segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Brasil é 4º país mais estressado do mundo: problema pode ser contagioso?

O estresse, definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um estado de preocupação ou tensão mental em situações de adversidade, preocupa por possivelmente ter atividade transmissível entre os seres vivos, incluindo os humanos.

Embora seja uma reação natural do corpo, entidades de saúde se atentam a seus efeitos na saúde física e mental, além dos elevados índices de estresse da população.

O Brasil, por exemplo, foi apontado como o quarto país mais estressado do mundo, segundo relatório divulgado na última segunda-feira (14).

A CNN Brasil conversou com especialistas em saúde mental para entender mais a fundo sobre os mecanismos de contágio do estresse.

•        Por que o estresse pode ser transmitido?

Pesquisas realizadas nos últimos anos investigaram de que forma o estresse pode ser transmitido entre os seres vivos.

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Em 2018, um estudo feito com camundongos e publicado na revista “Nature Neuroscience”, por exemplo, analisou as reações neurais de animais submetidos ao estresse (com pequenos choques nas patas) e de outros que não foram estressados.

A pesquisa mostrou que os camundongos do segundo grupo, mesmo sem terem sido submetidos ao estresse, passaram a produzir o hormônio liberador de corticotrofina (CRH) — substância que contribui para a regulação do estresse.

Mesmo sendo realizado com camundongos, a psicóloga Amanda Rangel diz que o estudo oferece insights valiosos para entender os mecanismos biológicos subjacentes à transmissão do estresse.

“Camundongos são frequentemente usados em pesquisas comportamentais e neurológicas devido à semelhança de seus sistemas nervosos com os dos humanos”, explica.

Outro estudo, dessa vez em humanos, revisou trabalhos que tiveram como objetivo a análise do chamado “contágio do estresse” a partir de atividade fisiológica de duas ou mais pessoas submetidas e não induzidas ao estresse, e que também mantinham uma convivência próxima.

Publicado na revista “Psychoneuroendocrinology” em 2019, o estudo com humanos evidenciou a transmissão fisiológica do estresse entre os indivíduos, mesmo quando eles não estão diretamente expostos a ele.

Essa transmissão, de acordo com os autores, ocorre pela ativação de processos neurobiológicos que levam ao aumento dos níveis de cortisol e da atividade simpática.

De acordo com a neurocientista Ana Carolina Souza, essa transmissão do estresse (e de outras emoções) observada pode ser explicada a partir de duas premissas:

1.       somos animais sociais e estamos constantemente processando informações que são passadas (inconscientemente) de uma pessoa para outra;

2.       as emoções são conjuntos de respostas pré-definidas que ajudam a coordenar o comportamento de maneira adaptativa diante dos desafios e situações do cotidiano.

“Pensando nessas duas variáveis juntas, podemos entender que simular internamente a resposta de estresse de outra pessoa ajudaria o indivíduo a identificar possíveis riscos em um determinado ambiente, servindo como pista para adotar comportamentos mais eficientes para nos proteger dessas ameaças. Esse seria um comportamento adaptativo e favoreceria a nossa sobrevivência”, explica a cientista.

•        Situações que propiciam o contágio de estresse

De acordo com a psicóloga Amanda Rangel, a transmissão de estresse entre os seres humanos pode ocorrer em contextos familiares, profissionais e em outras áreas da vida, exacerbando conflitos, diminuindo a capacidade de empatia e prejudicando o bem-estar coletivo.

“Esse fenômeno é observado frequentemente em ambientes de trabalho, onde um líder estressado pode influenciar negativamente toda a equipe e criar um ciclo de ansiedade e diminuição da produtividade”, diz a especialista.

Além disso, em relações familiares, o estresse parental pode afetar o comportamento e o desenvolvimento emocional das crianças.

“Quanto menor a criança, mais vulnerável ela fica a essa situação de estresse”, aponta Danielle H. Admoni, pesquisadora e supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

•        Podemos ter uma epidemia de estresse?

Quando se fala em contágio, logo se pensa na transmissão de doenças virais, como a gripe.

O estresse, porém, não seria capaz de se alastrar com a velocidade ou a dimensão que uma epidemia real faria, na visão de Ana Carolina Souza.

Para Amanda Rangel, entretanto, “é possível falar sobre uma epidemia de estresse no contexto moderno”.

A psicóloga aponta fatores como a hiperconectividade digital, a insegurança financeira, as crescentes exigências sociais e profissionais e o impacto de crises globais (a exemplo de pandemias e guerras) como influenciadores de uma escalada do estresse na população em geral.

“Se considerarmos o estresse como um fenômeno que pode ser transmitido de uma pessoa para outra, a convivência próxima com indivíduos estressados pode amplificar o problema em grupos sociais”, diz.

“O resultado é um ciclo vicioso, no qual o estresse é constantemente alimentado e retransmitido, criando uma espécie de contágio emocional que afeta grandes porções da sociedade”.

•        Como controlar o estresse?

Algumas práticas que contribuem para mitigar os efeitos do estresse são:

•        aprender a identificar e regular as próprias emoções;

•        desenvolver empatia;

•        praticar a meditação, a respiração profunda e o relaxamento muscular progressivo;

•        encontrar uma rede de suporte forte (no ambiente familiar e no trabalho);

•        criar um ambiente de trabalho colaborativo e incentivar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional;

•        fazer pequenas pausas de 15 minutos entre as atividades laborais;

•        buscar manter uma rotina de atividades que geram prazer (hobbies);

•        manter uma boa higiene do sono (práticas saudáveis que contribuem para uma boa qualidade e duração do sono) e uma alimentação equilibrada e saudável.

 

•        Crise de pânico: o que fazer para aliviar os sintomas?

O influenciador Gustavo Tubarão, 24, publicou um vídeo do momento em que teve uma crise de pânico na academia no último dia 24. Em tom de alerta, o jovem disse que começou a passar mal e achou um quarto vazio para tentar “desacelerar a mente”.

Um ataque de pânico é uma crise na qual uma pessoa sente angústia, ansiedade ou medo extremo, e pode ter início súbito e vir acompanhado de outros sintomas físicos e emocionais.

“Um dos primeiros sinais é a falha nos pensamentos, acompanhada por sintomas físicos extremamente intensos. Quase como uma sensação de morte, os sintomas incluem os batimentos cardíacos e respiração acelerados, pressão no peito, além de um possível desconforto digestivo, suor e pressão intensa. A pessoa realmente sente que vai morrer”, explica Larissa Fonseca, psicóloga e especialista clínica em ansiedade, crise de pânico, burnout e sono, à CNN.

O psiquiatra Bruno Pascale Cammarota, médico da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, acrescenta que o ataque de pânico é, geralmente, inesperado e passageiro. Nos casos mais graves, a pessoa pode evitar locais públicos e aglomerações, em uma síndrome chamada agorafobia.

“As crises de pânico estão associadas à ansiedade, angústia, tremores, medo de passar mal, desmaios, palpitações e taquicardia, a ponto de a pessoa achar que está infartando”, explica.

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Segundo os especialistas, as crises podem durar de 15 a 30 minutos. No entanto, o pânico pode demorar para ser diagnosticado. “Em geral, as pessoas acabam recorrendo a outras especialidades, como pronto-socorro ou cardiologia. O psiquiatra não costuma ser o primeiro profissional a ser procurado. Nisso, até a pessoa descobrir e ter um tratamento correto leva em torno de seis meses a um ano”, afirma Cammarota.

<><> O que fazer durante uma crise de pânico?

Ao notar que está tendo uma crise de pânico, algumas medidas simples podem ser realizadas para aliviar os sintomas. Uma delas é controlar a respiração, inspirando e expirando pelo nariz, de forma lenta e profunda. “Se houver um banheiro próximo, é interessante ir até ele e lavar bastante o rosto”, recomenda o psiquiatra.

Fonseca também sugere segurar um cubo de gelo ou colocar uma flanela úmida e gelada no pulso.

No entanto, o ideal é que a pessoa busque ajuda de um psiquiatra para iniciar o tratamento adequado para a condição, com uso de medicamentos eficazes e com acompanhamento da terapia psicológica. “Tanto a medicação quanto a psicoterapia vão ajudar o indivíduo a ter uma melhora nos sintomas e ter mais consciência sobre o problema”, completa Cammarota.

<><> E como outras pessoas podem ajudar?

Outras pessoas também podem ter papel fundamental no alívio da crise de pânico. Segundo Fonseca, é importante que amigos, colegas ou familiares deixem claro à pessoa que eles estão presentes para ajudá-la, garantindo sua segurança.

“Lembre-a de respirar e deixe claro que o ataque de pânico é temporário e que você vai estar ao lado dela. Utilizar a técnica de ‘grounding‘, pedindo para ele responder quatro objetos que ela consegue ver, três que ela consiga sentir o cheiro e dois que ela possa tocar, pode ser fundamental para ajudar a pessoa a desfocar dos sintomas”, orienta a psicóloga.

Dizer palavras positivas, oferecer água ou outra bebida que possa acalmá-la também são medidas interessantes. Por fim, amigos e familiares devem incentivar a procura de ajuda médica. “Ainda existe muito preconceito em relação a isso. As pessoas ainda acham que é bobeira e frescura”, observa Cammarota.

<><> O que não fazer durante uma crise de pânico?

Por outro lado, algumas atitudes podem ser desfavoráveis durante uma crise de pânico e devem ser evitadas.

“Não minimize ou desmereça a dor da pessoa dizendo coisas como ‘eu já passei por isso, não é nada’. Evite pressioná-la a se acalmar, pois isso pode aumentar ainda mais a sensação de desespero. Em vez disso, mostre empatia e escute ativamente o que ela está sentindo”, orienta Fonseca.

Também evite gritar com a pessoa durante uma crise de pânico ou ironizar a situação. Por fim, não é recomendado deixar a pessoa sozinha durante o ataque.

“Ofereça apoio, mesmo que ela queira ir ao pronto-socorro (algo bastante comum), pergunte se há algo que você possa fazer para ajudar, e esteja presente durante esse momento difícil”, finaliza a psicóloga.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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