Desdolarização no mundo seguirá um esquema
de várias moedas, diz especialista
A desdolarização no
mundo seguirá um esquema de várias moedas, em que moedas de outros países vão
estar circulando ativamente junto com o dólar, disse Vladimir Milovidov,
vice-diretor do Instituto Nacional de Pesquisa de Economia Mundial e Relações
Internacionais (IMEMO) da Academia de Ciências da Rússia, à Sputnik.
Um sistema econômico
mundial mais equitativo já está se formando, afirma o especialista,
acrescentando que, segundo o Fundo Monetário Internacional, a participação do
dólar nas reservas cambiais caiu de mais de 80% para 60% nos últimos 50 anos.
Este sistema, segundo
ele, não vai se livrar do dólar completamente, mas vai fazê-lo uma moeda típica
entre outras como, por exemplo, o yuan, rublo, rúpia ou dirham.
"O dólar é a
moeda de um mundo hierárquico, enquanto o mundo horizontal das civilizações
precisa de um sistema monetário distribuído, inclusivo e flexível. Portanto, a
desdolarização, em minha opinião, seguirá um esquema de várias moedas",
explicou Milovidov.
É uma razão por que
agora estão se implementando os mecanismos financeiros alternativos ao SWIFT, o
sistema internacional que permite que bancos de diferentes países façam
pagamentos entre si de forma rápida e segura.
Milovidov ressaltou
que a base objetiva de uso do dólar norte-americano é relativamente pequena,
com os EUA ocupando cerca de 25% no PIB mundial e só 10% no comércio global.
Ele também destacou
que as próprias autoridades norte-americanas levaram ao processo de
desdolarização no mundo.
"Eles minaram
significativamente a confiança em sua moeda quando congelaram as reservas
cambiais da Rússia. Com sanções intermináveis que afetam a área financeira,
eles destruíram efetivamente a base na qual estão."
• Economia da Europa foi deliberadamente
'morta' pela rejeição de energia da Rússia, diz especialista
A economia da União
Europeia (UE) foi deliberadamente "morta" com a rejeição do
fornecimento de fontes de energia altamente confiáveis da Rússia, disse à
Sputnik o ex-presidente-executivo da Rússia no Fundo Monetário Internacional
(FMI) Aleksei Mozhin.
"A União Europeia
está em um estado terrível. A economia está morta. E foi morta de propósito,
porque por mais de 50 anos a Europa tem prosperado em grande parte graças ao
fornecimento altamente confiável de energia russa barata. No entanto, eles agora
decidiram cortá-lo", disse ele à agência antes de deixar o cargo de
presidente-executivo da Rússia no FMI em 1º de novembro.
Mozhin observou que a
decisão de abandonar as fontes de energia russas foi tomada com a participação
do "irmão mais velho" representado pelos EUA.
"Como resultado,
a economia não está crescendo e eu não sei como eles vão sair dessa
situação", acrescentou.
Anteriormente
relatou-se que o nível de produção industrial na Alemanha, apesar do baixo
desemprego, está em declínio há três anos consecutivos pela primeira vez desde
a formação da UE, revela uma análise feita pela Sputnik com base em dados
abertos.
• Nova 'cruzada' do Ocidente contra Rússia
está fadada ao fracasso, promete Lavrov
Outra campanha do
Ocidente contra a Rússia vai ter o mesmo final das campanhas históricas
anteriores contra Moscou, afirmou o ministro das Relações Exteriores Sergei
Lavrov.
A maioria dos países
ocidentais se uniu em uma coalizão com o objetivo de apoiar a Ucrânia até o
final vitorioso, buscando infligir uma derrota estratégica à Rússia no campo de
batalha, disse o ministro na abertura da 16ª Assembleia do Mundo Russo.
"Mas isso já
aconteceu muitas vezes na história. A maioria dos países europeus também estava
representada no Exército de Napoleão, a maioria dos países europeus estava
representada no Exército de Hitler. [...] Sabemos muito bem como isso terminou",
disse ele.
As declarações do
ministro foram feitas em um contexto de retirada contínua do Exército ucraniano
em quase toda a linha de frente.
Lavrov destacou que
quanto mais tempo a Ucrânia, com o apoio do Ocidente, desfaz um acordo após o
outro, menos território lhe resta.
Ele observou que, se
todos os acordos tivessem sido cumpridos em fevereiro de 2014, a Crimeia teria
permanecido na Ucrânia, enquanto Donbass teria permanecido na Ucrânia se os
acordos de fevereiro de 2015 tivessem sido cumpridos.
"Estamos
confiantes de que o mesmo será o destino da atual cruzada contra nosso país e
nosso povo", enfatizou o ministro.
As cruzadas foram uma
Europa série de campanhas militares religiosas realizadas entre os séculos XI e
XV pelos reinos da Ocidental, iniciadas e dirigidas pela Igreja Católica contra
muçulmanos, pagãos e hereges.
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'Convicções não se vendem': vice-premiê sérvio comenta sanções impostas pelos
EUA
O
vice-primeiro-ministro sérvio Aleksandar Vulin disse à Sputnik que as sanções
impostas pelos EUA estão dificultando sua carreira política, mas que as
convicções não estão à venda.
"Isto [sanções]
está dificultando a minha carreira política, a comunicação com colegas dos
países ocidentais. Em qualquer caso, isso dá motivos adicionais para ataques
contra mim. Isso não aconteceu de um minuto para o outro. Fui avisado que se
você continuar a sua política, tais consequências virão. Mas nem a minha
política, nem as minhas convicções estão à venda", disse Vulin na II
Conferência Internacional sobre Segurança Eurasiana.
Ele enfatizou que fez
tudo o que era possível para melhorar as relações entre a Sérvia e a Rússia.
"Eu vou continuar
a fazer no que acredito. Porque ao fim e ao cabo o que vai importar é se você
estava fazendo no que acreditava. Não sou um agente russo, eu sou um político
sérvio", disse o vice-primeiro-ministro.
Anteriormente, Vulin
disse que a Sérvia está satisfeita com os equipamentos militares comprados da
Rússia e planeja integrar o hub de gás russo na Turquia.
• Política intencional? Países africanos
usam bilhões recebidos da UE para enviar migrantes ao deserto
Nas últimas décadas, a
migração na Europa se tornou sinônimo de todas as mazelas vividas pelo Velho
Continente. Para além disso, políticas antimigrantes se tornaram plataforma
eleitoral, independentemente de serem efetivas ou não. A última da vez é um fundo
bilionário destinado aos países africanos.
Se vai combater a
imigração para a Europa, tem meu voto! Em poucas palavras, essa tem sido uma
das principais preocupações da população europeia nas últimas décadas, movendo
os debates eleitorais de todas as esferas, dos parlamentos locais aos
eurodeputados. E os grupos políticos que conseguiram explorar melhor essa
plataforma, tenham eles trazido políticas concretas ou não, têm levado a
melhor. É o que explica, por exemplo, a guinada para a direita no Parlamento
Europeu. Mas as últimas tentativas de resolver o que o continente intitula como
um problema se mostraram mais que um fracasso: ao invés de reduzir os fluxos
migratórios, houve um crescimento.
É o caso de uma
investigação recente conduzida por três jornais europeus e norte-americanos
sobre o uso de fundos da União Europeia (UE) para três países africanos com o
objetivo de conter a migração: a maior fatia ficou com o Marrocos, que recebeu
€ 624 milhões (R$ 3,9 bilhões), seguido pela Mauritânia, com € 210 milhões (R$
1,3 bilhão), e pela Tunísia, com € 150 milhões (R$ 948 milhões).
Juntos, os recursos
somam quase € 1 bilhão (R$ 6,1 bilhões), valor superior ao produto interno
bruto (PIB) de países como Guiné-Bissau, Somália, Congo e Eritreia.
Sem qualquer tipo de
fiscalização e controle sobre o uso dos recursos, foi descoberto que os países
usaram parte do dinheiro para mandar migrantes ao deserto do Saara. Com isso,
impediam qualquer tentativa de chegar à Europa em regiões desérticas, muitas
sem água e comida. Há ainda denúncias de tráfico de pessoas e até torturas.
O mestre em ciência
política e doutor em estudos estratégicos internacionais pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mamadou Alpha Diallo disse ao podcast
Mundioka, da Sputnik Brasil, que o caso é apenas mais uma amostra de como a
própria Europa é responsável pela imigração.
"Tenho minhas
dúvidas sobre se esse financiamento é realmente para conter a questão ou gerar
ainda mais conflitos para manter esses jovens [no continente africano]. É um
absurdo, já que não se diz para que é esse dinheiro […]. Há algum tempo atrás a
UE fez a mesma coisa em relação à imigração do povo do Oriente Médio, tendo a
Turquia como um dos Estados que recebia para conter o fluxo. Hoje o Marrocos
tem esse papel, principalmente, no continente africano. Ao mesmo tempo, países
do Sahel [como Gâmbia, Senegal, a prória Mauritânia] acusam o bloco de
financiar o terrorismo", acrescenta.
O especialista dá como
exemplo as políticas europeias entre as décadas de 1980 e 1990, já ao final do
processo de independência dos países africanos, com bilhões em recursos para
combater a pobreza. Porém o dinheiro "ficou no bolso da pequena elite".
Agora, com um valor
tão alto como o encaminhado aos três países, a possibilidade de real
implementação de medidas como incentivo ao emprego e renda é gigante.
"É a falta de
oportunidade e educação que leva à migração, então você podia criar muita coisa
com esse recurso. Quantos países africanos não chegam a ter um PIB que soma
esse valor? Mas certamente o dinheiro não é para conter a imigração. Para impedir
que um jovem saia do seu país, primeiro você tem que pacificar a região. E é a
própria União Europeia, juntamente com a OTAN [Organização do Tratado do
Atlântico Norte], que desestabiliza grande parte dos países africanos",
resume.
Como está a imigração
na Europa?
Até setembro deste
ano, quase 87 mil migrantes chegaram de forma irregular à Europa, a maioria em
países como Espanha e Itália. Mamadou Alpha enfatiza que programas voltados a
combater a questão contam com um forte respaldo político e social no continente.
"Fizeram com que
a população acreditasse que os problemas da Europa são causados pela imigração,
o que é uma narrativa falsa. O problema da Europa não é a imigração, pelo
contrário, a imigração é uma solução […]. A Europa tem que saber que os jovens
africanos não têm interesse em ir à Europa, da mesma forma que a gente fala da
imigração latino-americana para os Estados Unidos: não são os Estados Unidos
que interessam a essas populações, mas a oportunidade que esses jovens estão
procurando [e não encontram em seus respectivos países]", diz.
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África e o passado colonial
Já Luísa Barbosa
Azevedo, pesquisadora de África Subsaariana do Núcleo de Avaliação da
Conjuntura (NAC) e mestranda em relações internacionais do Programa de
Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), lembrou ao podcast Mundioka que Europa e África tiveram em um
passado não muito distante uma relação colonialista, que ainda traz muitos
reflexos nos dias atuais.
"Isso vai
claramente impactar na contemporaneidade dessas relações e em como eles
enxergam os africanos que chegam ao continente europeu, tanto migrantes quanto
refugiados. E esse plano atual também é uma resposta à crise de políticas e
esforços conjuntos dos membros da União Europeia desde a crise migratória de
2015. Essa política também trata a migração como uma ameaça à segurança. Então
toda a abordagem era externalizar as fronteiras, especialmente na costa
mediterrânea e meridional, e levar o problema para os países de onde essas
pessoas saíam, principalmente no norte da África", finaliza.
Fonte: Sputnik Brasil
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