sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Câncer de mama: casos em mulheres com menos de 50 anos sobem nos EUA, diz estudo

Apesar de uma queda contínua na taxa de mortes por câncer de mama nos Estados Unidos, a incidência da doença aumentou — especialmente entre as faixas etárias mais jovens — e persistem disparidades significativas de raça, de acordo com um novo relatório da Sociedade Americana do Câncer.

O estudo, publicado terça-feira (1º) no CA: A Cancer Journal for Clinicians, encontrou algumas boas notícias: a taxa geral de mortalidade por câncer de mama nos EUA caiu cerca de 44% entre 1989 e 2022, o que se traduz em quase 518 mil mortes a menos por câncer de mama durante esse período. Isso se deve em grande parte aos avanços nos tratamentos do câncer e na detecção precoce da doença por meio do rastreamento, que é recomendado para mulheres com risco médio a partir dos 40 anos.

Mas também houve algumas notícias preocupantes: a incidência da doença em si aumentou 1% ao ano entre 2012 e 2021.

“Se observarmos a última década, mais ou menos, vimos a incidência de câncer de mama aumentar em cerca de 1% em relação ao ano anterior, e a intensidade desse aumento não afeta todas as mulheres igualmente neste caso”, disse Karen Knudsen, diretora-executiva da Sociedade Americana do Câncer e da American Cancer Society Cancer Action Network.

“Há um aumento ligeiramente maior na taxa de diagnóstico de câncer de mama para mulheres com menos de 50 anos em comparação com aquelas com mais de 50 anos”, disse. “Essas são coisas que estamos observando para tentar entender.”

Um estudo separado publicado em janeiro também descobriu que as taxas de incidência de câncer de mama entre mulheres de 20 a 49 anos aumentaram nos últimos 20 anos.

A tendência segue um padrão observado recentemente em outros tipos de câncer, como o câncer colorretal, em que mais pessoas estão sendo diagnosticadas em idades mais jovens do que o tradicionalmente observado.

<><> Diferenças por raça e região

Para o novo relatório, pesquisadores da Sociedade Americana do Câncer, Weill Cornell Medicine e Harvard Medical School analisaram dados sobre incidência e mortes por câncer de mama do Instituto Nacional de Câncer e registros dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, datados de 1975. Eles encontraram algumas diferenças significativas nos dados por raça e estado, bem como idade.

Os pesquisadores descobriram que as mulheres negras continuam tendo mais probabilidade de morrer da doença, pois tiveram uma taxa de mortalidade 38% maior do que as mulheres brancas, apesar de terem 5% menos probabilidade de desenvolver câncer de mama.

“Se você olhar mais cuidadosamente para os dados de mortalidade, isso é realmente impulsionado por mulheres jovens em particular”, disse o Dr. William Dahut, diretor científico da Sociedade Americana do Câncer. “Se você olhar para mulheres negras entre 20 e 29 anos, suas chances de morrer de câncer de mama são duas vezes maiores do que as de suas colegas brancas.”

Os dados mostraram que as mulheres negras têm a maior taxa de mortalidade geral. A taxa variou de cerca de 12 mortes por 100 mil mulheres na comunidade asiático-americana das ilhas do Pacífico a cerca de 27 mortes por 100 mil na comunidade negra.

O relatório observa que as mulheres asiático-americanas e das ilhas do Pacífico tiveram o aumento mais rápido na incidência de câncer de mama a cada ano, tanto entre aquelas com menos de 50 anos, com 2,7% ao ano, quanto entre mulheres com 50 anos ou mais, com 2,5% ao ano.

“A aceleração das taxas de incidência de câncer de mama entre asiático-americanos e habitantes das ilhas do Pacífico é particularmente perturbadora. Dados emergentes sugerem que algumas mutações genéticas que predispõem ao câncer de mama podem resultar em maior risco entre mulheres asiáticas em comparação com mulheres brancas”, escreveu Ruth Carlos, professora de radiologia e assistente de disciplina de pesquisa clínica na Universidade de Michigan, que não estava envolvida no novo relatório, em um e-mail à CNN.

“É decepcionante que os resultados pareçam estáticos para mulheres negras/afro-americanas”, ela acrescentou. “Vários grupos de pesquisa estão investigando os efeitos biológicos da discriminação estrutural no desenvolvimento do câncer de mama.”

Alguma variação geográfica também surgiram nos dados. Os pesquisadores descobriram que a incidência de câncer de mama variou de 113 casos em cada 100 mil mulheres em Nevada a cerca de 143 em cada 100 mil na Carolina do Norte.

Outra lacuna geográfica foi encontrada na taxa de mortalidade por câncer de mama, variando de cerca de 15 mortes por 100 mil mulheres em Massachusetts a cerca de 23 por 100 mil no Mississippi e 24 por 100 mil no Distrito de Columbia.

“As diferenças por estado refletem vários fatores, incluindo características demográficas e a prevalência de fatores de risco de câncer, exames de mamografia e acesso ao atendimento, que é influenciado pela política de saúde pública, como a expansão do Medicaid e outras leis e programas”, escreveram os pesquisadores.

Eles projetam que este ano, quase 311 mil casos de câncer de mama invasivo serão diagnosticados entre mulheres nos EUA, afetando cerca de uma em cada oito, e mais de 42 mil mulheres morrerão de câncer de mama.

Os pesquisadores devem ser “elogiados” por uma análise tão abrangente das tendências do câncer de mama, disse Carlos.

“Eles descobriram tendências preocupantes, especialmente em relação ao câncer de mama em mulheres mais jovens”, ela escreveu. “Riscos ambientais, riscos de estilo de vida e fatores de risco genéticos podem estar contribuindo para esse aumento.”

<><> “Vemos isso todos os dias”

Os dados do novo relatório refletem o que muitos oncologistas estão observando na prática, disse Carmen Calfa, oncologista médica do Sylvester Comprehensive Cancer Center do Sistema de Saúde da Universidade de Miami e diretora associada do programa comunitário de extensão sobre câncer de mama de Sylvester, que não estava envolvida no novo relatório.

“O aumento alarmante na incidência geral de câncer de mama foi notado e registrado, e vemos isso no consultório todos os dias quando vemos pacientes de todas as idades, mas vemos mais jovens do que antes”, disse Calfa, acrescentando que sua paciente mais jovem com câncer de mama foi diagnosticada aos 20 anos.

“Temos testemunhado e visto pacientes se apresentando a nós em uma taxa mais alta, em idade mais jovem”, ela disse. “Embora estejamos notando o aumento na incidência de câncer de mama em pacientes mais jovens, as tendências têm sido realmente significativas e consistentes em outros tipos de câncer, e isso nos faz pensar, não é apenas uma descoberta específica da mama.”

Calfa acrescentou que muitos dos fatores de risco para câncer de mama são comuns também a outros tipos de câncer, o que pode dar pistas sobre o motivo pelo qual a incidência de certos tipos de câncer continua a aumentar entre as idades mais jovens.

“Os fatores de risco comuns estão todos lá, e acho que é aí que temos uma grande oportunidade”, ela disse. “É o estilo de vida que inclui a comida, o tipo de dieta, a quantidade de exercícios.”

Outros fatores que podem aumentar o risco de câncer de mama incluem histórico familiar de câncer, aumento do consumo de álcool, biópsia de uma lesão de alto risco na mama ou presença de uma determinada mutação genética.

Algumas maneiras de reduzir o risco de câncer de mama incluem manter um peso saudável, ser fisicamente ativo, beber álcool com moderação ou não beber e, para algumas pessoas, tomar medicamentos como tamoxifeno e amamentar seus filhos, se possível.

“Eu também pediria que cada mulher e cada homem tentassem entender seus próprios riscos pessoais e fossem seus melhores defensores quando se trata de prevenção, detecção precoce, tratamento e, finalmente, resultados gerais”, disse Calfa.

 

•                                         O impacto do diagnóstico precoce no tratamento do câncer de mama

Todos nós estamos suscetíveis a desenvolver células cancerígenas, mas o organismo possui elementos considerados “guardiões do DNA”, que, normalmente, eliminam essas células doentes. Acontece que esse sistema de segurança pode falhar — tanto por predisposição genética, como por interferência de aspectos ambientais, como má alimentação, sedentarismo, tabagismo ou consumo excessivo de álcool.

Nas últimas décadas, essa interação com fatores ambientais tornou-se ainda mais desfavorável, o que pode estar relacionado com o aumento da mortalidade pela doença.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma conquista importante para o Brasil, mas é crucial reconhecer que a qualidade e o acesso aos serviços de saúde, principalmente quando se trata do tratamento de câncer em níveis avançados, costuma ser inferior quando comparado às redes particulares.

Além disso, os serviços também podem variar consideravelmente entre os diferentes estados brasileiros.

Essa discrepância vem diminuindo, mas, por causa dos custos das novas tecnologias, naturalmente há muitas diferenças entre os tipos de serviços ofertados. Em estágios iniciais do câncer de mama, como 1 e 2, elas são menos perceptíveis. No entanto, em estágios mais avançados, como 3 e 4, elas ficam mais evidentes.

Há diversas formas de prevenção do câncer de mama, como manter hábitos alimentares saudáveis, praticar exercícios físicos regularmente, evitar o uso de cigarros e moderar no consumo de álcool. No entanto, o rastreamento é uma estratégia fundamental. E, para isso, ainda não existe nada que substitua a mamografia, mesmo que, em alguns casos, o ultrassom e a ressonância magnética também sejam necessários.

Com relação ao autoexame, é importante ressaltar que, a paciente fazer o toque nas mamas sozinha pode trazer uma falsa tranquilidade e impedir o diagnóstico precoce. Ele deve ser associado aos exames de rastreio, mas não deixado de escanteio, porque representa uma importante forma de autoconhecimento em relação ao próprio corpo.

 

•                                         Novo teste de ultrassom pode detectar câncer de ovário com 96% de precisão

Um teste de ultrassom conseguiu detectar 96% dos cânceres de ovário em mulheres na pós-menopausa em estudo realizado no Reino Unido. Publicadas na Lancet Oncology, revista médica de renome, na segunda-feira (30), as descobertas indicam o potencial do exame de imagem de substituir o teste padrão para diagnóstico da doença.

A pesquisa foi financiada pelo Instituto Nacional de Pesquisa e Cuidados em Saúde (NIHR) e liderada pela professora Sudha Sundar da Universidade de Birmingham, do Reino Unido. O trabalho comparou todos os testes atualmente disponíveis para diagnosticar câncer de ovário em mulheres na pós-menopausa em um estudo de precisão de teste diagnóstico de alta qualidade.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de ovário é a segunda neoplasia ginecológica mais comum, ficando atrás apenas do câncer de colo de útero, com uma estimativa de 7.310 novos casos por ano. Entre os fatores de risco para a doença está a idade e fatores reprodutivos e hormonais, incluindo a menopausa tardia (após os 52 anos), além do histórico familiar, excesso de gordura corporal e fatores genéticos (como a mutação nos genes BRCA1 e BRCA2, a mesma que aumenta o risco de câncer de mama).

Atualmente, no Brasil, os exames mais solicitados para diagnosticar o câncer de ovário são o marcador tumoral CA-125 (medido por exame de sangue), ultrassom transvaginal (que identifica o tamanho dos ovários), tomografia computadorizada do abdômen e da pelve (auxilia na melhor caracterização da massa pélvica), ressonância magnética do abdômen e da pelve (avalia os órgãos da pelve e auxilia no diagnóstico), e o raio-X ou tomografia do tórax (avalia se o câncer se espalhou para os pulmões).

No Reino Unido, o padrão atual para o diagnóstico se é feito com o teste de risco de malignidade (RMI1), que identifica até 83% dos cânceres de ovário. No atual estudo, dos seis testes diagnósticos analisados, um modelo chamado IOTA ADNEX — que analisa as características do ultrassom — teve uma melhor precisão e conseguir detectar até 96% das mulheres com câncer de ovário.

Diante dos resultados, os pesquisadores recomendam que novo modelo substitua o teste padrão atual de tratamento no Reino Unido e, além disso, sugerem que o novo teste possa acelerar o diagnóstico precoce da doença.

“Esta é a primeira vez que um estudo frente a frente de todos os testes de câncer de ovário disponíveis foi feito na mesma população. Aqui, estudamos seu uso com mulheres sintomáticas na pós-menopausa que correm mais risco desse câncer. Nosso estudo descobriu que o protocolo de ultrassom IOTA ADNEX teve a maior sensibilidade para detectar câncer de ovário em comparação ao padrão de tratamento e outros testes”, explicou Sundar, em comunicado à imprensa.

“O diagnóstico precoce do câncer de ovário é vital, e estamos satisfeitos em ver esta pesquisa demonstrar que há maneiras mais precisas de usar ultrassom. Quanto mais rápido e mais cedo o câncer de ovário for diagnosticado, mais fácil será tratá-lo e mais bem-sucedidos serão os resultados”, comenta Annwen Jones OBE, diretora executiva da Target Ovarian Cancer, no comunicado.

“Junto com esta pesquisa inovadora, precisamos ver uma maior conscientização sobre os sintomas do câncer de ovário para que as mulheres saibam que devem procurar seu médico para fazer o teste e receber o melhor tratamento possível o mais rápido possível. É crucial que novas maneiras de trabalhar como esta sejam implementadas o mais rápido possível”, acrescenta.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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