segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Câncer de próstata: exame de sangue pode prever tempo de sobrevivência

Um exame de sangue pode prever quais pacientes com câncer de próstata metastático poderão responder bem ao tratamento e quais sobreviverão por mais tempo. Nessa fase da doença, o tumor já atinge outras regiões do corpo, como ossos, linfonodos ou outros órgãos, eliminando as chances de cura. O teste foi avaliado em ensaio clínico de fase 3 e os resultados foram publicados no início de outubro na revista JAMA Network Open.

Segundo os pesquisadores, o novo teste poderá ajudar médicos a decidirem quais pacientes devem receber o tratamento padrão para o câncer de próstata e quais podem se beneficiar de novos medicamentos mais agressivos ou arriscados, podendo, até mesmo, participar de testes e ensaios clínicos.

Tradicionalmente, o câncer de próstata pode ser tratado com cirurgia, radioterapia ou terapias medicamentosas. No entanto, quando ele se espalha para outras regiões, tratamentos sistêmicos são usados para prolongar a sobrevivência do paciente.

Biomarcadores sanguíneos podem prever como os pacientes metastáticos responderão aos pacientes, permitindo um tratamento mais personalizado. No entanto, atualmente, são poucas as opções de exames que realizam esse tipo de previsão.

Agora, o novo estudo descobriu que medir células tumorais circulantes (CTCs), um tipo de células cancerígenas eliminadas pelos tumores no sangue, pode ser uma maneira confiável de prever a resposta posterior ao tratamento e as perspectivas de sobrevivência. Esse tipo de célula já foi estudado antes, mas apenas em estágios bem avançados do câncer de próstata.

“Ninguém, até agora, analisou se as contagens de CTC podem ser usadas logo no início, quando um homem apresenta câncer de próstata metastático, para nos dizer se ele viverá muito ou pouco tempo, ou se ele progredirá ou não com as terapias”, afirma Amir Goldkorn, principal autor do estudo e diretor associado de ciências translacionais do USC Norris Comprehensive Cancer Center, da Keck School of Medicine da USC, em Los Angeles, na Califórnia. Ele fez sua declaração em um comunicado de imprensa.

Segundo o estudo, pacientes com maior contagem de CTCs tiveram menores períodos de sobrevida mediana (tempo de sobrevivência após a metástase do tumor) e um maior risco de morte durante o período do estudo. Além disso, esses pacientes tiveram menos “sobrevida livre de progressão” do câncer, ou seja, um menor período em que a doença é controlada pelo tratamento, sem apresentar piora.

“Você não conseguia diferenciar esses homens quando eles entravam pela porta [do consultório]”, diz Goldkorn, que também é professor de medicina na Keck School of Medicine. “Todas as outras variáveis e fatores prognósticos eram aparentemente os mesmos, e ainda assim eles tiveram resultados muito, muito diferentes ao longo do tempo.”

Para os pesquisadores, o teste de sangue — chamado CellSearch — pode ajudar a identificar rapidamente pacientes que provavelmente não responderão às opções de tratamento padrão. O exame já está disponível em provedores comerciais nos Estados Unidos.

•        Como o novo teste foi estudado?

A nova pesquisa faz parte de um ensaio clínico da fase 3 da SWOG Cancer Research Network, financiada pelo National Cancer Institute (NCI). Amostras de sangue de base de 503 pacientes com câncer de próstata metastático, que estavam participando de outro estudo de um novo medicamento, foram enviadas para a equipe da Keck School of Medicine para análise.

Os pesquisadores utilizaram a plataforma CellSearch no Liquid Biopsy Research Core do Norris Comprehensive Cancer Center para analisar as amostras de sangue dos participantes. Eles utilizaram esferas imunomagnéticas — anticorpos ligados a pequenas partículas magnéticas –, que se ligam a células cancerígenas circulantes no sangue e as retiram para serem detectadas e contadas por equipamentos especializados.

Pacientes com cinco ou mais dessas células no sangue apresentaram um risco 3,22 vezes maior de morrer durante o período do estudo e 2,46 vezes mais probabilidade de sofrer progressão do câncer. Além disso, eles apresentaram apenas 0,26 vezes mais probabilidade de atingir uma resposta completa do antígeno prostático específico (PSA), o que significa que responderam mal ao tratamento padrão do câncer de próstata.

O estudo também mostrou que homens com cinco ou mais células cancerígenas circulantes no sangue tiveram uma sobrevida mediana de 27,9 meses após o exame de sangue, em comparação com 56,2 meses para homens com um a quatro dessas células. A sobrevida reduziu ainda mais em comparação a homens sem nenhuma dessas células: 78 meses a menos de vida.

Com isso, os pesquisadores concluíram que quanto maior a contagem de CTCs no sangue do paciente, menor a sobrevida e maior a velocidade de progressão do câncer de próstata, com menor chance de responder positivamente ao tratamento padrão.

•        5 sintomas do câncer de próstata

O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A campanha Novembro Azul foi criada para alertar e conscientizar a importância do diagnóstico precoce do tumor para o tratamento bem-sucedido, transformando-se no maior movimento em prol da saúde masculina.

No entanto, o câncer de próstata não costuma apresentar sintomas nas fases iniciais, o que dificulta a detecção precoce, conforme explica Charles Kelson Aquino, urologista da Hapvida NotreDame Intermédica, à CNN. “Esses tendem a surgir com mais frequência nas fases avançadas da doença”, conclui.

Com isso, grande parte dos pacientes pode não apresentar nenhuma queixa e, quando apresentam, podem ser confundidas com outras doenças benignas, como infecção urinária e aumento benigno da próstata.

Já nas fases mais avançadas, os sinais e sintomas mais comuns do câncer de próstata são:

1.       Diminuição da força do jato urinário, com jato mais fraco ou entrecortado;

2.       Dificuldade para iniciar ou concluir a micção;

3.       Necessidade de urinar duas ou mais vezes à noite;

4.       Dor ao urinar;

5.       Presença de sangue na urina.

“É possível que, em fases mais avançadas da doença, o paciente possa apresentar dores ósseas, emagrecimento, cansaço excessivo, falta de apetite, além de sintomas urinários”, afirma Pamela Muniz, oncologista da Oncoclínicas São Paulo, à CNN.

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“É fundamental ressaltar que nem sempre esses sintomas indicam câncer, pois podem ser provocados por diversas outras condições”, complementa Aquino.

•        Quando consultar o urologista?

Pelo fato de o câncer de próstata não manifestar sintomas em fase inicial, o diagnóstico precoce só é possível com o acompanhamento médico regular com o urologista. É ele quem vai definir o melhor momento e os melhores exames a serem realizados para cada paciente, de forma individualizada, de acordo com Muniz.

“De maneira geral, a partir dos 50 anos, todo homem deve procurar seu urologista (se tiver história familiar de câncer de próstata, ainda antes dos 45 anos) para conversar sobre sua investigação e definir o melhor intervalo de acompanhamento”, afirma a oncologista.

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda que todos os homens a partir dos 50 anos procurem o urologista para discutir e avaliar a necessidade de realizar ou não exames preventivos e de rastreamento para o câncer de próstata.

“Aqueles com histórico familiar da doença ou que sejam negros devem realizar essa consulta um pouco mais cedo, aos 45 anos, já que estudos mostram que esses grupos apresentam um risco maior de desenvolver a doença”, completa Aquino. “O principal objetivo dessa avaliação é o diagnóstico precoce, ou seja, identificar o câncer em suas fases iniciais, quando as chances de cura são significativamente maiores”, ressalta.

•        Quais exames detectam o câncer de próstata?

De acordo com o Inca, o câncer de próstata pode ser diagnosticado através da biópsia prostática por via transretal ou transperineal, guiada por ultrassonografia e/ou ressonância magnética.

Antes disso, podem ser feitos exames de rastreamento, como exame de PSA (antígeno prostático específico), e avaliação clínica.

“Alterações no exame clínico de toque retal e nos exames laboratoriais para a dosagem do antígeno prostático específico (PSA) no sangue podem ser indicadores de que é necessário prosseguir com a investigação para confirmar ou descartar a presença do câncer de próstata”, explica Muniz.

“Nesses casos, pode ser indicada a ressonância magnética da próstata para avaliação da existência de lesões suspeitas, como nódulos prostáticos”, acrescenta. “A ultrassonografia também pode ser solicitada e, por sua vez, poderá ainda ajudar a guiar o procedimento de biópsia prostática, de onde virá a confirmação do diagnóstico. A partir da biópsia, o laudo com o relatório anatomopatológico trará as informações necessárias para ajudar na escolha do melhor tratamento para cada paciente.”

•        Como é feito o tratamento do câncer de próstata?

Atualmente, existem diferentes opções de tratamento para o câncer de próstata. A escolha da melhor abordagem depende de múltiplos fatores, como idade do paciente, estado geral de saúde, doenças associadas e estágio da doença (inicial, intermediário ou avançado).

“As principais opções de tratamento incluem a cirurgia prostática, que evoluiu significativamente nas últimas décadas, incluindo a cirurgia robótica, técnicas de radioterapia e terapias medicamentosas”, elenca Aquino.

“A decisão sobre o tratamento deve ser amplamente discutida com o médico especialista, que considerará as melhores recomendações e consensos nacionais e internacionais baseados em evidências, sempre respeitando a vontade e a decisão do paciente e de seus familiares”, reitera o urologista.

A terapia hormonal e a quimioterapia também são opções de tratamento, de acordo com Muniz.

Por fim, segundo o Inca, após o tratamento — seja após a cirurgia ou após a radioterapia — o acompanhamento se dá pelas dosagens do antígeno prostático específico (PSA) em amostras de sangue a cada três ou seis meses.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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