Votos
branco e nulo beneficiam algum candidato?
Chegou
o dia das eleições e você não gosta de nenhum candidato, então decide votar em
branco ou anular o voto. Mas o que acontece com estes votos?
Eles
são "descartados" e não entram na contagem dos votos válidos, que são
aqueles usados para definir o vencedor da eleição.
O
voto em branco ocorre quando o eleitor aperta a tecla BRANCO na urna, enquanto
o voto nulo acontece ao digitar um número inválido ou cometer algum erro, como
preencher e confirmar um número incorreto.
E
qual o impacto dos votos nulos ou brancos?
Eles
reduzem o número total de votos válidos, fazendo com que o candidato precise de
menos votos para vencer.
Para
ganhar no primeiro turno, por exemplo, um candidato precisa de mais de 50% dos
votos válidos.
Se
muitos eleitores anularem ou votarem em branco, haverá menos votos válidos em
disputa, facilitando para um candidato atingir essa maioria.
Imagine
uma eleição com dez eleitores e três candidatos: o primeiro candidato recebe
cinco votos, o segundo três, e o terceiro dois. Nesse cenário, haveria segundo
turno.
Mas
se um dos eleitores do terceiro candidato votar nulo, o primeiro candidato
venceria no primeiro turno com os mesmos cinco votos, pois alcançaria a maioria
absoluta dos votos válidos (os outros candidatos teriam um total de quatro
votos).
E
se mais da metade dos eleitores votarem nulo ou em branco, o que acontece?
Neste
caso, a eleição não seria anulada, como algumas pessoas acreditam; apenas o
número de votos válidos seria menor.
Para
não haver confusão, vamos repassar o passo a passo desta eleição quando você
estiver diante da urna.
O
primeiro número a ser digitado é o do vereador, que possui cinco dígitos: os
dois primeiros representam o partido e os três últimos identificam o candidato.
O
segundo e último número a ser inserido é o do prefeito, que tem apenas dois
dígitos.
Votar
em branco ou anular o voto para um desses cargos não invalida o voto para os
demais.O segundo turno ocorre apenas em cidades com mais de 200 mil eleitores
(103, no total), conforme estabelece a Constituição Federal.
Se
houver um segundo turno, ele será realizado no dia 27 de outubro, apenas para o
cargo de prefeito.
• Por que
vereadores mais votados nem sempre são eleitos?
No
Brasil, os candidatos mais votados para cargos de vereador nas eleições
municipais e deputado nas legislativas nem sempre são eleitos. Além disso, seu
voto pode não ir diretamente para o candidato que você escolheu.
Mas
por que isso ocorre?
A
explicação está no sistema proporcional de votação, utilizado no Brasil nas
eleições para Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e na Câmara dos
Deputados.
Diferentemente
das eleições para prefeituras, governos estaduais, Senado e Presidência da
República, onde se aplica o sistema majoritário — em que o candidato com mais
votos é eleito —, no sistema proporcional, a distribuição de cadeiras considera
o total de votos recebidos pelo partido ou coligação, e não apenas os votos
individuais de cada candidato.
Funciona
da seguinte maneira: o número de cadeiras que um partido conquista depende da
quantidade de votos que o partido como um todo obtém.
Portanto,
ao votar em um candidato, você está, na verdade, contribuindo para que o
partido ou coligação dele conquiste mais cadeiras, não apenas para a eleição do
candidato específico em que votou.
Por
exemplo, em uma cidade com 1.000 votos válidos (não inclui brancos ou nulos) e
9 vagas para vereadores, calcula-se o chamado "quociente eleitoral".
Esse
quociente é determinado dividindo o total de votos válidos pelo número de
cadeiras disponíveis. Nesse caso, 1.000 votos divididos por 9 cadeiras resultam
em aproximadamente 111 votos por cadeira.
Assim,
cada partido ou coligação precisa de pelo menos 111 votos para garantir uma
cadeira. Após a distribuição inicial das cadeiras com base nesse cálculo,
algumas vagas ainda podem sobrar.
Para
preenchê-las, aplica-se um novo cálculo, chamado de "sobras", que
permite que partidos que chegaram perto de alcançar o quociente eleitoral
também possam eleger representantes.
Por
isso, um candidato com poucos votos pode acabar sendo eleito se o partido dele
tiver muitos votos no total. É como o “efeito Tiririca”, onde um candidato
popular ajuda outros candidatos do mesmo partido a serem eleitos.
Francisco
Everaldo Oliveira Silva, mais conhecido como Tiririca, palhaço e ator, lançou
sua candidatura a deputado federal por São Paulo em 2010 e surpreendeu ao se
tornar o candidato mais votado daquele ano, conquistando 1.348.295 votos (6,35%
do total).
O
expressivo número de votos recebidos por Tiririca não só garantiu sua eleição,
mas também ajudou a eleger outros candidatos do seu partido que,
individualmente, não obtiveram uma votação expressiva. Esse efeito, em que o
excesso de votos de um candidato contribui para eleger outros membros da mesma
coligação, é uma característica marcante do sistema proporcional.
Quatro
anos depois, em 2014, Tiririca repetiu o sucesso, conquistando mais de 1 milhão
de votos (1.016.796). Novamente, essa votação beneficiou outros candidatos da
sua coligação, mostrando como um candidato popular pode influenciar o resultado
de toda uma chapa.
Esse
modelo de distribuição de cadeiras explica o porquê de, em 2020, mais de 40 mil
candidatos terem sido eleitos graças à força do partido, e não apenas à votação
direta. Um caso emblemático ocorreu no pequeno município de Pacujá, no Ceará,
com cerca de 6 mil habitantes.
Lá,
a vereadora Maria Edilma Silva, do PDT, foi eleita com a menor quantidade de
votos das eleições passadas - apenas 32.
Em
contraste, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, a candidata Alice
Carvalho (PSOL) que recebeu mais de 3 mil votos, sendo a mais votada, não
conseguiu se eleger.
Esse
contraste evidencia as particularidades do sistema proporcional, onde o
desempenho do partido pode ser mais determinante que o sucesso individual de um
candidato.
• Que
países usam voto eletrônico além do Brasil?
O
uso de urnas eletrônicas não é exclusivo do Brasil.
Pelo
menos 20 países adotam ou já utilizaram algum tipo de votação eletrônica, em
diferentes escalas.
O
Brasil, no entanto, implementou essa tecnologia de forma mais abrangente do que
muitos outros países.
No
domingo (6/10), por meio das urnas eletrônicas, os eleitores vão escolher
prefeitos e vereadores em mais de cinco mil cidades brasileiras.
Por
exemplo, a Índia e os Estados Unidos usam urnas digitais, mas apenas em partes
do território, porque nem todos os Estados americanos adotaram o voto
eletrônico.
Na
Europa, países como Bélgica e França também utilizam esse sistema, mas em menor
escala. Cada país, porém, adota um sistema diferente.
A
urna eletrônica brasileira foi totalmente desenvolvida no país e é produzida em
duas fábricas, localizadas em Ilhéus, na Bahia, e em Manaus, no Amazonas.
Embora
os chips sejam importados, eles são testados, programados e soldados à
placa-mãe da urna no Brasil, sob a supervisão do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
De
acordo com Julio Valente, secretário de Tecnologia da Informação do TSE,
afirmar que a urna eletrônica não é eficaz por não ser amplamente utilizada em
outros países é incorreto.
"Cada
país tem um sistema eleitoral que reflete sua cultura", explicou ele à BBC
News Brasil em uma entrevista em 2022.
O
uso da urna eletrônica no Brasil, que começou em 1996, foi impulsionado pela
alta incidência de fraudes com cédulas de papel.
Havia
práticas fraudulentas, como a manipulação de cédulas em branco para gerar
votos.
Alguns
países que anteriormente utilizaram a votação eletrônica, como a Noruega,
reverteram para as cédulas de papel.
Contudo,
no caso da Noruega, a votação não era realizada por urnas, mas pela internet.
A
decisão de voltar atrás ocorreu devido ao receio dos eleitores de que seus
votos se tornassem públicos.
Testes
de votação eletrônica foram feitos em eleições locais e nacionais na Noruega em
2011 e 2013, com o objetivo de incentivar a participação dos jovens, mas sem
sucesso.
Após
experimentar diferentes sistemas de votação eletrônica e realizar amplas
consultas à população, o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha decidiu,
em 2009, manter o sistema manual de registro e contagem de votos, devido à
falta de confiança do público nos sistemas eletrônicos testados.
Fonte:
BBC News Brasil
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