A
liberdade no capitalismo não é tudo o que parece ser
Oshawa
é uma pequena cidade canadense localizada às margens do Lago Ontario. Também
foi a cidade natal do falecido político de esquerda canadense Ed Broadbent, que
viria a tornar-se o presidente nacional do Novo Partido Democrata, o NPD.
Durante
a juventude de Broadbent, um dos maiores empregadores em Oshawa era uma
fabricante de vidros chamada Duplate. Quando as instalações da Duplate fecharam
na década de 1960, Broadbent ficou impactado. Em seu livro Seeking Social Democracy: Seven
Decades in the Fight for Equality (Em busca da
social-democracia: sete décadas na luta pela igualdade), Broadbent
rememora a maneira que o incidente influenciou seu pensamento sobre direitos
trabalhistas:
Lembro-me
que por volta de 300 trabalhadores foram diretamente afetados pela decisão da
gerência de realocar as instalações de Oshawa para outro lugar da província — e
quando você inclui as famílias deles e o impacto nas empresas vizinhas, o
número de pessoas de fato afetadas pelo fechamento sobe para um total de 1200
[…]. Temos aqui centenas de trabalhadores, alguns dos quais investiram entre 30
e 40 anos de suas vidas na Duplate, sendo atingidos por uma decisão que eles
não participaram de forma alguma — e uma empresa lucrativa que fez as malas e
partiu apenas para captar mais lucros […]. A dignidade humana deles foi
imediatamente negada.
É
esse tipo de história que faz muito de nós imediatamente concluirmos que o
capitalismo é um sistema profundamente injusto. O próprio Broadbent era um
político pragmático focado em delinear reformas progressivas no sistema tal
como está dado. Contudo, ainda que reformas mais imediatas como as que ele
propunha sejam boas e importantes, nosso horizonte de longo prazo não pode
deter-se aí.
O
capitalismo é um sistema no qual os meios de produção podem ser comprados e
vendidos por indivíduos privados e qualquer um que não possa arcar com a
abertura de um negócio próprio deve submeter-se à dominação daqueles que podem
a fim de garantir um modo de vida. Na maioria dos dias da semana, os
trabalhadores passam oito das 16 horas que ficam despertos em um ambiente de
trabalho que funciona como uma ditadura totalitária — e são apenas oito horas e
apenas a maioria dos dias da semana devido às vitórias conquistadas ao longo de
gerações de lutas trabalhistas.
A
comparação com as ditaduras totalitárias não deveriam sequer soar hiperbólicas.
Na verdade, capitalistas frequentemente regulam muito mais os aspectos íntimos
do comportamento dos trabalhadores — especialmente para trabalhadores
relativamente “não qualificados” sem muito poder de barganha — do que as leis
de uma típica ditadura totalitária. Empregadores costumam dizer aos seus
trabalhadores, por exemplo, quando eles devem sorrir, quando é permitido falar
entre si e quando eles podem ir ao banheiro.
Para
muitos libertários, nada disso constitui uma queixa legítima sobre o
capitalismo ou uma razão para querer violar os direitos de propriedade de
grandes capitalistas como Jeff Bezos — ao, por exemplo, nacionalizar seus
negócios e colocá-los sob o controle dos próprios trabalhadores, representantes
de uma comunidade mais ampla ou uma combinação dessas duas formas. Ao invés
disso, eles argumentam que o capitalismo já é, nos termos do filósofo Robert
Nozick, uma “caixilho de utopias”
Em
seu livro Anarquia, Estado e Utopia, Nozick argumenta que a
versão laissez-faire do capitalismo já representa o melhor
tipo de utopia — uma “meta-utopia”. Querer uma utopia socialista na qual o
trabalhores são proprietários dos locais de trabalho? Sem problemas, ele
afirma. As regras, mesmo de uma forma radicalmente desregulada de capitalismo,
permitem que você inicie uma. Em seu livro Por que não o Capitalismo?,
o filósofo libertário Jason Brennan resume o raciocínio de Nozick da seguinte
maneira:
Existe uma assimetria essencial nas visões capitalista e
socialista de utopia. O capitalismo permite o socialismo, mas socialistas
proíbem o capitalismo.
Libertários
como Nozick pensam que essa permissividade é o que torna o capitalismo a melhor
opção. Eles estão certos?
·
Um caixilho de utopias
Quando
Nozick expõe o seu argumento no último capítulo de Anarquia, Estado e
Utopia, ele começa com a premissa, extremamente razoável, de que “as
pessoas são diferentes”. Por esse motivo, nenhuma prescrição detalhada a
respeito de como as pessoas devemviver suas vidas, tanto individual quanto
coletivamente, proporcionará o melhor tipo de vida para todos.
Isso
é verdade. Pessoas diferentes apresentam uma gigantesca variedade de atitudes
diante da religião, da monogamia, do trabalho, do lazer e basicamente sobre
todo o resto. Nesse sentido, uma boa sociedade deveria permitir um extenso
pluralismo sobre o que as pessoas assumem que seja uma boa vida e como elas
querem realizá-la. Os socialistas democratas concordam com isso.
Nozick
também está certo quando comenta que alguns escritores utópicos, tais como St
Thomas Moore ou vários “socialistas utópicos” pré-marxistas, erraram ao pintar
quadros de uma vida futura onde esse almejado tipo de pluralismo está ausente.
Uma boa sociedade deve ter espaço tanto para residências unifamiliares
habitadas por grandes famílias católicas que acordam todos juntos para ir à
missa da madrugada quanto arranjos wicca polliamoristas.
Mas
o que exatamente podemos extrair disso a respeito dos lugares de trabalho e a
distribuição de recursos econômicos?
Em
uma seção curta de um dos capítulos de abertura (“O Controle dos
Trabalhadores”), Nozick afirma que para os socialistas cuja objeção ao
capitalismo envolva a obediência dos trabalhadores a chefes que não são estão
submetidos ao controle democrático, “o mais fácil para garantir aos
trabalhadores o acesso aos meios de produção” seria que os grupos de
trabalhadores simplesmente “comprassem as fábricas, alugassem instalações, e
assim por diante, da mesma forma que empreendedores privados o fazem”. Ele
sugere vários modos pelos quais o capital poderia ser assegurado, como, por
exemplo, convencendo os sindicatos a investirem os seus fundos de pensão.
Caso
esses empreendimentos sejam tão ou mais lucrativos do que as firmas
tradicionais, ele sugere, não seria um problema assegurar tais investimentos ou
mesmo os investimentos de agentes privados tradicionais. Caso fossem menos
lucrativos, talvez consumidores socialmente conscientes pudessem ser induzidos
a apoiá-los por razões políticas. E caso eles não apoiem, pensa Nozick, o
fracasso de um setor comandado por trabalhadores não pode ser classificado como
um sintoma de algum tipo de injustiça.
Insinuando
que isso não acontece porque os trabalhadores não desejam realmente o controle
democrático de seus ambientes de trabalho, Nozick devaneia que é “revelador
considerar porque os sindicatos não começam novos negócios e porque
trabalhadores não reúnem seus recursos com essa intenção”.
·
Cooperativas reais e problemas de ação
coletiva
Não
precisamos de nenhuma especulação a priori para nos dirigirmos
à questão das cooperativas de trabalhadores. Elas existem aos milhares em todo
o mundo e são objetos de extensas pesquisas. A Corporação Mondragon é um
exemplo. Ela foi fundada décadas antes de Nozick ter escrito essas linhas e hoje
é uma das maiores empresas do país Basco, na Espanha. Então, está muito
distante da verdade que nenhum grupo de trabalhadores teve essa
ideia.
Contudo,
o grão de verdade na especulação de Nozick é que, na concreta economia
capitalista existente, o setor de cooperativas de trabalhadores é microscópico.
Os oitenta mil trabalhadores-proprietários da Mondragon a tornam um gigante
imponente para os padrões que regem outras cooperativas de trabalhadores. Mesmo
assim, não é uma fração muito expressiva quando comparada com as dezenas de
milhões de espanhóis empregados em firmas capitalistas tradicionais.
Muitos
libertários tomam isso como evidência de que os trabalhadores simplesmente não
se importam sobre intervir nas decisões tomadas em seus lugares de trabalho. Se
o fizessem, haveria uma multidão abandonando seus empregos para instaurar novas
cooperativas ou juntar-se as que já funcionam. O economista libertário Gene
Epstein, por exemplo, tirou grande proveito desse argumento em uma série de
debates que fez com o editor da Jacobin, Bhaskar Sunkara, o economista
marxista Richard Wolff, eu.
Entretanto,
é um argumento esquisito de muitas maneiras. Para iniciantes, não é óbvio que o
caminho para estabelecer uma economia cooperativa deva envolver trabalhadores
cooperados sobrepujando empresas capitalistas. No lugar disso, mecanismos como
organizações sindicais no ambiente de trabalho e a construção de partidos
políticos socialistas, ao conquistar democraticamente poder político, podem
alcançar objetivos socialistas de um jeito muito mais eficiente. Essas são
estratégias bem mais perspicazes para alcançar fins socialistas do que tentar
suplantar os capitalistas.
Para
que essa ideia faça sentido, considere que é mais provável que haja um aumento
dos salários das ocupações de baixa renda caso seja conduzida uma proposta de
votação em seu estado para aumentar o salário mínimo do que exortando as
pessoas a comprarem apenas de empresas que pagam bons salários aos seus
trabalhadores de baixa remuneração, ainda que os eleitores e os consumidores
sejam as mesmas pessoas. A primeira estratégia frequentemente é bem sucedida,
mesmo em estados de maioria republicana. A última nunca deu certo nem nunca
dará.
Uma
das coisas que os libertários que promovem esses argumentos escolhem ignorar é
a existência de problemas de ação coletiva, especialmente no capitalismo.
Frequentemente há situações em que a Opção A beneficiaria todos em um grupo, se
todos escolhessem essa opção, mas que as dinâmicas da situação tornam
improvável que cada indivíduo faça essa escolha por conta própria. Nesse caso,
pode ser que a escolha mais interessante para cada membro individual do grupo
seja eleger a Opção B. Um exemplo clássico é o Dilema do Prisioneiro.
A
nossa vida econômica é governada por regras capitalistas que admitem que haja
concentração de poder individual. Consequentemente, qualquer indivíduo
cujo motivo para começar uma cooperativa seja simplesmente ter uma vida
melhor do que teria caso fosse um funcionário tem todos os motivos para ser
mais ambicioso e tentar tornar-se um empregador. A taxa de mortalidade infantil
para os negócios de todos os tipos é extremamente alta e começar um
empreendimento da semente — tanto faz se a posse é coletiva ou individual —
precisa de uma quantidade enorme de trabalho. Por que fazer isso fiado na
crença de que existe uma fagulha de esperança de, quem sabe,
ter uma melhor posição em uma cooperativa de trabalhadores ao invés da —
que talvez signifique uma centelha ainda menor, mas também muito mais sedutora
— perspectiva de uma vida flamejantemente melhor ao construir
um reino econômico em miniatura no qual você seja o rei?
Tais
problemas, em si, significam que os ideólogos socialistas estão muito mais
inclinados a se envolver na criação de cooperativas do que trabalhadores que
priorizam sobretudo os seus interesses individuais. Ainda assim, os ideólogos
socialistas são mais propensos a fazer um cálculo totalmente razoável: de que
ao invés de trabalhar 10 horas por dia para manter uma cafeteria cooperativa
local em funcionamento, o uso de seu tempo e energia teria mais impacto na
sociedade se eles o empregassem fazendo coisas como a organização de sindicatos
em grandes companhias ou realizando campanhas em prol de candidatos
socialistas.
Soma-se
a esses consideráveis obstáculos, no entanto, um problema de financiamento. Por
sua natureza, as cooperativas de trabalhadores tipicamente são fundadas por
grupos de pessoas com recursos relativamente limitados. Elas não conseguem
premiar investidores com participações acionárias contínuas sem, não importa
qual a extensão, perder o caráter de cooperativas de trabalhadores. Além disso,
é comum que os agentes de crédito que trabalham em bancos considerem grupos de
pessoas da classe trabalhadora como apostas arriscadas. Existem, de fato,
aqueles fundos de pensão sindicais que Nozick nos chama a atenção, mas é
preciso ter em conta o seguinte: ainda que eles não tivessem a responsabilidade
central de zelar por bons investimentos para a aposentadoria dos seus membros,
priorizando, no lugar disso, objetivos ideológicos, Nozick não seria tão tolo
ao ponto de pensar que os investimentos de fundos de pensões em cooperativas
seriam o suficiente para criar uma economia dominada por
cooperativas.
Mais
grave ainda, se você de alguma maneira tivesse uma economia na qual as empresas
controladas por trabalhadores dominassem (mas as regas básicas do capitalismo
de mercado não fossem alteradas), o resultado não seria automaticamente uma
forma estável de mercado socialista. Mesmo que você pedisse a um gênio mágico
que reestruturasse toda empresa existente para colocá-las sob posse coletiva e
controle democrático das suas forças de trabalho, sem realizar nenhuma mudança
na estrutura da economia, o resultado seria um arranjo no qual as forças de
mercado acabariam, uma hora ou outra, corrigindo o rumo de volta a algo
parecido com o velho capitalismo habitual.
Sejam
capitalistas ou de propriedade dos trabalhadores, empresas inevitavelmente
encerram suas atividades e as pessoas que nelas trabalharam precisam de novos
empregos. As cooperativas, ao desejarem expandir suas operações e aumentar a
renda de seus membros, têm o incentivo de contratar novos trabalhadores como
empregados regulares e não como cooperados, assim como pessoas que estão
desempregadas há um tempo são incentivadas a aceitar essa posição inferior.
Ademais, cooperativas inteiras poderiam se ver tentadas a reverterem-se ao
modelo empresarial capitalista regular, vendendo a posse de suas ações para
outras cooperativas ou indivíduos particularmente mais poderosos.
Isso
não significa que uma forma democrática de socialismo, no qual o controle dos
trabalhadores é a norma, não seja possível ou superior. Para concretizar a
visão do socialismo democrático, precisamos usar o estado para desmanchar o
capitalismo de mercado, no qual a propriedade dos meios de produção está à
venda pelo maior lance, e construir novas instituições socialistas em seu
lugar.
Muitos
socialistas têm escrito sobre que aparência isso teria. Sunkara, por exemplo,
desenvolve como tais instituições funcionariam no primeiro capítulo do seu
livro O Manifesto Socialista (“Um dia na vida de um cidadão
socialista”). O economista socialista Mike Beggs adentra em detalhes técnicos em um artigo que escreveu ano
passado para a Jacobin.
E nós três estamos trabalhando em um livro sobre isso (The Blueprint)
para a Verso.
·
O problema fundamental
Quando
as pessoas perguntam por que os socialistas, se eles querem tanto que os
trabalhadores tenham o controle, simplesmente não criam negócios que pertençam
a eles — como Epstein gosta de dizer em debates, em um tom de puro
escárnio, se é isso que você quer, “vai em frente” — estão, na
verdade, dizendo duas coisas. O argumento delas soa superficialmente plausível
justamente por causa dessa ambiguidade.
O
primeiro argumento é que se as pessoas realmente quisessem ambientes de
trabalho democráticos, elas já teriam conseguido há muito tempo, bastando ter
fundado cooperativas de trabalhadores e desbancado os capitalistas em seu
próprio jogo, no interior das regras do capitalismo de mercado regular.
Entretanto, isso não faz sentido. É como dizer que se os trabalhadores em um
estado que aprovou uma proposta de aumento de salário mínimo realmente quisessem
isso, eles o fariam por meio de uma deliberação enaltecida pelos libertários,
bastando que comprassem produtos apenas das empresas que pagam salários altos.
O
segundo argumento deles é que começar uma empresa de propriedade dos
trabalhadores dentro da moldura de concorrência capitalista e tentar superar o
capitalismo é o único método moralmente legítimo de conquistar
ambientes de trabalho democráticos. Mas por que deveríamos acreditar nisso?
Você
pode dizer que é moralmente errado porque as pessoas têm direito a qualquer
coisa em um livre mercado contanto que possam pagar por ela, mas como um
argumento contra o socialismo isso é falacioso. Ao que todos são moralmente
merecedores, os socialistas acreditam, é a uma parcela mais ou menos
igualitária dos recursos da sociedade e ter voz em decisões que impactam
profundamente suas vidas.
Se
você ainda não enxerga porque o argumento “por que você simplesmente não
desbanca os capitalistas no mercado capitalista” é estúpido, pense sobre
o motivo pelo qual os abolicionistas simplesmente não compraram todos os
escravos e os libertaram ou porque os republicanos no século dezoito
simplesmente não utilizaram toda sua energia para convencer o herdeiro do trono
a voluntariamente dar mais poder ao parlamento.
Parte
da resposta é que essas estratégias não teriam sido muito efetivas. Porém,
outra parte da resposta é que os primeiros republicanos modernos simplesmente
não queriam mais poder para os parlamentos. Eles colocavam em jogo o poder do
rei de governar. Os abolicionistas não queriam simplesmente que mais pessoas
fossem livres. Eles rejeitavam o direito de propriedade dos donos de escravos.
E os socialistas não querem que os trabalhadores tenham poder. Nós nos opomos
fundamentalmente à ideia de que os meios de produção devam estar à venda para
qualquer um que possa arcar com eles — com isso, fundamentalmente, o poder de
impactar a vida de muitas outras pessoas, como ocorreu com a decisão de retirar
a fábrica de Oshawa e que tanto perturbou o jovem Ed Broadbent.
Nozick
diz que, ao passo que é fácil visualizar como as fábricas controladas pelos
trabalhadores poderiam emergir no capitalismo, é mais complicado imaginar como
a “iniciativa privada” poderia ganhar algum espaço em um “sistema estatal” de
socialismo democrático. Mas não deveria ser difícil para ele
avistar algo assim. Deveria ser fácil. Bastaria convencer a maioria dos
eleitores a apoiar a privatização de uma ou duas fábricas. É revelador
questionar por que Nozick considerou essa perspectiva tão aterrorizante.
·
O socialismo é o verdadeiro caixilho de
utopias
Uma
vez mais, é absolutamente verdade que as pessoas são diferentes e que o melhor
tipo de vida para uma pessoa não é o mesmo para outra. Mas isso não significa
que precisamos privatizar grandes empresas apenas para satisfazer algumas
pessoas que possuem o fetiche sadista de receber ordens de oligarcas.
Ao
invés disso, em termos práticos, para criar uma sociedade com o maior
pluralismo possível, na maioria das dimensões possíveis, devemos atender as
necessidades materiais de todos, bem como dar a todos uma participação
significativa no que diz respeito ao que acontece nos seus ambientes de
trabalho e como os rendimentos são distribuídos. Isso alargaria, para todos, as
capacidades práticas de viver qualquer tipo de vida que se deseje.
Pode
até parecer bastante razoável dizer que as pessoas podem viver
em casas unifamiliares com cercas brancas e que levem seus 10 filhos à missa
toda manhã ou que elas podem viver em comunas poliamoristas.
Contudo, em uma sociedade que as pessoas estão sobrecarregadas de trabalho,
extremamente estressadas e mal conseguem pagar o aluguel de seus apartamentos
minúsculos — e na qual ter 10 filhos é uma possibilidade tão prática quanto
comprar uma fábrica para si —, o fato de que não estejam legalmente proibidas
de concretizar nenhuma dessas visões de uma boa vida não funciona muito bem
como um caixilho para utopias.Historicamente, tanto o libertarianismo quanto o
socialismo evoluíram do iluminismo libertário. A ideia que o pluralismo é
desejável e que é bom deixar as pessoas experimentarem qualquer forma de vida
que desejam está no DNA de ambas as filosofias. A diferença é os socialistas
serem realistas o suficiente para entender aquilo que qualquer estudante de
graduação em ciências sabe: que ter a permissão de executar um
experimento não vale coisa alguma se o seu laboratório não recebe
financiamento.
Fonte:
Por Ben Burgis, com tradução de Natanael Alencar, para Jacobin Brasil
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