico mundial mais equitativo já está se formando, afirma o especialista, acrescentando que, segundo o Fundo Monetário Internacional, a participação do dólar nas reservas cambiais caiu de mais de 80% para 60% nos últimos 50 anos.

Este sistema, segundo ele, não vai se livrar do dólar completamente, mas vai fazê-lo uma moeda típica entre outras como, por exemplo, o yuan, rublo, rúpia ou dirham.

"O dólar é a moeda de um mundo hierárquico, enquanto o mundo horizontal das civilizações precisa de um sistema monetário distribuído, inclusivo e flexível. Portanto, a desdolarização, em minha opinião, seguirá um esquema de várias moedas", explicou Milovidov.

É uma razão por que agora estão se implementando os mecanismos financeiros alternativos ao SWIFT, o sistema internacional que permite que bancos de diferentes países façam pagamentos entre si de forma rápida e segura.

Milovidov ressaltou que a base objetiva de uso do dólar norte-americano é relativamente pequena, com os EUA ocupando cerca de 25% no PIB mundial e só 10% no comércio global.

Ele também destacou que as próprias autoridades norte-americanas levaram ao processo de desdolarização no mundo.

"Eles minaram significativamente a confiança em sua moeda quando congelaram as reservas cambiais da Rússia. Com sanções intermináveis que afetam a área financeira, eles destruíram efetivamente a base na qual estão."

•        Economia da Europa foi deliberadamente 'morta' pela rejeição de energia da Rússia, diz especialista

A economia da União Europeia (UE) foi deliberadamente "morta" com a rejeição do fornecimento de fontes de energia altamente confiáveis da Rússia, disse à Sputnik o ex-presidente-executivo da Rússia no Fundo Monetário Internacional (FMI) Aleksei Mozhin.

"A União Europeia está em um estado terrível. A economia está morta. E foi morta de propósito, porque por mais de 50 anos a Europa tem prosperado em grande parte graças ao fornecimento altamente confiável de energia russa barata. No entanto, eles agora decidiram cortá-lo", disse ele à agência antes de deixar o cargo de presidente-executivo da Rússia no FMI em 1º de novembro.

Mozhin observou que a decisão de abandonar as fontes de energia russas foi tomada com a participação do "irmão mais velho" representado pelos EUA.

"Como resultado, a economia não está crescendo e eu não sei como eles vão sair dessa situação", acrescentou.

Anteriormente relatou-se que o nível de produção industrial na Alemanha, apesar do baixo desemprego, está em declínio há três anos consecutivos pela primeira vez desde a formação da UE, revela uma análise feita pela Sputnik com base em dados abertos.

•        Nova 'cruzada' do Ocidente contra Rússia está fadada ao fracasso, promete Lavrov

Outra campanha do Ocidente contra a Rússia vai ter o mesmo final das campanhas históricas anteriores contra Moscou, afirmou o ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov.

A maioria dos países ocidentais se uniu em uma coalizão com o objetivo de apoiar a Ucrânia até o final vitorioso, buscando infligir uma derrota estratégica à Rússia no campo de batalha, disse o ministro na abertura da 16ª Assembleia do Mundo Russo.

"Mas isso já aconteceu muitas vezes na história. A maioria dos países europeus também estava representada no Exército de Napoleão, a maioria dos países europeus estava representada no Exército de Hitler. [...] Sabemos muito bem como isso terminou", disse ele.

As declarações do ministro foram feitas em um contexto de retirada contínua do Exército ucraniano em quase toda a linha de frente.

Lavrov destacou que quanto mais tempo a Ucrânia, com o apoio do Ocidente, desfaz um acordo após o outro, menos território lhe resta.

Ele observou que, se todos os acordos tivessem sido cumpridos em fevereiro de 2014, a Crimeia teria permanecido na Ucrânia, enquanto Donbass teria permanecido na Ucrânia se os acordos de fevereiro de 2015 tivessem sido cumpridos.

"Estamos confiantes de que o mesmo será o destino da atual cruzada contra nosso país e nosso povo", enfatizou o ministro.

As cruzadas foram uma Europa série de campanhas militares religiosas realizadas entre os séculos XI e XV pelos reinos da Ocidental, iniciadas e dirigidas pela Igreja Católica contra muçulmanos, pagãos e hereges.

<><> 'Convicções não se vendem': vice-premiê sérvio comenta sanções impostas pelos EUA

O vice-primeiro-ministro sérvio Aleksandar Vulin disse à Sputnik que as sanções impostas pelos EUA estão dificultando sua carreira política, mas que as convicções não estão à venda.

"Isto [sanções] está dificultando a minha carreira política, a comunicação com colegas dos países ocidentais. Em qualquer caso, isso dá motivos adicionais para ataques contra mim. Isso não aconteceu de um minuto para o outro. Fui avisado que se você continuar a sua política, tais consequências virão. Mas nem a minha política, nem as minhas convicções estão à venda", disse Vulin na II Conferência Internacional sobre Segurança Eurasiana.

Ele enfatizou que fez tudo o que era possível para melhorar as relações entre a Sérvia e a Rússia.

"Eu vou continuar a fazer no que acredito. Porque ao fim e ao cabo o que vai importar é se você estava fazendo no que acreditava. Não sou um agente russo, eu sou um político sérvio", disse o vice-primeiro-ministro.

Anteriormente, Vulin disse que a Sérvia está satisfeita com os equipamentos militares comprados da Rússia e planeja integrar o hub de gás russo na Turquia.

 

•        Política intencional? Países africanos usam bilhões recebidos da UE para enviar migrantes ao deserto

Nas últimas décadas, a migração na Europa se tornou sinônimo de todas as mazelas vividas pelo Velho Continente. Para além disso, políticas antimigrantes se tornaram plataforma eleitoral, independentemente de serem efetivas ou não. A última da vez é um fundo bilionário destinado aos países africanos.

Se vai combater a imigração para a Europa, tem meu voto! Em poucas palavras, essa tem sido uma das principais preocupações da população europeia nas últimas décadas, movendo os debates eleitorais de todas as esferas, dos parlamentos locais aos eurodeputados. E os grupos políticos que conseguiram explorar melhor essa plataforma, tenham eles trazido políticas concretas ou não, têm levado a melhor. É o que explica, por exemplo, a guinada para a direita no Parlamento Europeu. Mas as últimas tentativas de resolver o que o continente intitula como um problema se mostraram mais que um fracasso: ao invés de reduzir os fluxos migratórios, houve um crescimento.

É o caso de uma investigação recente conduzida por três jornais europeus e norte-americanos sobre o uso de fundos da União Europeia (UE) para três países africanos com o objetivo de conter a migração: a maior fatia ficou com o Marrocos, que recebeu € 624 milhões (R$ 3,9 bilhões), seguido pela Mauritânia, com € 210 milhões (R$ 1,3 bilhão), e pela Tunísia, com € 150 milhões (R$ 948 milhões).

Juntos, os recursos somam quase € 1 bilhão (R$ 6,1 bilhões), valor superior ao produto interno bruto (PIB) de países como Guiné-Bissau, Somália, Congo e Eritreia.

Sem qualquer tipo de fiscalização e controle sobre o uso dos recursos, foi descoberto que os países usaram parte do dinheiro para mandar migrantes ao deserto do Saara. Com isso, impediam qualquer tentativa de chegar à Europa em regiões desérticas, muitas sem água e comida. Há ainda denúncias de tráfico de pessoas e até torturas.

O mestre em ciência política e doutor em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mamadou Alpha Diallo disse ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que o caso é apenas mais uma amostra de como a própria Europa é responsável pela imigração.

"Tenho minhas dúvidas sobre se esse financiamento é realmente para conter a questão ou gerar ainda mais conflitos para manter esses jovens [no continente africano]. É um absurdo, já que não se diz para que é esse dinheiro […]. Há algum tempo atrás a UE fez a mesma coisa em relação à imigração do povo do Oriente Médio, tendo a Turquia como um dos Estados que recebia para conter o fluxo. Hoje o Marrocos tem esse papel, principalmente, no continente africano. Ao mesmo tempo, países do Sahel [como Gâmbia, Senegal, a prória Mauritânia] acusam o bloco de financiar o terrorismo", acrescenta.

O especialista dá como exemplo as políticas europeias entre as décadas de 1980 e 1990, já ao final do processo de independência dos países africanos, com bilhões em recursos para combater a pobreza. Porém o dinheiro "ficou no bolso da pequena elite".

Agora, com um valor tão alto como o encaminhado aos três países, a possibilidade de real implementação de medidas como incentivo ao emprego e renda é gigante.

"É a falta de oportunidade e educação que leva à migração, então você podia criar muita coisa com esse recurso. Quantos países africanos não chegam a ter um PIB que soma esse valor? Mas certamente o dinheiro não é para conter a imigração. Para impedir que um jovem saia do seu país, primeiro você tem que pacificar a região. E é a própria União Europeia, juntamente com a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], que desestabiliza grande parte dos países africanos", resume.

Como está a imigração na Europa?

Até setembro deste ano, quase 87 mil migrantes chegaram de forma irregular à Europa, a maioria em países como Espanha e Itália. Mamadou Alpha enfatiza que programas voltados a combater a questão contam com um forte respaldo político e social no continente.

"Fizeram com que a população acreditasse que os problemas da Europa são causados pela imigração, o que é uma narrativa falsa. O problema da Europa não é a imigração, pelo contrário, a imigração é uma solução […]. A Europa tem que saber que os jovens africanos não têm interesse em ir à Europa, da mesma forma que a gente fala da imigração latino-americana para os Estados Unidos: não são os Estados Unidos que interessam a essas populações, mas a oportunidade que esses jovens estão procurando [e não encontram em seus respectivos países]", diz.

<><> África e o passado colonial

Já Luísa Barbosa Azevedo, pesquisadora de África Subsaariana do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC) e mestranda em relações internacionais do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), lembrou ao podcast Mundioka que Europa e África tiveram em um passado não muito distante uma relação colonialista, que ainda traz muitos reflexos nos dias atuais.

"Isso vai claramente impactar na contemporaneidade dessas relações e em como eles enxergam os africanos que chegam ao continente europeu, tanto migrantes quanto refugiados. E esse plano atual também é uma resposta à crise de políticas e esforços conjuntos dos membros da União Europeia desde a crise migratória de 2015. Essa política também trata a migração como uma ameaça à segurança. Então toda a abordagem era externalizar as fronteiras, especialmente na costa mediterrânea e meridional, e levar o problema para os países de onde essas pessoas saíam, principalmente no norte da África", finaliza.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: