quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Balanço da esquerda no final de 2024

Começando nossa análise da situação política atual pelo fim: a eleição presidencial de 2026 deveria ser nosso ponto de conclusão, mas a realidade impõe desde já entender que o campo da esquerda, especialmente o PT, não tem alternativa a não ser o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para esse pleito. Lula se consolidou como a única liderança capaz de unir dois pontos cruciais: o compromisso com as pautas populares e a habilidade de negociação política. A popularidade de Lula é grande, principalmente devido à sua capacidade de comunicação e ao compromisso contínuo com as camadas mais pobres e vulneráveis. Ele fala uma linguagem acessível a todos, independentemente de nível cultural ou educacional.

Além de sua popularidade com as massas mais pobres, Lula demonstrou notável habilidade em negociar politicamente, conseguindo articular-se até com setores conservadores, algo raro para uma figura de esquerda. Essa habilidade, constatada em seus primeiros mandatos, é essencial atualmente, com um Congresso onde a esquerda ocupa apenas um quarto das cadeiras. Todos esses fatores fazem de Lula um candidato inevitável à sucessão de si mesmo. Esse sucesso, porém, levanta uma preocupação: se Lula for reeleito, ele deixará a presidência quase meio século após emergir como grande líder popular, algo raro em democracias complexas como o Brasil. Um caso comparável seria Fidel Castro, mas Cuba é um país menor e menos complexo, além de não ser uma democracia. Já alerto que não culpo Lula por o PT não haver gerado, neste longo período, lideranças comparáveis à sua; pelo que conheço do Presidente, ele se empenhou sempre em projetar nomes qualificados, entre eles, Fernando Haddad. Mas é um fato: o PT é menor que o assim-chamado lulismo. E essa situação, preocupante, se dá embora o PT seja o único partido no Brasil digno de ser chamado de partido! Apesar de termos dezenas de agremiações, o PT é a única com convicções políticas claras. Já tivemos, além dos sempre pequenos partidos comunistas ou socialistas, outro grande partido com valores definidos, o PSDB, que defendia sob o nome de social-democracia uma política considerada por alguns como neoliberal. Essa política buscava liberalizar a economia, ao mesmo tempo em que promovia políticas sociais melhores do que as dos governos anteriores no Brasil. No entanto, sendo atualmente o único partido digno de tal nome, o PT mostra o “deserto” restante de discussão política em que vivemos.

Alberto Carlos Almeida, cientista político, tem uma frase relevante: no Brasil, cada um tem direito a um partido para chamar de seu. Isso significa que, quando alguém perde uma disputa dentro de um partido, cria um novo partido para defender suas ideias. Tal postura dificulta a formação de uma educação política sólida, pois qualquer divergência se converte em ruptura, impedindo o crescimento de ideias dentro de uma família política comum. Esse é um dos motivos pelos quais temos tantos partidos, e a relação com eles acaba sendo patrimonialista, ou seja, cada partido se torna uma propriedade privada. Recentemente, o PRTB, partido sem representação no Congresso, lançou Pablo Marçal como candidato em São Paulo. Seguiu-se uma polêmica: teria havido, antes de sua indicação, um acordo para se entregar a direção do partido a uma pessoa específica – o que daria a entender que o PRTB seria tratado como propriedade privada. Essa tendência não é incomum nos partidos brasileiros – um modelo do qual o PT escapa. Aliás, já no começo do governo Lula 1, uma divergência irreconciliável dentro do PT resultou na criação do PSOL. É verdade que a divergência era radical, e não cabiam os dois grupos no mesmo partido.

Em democracias mais avançadas, divergências dão vida ao próprio partido. Em 2008, após uma disputa acirrada pela indicação presidencial entre Barack Obama e Hillary Clinton, ambos continuaram no Partido Democrata. Hillary Clinton tornou-se Secretária de Estado de Barack Obama e mais tarde foi candidata dele à sua sucessão. No Brasil, essa articulação é rara. Vejam o episódio da convenção do PMDB em 1982: quando Franco Montoro venceu a indicação, seu adversário Orestes Quércia ameaçou mudar de partido e pôr em risco sua vitória; Franco Montoro acabou-lhe cedendo a posição de vice em sua chapa. No caso, porém, não foi uma composição, mas sim uma quase chantagem por parte de Orestes Quércia. No debate que se seguiu a minha fala, uma pessoa levantou a questão da necessidade de um partido de direita democrático – e se nós, que não somos de direita, deveríamos lutar por isso. O problema é que, embora seja desejável um partido de direita democrático, essa ideia é mais defendida pela esquerda do que pela direita. Já tivemos essa sensibilidade democrática à direita, especialmente com o grupo que se formou em torno de Fernando Henrique Cardoso na década de 80, culminando em sua eleição presidencial em 1994. Esse movimento buscou mostrar à direita e ao empresariado que era possível disputar e vencer eleições sem recorrer a golpes ou ditaduras. Em parte, devemos a essa catequese da direita por egressos da esquerda a relativa paz institucional que vivenciamos do impeachment de Fernando Collor, em 1992, até o de Dilma Rousseff, em 2016. Foi provavelmente, em toda a nossa história, o único período em que tivemos uma direita democrática. Contudo, após perderem quatro eleições consecutivas, as forças de direita apoiaram o golpe de 2016. Pagaram um preço por isso: tornaram-se um sustentáculo – subordinado – da extrema direita. Às vezes, parece-me que a extrema direita é como um inseto que causa uma doença incurável: é difícil, uma vez assumido o extremismo, voltar a uma posição que se inscreva no arco democrático. Assim, durante duas décadas, mesmo quem tinha uma sensibilidade extremista votou num partido, o PSDB, que detinha um histórico de defesa dos direitos humanos e de preocupações sociais. Seus líderes vinham da luta contra a ditadura. Contudo, quando, para se chegar ao impeachment de Dilma Rousseff, o candidato por ela derrotado em 2014 se subordinou ao presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, mesmo sendo este último acusado de delitos de corrupção, o peso das duas tendências se inverteu. Em vez de termos uma pequena extrema direita votando na direita, passamos a ter a direita seguindo a extrema direita. É o que hoje temos.

Na verdade, a educação da direita para aceitar a democracia deveu-se a uma parte da esquerda, que foi se moderando e se convenceu, em algum momento da longuíssima agonia da ditadura, de que a democratização não poderia vir da esquerda, ou só da esquerda, mas precisava de uma direita civilizada. Desta forma se estabeleceu uma divergência entre forças então progressistas, das quais umas foram criar o que pretendia ser um “grande partido popular” (que acabou sendo o PT), outras priorizaram uma grande aliança com a direita não (mais?) adepta de tortura, censura e ditadura. Essa segunda família acabaria sendo a coligação de Fernando Henrique Cardoso, que unia forças desde a direita moderada até a centro-esquerda. Na década de 2000 e em parte de 2010, a política brasileira era comumente dividida em três partes: um terço apoiava o governo do PT, outro terço fazia oposição, e o último era variável, mudando conforme a conjuntura. Eu criei as expressões “terço gordo”, para o desempenho vitorioso do PT, que ia além dos 36% e chegava quase aos 40, o que se mostrava suficiente para vencer eleições, ao se expandir e além disso atrair, no segundo turno, votos do terço neutro; e a de “terço magro”, para a queda do PSDB abaixo dos 30%. O terceiro terço era disputado, muito eleitor se convencia dele, a partir da campanha eleitoral. Esse foi um período em que, ao longo da campanha, a esquerda crescia. A discussão política atendia assim ao que dela esperamos: esclarecia propostas, desfazia mentiras, aproximava o eleitor de seu interesse. Isso parou de acontecer em algum momento – possivelmente, em 2014, quando a avalanche de mentiras e fatos plantados disparou. O breve iluminismo se esgotou, ante a intensidade do que ainda não se chamavam fake news, mas já tinha seus traços. A campanha de 2014 mostrou isso, com mentiras divulgadas na véspera da eleição e com a revista Veja espalhando cartazes com a capa do número datado do dia do pleito, quando já era proibida a propaganda política. Mas, para além das mentiras, esse esgotamento do debate político já mostrava o engessamento – que em breve ocorreria – dos três terços. Vejam que nos últimos anos, no Brasil como nos Estados Unidos, a derrota de Jair Bolsonaro e a de Donald Trump não diminuiu, longe disso, o número de seus simpatizantes ou partidários. Possivelmente, o deslocamento de todo o debate político para a questão da corrupção contribuiu muito para isso. Quando se fala de crimes, não há o que negociar. Podemos negociar políticas sociais, econômicas, tudo, mas com criminosos não há o que tratar. A criminalização da política, pelos lavajatistas, assim despolitizou o ambiente brasileiro, substituindo o diálogo pelo ódio. Nos últimos dez anos, esse engessamento se expressa no fato de que uma extrema direita assumiu o espaço da antiga direita. No Brasil e em outros países, essa extrema direita não adota os valores democráticos típicos da direita tradicional, como a europeia, dificultando o diálogo e reduzindo a disposição em mudar de opinião. Esse contexto também trouxe um desvio de foco para pautas moralistas, esvaziando a política e afastando questões essenciais. Lula, no entanto, é uma das poucas lideranças que conseguem transitar entre diferentes segmentos, inclusive entre setores conservadores, como demonstrado em seus primeiros mandatos. Os governos Lula 1 e 2, seguidos por Dilma, impulsionaram o que se chamou  a inclusão social pelo consumo, permitindo que a população de baixa renda adquirisse produtos básicos, beneficiando assim a economia nacional.

<><> Consumo ou educação política?

Contudo, houve críticas a essa política de inclusão social, apontando que ela não gerou uma consciência política. Faltou ao PT, nos governos de Lula e Dilma, uma educação política que explicasse melhor o que é ser de direita ou esquerda, indo além de caricaturas e de campanhas baseadas em acusações de corrupção ou incompetência. Uma verdadeira educação política envolveria, em primeiro lugar, o entendimento das diferenças entre direita e esquerda a partir das propostas e dos valores de cada lado. Esse tipo de discussão se perde, quando as campanhas focam apenas em desqualificar o adversário, usando-se o argumento mais comum no Brasil – o da acusação de corrupção. (Por sinal, nos primórdios do PT, a acusação que mais se lhe fazia era de incompetência – a tal ponto que Paulo Maluf, que se apregoava como competente, foi certa vez ironizado por Lula, que disse que o adversário competia, competia e perdia).

O segundo ponto da educação política diz respeito às políticas públicas e sociais, importantes em governos social-democratas como os da Europa Ocidental e do Canadá após a Segunda Guerra Mundial. Esses governos, ao garantirem direitos básicos como saúde, educação, transporte e segurança públicos, buscavam igualar as oportunidades no ponto de partida, o que tornava e torna toleráveis as desigualdades no ponto de chegada. Vou dar exemplos de falta de educação política observados nos governos do PT, de Lula e Dilma Rousseff. Antes disso, lembro o comentário do cientista político Luciano Martins, amigo pessoal de Fernando Henrique Cardoso, que nos anos 90 criticou o PSDB por este não ter promovido uma educação política na sociedade brasileira. Embora ele não tenha detalhado o que entendia por essa educação, é algo que considero importante, e tentarei explicar com base em alguns exemplos. Durante o governo Lula, ele frequentemente se mostrava feliz em seus discursos ao dizer que as pessoas mais pobres estavam finalmente podendo fazer três refeições diárias e, ocasionalmente, consumir carne aos fins de semana. Isso foi simbolizado pela imagem do churrasco com picanha, representando o ganho de conforto e prazer para a população de baixa renda. Além disso, houve uma expansão no acesso à linha branca, com mais brasileiros adquirindo geladeiras, fogões, micro-ondas, máquinas de lavar, que eram itens antes inacessíveis para muitos. Contudo, esse discurso e essa imagem eram eticamente neutros. Lula enfatizava o conforto e o prazer, mas não apresentou o combate à fome como uma grande questão ética. A erradicação da fome foi comunicada mais como uma conquista de bem-estar do que como um objetivo moral elevado. O PT, assim, se distanciou da retórica ética que o caracterizava quando estava na oposição, onde sempre defendia duas causas centrais: o combate à miséria e o combate à corrupção. Antes de assumir o governo, o PT era considerado um partido com forte compromisso ético, a ponto de muitos duvidarem que, ao chegar ao poder, ele conseguisse governar. Entretanto, ao longo do governo, houve uma mudança no discurso, mais focado em trazer conforto às classes populares e menos em sustentar uma bandeira ética. Esse foco na satisfação material criou uma abertura para que, na campanha de 2006, o adversário de Lula, Geraldo Alckmin, pudesse usar o slogan “Por um Brasil decente” – algo que seria inconcebível em outro momento. Essa abordagem foi um dos fatores que enfraqueceram a imagem do PT, especialmente junto às classes médias, muito sensíveis ao tema da ética na política. Esse episódio ilustra como o PT, entre 2003 e 2016, não conseguiu – ou nem tentou – manter uma visão ética robusta em sua comunicação. Essa falta não só afetou a percepção do partido, mas também enfraqueceu o que considero essencial em uma política progressista: uma ética positiva. Diferentemente da direita, que frequentemente limita a ética à ausência de corrupção – que é uma forma do que chamo ética negativa, uma ética da contenção e não da ação –, a esquerda deve ter uma ética afirmativa, que promova valores como alimentação para todos e uma vida digna.

No começo de meu trabalho como Ministro da Educação, mencionei essa visão à presidenta Dilma Rousseff, entendendo que o combate à fome e à miséria deveria ser tratado como uma causa ética fundamental. Não deveríamos deixar os temas éticos a cargo da oposição – que teria uma visão tímida da ética, apenas negativa – mas precisávamos assumir de volta essa que foi uma bandeira do PT. Dilma Rousseff gostou da ideia, e gostou de novo meses depois quando retornei ao tema. O fato de ter gostado também da segunda vez indica, porém, que o assunto tinha saído do seu radar: essa ideia foi perdida.  Em suma, a ética é fundamental para uma política progressista, que visa à emancipação do ser humano e à transição do “reino da necessidade” para o “reino da liberdade”, conforme conceituado por Marx. Outro episódio ocorreu no governo Dilma Rousseff, durante o lançamento das obras do conjunto habitacional do Pinheirinho, em São José dos Campos, no mês de março de 2014. Na ocasião, Dilma afirmou aos moradores que eles não deviam nada a ninguém, mas sim a si mesmos e à própria mobilização. Embora compreensível a intenção de evitar que políticos explorassem a entrega para fins eleitorais, essa fala desvalorizou a importância das políticas públicas e do papel do governo nas conquistas sociais. Dessa forma, criou-se uma impressão de que a mobilização popular já bastaria para alcançar essas conquistas, o que diminui o reconhecimento da política como um instrumento essencial de transformação. Esse caso exibe a dificuldade, ainda que nutrida pelas melhores intenções, de expor as políticas públicas como devedoras da política. É tal a aversão dos cidadãos comuns – e da própria presidenta Dilma Rousseff – pelos políticos que se joga fora o bebê com a água do banho. Mesmo que nossos políticos não estejam à altura de sua missão, não temos saída fora da política. Essa situação desperta uma dupla pergunta: por que o PT e a esquerda deixaram de ser atraentes para jovens idealistas e também para as camadas periféricas da população?

Dois exemplos dessa perda de apelo são a derrota do PT nas periferias de São Paulo e a ascensão de figuras como Pablo Marçal, que representam uma visão conservadora e individualista. Um caso interessante é o da deputada Tábata Amaral. Trinta anos atrás, alguém com seu perfil provavelmente se juntaria ao PT, que era o partido dos jovens idealistas empenhados em mudar o mundo. Hoje, o PT parece não atrair mais esse tipo de militância. Essa perda de apelo, tanto entre as camadas periféricas (em proveito de Pablo Marçal) quanto entre os idealistas de classe média (caso de Tábata Amaral, embora ela seja de origem pobre), que já formaram parte significativa da militância do PT, é um ponto que deve gerar preocupação e reflexão sobre o futuro do partido e da esquerda no Brasil. Os casos de Tábata Amaral e Pablo Marçal são instrutivos, embora seja importante, especialmente para um público de esquerda, lembrar que eles são diferentes e opostos. Na recente campanha eleitoral em São Paulo, Tábata Amaral foi quem mais corajosamente enfrentou Pablo Marçal. No entanto, ambos representam indicadores da deficiência do PT e da esquerda em atingir públicos que historicamente seriam seus. Tábata Amaral é jovem, idealista e assumiu a educação como bandeira. Nos anos 1990, seria natural que visse o PT como uma plataforma para seus valores e seu empenho. No entanto, na década passada, ela seguiu outro caminho, encontrando espaço para atuar na educação através de institutos do terceiro setor, financiados pelo setor privado, com foco na melhoria da educação pública básica. Há 30 anos, seria quase impensável que alguém como Tábata Amaral não se voltasse para o PT. Este reunia tudo o que eram propostas para um mundo melhor, inclusive as contraditórias entre si. Mas isso não mais acontece, e tal fenômeno deveria fazer perguntar por que o PT deixou de ser o desaguadouro para muitos que querem melhorar o mundo. Atacar a classe média não resolve isso. Criticá-la ou atacá-la não resolve essa questão fundamental.

O caso de Pablo Marçal é bem diferente. Ele aparenta não ter valores éticos, como se viu na campanha, mas atraiu muitas pessoas da periferia pobre de São Paulo, que viram nele uma solução pessoal e individualista para seus problemas. Neste caso, também é inútil tentar desmenti-lo ou refutá-lo (ainda menos, tentarem “explicar-me” por que ele não é um modelo positivo; eu o sei muito bem; se alguém não entendeu que eu sei, só posso lamentar). É preciso entender por que ele conseguiu essa conexão, enquanto o PT, que historicamente representa esse público, não. Esse problema lembra uma crítica feita por Elio Gaspari ao PSDB, quando esse partido estava no auge: ele dizia que, quando se discordava dos tucanos, eles repetiam a mesma posição com outras palavras, acreditando que a discordância se devia apenas a uma falta de compreensão. Agora, essa retórica aparece no PT . Quando alguém critica o partido, a resposta é explicar de forma paternalista e condescendente por que Tábata Amaral ou Pablo Marçal estariam errados e por que a visão petista estaria certa. Vemos assim um partido, que abriu tanto espaço à discussão e à divergência, sendo tomado por uma ortodoxia. Simplesmente explicam, inclusive a mim, por que Tábata Amaral estaria errada e por que Pablo Marçal seria ainda “um pouco” pior. Como se eu não tivesse minhas divergências dos dois. E pior, como se eu ou muita gente não soubesse pensar, e a única saída seria mais do mesmo, muito mais do mesmo. É muito preocupante essa postura, porque, simplificando, ela significa que quando algo não dá certo, em vez de consertar, se insiste no erro. A radicalização no erro é algo que deve ser evitado por quem faz política. Porque ela é um caminho seguro para a derrota! Isso ficou evidente na campanha para a prefeitura de São Paulo, onde o presidente Lula insistiu na candidatura de Marta Suplicy como vice, sem que isso trouxesse impacto significativo nos votos de Guilherme Boulos. A proporção de votos foi praticamente a mesma de quatro anos atrás, mesmo somando o histórico eleitoral de Marta Suplicy. Portanto, é essencial compreender o que está acontecendo, baixar o “salto alto”, respeitar a divergência e buscar entender o cenário atual.

Finalmente, vamos falar sobre os impasses atuais – começando pela contribuição civilizatória de dois presidentes extraordinários da história recente do Brasil. O primeiro é Fernando Henrique Cardoso. Sei que uma simples menção elogiosa a ele pode gerar reações, aqui, de quem não quer nem ouvir o que será dito. Mas, a meu ver, a grande obra de Fernando Henrique não foi tanto o Plano Real, que estabilizou a inflação e afastou do Brasil o incômodo terrível herdado da ditadura militar, a qual deixou o poder com uma inflação superior àquela que serviu de pretexto para a deposição de João Goulart pela direita brasileira, 21 anos antes. A principal façanha de Fernando Henrique, em minha opinião, foi normalizar a relação entre direita e esquerda. Lembro até uma declaração de Luis Nassif, dizendo que a maior obra dele foi transmitir o cargo para Lula… Em grande parte, foi isso mesmo: quando Lula transmitiu a presidência a Dilma Rousseff, foi a primeira vez na história do Brasil que um presidente democraticamente eleito recebeu o cargo de um igualmente eleito e entregou para outro, no caso outra, também eleita pelo povo. E precisamos que isso volte a acontecer, já que a deposição de Dilma Rousseff e a eleição mais que duvidosa de Jair Bolsonaro criaram um problema na normalização constitucional brasileira. De todo modo, a transição exemplar realizada por Fernando Henrique talvez tenha sido sua maior realização, ao reduzir a hostilidade política, que como se sabe tornou a crescer no governo Dilma Rousseff.

Já a grande obra de Lula, também a meu ver, foi permitir que uma boa parte da população brasileira alinhasse seu voto aos seus interesses ou sua consciência política. Nas primeiras eleições presidenciais de que Lula participou, era comum que os pobres organizados votassem nele, enquanto os pobres não organizados votavam em demagogos de direita. Foi a época em que estiveram no auge Paulo Maluf em São Paulo, Antônio Carlos Magalhães na Bahia e vários outros coronéis no interior do país. Com Lula, uma série de políticas públicas mudou a percepção de muitas pessoas mais pobres sobre sua situação, dando-lhes a sensação de que podiam atuar diretamente, em seu próprio nome, em vez de dependerem da sempre parca caridade dos grandes senhores oligárquicos. Esse avanço permitiu colocar o Brasil em uma linha que caracteriza as democracias avançadas, onde o voto se alinha com o interesse próprio. Essa consciência dos interesses próprios geralmente é mais visível nas classes com maior poder econômico, que votam e fazem campanhas para defender seus interesses. Agora, se sempre fosse assim, a direita teria o voto dos ricos e a esquerda o dos mais pobres, significando que a esquerda ganharia as eleições sempre. Aqui no Brasil, desde 2002, em todas as eleições livres, a esquerda ou centro-esquerda venceram, com exceção de 2018, desfigurada pela atuação partidária da Lava Jato, que incluiu a suspensão dos direitos políticos e prisão do candidato favorito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Para evitar esse alinhamento de votos, a direita frequentemente introduz outras questões no debate, como as “guerras culturais”, nos EUA, onde pautas sobre sexualidade são trazidas com obsessão. No Brasil, tais pautas surgiram com foco inicial na educação, alvo de fortes investimentos e expertise dos governos petistas, especialmente Lula e Dilma Rousseff. No governo de Dilma Rousseff, apareceram factoides como “Escola Sem Partido” e “ideologia de gênero”, assustando famílias com receios infundados sobre a sexualidade de seus filhos, e afastando setores que ganharam com as políticas públicas dos governos petistas. Posteriormente, surgiram pautas como a luta contra o aborto, mesmo nos casos previstos na legislação, como o recente projeto de lei “pró-estuprador”, submetido por um deputado de extrema direita, que propunha uma pena de prisão mais severa para mulheres que abortassem do que para o próprio estuprador. Esse investimento em factoides e mentiras foi e é intenso. Recentemente, vimos isso nas eleições dos EUA, que Donald Trump venceu manipulando justamente esses medos, essas paixões negativas. No Brasil, a extrema direita conseguiu até mesmo a reeleição de prefeitos que não protegeram, das enchentes, Porto Alegre e, dos cortes de energia, como São Paulo.

O alinhamento entre voto, participação e consciência política foi desfigurado pela história recente – pós-2008, isto é, após a crise econômica que dos Estados Unidos se espraiou pelo mundo, disseminando miséria, fome e mais geralmente perda de oportunidades. Uma discussão essencial hoje, nas redes, na mídia e nos ambientes políticos, é como o PT pode lidar com essa situação.

Um ingrediente interessante vem de 2011, quando Fernando Henrique Cardoso escreveu o artigo “O Papel da Oposição”, colocando a oposição no singular e destacando a oposição do PSDB, ao custo de ignorar o significativo desempenho de Marina Silva, na então recente eleição presidencial de 2010. Para ele, o PSDB não teria muito a propor aos mais pobres, que seriam eleitores do PT, mas à medida que esse contingente melhorasse de vida, o PSDB ganharia seus votos e suas convicções. A ideia de Fernando Henrique era que o PSDB atrairia os pobres, ao prosperarem e se tornarem de classe média. Na prática, hoje vemos antigos eleitores do PT nas periferias votando na extrema-direita, bem mais extremista do que o PSDB de então. Fernando Henrique errou quanto ao beneficiário, mas acertou, há 13 anos, quanto ao deslocamento. O que vimos nessa eleição revela a atração que a pauta do empreendedorismo exerce, somada ao receio das pautas sexuais mais liberais.

A campanha de Pablo Marçal, em São Paulo, mostrou também uma dificuldade do PT em atrair os trabalhadores de aplicativos. O PT denuncia a exploração desses trabalhadores e propõe regularização trabalhista com direitos previdenciários, mas muitos preferem a flexibilidade do trabalho com aplicativos, que lhes permite definir horários e evitar o controle rígido (e presencial!) do patrão, uma questão que a esquerda tende a desconsiderar. Essas questões ilustram valores que não têm sido captados pela esquerda. As candidaturas de Pablo Marçal e de Tábata Amaral – totalmente diferentes entre si, até porque ela foi quem mais o enfrentou durante a campanha – mostram o que a esquerda deveria refletir sobre seu discurso. Tábata simboliza os jovens idealistas, que preferem o trabalho direto em projetos de melhoria da educação pública, em vez da militância sindical tradicional, como tão bem foi conduzida pela APEOESP. Esse ponto merece atenção. Quando fui ministro da Educação, em 2015, percebi que havia três grupos na política educacional: o governo, os trabalhadores da educação e o terceiro setor, composto por ONGs e institutos que discutem expertise e propõem boas práticas, inclusive do exterior. O terceiro setor se dispõe a trabalhar com qualquer governo, o que por sinal – ante sua colaboração com o governo Temer, quando apoiou uma reforma do ensino médio que se mostrou confusa, e sua tentativa de cooperar com Bolsonaro, que não quis saber dele – só aumentou a desconfiança dos sindicatos do setor educacional público em relação ao mesmo terceiro setor. Mas o fundamental é que a esquerda recupere a capacidade de atrair. Parece que muito da atuação da esquerda na área educacional se resume ao clamor por mais verbas para a educação; isso é necessário, mas não suficiente. Por que a esquerda não investe em estratégias de mobilização e educação política, como as universidades de verão dos partidos europeus, em especial portugueses e franceses, que são grandes eventos de formação política para jovens? Falei disso a líderes do PT, que não mostraram interesse. Nossa esquerda, apesar de historicamente popular, não realiza isso. Isso atesta uma carência de novas lideranças e uma dificuldade em atrair um público jovem idealista, que se sente motivado por outras figuras políticas. Na prática, esse desinteresse leva a um distanciamento dos jovens, especialmente os idealistas. É crucial que a esquerda passe a tratar esses jovens não como “eles”, mas com dignidade e respeito. Afinal, falar sobre esses grupos na terceira pessoa, como um entomologista falando de insetos, em vez de como um político falando com seu interlocutor, é um grande erro. Se quisermos mostrar respeito, devemos falar na, melhor dizendo, com a segunda pessoa. Ou seja, para atrair e dialogar com essas pessoas, a esquerda precisa escutá-las e respeitá-las genuinamente.

 

Fonte: Por Renato Janine Ribeiro, em A Terra é Redonda

 

Brasil cria legado inédito no G20 com taxação dos super-ricos e combate à fome, apontam analistas

A Cúpula do G20 no Rio de Janeiro chegou ao fim nesta terça-feira (19), no Rio de Janeiro, com documento final e iniciativas brasileiras aprovadas por unanimidade pelas maiores economias mundiais.

As 19 nações, ao lado da União Europeia e da União Africana, toparam integrar a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, concordaram que é necessária uma reforma da governança global multilateral, o combate à emergência climática com desenvolvimento sustentável e até a taxação dos bilionários.

Apesar do sucesso da cúpula em alcançar consenso, quais os efeitos práticos para o mundo desses compromissos e princípios acordados? Afinal, é possível fortalecer o multilateralismo no grupo ou o contexto atual exige alternativas?

Para debater essas questões e fazer um balanço do encontro, a Sputnik Brasil ouviu estudiosos a respeito.

O professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) Vinícius Rodrigues Vieira argumentou que o Brasil teve mais êxito que seus antecessores, Indonésia e Índia, ao lograr um documento final com compromissos e metas firmados a nível ministerial.

A menção inédita à taxação dos super-ricos foi outro diferencial dessa cúpula, ressaltou a pesquisadora Beatriz dos Santos Abreu, mestre em relações internacionais pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila):

"Nunca antes, em nenhum encontro desde 2008, essas pautas haviam sido levantadas com tanta visibilidade. E a proposta de taxação dos ultrarricos e um possível reinvestimento dessa tal taxação em projetos que possivelmente diminuam cenários de fome no mundo é uma proposta enorme", opinou.

O formato do G20 Social promovido pelo Brasil foi assinalado como iniciativa inovadora pelos pesquisadores.

"Traz a sociedade civil e ela vinha sendo apartada dos mecanismos de governança global pelo menos desde a crise de 2008. Nos anos 2000 havia toda uma presença da sociedade civil na OMC [Organização Mundial do Comércio], na ONU, mas isso foi caindo ao longo do tempo, então também se for mantido para os próximos encontros do G20, é um legado interessante", comentou Vieira.

"Muito se pode aprender a partir dos movimentos sociais camponeses no Brasil, dos movimentos indígenas, porque uma vez que a gente está pensando um desenvolvimento sustentável, a gente tem que pensar a nossa relação com o meio ambiente", opinou Abreu.

Para o pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE) Késsio Lemos, o documento oficial aponta uma tentativa de reafirmar o multilateralismo em um contexto de crescente fragmentação geopolítica.

Os entrevistados também ressaltaram o êxito brasileiro em lograr que o presidente da Argentina, Javier Milei, aderisse às propostas da cúpula, que ele havia criticado antes e durante o encontro, como promoção da igualdade de gênero e taxação das grandes fortunas.

"O encontro pré-cúpula entre Javier Milei e Donald Trump, por exemplo, levantou preocupações de que a Argentina não assinasse o documento final, o que seria um revés para uma cúpula que depende de consenso. A condução brasileira evitou esse cenário e garantiu o sucesso do evento", disse Lemos.

Entretanto, a proposta de pautas abrangentes, como desenvolvimento sustentável e cooperação global, pode ser ignorada pelo próximo líder dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou o pesquisador.

"Um maior desengajamento por parte dos EUA pode acelerar a fragmentação da ordem global atual, privilegiando agendas bilaterais e regionais em detrimento de fóruns globais mais amplos, como o próprio G20."

Já Vieira ponderou que a Aliança contra a Fome e a Pobreza deve sobreviver "mesmo a solavancos que virão a ser provocados por Donald Trump na política internacional".

"Embora os três eixos apresentados pelo país – desigualdade, fome e meio ambiente – sejam pouco controversos, o maior mérito foi a capacidade de neutralizar o contraditório", destacou Lemos.

A aprovação unânime da declaração final deve ser interpretada com cautela, acrescentou ele, devido ao histórico de cúpulas anteriores cujos acordos multilaterais ainda enfrentam barreiras significativas, devido a divergências de interesse e limitações de recursos.

Bastidores do G20

Enquanto os documentos finais da Cúpula costumam ser genéricos e vagos, os encontros bilaterais geralmente produzem resultados práticos, sinalizaram os analistas.

"A inauguração do megaporto chinês no Peru e a visita de Xi Jinping [presidente da China] a Brasília, por exemplo, ilustram o fortalecimento da presença da China na América do Sul. Outro ponto de destaque foi a liberação dos EUA para que a Ucrânia utilize mísseis de longo alcance contra a Rússia, evidenciando como as grandes potências aproveitam a visibilidade de encontros como o G20 para projetar mensagens geopolíticas estratégicas", disse Lemos.

Dentre os acordos bilaterais, Vieira destacou o memorando assinado entre Brasil e Argentina para ampliar a importação de gás natural do gasoduto de Vaca Muerta.

"Realmente, o G20 acaba servindo de oportunidade para reforçar esse relacionamento bilateral. Mas o interesse é justamente talvez por conta desse relacionamento bilateral, material, econômico, que os países-membros do grupo continuam a fazer interações entre si."

Os pesquisadores ouvidos pela Sputnik Brasil avaliaram que é, sim, possível tornar o G20 um espaço mais multipolar que contribua para instâncias mais democráticas e mais participativas dos atores no sistema internacional, no médio e longo prazo.

"Na falta de algo melhor", comentou Vieira, o G20 é a plataforma possível para fortalecer o multilateralismo.

"O G20 é um multilateralismo possível, com algum grau de flexibilidade reunindo as principais economias do mundo, em uma complementação aos mecanismos que estão obsoletos, como a própria ONU, Banco Mundial e a FMI", opinou ele.

Abreu defendeu que o diálogo e a diplomacia nesses espaços são fundamentais para diminuir o acirramento das disputas entre as grandes potências, principalmente pela disputa do petróleo, no processo atual que chamou de transição hegemônica.

"Quando a gente vai observar as guerras no Oriente Médio, elas têm esse viés de disputa por influência política regional, justamente para facilitar a concessão de petróleo. E essa é a tendência nos próximos anos, que se acirre a disputa por esse recurso energético não renovável entre as grandes potências em muitas regiões do mundo."

 

¨      Lula afirma que investimento com guerras é mil vezes maior do que com saúde, em evento com a OMS

Países ricos gastam mil vezes mais para destruir do que para curar e prevenir, lamentou nesta terça-feira (19) presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento com o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, e a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, no encerramento da Cúpula do G20, no Rio de Janeiro.

De acordo com Lula enquanto o orçamento anual da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de cerca de US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 12 bilhões) por ano, o investimento global em conflitos armados é de US$ 2,4 trilhões (cerca de R$ 13,85 trilhões).

"Para destruir vidas e para destruir a infraestrutura que levou anos para ser construída por pessoas, os países ricos investem muito mais do que para salvar vidas. Essa é a contradição do mundo em que vivemos hoje. É por isso que trouxemos o tema da desigualdade, do combate à fome e à pobreza para o G20", disse Lula.

Esta foi a última agenda oficial de Lula no G20. Ao lembrar de sua infância pobre e dificuldades de acesso à saúde no sertão pernambucano, Lula refletiu que combater a pobreza não é prioridade na agenda dos governantes mundiais, porque eles nunca experimentaram fome e pobreza:

"Isso não está no dia a dia deles, então é secundário. Na mesa deles não se senta ninguém para colocar esses problemas [...] Esse debate sobre a saúde no G20 é um caminho extremamente importante para investir em doenças que não deveriam mais existir".

Lula lembrou que em países ricos sobrou vacinas da Covid-19, enquanto em países no continente africano, pessoas morreram por não terem tido acesso à vacinação. "O problema não é falta de dinheiro", afirmou ele.

Na ocasião, o dirigente da OMS informou os resultados da Rodada de Investimentos da OMS que visa arrecadar US$ 7,1 bilhões para os próximos quatro anos, adicional ao orçamento projetado por outras fontes de receita (cerca de US$ 2,5 bilhões).

Ele celebrou o fato de que nações e entidades "prometeram" nessa cúpula aporte financeiro de um total de US$ 1,7 bilhão (R$ 9,81 bilhões).

A ministra da Saúde lembrou que o apoio à Rodada de Investimentos da OMS está na declaração final de líderes do G20 e afirmou que o incentivo foi uma das prioridades do Brasil na cúpula, assim como a reforma da governança global para favorecer a equidade e a justiça entre os países, fortalecendo organismos multilaterais, como a OMS e a saúde no planeta.

 

¨      Presidente Lula tem encontros bilaterais com líderes de Reino Unido, Japão e Índia à margem do G20

Cúpula dos chefes de Estado do G20 terminou nesta terça-feira (19) no Rio de Janeiro, data em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também participou de diversas reuniões bilaterais.

A primeira agenda à margem do G20 do presidente Lula foi com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, quando também participaram os ministros brasileiros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Fernando Haddad (Fazenda) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia). A Índia foi um dos países que aderiu à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa inédita viabilizada durante a presidência brasileira do grupo.

Na ocasião, Lula e Modi conversaram sobre temas como cooperação no setor de biocombustíveis, defesa e aeroespacial. Já o primeiro-ministro indiano elogiou o Brasil pelo trabalho realizado ao longo do ano no grupo e os avanços conquistados.

"O presidente Lula falou do seu desejo de, em 2025, fazer uma visita à Índia, com uma comitiva do governo, da comunidade científica e de empresários para ampliar as relações entre os dois países em setores como energia e fármacos, e também o intercâmbio de universidades e a transferência de tecnologia. O primeiro-ministro Modi disse que a Índia terá um grande prazer em receber a visita do presidente Lula e de sua comitiva no ano que vem, e que vai trabalhar para também fazer uma visita de Estado ao Brasil em 2025", informou em nota o Palácio do Planalto.

Encontro com primeiro-ministro do Japão

Na sequência, o presidente Lula recebeu o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, que assumiu o cargo no país em outubro deste ano. Os líderes marcaram uma visita de Estado de Lula ao Japão em março do próximo ano. "Participaram da reunião, do lado brasileiro, os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Carlos Fávaro (Agricultura), além do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Márcio Elias Rosa", acrescentou o Planalto.

Lula e Ishiba discutiram sobre carros híbridos e movidos a hidrogênio, além da cooperação entre os dois países na área de agricultura e indústria e financiamentos para o setor agrícola do país.

No segundo encontro com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, Lula também recebeu o líder britânico quando discutiram a integração entre os dois países e novas oportunidades de investimentos em várias áreas.

"Lula e Keir Starmer conversaram sobre a COP29 e a COP30 e sobre as metas dos dois países em relação à redução de carbono. A ministra Marina Silva cumprimentou o Reino Unido pelas metas ambiciosas na redução de emissões de carbono. O primeiro-ministro também falou sobre iniciativas legislativas britânicas para melhorar direitos trabalhistas no Reino Unido", informou o Planalto.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Se a moda pega! Ruanda vai taxar igrejas e acusa pastores de enganarem fiéis

Proliferação de igrejas neopentecostais no país africano levou governo de Paul Kagame a acusar pastores de "espremerem dinheiro" de ruandeses mais pobres. Milhares de templos foram fechados e críticos denunciam repressão.

Todos os domingos em Kigali, a capital de Ruanda, pequena nação da África central, cristãos elegantemente vestidos vão às igrejas para assistir aos cultos, nos quais cantam, oram, ouvem sermões e fazem ofertas, principalmente em dinheiro.

A quantia arrecadada com essas ofertas costuma ser usada para pagar as despesas de funcionamento da igreja e os salários dos que para ela trabalham. Em Ruanda, igrejas não pagam impostos.

Porém, se os planos do governo forem aprovados, elas poderão ser obrigadas a pagarem impostos sobre as ofertas em dinheiro dos fiéis. O projeto de lei para isso já teria sido concluído pela agência encarregada de regulamentar as organizações religiosas, o Conselho de Governança de Ruanda (RBG), informou a imprensa local.

Segundo o censo de 2022 de Ruanda, mais de 90% da população do país se identifica como cristã. Entretanto, a proliferação de igrejas neopentecostais, que muitos críticos acusam de visar os pobres com a pregação da teologia da prosperidade, tem levado o governo do presidente Paul Kagame, que governa Ruanda com mão de ferro desde 1994, a agir contra as igrejas.

<><> Regular em vez de taxar?

A ativista e advogada Marie Louise Uwimana disse ser contra a taxação das ofertas e do dízimo, argumentando que esse dinheiro é usado para pagar as despesas da igreja, assim como obreiros e pastores. "Em vez de tributar as igrejas, o governo deveria criar regulamentações e leis para colocar esse setor na linha e evitar que alguns líderes religiosos possam extorquir fiéis inocentes e desavisados", afirma.

O RBG fechou quase 8 mil igrejas e mesquitas após um processo de avaliação, sob o argumento de que muitas não cumpriam os padrões de infraestrutura, como protocolos de segurança, e outras estariam operando ilegalmente.

<><> As igrejas estão lucrando com seus seguidores?

"Eles vão começar a taxar as igrejas, que não têm fins lucrativos, mas querem taxá-las porque acham que elas estão lucrando às custas das pessoas", comenta o jornalista político Ivan Mugisha. "Então o governo agora está tentando cobrar impostos de pessoas que exploram pessoas? Isso meio que não faz sentido."

Para Mugisha, a repressão às igrejas é mais uma medida autoritária do presidente Kagame. Segundo o jornalista, muitos líderes religiosos estão insatisfeitos com a decisão. "Alguns deles que expressaram sua opinião foram mandados se calar. Então, isso está acontecendo porque todos se calaram, porque você sabe que, se disser algo, sua igreja estará em apuros."

<><> Os motivos de Kagame

Kagame há muito tenta regulamentar as igrejas, acusando alguns pastores de "espremerem" fiéis pobres "até o último centavo". "Para dizer a verdade, essas igrejas que aparecem por todo lado existem apenas para espremer até o último centavo de ruandeses pobres, enquanto os donos delas enriquecem", disse Kagame.

Então a ação do governo de Ruanda contra as igrejas é justificada? "De certa forma, o governo ultrapassou uma fronteira quando se trata de liberdade de culto e expressão", diz Mugisha. "Mas sempre há uma justificativa para tudo, por exemplo [o governo] diz que as igrejas estão controlando e confundindo pessoas."

O governo de Ruanda também quer que os líderes religiosos obtenham pelo menos um diploma de bacharel antes de serem autorizados a subir ao púlpito.

<><> Vai funcionar?

"A ideia de tributar as igrejas não funcionará", comenta o estudante universitário Charles Kamanzi. "O governo pretende coibir a extorsão por esses líderes de igrejas e igrejas que estão recebendo muito dinheiro dessas pessoas. A ideia pode ser boa, mas como ela será implementada?", questiona.

Ele argumentou que outras igrejas, como a Católica, a protestante e demais igrejas tradicionais, têm escolas, hospitais e outras instituições de interesse público que administram. "Elas também serão tributadas? Acho que não. Isso torna a tributação desigual. Então quem será tributado? É muito difícil de entender", disse o jovem de 24 anos, acrescentando que a ideia de taxar mostra o fracasso do governo em regulamentar as igrejas.

"Quando as pessoas se unem a grupos religiosos, não se trata apenas de manipulação, mas de sua fé", diz Mugisha, enfatizando que atacar a fé das pessoas "significa restringir uma liberdade muito especial que elas têm".

 

•                                    Ruanda busca reconciliação 30 anos após genocídio

Ruanda lembra os 30 anos do genocídio que chocou o mundo. Mais de 1 milhão de pessoas – a maioria da minoria étnica tutsi, mas também moderados hutus que tentaram proteger os tutsis – foram sistematicamente assassinadas por extremistas hutus durante um massacre que durou 100 dias.

"Nunca esqueceremos das vítimas desse genocídio", disse o chefe da ONU, António Guterres, em comunicado. "Tampouco esqueceremos da bravura e da resiliência daqueles que sobreviveram".

O tutsi Freddy Mutanguha é um dos sobreviventes. Ele tinha 18 anos na época do genocídio e estava de férias escolares em sua aldeia Mushubati, na cidade de Kibuye, a 135 quilômetros da capital de Ruanda, Kigali.

Extremistas hutus estavam caçando jovens suspeitos de se simpatizarem com a Frente Partidária de Ruanda (RFP), um grupo rebelde de maioria tutsi liderado por Paul Kagame, que viria a se tornar o presidente de Ruanda.

Temendo o pior para o filho, a mãe de Freddy o aconselhou a se esconder na casa da família de um amigo hutu. Enquanto Freddy estava seguro, sua família subornou um grupo de extremistas hutus com dinheiro e álcool para se manter viva.

Porém, em 14 de abril, a família ficou sem dinheiro e os extremistas assassinaram brutalmente os pais de Freddy e quatro de suas irmãs. Apenas sua irmã Rosette conseguiu escapar. "Eu podia ouvir os gritos de minhas irmãs enquanto eram mortas brutalmente", conta Freddy à DW. "Elas imploraram aos agressores que poupassem suas vidas, prometendo que nunca mais seriam tutsis, mas foi em vão."

"Eles jogaram minhas irmãs em um poço próximo, algumas ainda estavam vivas, e acabaram de matá-las atirando pedras. Meus pais foram mortos a facadas."

Freddy permaneceu escondido, pois os assassinos continuaram a procurá-lo. "Seria suicídio se eu saísse do meu esconderijo", relata, acrescentando que suas irmãs mais novas tinham apenas 4, 6, 11 e 13 anos quando foram mortas.

Além de perder seus pais e quatro irmãs, mais de 80 pessoas da família de Freddy foram assassinadas no genocídio.

Alguns dos assassinos que mataram os parentes de Freddy foram libertados em um acordo que permitiu que os criminosos cumprissem metade de suas sentenças em troca de informações vitais para os promotores sobre os suspeitos e o local onde as vítimas foram abandonadas. Os líderes dos massacres permanecem na prisão.

Freddy, que atuou como ex-vice-presidente do IBUKA, um grupo de sobreviventes do genocídio de Ruanda, é agora diretor do Memorial do Genocídio de Kigali, onde estão enterradas cerca de 250 mil vítimas deste período.

<><> ura emocional: um processo difícil para os sobreviventes

Apesar dos esforços de Ruanda para promover a reconciliação entre os sobreviventes e os autores do massacre, a jornada para a cura emocional tem sido um caminho tortuoso para sobreviventes como Freddy e sua irmã Rosette.

"Os agressores não costumam contar toda a verdade, o que é um retrocesso nos esforços de reconciliação, além de ser perturbador para os sobreviventes", afirma Freddy, acrescentando que um dos assassinos de sua família ocultou muitas informações. "Ele foi libertado depois de cumprir 15 dos 25 anos a que foi condenado apenas pelas poucas informações que compartilhou com os promotores", lamenta. "Temos que conviver com isso, afinal nossos entes queridos nunca mais voltarão."

No entanto, Freddy reconhece que Ruanda fez um progresso significativo na reconciliação. Essa constatação é também compartilhada por Phil Clark, professor de política internacional na Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) de Londres, que pesquisa os acontecimentos em Ruanda nos últimos 20 anos.

"Ruanda fez enormes progressos em termos de reconciliação pós-genocídio, se considerarmos que milhares de agressores condenados voltaram a viver atualmente nas mesmas comunidades onde cometeram os crimes, lado a lado com sobreviventes do genocídio", afirma Clark. "A maioria dessas comunidades é pacífica, estável e produtiva, e o progresso que Ruanda fez é evidente".

"Muitos analistas previram que Ruanda passaria por novos ciclos de violência pós-genocídio, como é o caso da maioria dos países vizinhos", acrescenta o especialista.

<><> Redes sociais dificultam a reconciliação

Os sobreviventes tiveram de superar mágoas e trabalhar junto com os agressores, relata Freddy. No entanto, a diáspora continua sendo o principal obstáculo para a unidade dos ruandeses.

"Aqueles que moram em outros países são notórios por espalharem informações polarizadoras nas redes sociais e para suas famílias, o que dificulta os esforços de reconciliação, especialmente entre os jovens que sabem pouco sobre o que aconteceu há 30 anos", observa Freddy.

Clark também concorda que o maior desafio para a reconciliação agora está na diáspora ruandesa, que não participou dos importantes processos de reconciliação em sua terra natal. "As dinâmicas interétnicas mais destrutivas ocorrem atualmente entre ruandeses que vivem na América do Norte, Europa Ocidental e outras partes da África", diz. "A próxima fase crucial da reconciliação precisa acontecer nessas comunidades fora de Ruanda."

<><> Repatriação dos refugiados de Ruanda

Victoire Ingabire, a crítica mais proeminente do presidente Paul Kagame, diz que a reconciliação ainda é um sonho distante e que, para alcançá-la, todos os refugiados ruandeses ao redor do mundo precisam ser repatriados.

"Ainda há muitos refugiados ruandeses, especialmente nos países vizinhos, que devem ser repatriados para que uma reconciliação genuína aconteça", disse Ingabire em uma mensagem de Ano Novo. "Vivemos em paz, mas a reconciliação ainda é distante e há uma profunda desconfiança entre os ruandeses".

"O governo de Ruanda também está preocupado com os refugiados dos países vizinhos que decidiram pegar em armas e lutar contra ele. Esse problema nunca terá fim a menos que nós, que estamos dentro do país, nos unamos e nos reconciliemos primeiro", concluiu Ingabire, que se referia aos rebeldes das Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), um grupo rebelde de etnia hutu.

Há muito tempo, Kagame considera as FDLR uma ameaça existencial à nação. O grupo é classificado como uma organização terrorista pelos Estados Unidos. A existência contínua da FDLR, que supostamente está sendo tolerada pelo governo do país vizinho, Congo, levou a acusações de que a Ruanda apoia grupos rebeldes adversários, como o movimento M23. O governo do país nega essas acusações.

O recente aumento dos combates criou sérias tensões entre Kigali e Kinshasa – incluindo ameaças de guerra por parte do presidente congolês, Felix Tshisekedi –  o que sugere que as lacunas no processo de reconciliação representam uma séria ameaça à segurança de toda a região, mesmo 30 anos após o genocídio.

<><> Reconstruindo vidas, restaurando a esperança

Houve uma infinidade de esforços – por parte do governo, da sociedade civil e dos cidadãos comuns – para superar o genocídio, mas nem todos fizeram as mudanças necessárias para uma reaproximação.

Clubes de diálogo semanais e associações comunitárias, onde a população discute conflitos passados e presentes, têm sido essenciais para ajudar os ruandeses a se curarem e avançarem de forma positiva.

A situação é muito mais positiva hoje do que há cinco ou dez anos, de acordo com Clark, que acrescenta: "mas a maioria dos ruandeses com quem falo diz que ainda há um longo caminho a percorrer".

Freddy indica que é importante que o genocídio de Ruanda seja lembrado em todo o mundo. "Recordar o que aconteceu em Ruanda há 30 anos não deve ser algo apenas para os tutsis que sobreviveram ao genocídio, mas também deve servir para que o mundo inteiro aprenda sobre esse crime contra a humanidade", conclui Freddy.

 

Fonte: DW Brasil

 

Estudo revela: ser mais ativo pode aumentar expectativa de vida em 5 anos

Em um mundo agitado, a tarefa de incluir mais movimento em sua vida diária frequentemente é deixada de lado.

Mas há um motivo para repensar suas prioridades — se tornar tão ativo quanto os 25% mais ativos da população dos EUA poderia prolongar sua vida em pelo menos cinco anos, de acordo com um novo estudo publicado na quinta-feira (14) no British Journal of Sports Medicine.

“Fiquei surpreso ao descobrir que a perda de anos de vida nos EUA devido a baixos níveis de atividade física pode rivalizar com as perdas devido ao tabagismo e à pressão alta“, disse o autor sênior do estudo, Dr. Lennert Veerman, professor de saúde pública na Escola de Medicina e Odontologia da Universidade Griffith na Austrália, por e-mail.

Muitos estudos examinaram as conexões entre atividade física e longevidade. Na verdade, a pesquisa de Veerman foi inspirada por um estudo de 2019 que descobriu que o risco de morte prematura diminuía quanto mais atividade física os participantes faziam, disse ele. Os níveis de atividade naquele estudo foram medidos com acelerômetros — dispositivos vestíveis de monitoramento de atividades.

O estudo de 2019, junto com outros, já havia mostrado que, quando medida com acelerometria, a relação entre atividade física e morte precoce é cerca de duas vezes mais forte em comparação com níveis medidos por pesquisas ou questionários, disse Veerman.

“Eu me perguntei como isso se traduziria em expectativa de vida e quanto tempo extra de vida uma única hora de caminhada poderia trazer”, acrescentou Veerman.

Para descobrir, os autores do último estudo usaram dados de atividade física capturados por acelerômetros de quadril usados — por pelo menos 10 horas em quatro ou mais dias — por adultos com 40 anos ou mais quando participaram da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição de 2003 a 2006.

As descobertas são baseadas nessa faixa etária porque as taxas de mortalidade dependentes de atividade são estáveis até os 40 anos; depois disso, elas variam. E a razão para usar dados antigos de atividade é a consistência metodológica com o estudo de 2019, disseram os autores.

A equipe então construiu uma tábua de vida — uma forma de mostrar as probabilidades de populações viverem até, ou morrerem até certa idade. Esta tábua de vida foi baseada nos dados de mortalidade do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde de 2017, que os autores assumiram estar relacionados aos níveis de atividade de 2003-2006.

Com base nessas informações, os autores projetaram quantas pessoas da população dos EUA de 2019 sobreviveriam nos próximos anos dependendo dos níveis de atividade, e quanto tempo extra de vida elas poderiam ganhar aumentando esses níveis.

Eles descobriram que ser tão ativo quanto o quartil menos ativo da população levaria a uma perda de 5,8 anos na expectativa de vida para homens e mulheres, reduzindo a expectativa ao nascer de cerca de 78 para cerca de 73 anos. E se todos os americanos com mais de 40 anos fossem tão ativos quanto o quartil superior, a expectativa de vida seria de 83,7 anos, um aumento de 5,3 anos.

Os níveis totais de atividade no quartil mais baixo eram equivalentes a caminhar por 49 minutos a aproximadamente 4,8 quilômetros por hora diariamente. Os níveis totais de atividade no segundo, terceiro e quarto quartis mais altos eram equivalentes a 78, 105 e 160 minutos, respectivamente.

A equipe também investigou quais poderiam ser os benefícios potenciais em nível individual, em vez de populacional — descobrindo que se aqueles que são menos ativos conseguissem mais 111 minutos de atividade por dia, poderiam prolongar sua vida em até 11 anos.

As descobertas “sugerem algo que já sabíamos, que é que a atividade física é bastante crítica para melhorar os resultados de saúde (e) melhorar a longevidade”, disse o Dr. Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar no National Jewish Health em Denver, que não esteve envolvido no estudo. (Freeman também é consultor médico do WeWard, um aplicativo de monitoramento de atividades que incentiva os usuários a se moverem permitindo que acumulem pontos que podem ser resgatados por prêmios ou doações para caridade. Ele não recebeu nenhuma compensação financeira.)

<><> Projetando os benefícios de mais movimento

O método de modelagem dos autores é forte, mas tem suas limitações, já que depende de dados existentes e fornece estimativas que são amplamente teóricas, disse o Dr. Peter Katzmarzyk, diretor executivo associado de ciências populacionais e saúde pública do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington da Universidade Estadual da Louisiana, via e-mail. Katzmarzyk não participou do estudo.

Os autores reconheceram que existem evidências de que a adesão às diretrizes de atividade física nos Estados Unidos melhorou desde meados dos anos 2000, o que significa que suas projeções sobre expectativa de vida podem estar superestimadas. Os níveis de atividade dos participantes no estudo de 2003-2006 também foram medidos em apenas um momento, o que não pode considerar mudanças ao longo de suas vidas.

Mas pesquisadores já sugeriram exatamente como o movimento poderia estar ligado à longevidade.

“A inatividade física está associada ao desenvolvimento de várias doenças, incluindo doenças cardíacas, derrame, diabetes e vários tipos de câncer”, disse Katzmarzyk. “Ser fisicamente ativo reduz seu risco de desenvolver essas condições e morrer delas.”

<><> Aproveitando as oportunidades para se mover

Se a ideia de se tornar mais ativo parece assustadora, saiba que os níveis de atividade dos participantes no estudo de 2003-2006 não eram todos de exercícios. Eles usaram rastreadores nos quadris por pelo menos 10 horas acordados durante vários dias, o que significa que os dispositivos capturaram movimentos necessários para a vida cotidiana também.

Encontre mais momentos para se movimentar durante o dia. Enquanto sua comida está esquentando, faça alguns agachamentos ou dê uma volta ao redor do seu prédio de trabalho em vez de rolar as redes sociais. Quando estiver fazendo compras, estacione o mais longe possível das lojas. Vai tomar café com um amigo? Coloque o papo em dia durante uma caminhada no parque em vez de sentar na cafeteria. Mesas para trabalhar em pé ou esteiras para mesa podem ser ótimas para ter no trabalho, disse Freeman.

Adultos precisam de pelo menos 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada ou 75 a 150 minutos de exercício aeróbico vigoroso por semana, segundo a Organização Mundial da Saúde. Cada movimento conta, disse Veerman, então não se desanime se você não atingir as diretrizes.

O estudo encontrou um efeito de retornos decrescentes, então exercitar-se por 23 horas por dia não significa que você viverá para sempre, disse Freeman. Existe sim algo como atividade em excesso.

Além disso, “os pontos dos autores sobre melhorar a infraestrutura para pedestres… são críticos”, disse Freeman, que acrescentou que pacientes retornando de viagens à Europa frequentemente lhe dizem que caminhavam 10.000 ou 20.000 passos diariamente.

“Precisamos descobrir como fazer isso aqui nos Estados Unidos”, disse ele, “porque nossos gastos com saúde são completamente insustentáveis.”

Reduzir a dependência de carros requer ação coletiva e planejamento de longo prazo, mas todos podem defender essa mudança, e algumas pessoas já estão posicionadas para ajudar a torná-la realidade, disse Veerman.

 

•                                    Adeus, sedentarismo: 5 truques para ser mais ativo durante o dia a dia

Os benefícios dos exercícios físicos para a saúde já são comprovados pela ciência  e reconhecidos pela humanidade. Apesar disso, abandonar o sedentarismo é um dos maiores desafios da sociedade atualmente.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), um terço da população mundial adulta é fisicamente inativa. No Brasil, dados do IBGE indicam que 47% dos brasileiros adultos e 84% dos jovens são sedentários.

Esse cenário contribui para a ocorrência de doenças como a obesidade, diabetes, hipertensão, entre outros, o que reduz a qualidade e a expectativa de vida. Além disso, por afetar uma grande parcela da população, este é um problema de saúde pública.Compre vitaminas e suplementos

<><> Como abandonar o sedentarismo

A solução é incluir mais atividades físicas no dia a dia de forma natural, reforça o personal trainer e educador físico Tauan Gomes. "Para escapar do sedentarismo, é importante incluir atividades físicas de forma natural no dia a dia. Mesmo com rotinas corridas, encontrar tempo para manter o corpo ativo é fundamental para a saúde", afirma.

>>>> 5 dicas para ser mais ativo no dia a dia

Tauan dá algumas dicas que podem ajudar a abandonar o sedentarismo e adotar uma rotina mais ativa e saudável. Confira:

<><> 1 - Incorpore atividade física na rotina

"Aqui não estamos falando de esportes, de corrida, de dança, etc., e sim de pequenas movimentações que muitas vezes trocamos em prol da comodidade. Por exemplo, subir escadas em lugar de uso o elevador, ir a pé para locais próximos ao invés de usar o carro, passer você mesmo com seu cachorro, etc.", explica.Veja desporto em direto online

<><> 2 - Buscar algo que goste

"Muitas vezes não é a atividade física em si que te desmotiva e sim a específica que escolheu, existem infinitas possibilidades, basta escolher a que tem mais afinidade como futebol, dança, corrida, ciclismo, artes marciais, musculação, entre outras", diz o educador físico.

<><> 3 - Crie o hábito

"Nossa vida é movida a hábitos, então transforme o exercício físico em um hábito também, defina um horário, evite fugir dele, escolha durações realistas para não desmotivar com o tempo. No longo prazo a atividade física vai se tornar totalmente natural para você", destaca o profissional.

Nesse sentido, a técnica dos 21 dias pode ajudar. A metodologia, que surgiu a partir de estudos do cirurgião plástico Maxwell Maltz, na década de 60, diz que é necessário 21 dias para criar um hábito. Isso porque a persistência em determinada tarefa por este período o tornaria natural, incorporando mais facilmente à rotina.

<><> 4 - Metas de passos

"Uma das atividades físicas mais simples e rotineiras que se pode fazer é caminhar, ela pode ser incorporada com muita facilidade no seu dia a dia. Por isso, vale a pena definir uma meta de passos diária ou pelo menos medi-los para ter real noção do seu sedentarismo, existem até mesmo aplicativos de celular que ajudam com isso", informa Tauan.

<><> 5 - Foque em atividades em grupo

"O ser humano é sociável, por isso transformar o exercício em uma atividade social ajuda a torná-la mais prazerosa. Convide amigos para praticar um novo esporte ou faça amigos por lá. Foque em atividades que precisem de grupos", indica o personal trainer.

 

Fonte: CNN Brasil/Saúde em Dia