Câncer de próstata: exame de sangue pode
prever tempo de sobrevivência
Um exame de sangue
pode prever quais pacientes com câncer de próstata metastático poderão
responder bem ao tratamento e quais sobreviverão por mais tempo. Nessa fase da
doença, o tumor já atinge outras regiões do corpo, como ossos, linfonodos ou
outros órgãos, eliminando as chances de cura. O teste foi avaliado em ensaio
clínico de fase 3 e os resultados foram publicados no início de outubro na
revista JAMA Network Open.
Segundo os
pesquisadores, o novo teste poderá ajudar médicos a decidirem quais pacientes
devem receber o tratamento padrão para o câncer de próstata e quais podem se
beneficiar de novos medicamentos mais agressivos ou arriscados, podendo, até
mesmo, participar de testes e ensaios clínicos.
Tradicionalmente, o
câncer de próstata pode ser tratado com cirurgia, radioterapia ou terapias
medicamentosas. No entanto, quando ele se espalha para outras regiões,
tratamentos sistêmicos são usados para prolongar a sobrevivência do paciente.
Biomarcadores
sanguíneos podem prever como os pacientes metastáticos responderão aos
pacientes, permitindo um tratamento mais personalizado. No entanto, atualmente,
são poucas as opções de exames que realizam esse tipo de previsão.
Agora, o novo estudo
descobriu que medir células tumorais circulantes (CTCs), um tipo de células
cancerígenas eliminadas pelos tumores no sangue, pode ser uma maneira confiável
de prever a resposta posterior ao tratamento e as perspectivas de sobrevivência.
Esse tipo de célula já foi estudado antes, mas apenas em estágios bem avançados
do câncer de próstata.
“Ninguém, até agora,
analisou se as contagens de CTC podem ser usadas logo no início, quando um
homem apresenta câncer de próstata metastático, para nos dizer se ele viverá
muito ou pouco tempo, ou se ele progredirá ou não com as terapias”, afirma Amir
Goldkorn, principal autor do estudo e diretor associado de ciências
translacionais do USC Norris Comprehensive Cancer Center, da Keck School of
Medicine da USC, em Los Angeles, na Califórnia. Ele fez sua declaração em um
comunicado de imprensa.
Segundo o estudo,
pacientes com maior contagem de CTCs tiveram menores períodos de sobrevida
mediana (tempo de sobrevivência após a metástase do tumor) e um maior risco de
morte durante o período do estudo. Além disso, esses pacientes tiveram menos
“sobrevida livre de progressão” do câncer, ou seja, um menor período em que a
doença é controlada pelo tratamento, sem apresentar piora.
“Você não conseguia
diferenciar esses homens quando eles entravam pela porta [do consultório]”, diz
Goldkorn, que também é professor de medicina na Keck School of Medicine. “Todas
as outras variáveis e fatores prognósticos eram aparentemente os mesmos, e
ainda assim eles tiveram resultados muito, muito diferentes ao longo do tempo.”
Para os pesquisadores,
o teste de sangue — chamado CellSearch — pode ajudar a identificar rapidamente
pacientes que provavelmente não responderão às opções de tratamento padrão. O
exame já está disponível em provedores comerciais nos Estados Unidos.
• Como o novo teste foi estudado?
A nova pesquisa faz
parte de um ensaio clínico da fase 3 da SWOG Cancer Research Network,
financiada pelo National Cancer Institute (NCI). Amostras de sangue de base de
503 pacientes com câncer de próstata metastático, que estavam participando de
outro estudo de um novo medicamento, foram enviadas para a equipe da Keck
School of Medicine para análise.
Os pesquisadores
utilizaram a plataforma CellSearch no Liquid Biopsy Research Core do Norris
Comprehensive Cancer Center para analisar as amostras de sangue dos
participantes. Eles utilizaram esferas imunomagnéticas — anticorpos ligados a
pequenas partículas magnéticas –, que se ligam a células cancerígenas
circulantes no sangue e as retiram para serem detectadas e contadas por
equipamentos especializados.
Pacientes com cinco ou
mais dessas células no sangue apresentaram um risco 3,22 vezes maior de morrer
durante o período do estudo e 2,46 vezes mais probabilidade de sofrer
progressão do câncer. Além disso, eles apresentaram apenas 0,26 vezes mais
probabilidade de atingir uma resposta completa do antígeno prostático
específico (PSA), o que significa que responderam mal ao tratamento padrão do
câncer de próstata.
O estudo também
mostrou que homens com cinco ou mais células cancerígenas circulantes no sangue
tiveram uma sobrevida mediana de 27,9 meses após o exame de sangue, em
comparação com 56,2 meses para homens com um a quatro dessas células. A
sobrevida reduziu ainda mais em comparação a homens sem nenhuma dessas células:
78 meses a menos de vida.
Com isso, os
pesquisadores concluíram que quanto maior a contagem de CTCs no sangue do
paciente, menor a sobrevida e maior a velocidade de progressão do câncer de
próstata, com menor chance de responder positivamente ao tratamento padrão.
• 5 sintomas do câncer de próstata
O câncer de próstata é
o segundo mais comum entre os homens no Brasil, ficando atrás apenas do câncer
de pele não melanoma, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A campanha
Novembro Azul foi criada para alertar e conscientizar a importância do diagnóstico
precoce do tumor para o tratamento bem-sucedido, transformando-se no maior
movimento em prol da saúde masculina.
No entanto, o câncer
de próstata não costuma apresentar sintomas nas fases iniciais, o que dificulta
a detecção precoce, conforme explica Charles Kelson Aquino, urologista da
Hapvida NotreDame Intermédica, à CNN. “Esses tendem a surgir com mais frequência
nas fases avançadas da doença”, conclui.
Com isso, grande parte
dos pacientes pode não apresentar nenhuma queixa e, quando apresentam, podem
ser confundidas com outras doenças benignas, como infecção urinária e aumento
benigno da próstata.
Já nas fases mais
avançadas, os sinais e sintomas mais comuns do câncer de próstata são:
1. Diminuição da força do jato urinário, com
jato mais fraco ou entrecortado;
2. Dificuldade para iniciar ou concluir a
micção;
3. Necessidade de urinar duas ou mais vezes
à noite;
4. Dor ao urinar;
5. Presença de sangue na urina.
“É possível que, em
fases mais avançadas da doença, o paciente possa apresentar dores ósseas,
emagrecimento, cansaço excessivo, falta de apetite, além de sintomas
urinários”, afirma Pamela Muniz, oncologista da Oncoclínicas São Paulo, à CNN.
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“É fundamental
ressaltar que nem sempre esses sintomas indicam câncer, pois podem ser
provocados por diversas outras condições”, complementa Aquino.
• Quando consultar o urologista?
Pelo fato de o câncer
de próstata não manifestar sintomas em fase inicial, o diagnóstico precoce só é
possível com o acompanhamento médico regular com o urologista. É ele quem vai
definir o melhor momento e os melhores exames a serem realizados para cada
paciente, de forma individualizada, de acordo com Muniz.
“De maneira geral, a
partir dos 50 anos, todo homem deve procurar seu urologista (se tiver história
familiar de câncer de próstata, ainda antes dos 45 anos) para conversar sobre
sua investigação e definir o melhor intervalo de acompanhamento”, afirma a oncologista.
A Sociedade Brasileira
de Urologia (SBU) recomenda que todos os homens a partir dos 50 anos procurem o
urologista para discutir e avaliar a necessidade de realizar ou não exames
preventivos e de rastreamento para o câncer de próstata.
“Aqueles com histórico
familiar da doença ou que sejam negros devem realizar essa consulta um pouco
mais cedo, aos 45 anos, já que estudos mostram que esses grupos apresentam um
risco maior de desenvolver a doença”, completa Aquino. “O principal objetivo
dessa avaliação é o diagnóstico precoce, ou seja, identificar o câncer em suas
fases iniciais, quando as chances de cura são significativamente maiores”,
ressalta.
• Quais exames detectam o câncer de
próstata?
De acordo com o Inca,
o câncer de próstata pode ser diagnosticado através da biópsia prostática por
via transretal ou transperineal, guiada por ultrassonografia e/ou ressonância
magnética.
Antes disso, podem ser
feitos exames de rastreamento, como exame de PSA (antígeno prostático
específico), e avaliação clínica.
“Alterações no exame
clínico de toque retal e nos exames laboratoriais para a dosagem do antígeno
prostático específico (PSA) no sangue podem ser indicadores de que é necessário
prosseguir com a investigação para confirmar ou descartar a presença do câncer
de próstata”, explica Muniz.
“Nesses casos, pode
ser indicada a ressonância magnética da próstata para avaliação da existência
de lesões suspeitas, como nódulos prostáticos”, acrescenta. “A ultrassonografia
também pode ser solicitada e, por sua vez, poderá ainda ajudar a guiar o procedimento
de biópsia prostática, de onde virá a confirmação do diagnóstico. A partir da
biópsia, o laudo com o relatório anatomopatológico trará as informações
necessárias para ajudar na escolha do melhor tratamento para cada paciente.”
• Como é feito o tratamento do câncer de
próstata?
Atualmente, existem
diferentes opções de tratamento para o câncer de próstata. A escolha da melhor
abordagem depende de múltiplos fatores, como idade do paciente, estado geral de
saúde, doenças associadas e estágio da doença (inicial, intermediário ou avançado).
“As principais opções
de tratamento incluem a cirurgia prostática, que evoluiu significativamente nas
últimas décadas, incluindo a cirurgia robótica, técnicas de radioterapia e
terapias medicamentosas”, elenca Aquino.
“A decisão sobre o
tratamento deve ser amplamente discutida com o médico especialista, que
considerará as melhores recomendações e consensos nacionais e internacionais
baseados em evidências, sempre respeitando a vontade e a decisão do paciente e
de seus familiares”, reitera o urologista.
A terapia hormonal e a
quimioterapia também são opções de tratamento, de acordo com Muniz.
Por fim, segundo o
Inca, após o tratamento — seja após a cirurgia ou após a radioterapia — o
acompanhamento se dá pelas dosagens do antígeno prostático específico (PSA) em
amostras de sangue a cada três ou seis meses.
Fonte: CNN Brasil
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