segunda-feira, 4 de novembro de 2024

PEC da Segurança é insuficiente e pode virar cortina de fumaça, alerta Sou da Paz

Nessa quinta-feira (31) o presidente Lula apresentou aos governadores a primeira versão da PEC da Segurança Pública, iniciativa do governo federal para constitucionalizar o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP): item prioritário na agenda do ministro Ricardo Lewandowski desde que assumiu a pasta da Justiça. A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, alerta que, apesar de a iniciativa representar um avanço legislativo para a segurança pública, ela pode acabar abrindo margem para o governo evitar discussões mais importantes no tema.

A PEC da Segurança Pública é uma das principais iniciativas do atual governo no enfrentamento ao crime organizado. Além de puxar o SUSP para o texto constitucional, ela estabelece a criação de uma Polícia Penitenciária Federal, renova as competências da Polícia Federal e transforma a Polícia Rodoviária Federal em uma polícia ostensiva federal, recebendo competências parecidas com as das polícias militares, mas atuando em nível nacional.

Carolina Ricardo, que também faz parte do Quadro Consultivo em Assuntos de Desarmamento da Organização das Nações Unidas (ONU), avalia que há de fato a necessidade de aprimoramento legislativo para tratar de competências do governo federal em matéria de segurança pública, mas que a PEC ainda precisa evoluir para conseguir suprir essa demanda. “É uma PEC genérica, mas ela traz pontos interessantes”, ponderou.

A sua preocupação é de que a proposta se transforme em uma cortina de fumaça para o governo conseguir demonstrar publicamente o interesse na agenda de segurança pública sem entrar em embates polêmicos necessários para o controle da criminalidade.

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“Até hoje não tivemos nenhuma política muito concreta. A política de controle de armas não avançou. Tivemos uma política de financiamento via Fundo Nacional de Segurança Pública, mas sem grandes inovações, inclusive mais recentemente, mais focada na questão dos equipamentos. Acho que há muito ainda que ser feito nesse modelo constitucional atual”, explicou.

<><> Cenário adverso

Além da questão comunicacional envolvendo a PEC, a diretora do Sou da Paz teme que a discussão consuma a capacidade de articulação do governo na agenda de segurança pública em temas que não necessitam de mudanças constitucionais, como a criação de grupos integrados de combate ao crime organizado ou o fortalecimento de centros integrados de comando e controle.

“A minha preocupação é que a gente gaste muito tempo discutindo uma PEC que vem com pouca viabilidade política do ponto de vista do Congresso e que precisa ainda de uma costura com governadores e com as polícias”, reforçou.

A proposta foi apresentada nessa quinta-feira (31) pelo presidente Lula aos governadores. De acordo com o texto da PEC, a PRF passará a ser chamada de Polícia Ostensiva Federal, com a missão de patrulhar rodovias, ferrovias e hidrovias federais. Essa nova força policial terá autorização para proteger bens, serviços e instalações federais, além de oferecer apoio emergencial e temporário às forças de segurança estaduais ou distritais, conforme solicitação dos governadores.

A Polícia Federal, por sua vez, ficará responsável por investigar infrações penais que comprometam a ordem política e social ou que envolvam bens, serviços e interesses da União, incluindo áreas de preservação e conservação. Além disso, a PF lidará com crimes de repercussão interestadual ou internacional que exijam uma repressão uniforme, como aqueles cometidos por organizações criminosas e milícias. Lewandowski aponta que as mudanças na PF e na atual PRF refletem uma situação que já ocorre “na prática”.

A PEC também determina que o Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária não pode ser contingenciado, tendo como objetivo “garantir recursos para apoiar projetos, atividades e ações que estejam em conformidade com a política nacional de segurança pública e defesa social.”

<><> Oposição à proposta

As mudanças enfrentam resistência de governadores oposicionistas. Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Junior (PSD-PR) e Jorginho Melo (PL-SC) declinaram do convite para participar do encontro com o presidente. Outros oposicionistas, como Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Cláudio Castro (PL-RJ) e Tarcisio de Freitas (Republicanos-MG), fizeram críticas à PEC.

Em determinado momento do encontro, Caiado disse que teme uma eventual perda de prerrogativas das forças de segurança estaduais. “Inadmissível qualquer invasão nas posições que os estados têm em termos de poder da sua polícia civil, militar e penal, que realmente são as estruturas que sustentam a segurança nesse país, com total parceria com a PF e a PRF”, afirmou o governador de Goiás.

O presidente Lula reagiu com ironia à fala do governador goiano. “O dado concreto é que é uma situação muito complicada no Brasil inteiro. Eu tive a oportunidade de conhecer hoje o único estado que não tem problema de segurança, que é o estado de Goiás. Que eu peço pro Lewamdowski [ministro da Justiça] ir lá levantar, que pode ser referência para os outros governadores. Em vez de eu ter chamado, era o Caiado que tinha que ter chamado a reunião para orientar como é que se comporta, para gente acabar com o problema da segurança em cada estado”, afirmou o presidente.

•        Entenda a proposta apresentada pelo governo Lula a estados

Em reunião realizada com governadores na tarde desta quinta-feira (31), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou para debate a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Segurança Pública, elaborada sob a coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

E coube ao titular da pasta, o ministro Ricardo Lewandowski, apresentar os principais pontos do texto. Ele afirmou que o objetivo é "repensar o pacto federativo" na área da segurança pública. "Mudou tudo desde 1988. O crime está migrando da ilegalidade e passando para a legalidade", apontou o ministro, destacando que o crime não tem mais somente atuação local, mas nacional e, por isso, seria necessário estruturar seu enfrentamento no mesmo sentido.

O texto inicial do governo tem três pontos principais. Propõe o aumento das atribuições da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), concede status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e pretende incluir na Constituição Federal as normas do Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária, unificando os Fundo Nacional de Segurança Pública e o Fundo Penitenciário.

<><> Polícia Ostensiva Federal

Pela PEC da Segurança Pública, a PRF passaria a se chamar Polícia Ostensiva Federal, com a missão de realizar patrulhamento de rodovias, ferrovias e hidrovias federais. A nova policia também poderá proteger bens, serviços e instalações federais, caso seja autorizada, e ”prestar auxílio, emergencial e temporário, às forças de segurança estaduais ou distritais, quando requerido por seus governadores”.

A Polícia Federal, de acordo com a proposta, passará a ser destinada a “apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União, inclusive em matas, florestas, áreas de preservação, ou unidades de conservação, ou ainda de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, como as cometidas por organizações criminosas e milícias privadas.”

Segundo o ministro Lewandowski, as alterações consolidariam o que já é feito "na prática". Ele também destacou que o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) já existe desde 2018 e que a PEC pretende constitucionalizá-lo. "Estamos usando os mesmos conceitos da lei de 2018. Estamos constitucionalizando o que está na lei ordinária", disse.

Lewandowski pontuou ainda que a PEC não prevê ingerência nas políticas de segurança estaduais ou nas polícias locais."Nunca se viu alguém reclamando que o SUS interfira na autonomia dos estados. Tampouco o PNE [Plano Nacional de Educação]. Queremos com a nossa PEC a mesma coisa", explicou.

O Fundo Nacional de Segurança Pública e a Política Penitenciária não poderiam ser contingenciados caso a proposta seja aprovada.

<><> PEC da Segurança Pública não é "produto acabado"

O presidente Lula, ao final da reunião, salientou que decidiu abrir a reunião ao público para que os presentes "falassem a visão que têm sobre segurança pública".

"A PEC não é um produto acabado, ela apenas é uma chave que está abrindo uma porta para um debate que, se é da gravidade que todos vocês falaram, é o tema principal a ser encontrada uma solução", afirmou o presidente.

 

•        A reação de Caiado após ser humilhado por Lula na frente de outros governadores

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, reagiu após ser alvo de uma ironia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião com outros governadores, ministros e autoridades para discutir a PEC da Segurança Publica que será apresentada pelo governo.

Pré-candidato à presidência da República em 2026 e virtual adversário de Lula no próximo pleito, Caiado, durante a reunião, criticou a PEC proposta pelo governo e sugeriu que em seu estado não há crimes.

"Inadmissível qualquer invasão nas posições que os estados têm em termos de poder de sua polícia civil, militar e penal, que realmente são as estruturas que sustentam a segurança nesse país, com total parceria com a PF e a PRF [...] em Goiás eu acabei com ele [o crime]", disparou o governador.

Ao responder, Lula com sua clássica retórica irônica e debochada, humilhou Ronaldo Caiado, arrancando risadas de outros presentes na reunião.

"Eu tive a oportunidade de conhecer hoje o único estado que não tem problema de segurança, que é o estado de Goiás. Que eu peço pro Lewandowski [ministro da Justiça] ir lá levantar, que pode ser referência para os outros governadores. Em vez de eu ter chamado, era o Caiado que tinha que ter chamado a reunião para orientar como é que se comporta, pra gente acabar com o problema da segurança em cada estado", ironizou o mandatário.

<><> Caiado reage

Em coletiva de imprensa após a reunião, Ronaldo Caiado disse que não gostou do deboche do presidente Lula. "Não é um assunto para ser discutido nesse nível. Não cabe ironia", declarou.

O governador ainda insistiu que em seu estado não há crimes.

"Eu deixei claro que no meu estado de Goiás ninguém reclama de segurança pública. É segurança plena, total. Nunca teve um assalto a banco, um sequestro, novo cangaço, invasão de propriedade...", disparou Caiado.

Apesar de Goiás ter observado uma redução nos índices de criminalidade nos últimos anos, a realidade não corresponde à narrativa de Caiado de que há "segurança plena" em seu estado. O 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho deste ano, revela que o estado registrou 1.049 assassinatos no ano de 2023.

<><> PEC da Segurança Pública

Em reunião realizada com governadores na tarde desta quinta-feira (31), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou para debate a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Segurança Pública, elaborada sob a coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

E coube ao titular da pasta, o ministro Ricardo Lewandowski, apresentar os principais pontos do texto. Ele afirmou que o objetivo é "repensar o pacto federativo" na área da segurança pública. "Mudou tudo desde 1988. O crime está migrando da ilegalidade e passando para a legalidade", apontou o ministro, destacando que o crime não tem mais somente atuação local, mas nacional e, por isso, seria necessário estruturar seu enfrentamento no mesmo sentido.

O texto inicial do governo tem três pontos principais. Propõe o aumento das atribuições da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), concede status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e pretende incluir na Constituição Federal as normas do Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária, unificando os Fundo Nacional de Segurança Pública e o Fundo Penitenciário.

Pela PEC da Segurança Pública, a PRF passaria a se chamar Polícia Ostensiva Federal, com a missão de realizar patrulhamento de rodovias, ferrovias e hidrovias federais. A nova policia também poderá proteger bens, serviços e instalações federais, caso seja autorizada, e ”prestar auxílio, emergencial e temporário, às forças de segurança estaduais ou distritais, quando requerido por seus governadores”.

A Polícia Federal, de acordo com a proposta, passará a ser destinada a “apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União, inclusive em matas, florestas, áreas de preservação, ou unidades de conservação, ou ainda de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, como as cometidas por organizações criminosas e milícias privadas.”

Segundo o ministro Lewandowski, as alterações consolidariam o que já é feito "na prática". Ele também destacou que o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) já existe desde 2018 e que a PEC pretende constitucionalizá-lo. "Estamos usando os mesmos conceitos da lei de 2018. Estamos constitucionalizando o que está na lei ordinária", disse.

Lewandowski pontuou ainda que a PEC não prevê ingerência nas políticas de segurança estaduais ou nas polícias locais."Nunca se viu alguém reclamando que o SUS interfira na autonomia dos estados. Tampouco o PNE [Plano Nacional de Educação]. Queremos com a nossa PEC a mesma coisa", explicou.

O Fundo Nacional de Segurança Pública e a Política Penitenciária não poderiam ser contingenciados caso a proposta seja aprovada.

O presidente Lula, ao final da reunião, salientou que decidiu abrir a reunião ao público para que os presentes "falassem a visão que têm sobre segurança pública".

"A PEC não é um produto acabado, ela apenas é uma chave que está abrindo uma porta para um debate que, se é da gravidade que todos vocês falaram, é o tema principal a ser encontrada uma solução", afirmou o presidente.

 

Fonte: Congresso em Foco/Fórum

 

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