Lisa Savage: Os fascistas venceram a Segunda Guerra Mundial
Esses tempos são tão confusos. A candidata
democrata nos EUA - que insistem que devo votar contra para parar o fascismo -
acabou de publicar um artigo de opinião no The Hill, co-escrito por
RFK Jr., alertando que devemos evitar a guerra nuclear. Admito que isso não
estava no meu radar para 2024.
Como escritora, fiquei
impressionada com a qualidade da escrita – certamente feita por um ou dois
assessores. Quando concorrem a um cargo, os candidatos podem empregar bons
redatores capazes de expressar grandes verdades de forma clara e elegante. Mas,
uma vez no cargo, os imperialistas belicistas precisam contratar mercenários da
escrita para tecer confabulações elaboradas que ocultem até pequenas porções de
verdade.
As armas nucleares
foram usadas pela primeira vez no Japão, supostamente para derrotar o fascismo
lá (mas, na verdade, para avisar a União Soviética comunista de que tínhamos
dois tipos diferentes prontinhos para serem usados contra eles). Em seguida, cientistas
de foguetes nazistas e especialistas japoneses em guerra biológica foram
levados para os Estados Unidos para fundar a NASA e trabalhar para o Pentágono.
Os julgamentos
teatrais de Nuremberg ajudaram a incentivar as Nações Unidas a declarar o
último projeto colonial europeu de assentamento, quando os sionistas receberam
a Palestina.
Lembro-me de algo que
uma amiga me contou que seu pai disse sobre lutar na Europa com os
guerrilheiros. Assim que aparentemente haviam derrotado o fascismo, ele disse,
os sionistas traíram a revolução socialista e, em vez disso, optaram pela
apropriação de terras que é Israel.
Armar o antissemitismo
confundiu muitas pessoas, porque os nazistas eram emblemáticos do
antissemitismo levado à sua Solução Final assassina. Gerações de judeus ao
redor do mundo ficaram confusas com slogans como "uma terra sem povo para
um povo sem terra."
Mas, à medida que a
resistência firme das gerações árabes palestinas negava a vitória aos
sionistas, a tecnologia trouxe reportagens em tempo real de cidadãos que
assistiam os seus entes queridos sendo despedaçados pelo exército israelense e
perseguidos por pogroms conduzidos por violentas milícias de colonos.
Vídeos de gangues
espancando palestinos solitários são extremamente reminiscentes das
representações da violência nazista contra os judeus na Europa, pelo menos para
esta velha estudante de história. Às vezes, as vítimas são judeus ortodoxos com
roupas tradicionais e peiot, porque eles também se opõem ao sionismo.
Os jovens judeus não
estão comprando essa ideia. É por isso que as forças policiais nos Estados
Unidos e na Europa estão espancando estudantes universitários que protestam
contra o genocídio em andamento na Palestina. Muitas vezes a convite de
autoridades universitárias. É também por isso que as universidades voltaram com
força neste outono com ataques à liberdade de expressão e reunião estudantil.
Não é o manual fascista?
Outros educadores
estão ocupados “parceirizando” com os lucros da guerra, que agora infestam
faculdades e até mesmo escolas secundárias e de ensino fundamental. Isso muitas
vezes é apresentado como iniciativas empolgantes de STEM [Science, Technology,
Engineerinfg and Mathematics / Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática]
que convidam os jovens a admirar sistemas de armas robóticas, "cães"
ou dispositivos de imagem térmica usados para localizar corpos humanos
aquecidos a serem assassinados.
O líder fascista da
Itália, Mussolini, achava que esse tipo de coisa deveria ser chamado de
“corporativismo”, isto é, o casamento dos interesses do Estado e dos negócios.
Os neoliberais nos EUA gostam de chamá-lo de “parceria público-privada.” Mas o
fascismo é muito mais direto e se encaixa muito melhor nas manchetes.
Controlar a informação
é um elemento-chave para o fascismo continuar a ter sucesso. Os produtos de
mídia social do Vale do Silício existem exatamente para esse fim, com contas
sendo desativadas no Twitter, Instagram e Facebook. Até o TikTok agora baniu contas
da RT e da Sputnik depois que os Estados Unidos orquestraram uma tomada se
quisessem operar no país. A UE está a bordo e, aparentemente, a ONU também.
Assim, concluo que,
embora possam ter fingido perder, os fascistas na verdade venceram a Segunda
Guerra Mundial. E mais significativamente, eles estão agora à beira de uma
Terceira Guerra Mundial que pode acabar com a vida, com armas nucleares por
todos os lados.
Nas palavras do grande
filme da Segunda Guerra Mundial Underground (Podzemlje): fodam-se
os fascistas de merda.
¨ As bases conservadoras da sociedade brasileira. Por Chico
Teixeira
A vitória de Lula, num
segundo turno difícil com uma diferença de apenas 1.8%, ocultou um dado
assustador: o eleitorado brasileiro tornou-se, desde 2014,
majoritariamente de direita. Nas eleições locais, onde o carisma
desempenha um papel menor, podemos ver claramente os "eixos" mentais
do novo conservadorismo brasileiro. Aí dominam a presença do
conservadorismo tradicional e "raiz" ( racismo, misoginia, homofobia,
antirracionalismo, etc) , as visões salvacionistas religiosas e o
empreendedorismo teológico ( incluindo o negacionismo científico, sanitário e
médico e a negação do aquecimento climático), a visão militarizada das questões
sociais ( desde a escola até a segurança pública, passando pelo negacionismo
histórico sobre a ditadura militar) e o "revival"
fascista-integralista , incluindo uma visão negacionista da violência
estrutural de nossa história. Grandes capitais, como São Paulo e Belo
Horizonte, se avizinha uma disputa intra-Direita ( tendo Bolsonaro como
"grande eleitor"), e no Rio de Janeiro o partido do governo renunciou
ao seu papel de educador de massas, transformando-se em arranjo eleitoral. Uma
pauta de Esquerdas - clima, escola laica e gratuita, serviços médicos
para todos, transporte público "público" humano e eficiente, a casa
própria, a segurança cidadã e desmilitarizada, replantio massivo de árvores e
formação de novas florestas urbanas, entre outros temas estão , na maioria das
vezes, esquecidos ou ausentes. Falta nestas eleições militância, mobilização e
pedagogia política. Estamos renunciando ao combate político e, assim, abrindo
os portões aos movimentos extremistas de direita.
¨ Votando além da pseudo-democracia. Por Robert C. Koehler
É possível expandir os
objetivos desta eleição além da pseudo-democracia bipartidária da nação?
Eu tenho que escrever
isso. Tenho que expressar solidariedade com todos os outros eleitores perdidos
e divididos por aí, que estão lutando com a questão do momento: Em quem eu devo
votar? A guerra genocida e em expansão de Israel — apoiada e fomentada por
ambos os candidatos mainstream, “legítimos” — destruiu a simplicidade abstrata
do processo de votação. Não temos escolha senão votar a favor do assassinato
contínuo?
Ou podemos votar a
partir da profundidade das nossas almas?
Entra o Partido Verde.
Entra Jill Stein (novamente). Ela é inequívoca em sua objeção à cumplicidade
dos EUA no massacre de Israel — em Gaza, na Cisjordânia, no Líbano. Aqui está o
que ela disse, por exemplo, em uma entrevista ao Middle East Eye.
Quando perguntada qual seria o seu plano — se eleita — para os primeiros cem
dias no cargo, ela disse:“Eu pego o telefone e a guerra genocida acaba. A Casa
Branca tem controle absoluto sobre Israel porque não há como Israel sobreviver
24 horas aqui sem o apoio dos EUA.”
Mais tarde, na
entrevista, ela observou: “Eu me oponho à guerra em Gaza como um símbolo do
império, que está em seus últimos dias, e precisamos fazer a transição para um
mundo multipolar, em vez de tentar ser o poder unipolar, único dominante ao
redor do mundo, para nós estarmos envolvidos em confrontos militares ao redor
do mundo, a fim de manter o poder único, quando já não somos mais a única
potência econômica.”
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Transcendendo o Deus da Guerra
Não-o-o! Um candidato
não pode falar assim! Sinto uma onda imediata de cinismo. Isso é idealismo, não
realidade política. Ainda não aprendeu isso? A política estadunidense não
trata-se de valores bonzinhos, como essa simples verdade no site do Partido
Verde:“Não há paz sem justiça. Precisamos de um cessar-fogo imediato, do
fim do massacre em Gaza e da libertação completa de tanto os reféns israelenses
mantidos pelo Hamas e quanto dos reféns palestinos mantidos em prisões
israelenses. Mas para garantir um cessar-fogo permanente e o fim da ocupação
ilegal de Israel na Palestina, devemos assumir a responsabilidade por esses
crimes de guerra.”
Stein e os Verdes
desafiam a realidade básica da política dos EUA, que consiste de clichês e
mentiras. Decisões geopolíticas reais — em obediência às entidades corporativas
controladoras — são tomadas a portas fechadas. O público estadunidense recebe
uma palmadinha verbal na cabeça, cujo objetivo é transcender todas as notícias
angustiantes. Assim, como Kamala Harris declarou repetidas vezes: “Sou
inequívoca e inabalável no meu compromisso com a defesa de Israel e a sua
capacidade de se defender.”
E então ela
acrescenta, para apaziguar todos aqueles irritados eleitores anti-genocídio:
“Muitos palestinos inocentes foram mortos.” Claro, mudando para a voz passiva.
O Hamas cometeu atrocidades em 7 de outubro — mas e as milhares de crianças
palestinas mortas nos escombros, milhares aterrorizadas e famintas, sem acesso
a cuidados médicos, água limpa ou um lugar para viver — bem, isso simplesmente
aconteceu de alguma forma. E sobre essas palavras: “muitos palestinos
inocentes”? Elas parecem implicar que um número não especificado de palestinos
inocentes mortos está tudo bem.
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O Que Exatamente Kamala Ganhou?
E, ah sim, o governo
Biden continua fornecendo a Israel bilhões de dólares em armas, não importa o
que ele faça, permitindo passivamente que o genocídio continue e que a guerra
se espalhe. Israel pode fazer o que quiser; tem impunidade. Harris tampouco expressou
ter qualquer problema com isso.
Mas, como
aparentemente a maioria dos eleitores sabe, Harris e os democratas, não importa
a sua posição sobre Israel, são muito, muito melhores do que Donald Trump, o
maior mal desta eleição e a verdadeira razão pela qual os democratas devem
vencer. Não só Trump é o bom amigo e o candidato preferido de Benjamin
Netanyahu, ele é absolutamente louco em uma notável variedade de questões: de
“enforquem Mike Pence” a imigrantes haitianos “comendo os animais de estimação”
dos moradores de Springfield, Ohio.
E em relação à eleição
atual, Trump disse: “Agora, se eu não for eleito, vai ser um banho de sangue.
Isso vai ser o mínimo. Vai ser um banho de sangue para o país.”
Trump pode ganhar, não
importa o quê, mas aparentemente ele está um pouco atrás de Harris nas
pesquisas. Assim, os democratas — incluindo os seus apoiadores relutantes —
clamam com desespero que estadunidenses sãos têm que votar em Harris. Votar nos
Verdes é virtualmente o mesmo que votar em Trump.
Ah, o paradoxo! Em
certo sentido, tem sido assim por grande parte da minha vida. A primeira
eleição em que eu tinha idade suficiente para votar (a idade para votar era
então 21) foi Nixon vs. Humphrey. Eu era um fervoroso militante contra a guerra
do Vietnã e optei por não votar, achando que não havia uma diferença real entre
os candidatos. Mas rapidamente comecei a me arrepender dessa decisão, à medida
que a presidência de Nixon dominava o país; prometi nunca mais deixar de votar
em uma eleição, nacional ou local, e mantive esse compromisso.
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Além dos Clichês do Estado Está a Pérola Azul
Mas hoje o paradoxo
eleitoral está consumindo a alma da nação. Nos levantamos e votamos pela
sanidade, pelo candidato que diz: “Não há paz sem justiça”? A enormidade dessa
escolha não pode ser ignorada. Não podemos votar pela evolução da nação além da
violência, especialmente à medida que a crise climática se intensifica?
“Acho que é muito
importante que as pessoas não aceitem a sua impotência”, disse Stein na
entrevista. “Estão dizendo a você que você é impotente. Na verdade, você não é
impotente. Você é poderoso. Ninguém é dono do seu voto. Eles têm que ganhar o
seu voto. E a menos que você os faça ganhar o seu voto, você é impotente.”“...E
o que você vê”, ela continua, “é o que você vai ver mais. Ao longo da história,
fazemos progresso quando nos levantamos como movimentos, e esses movimentos
então têm veículos políticos.”
Então deixo penetrar
em mim essas palavras. Isso é maior do que uma eleição. Apenas um movimento —
tanto espiritual quanto político — pode nos empurrar além das guerras atuais e
impedir que aconteçam futuras guerras, incluindo guerras nucleares. Não há paz
sem valorizar todas as vidas humanas.
Qual é o estado desse
movimento no momento presente? Harris começará a transcender a sua capitulação
militar (e ganhar os nossos votos)? Um voto em Stein fará mais do que ajudar
Trump?
Eu deposito meu voto
para...?
¨ O mundo em chamas: os EUA e a guerra perpétua. Por Ronaldo Lima
Lins
Num opúsculo de
especulação filosófica, A paz perpétua, Immanuel Kant imaginou uma
situação, posta no futuro, quando a humanidade deixaria os seus conflitos e
viveria sem guerras. Durante a queda do sistema soviético, alguns teóricos
releram a sua sucinta obra e apostaram em suas previsões, diante de um mundo
unipolar, marcado pelo entendimento.
Os Estados Unidos,
pensavam, haviam ganho a corrida e se impunham como vitoriosos, podendo se
afirmar no planeta praticamente sem rivalidades. Uma das ironias da história se
traduziu na concessão do Prêmio Nobel da Paz a Barak Obama, por ocasião da sua
posse, algo que divertiu o próprio laureado, já que seu país se achava
envolvido em duas contendas, uma no Afeganistão e outra no Iraque. Isto para
não mencionar, depois, escaramuças na Líbia, Paquistão, Somália e Iêmen, nas
quais também se arriscaram.
No seu discurso, na
Academia de Ciências da Suécia, o dirigente afirmou, não invadido pelo pudor:
“Não trago comigo hoje a solução definitiva para o problema da guerra. Há de se
aceitar a dura realidade. Não encerraremos nunca o conflito violento em nossas
vidas.” É possível que Kant haja ficado longe da realidade, mesmo tantos anos
mais tarde. No entanto, andamos parecendo demais com o Dr. Fantástico, de
Stanley Kubrick, frente às possibilidades de um holocausto, uma vez que as
partes interessadas dispõem de vastos artefatos nucleares e vivem se
espicaçando. Antecipando-se às disputas na Ucrânia e as estimulando, Washington
participa delas com armamentos, mercenários e ameaças, faltando pouco para se
colocar diretamente nos negócios do governo de Kiev. Se não houve avanços no
que diz respeito a uma paz perpétua, não restam dúvidas de que a guerra
permanece nos prognósticos. Graças a ela, experimenta-se a criatividade em
dispositivos bélicos e se movimentam recursos em quantidades inigualáveis, ao
mesmo tempo em que não se fala em fome, praga cada vez mais impossível de
debelar.
Em plena campanha
eleitoral, na atual gestão Biden, o assunto não ganha, como devia, as atenções,
além de rápidos comentários de Trump em torno de suas propostas para a Ucrânia
e, menos, muito menos, para Israel. O escândalo e as agruras a que se submetem
as populações sujeitas às batalhas, em Kursk ou na Palestina, não se mostram
suficientes para interromper os esforços.
Norte-americanos
dão a impressão de que se habituaram a conviver com a guerra perpétua e não se
inclinam a estancá-la em quaisquer circunstâncias. É como se a economia daquela
sociedade necessitasse da indústria e da comercialização dos seus produtos
mortais, onde os estiverem empregando. Nem a hipótese plausível de, por um
rastilho de pólvora, caminharmos para desinteligências nucleares, lhes faz
cessar o gosto. Afinal, desde Hiroshima e Nagasaki, a Casa Branca não usufrui
da sensação de eliminar de cena duas cidades inteiras para seu próprio prazer.
Nós, desde lado do mundo em chamas, estamos cansados. E não há um chá de
bom senso para que aquela gente desperte de tais alucinações. Ficaremos no
limite ou chegaremos lá?
Fonte: Brasil 247
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