sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Dólar se tornou moeda perigosa e pouco confiável, afirma cofundador do banco do BRICS

O dólar se tornou uma moeda perigosa e pouco confiável, afirmou o cofundador e ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco do BRICS Paulo Nogueira Batista Jr., em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, nesta terça-feira (1º).

Ao destacar que, entre os integrantes do grupo, Brasil, Rússia, Índia e China estão entre as dez maiores economias do mundo em termos de paridade de poder de compra, ele defendeu que o banco precisa de uma moeda de reserva.

"O BRICS fala muito em desdolarização, mas é curioso notar que o Banco do BRICS, o Novo Banco de Desenvolvimento, ainda opera essencialmente com dólares. Se não me falha a memória, três quartos das operações do banco são em dólares, e não em moedas nacionais dos países-membros, como se planejava", ponderou.

Uma nova moeda de reserva, explicou, acabaria com as limitações e os riscos criados pelo sistema baseado no dólar norte-americano para pagamentos em moedas nacionais.

O economista esclareceu que as moedas nacionais e os bancos centrais dos membros do BRICS continuariam, mas uma reserva de valor seria criada para transações internacionais, a fim de que os países superavitários de moedas nacionais possam convertê-las em ativos estáveis de valor alternativos ao dólar.

"[…] O dólar se tornou uma moeda perigosa, pouco confiável, em face do uso que os americanos fazem do dólar como instrumento para sancionar países que eles consideram não amigáveis ou hostis", disse. "Primeiro tem o custo de transação, o uso ao dólar e, segundo, tem o risco político, que é derivado do uso da weaponization, da transformação do dólar e do sistema financeiro ocidental de pagamentos numa arma."

Ex-diretor-executivo pelo Brasil e mais dez países por oito anos no Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, ele contou que a partir de 2011, 2012, ficou evidente que não haveria progresso na reforma estrutural e na democratização do fundo nem do Banco Mundial.

·        BRICS sob a presidência do Brasil

Um dos fundadores do NBD, Batista Jr. defendeu que a próxima gestão do BRICS, que será liderada pelo Brasil a partir do ano que vem, deve aprofundar a proposta de desdolarização do sistema de pagamentos internacionais, defendida pela presidência atual do BRICS, a Rússia.

"O Brasil, como presidente do BRICS em 2025, tem que não só trabalhar nas ideias de sistemas de pagamento, mas também criar um caminho para uma nova moeda de reserva […] Montar um sistema alternativo ao SWIFT, que é o sistema atual de transações e liquidação de transações internacionais."

A partir de julho de 2025, a presidência do banco passa para a Rússia com um mandato de cinco anos.

"É muito importante para o futuro do banco que o próximo presidente seja uma pessoa não só tecnicamente sólida, mas que tenha visão geopolítica do que o novo Banco de Desenvolvimento pretende ser", alertou ele. "Um banco do sul para o sul, de países em desenvolvimento para países em desenvolvimento, com uma nova visão de desenvolvimento e que ofereça uma real alternativa às instituições tradicionais, como o Banco Mundial e outras."

·        Novos integrantes, novos desafios

Em janeiro passam a integrar o grupo Irã, Etiópia, Egito e Emirados Árabes Unidos. Isso irá exigir, segundo ele, tomadas de decisões bem pensadas, acompanhadas e bem estruturadas para que o BRICS seja uma "força importante e construtiva de um mundo multipolar".

"É importante saber como eles entram, em que ritmo, porque a minha preocupação é que possa haver uma expansão desordenada do grupo e o grupo degenerar em um talk shop, numa plataforma de discursos e sem uma real contribuição em termos de iniciativas práticas", alertou.

Na área econômica, Batista Jr. defendeu que deve haver um acordo entre os nove países em torno da proposta russa de um sistema alternativo de pagamentos, a fim de acabar com a "dependência excessiva em relação ao dólar e ao sistema financeiro americano, ocidental", concluiu.

 

¨      A impressionante resiliência da economia russa. Por José Álvaro de Lima Cardoso

A partir do início da guerra da Ucrânia, com o desencadeamento da operação intitulada “Operação Militar Especial na Ucrânia", dentre outros efeitos, desenvolveu-se uma onda de sanções econômicas à Rússia, a maior que o país já conheceu. Visando enfraquecer a economia russa, os países ocidentais “congelaram” quase metade das reservas externas de Moscou, algo próximo a 300 bilhões de euros (R$ 1,8 trilhão). Destes, cerca de 200 bilhões de euros estão na União Europeia (UE), principalmente na Euroclear, instituição financeira belga que presta serviços financeiros especializados, mantendo ativos de bancos, bolsas e investidores. Esses ativos russos retidos na Europa geram, há quase três anos, bilhões de dólares em pagamentos de juros. Valores esses que foram, inclusive, desviados pela UE, neste ano, para compor um pacote de financiamento para a Ucrânia, visando ajudar a financiar a guerra com a Rússia. 

As sanções impostas à Rússia são as mais graves já sofridas pelo país, quem sabe as piores que qualquer país já sofreu. Desde fevereiro de 2022, os EUA, o Reino Unido e a UE, e outros países, como Austrália, o Canadá e o Japão, impuseram mais de 16,5 mil sanções à Moscou. A maioria das medidas tem sido contra a moeda da Rússia. Além do congelamento das reservas internacionais, já mencionado, cerca de 70% dos ativos dos bancos russos também foram congelados. Algumas dessas instituições foram excluídas do Swift, um serviço de mensagens de alta velocidade entre bancos. Várias outras sanções foram colocadas em prática: proibiram exportações russas de tecnologia militar; proibiram as importações de ouro e diamantes da Rússia; sustaram voos com origem na Rússia e assim por diante. 

A intenção dos países organizadores das sanções era a de paralisar a economia da Rússia e, como consequência, conduzir o país a uma derrota na Ucrânia. Essa não é uma guerra travada entre Rússia e Ucrânia, mas contra todos os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderados pelo império norte-americano. O fato é que, contra a maioria das previsões, 31 meses após o início do conflito a economia da Rússia cresce acima da média do crescimento global. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um crescimento de 3,2% para o país neste ano, estimativa superior ao crescimento projetado para todas as economias que compõem o G7. A previsão do FMI, a propósito, pode ser superada com folga, se levarmos em conta o crescimento do primeiro trimestre, que chegou a 5,4%, segundo relatório divulgado pelo escritório de estatísticas da Rússia, Rosstat. 

O boicote tinha também o objetivo de desabastecer o mercado nacional de produtos e serviços fundamentais, gerando grande insatisfação entre a população, que assim, deixaria de apoiar o governo na guerra na Ucrânia. De fato, a partir das sanções uma série de empresas deixaram o mercado russo, seguindo a orientação política de seus respectivos governos. O fato, no entanto, é que o país continuou recebendo a maioria dos produtos através de rotas alternativas e não houve desastecimento significativo no mercado russo. O país conseguiu compensar as sanções impostas, com acordos bilaterais com países que não aderiram ao boicote, garantindo o suprimento dos produtos essenciais. Uma prova disso foi o 27º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, realizado de 5 a 8 de junho último, que contou com a presença de delegados de mais de 130 países e territórios. Pelas informações divulgadas, o referido fórum praticamente não sofreu os efeitos das sanções. Por exemplo, segundo dados divulgados pela organização do evento, em 2023 mais de 900 acordos foram assinados, totalizando um valor de quase US$ 43 bilhões em negócios. 

A partir das sanções o país começou a ampliar novos mercados no Leste Asiático e no Sul Global. Como a Rússia é um país com muitos recursos naturais (o Banco Mundial estima que o valor total dos recursos naturais da Rússia chegue a US$ 75 trilhões) e dispõe de uma indústria bastante razoável (petróleo e gás, produtos químicos, defesa, componentes eletrônicos, construção naval etc.), vem conseguindo contornar as dificuldades decorrentes do boicote, encontrando alternativas. Dentre outras medidas, uma ação estratégica do país foi redirecionar quase 100% de suas exportações de petróleo para a China e Índia. Antes da guerra entre 40 e 45% do volume total exportado de petróleo e produtos petrolíferos tinha como destino a Europa, volume que atualmente está na casa dos 4% ou 5%.

Nesse reposicionamento do tabuleiro geopolítico, a Rússia se transformou no maior fornecedor de petróleo para a China, o que aproximou ainda mais os dois países no período recente, em termos políticos e diplomáticos. Ao mesmo tempo, as exportações de manufaturados chineses para a Rússia aumentaram expressivamente. Com o boicote dos países do ocidente, a China tornou-se a grande fornecedora de equipamentos e produtos tecnológicos vitais para a Rússia, que vão de máquinas industriais a smartphones. Esse processo elevou para US$ 240 bilhões de dólares o comércio bilateral no ano passado, crescimento superior à 25% em relação ao ano anterior. 

A Rússia dispõe de uma série de aspectos estruturais e conjunturais que, se bem articulados, podem garantir o desenvolvimento econômico, a começar pela disponibilidade de matérias primas. Mas sem dúvida, um dos motores da economia russa neste momento tem sido a guerra. Em 2024, por exemplo, os gastos militares aumentaram em quase 70%, em relação ao ano passado. Desde o início da guerra as fábricas de armamento da Rússia passaram a trabalhar a pleno vapor, para produzir o equipamento necessário, o que gerou a movimentação da produção de insumos e componentes, e empregos em toda a cadeia de produção de armamentos. 

Com a economia crescendo acima da média mundial, os salários no complexo industrial-militar vêm aumentando em termos reais, efeito que tem sido irradiado para os demais setores da economia. Além disso, a taxa de desemprego na Rússia, atualmente, é de 2,4%, o que significa pleno emprego. Na realidade, o debate atualmente no país, trata justamente da escassez de força de trabalho, que já se encontra, segundo alguns estudos, em níveis muito preocupantes. Em suma, não é que a Rússia tenha vencido completamente as sanções comerciais, porque elas são muitas e envolvem alguns dos principais países industriais do mundo. Mas, até o momento o país encontrou uma forma de lidar com as sanções e reduzir seus impactos sobre a economia e a sociedade russas.

Os EUA “acusam” Pequim de fortalecer a economia de Moscou, mandando componentes industriais essenciais, escassos no país a partir do bloqueio comercial. Segundo o governo americano os insumos industriais da China estão ajudando a Rússia a fabricar munições, mísseis, blindados e demais equipamentos militares. Os críticos afirmam, por exemplo, que a China é o maior fornecedor de semicondutores para a Rússia, muitas vezes utilizando empresas de fachada, localizadas em terceiros países. Segundo os dados disponíveis, a China exporta para a Rússia mais de US$ 300 milhões mensais em produtos de dupla utilização, ou seja, aqueles que têm aplicações militares e comerciais ao mesmo tempo. A pergunta que se pode fazer é por que a China, um país soberano e que não aderiu ao boicote imposto pelos países imperialistas, não poderia comercializar o que bem entenda com a Rússia? O que poderia impedir um país soberano de comercializar bens industriais com seus aliados, em benefício do comércio nacional? 

Alguns analistas acusam a Rússia de ser um país “imperialista”, no sentido moderno do termo, ou seja, no aspecto econômico. Mas um dado que enfraquece muito essa tese é o de que praticamente a metade de todas as receitas do governo russo decorrem da venda de petróleo e gás. Essa é uma pauta exportadora típica de países atrasados. Nações desenvolvidas seguem uma regra básica, que é não basear suas exportações em comodities, agrícolas ou minerais. Com o boicote, a Rússia deixou de vender para os Estados Unidos, Reino Unido e países da União Europeia. As importações chinesas compensaram essa perda de receita, decorrente das sanções. 

Os países do G7 tentaram inclusive impor um limite ao preço global do petróleo, visando limitar as receitas da Rússia e tornar o boicote econômico mais eficaz. Mas a China ignorou essa iniciativa e seguiu comprando petróleo russo acima do preço limite estabelecido. A Índia, que também não aderiu às sanções, continuou comprando petróleo russo, se beneficiando inclusive de atraentes descontos. No ano passado a China importou 8 milhões de toneladas de gás liquefeito de petróleo (GLP) da Rússia, através do gasoduto Power of Sibéria 1, em funcionamento desde 2019.  A intenção dos dois países é ampliar esse comércio, com a fabricação de um novo gasoduto, que já está sendo encaminhado.  

Apesar da guerra e das sanções, a Rússia tem conseguido fazer sua economia crescer acima da média mundial. O país conseguiu nos últimos anos ampliar o volume de comércio em 60% com a Ásia e 42% com a América Latina. A Rússia tem demonstrado também capacidade de absorver as mudanças tecnológicas, no setor financeiro, no comércio eletrônico e na administração pública. A resiliência da economia russa é bastante surpreendente, dado o nível de sanções que sofreu, que poderia afundar a economia do país. O Kremlin evitou uma recessão com base na renda do petróleo e direcionando seus gastos para o esforço de guerra, que hoje representa um terço do orçamento federal. Tais escolhas políticas obviamente produzem suas consequências, como o aumento da dependência da exportação de petróleo e gás e dos gastos militares. Mas um país que tem a maior extensão territorial e o maior volume de recursos naturais do planeta (especialmente petróleo e gás) e tem sido ameaçado há séculos pelos inimigos, pagaria um preço muito mais alto pela hesitação e inércia. 

 

¨      Economia verde: Europa está dividida sobre a proibição de motores clássicos para carros até 2035

A fabricante de automóveis sueca Volvo, que pertence ao consórcio chinês Geely, e outras 50 empresas pediram a Bruxelas que aplique a proibição de carros com motores de combustão interna (ICE, em inglês) até 2035, escreve o portal tcheco Hrot24. No entanto, os maiores fabricantes europeus permaneceram em silêncio e "têm as suas razões", acrescenta.

"A eletrificação é a principal medida que a nossa indústria pode tomar para reduzir a sua pegada de carbono [...]. Instamos os decisores políticos da União Europeia [UE] a se concentrarem nas medidas que devemos tomar para conseguir isso", declarou o CEO da Volvo, Jim Rowan.

Na sua opinião, a mudança para veículos elétricos (VE) é precisamente o que garantirá que a indústria europeia seja competitiva a nível mundial na produção de automóveis com motores elétricos.

Outras empresas — incluindo a Uber Technologies, o fabricante de mobiliário IKEA e a empresa energética espanhola Iberdrola — se juntaram à Volvo, argumentando que a indústria europeia precisa de certeza e de condições previsíveis para o investimento e o desenvolvimento empresarial. Como comentou o CEO da Electreon, Oren Ezer, isso é especialmente importante "à medida que os EUA e a China continuam a promover ativamente suas respectivas indústrias de carros elétricos".

No entanto, as metas ambiciosas da UE para reduzir as emissões de gases de efeito estufa "têm sido cada vez mais criticadas" nos últimos meses por alguns gestores sêniores de empresas europeias.

Por exemplo, o maior fabricante de automóveis da Europa, a Volkswagen, foi forçada a admitir que a transição para carros elétricos está progredindo com dificuldade e terá de fechar algumas fábricas e despedir pessoal. A Mercedes-Benz também afirmou que deveria reconsiderar o prazo para deixar de vender carros com motores de combustão interna (ICE, na sigla em inglês).

"Paradoxalmente, a Volvo também anunciou recentemente que oferecerá um modelo híbrido a partir de 2030, embora já tivesse prometido que produziria e venderia exclusivamente VE", destaca o portal.

Os defensores da proibição dos motores de combustão interna argumentam que a Europa deve alcançar os concorrentes norte-americanos e chineses na produção de VEs, se recusando a investir no desenvolvimento de tais motores de combustão. Por outro lado, observa-se que as vendas deste tipo de veículos estão caindo no mercado europeu, "o que faz com que a maioria dos fabricantes questionem a necessidade de mudar completamente para os VE", detalha a mídia.

Além disso, o adiamento da proibição dos ICEs é também promovido a nível nacional na Itália, a terceira maior economia do bloco europeu. Assim, a Stellantis, maior fabricante de automóveis da península dos Apeninos, já interrompeu a produção de carros elétricos Fiat 500 na sua fábrica de Turim devido à falta de compradores, o que preocupa as autoridades de Roma.

Segundo a Bloomberg, a primeira-ministra do país, Giorgia Meloni, argumentou que a política ecológica de Bruxelas "é autodestrutiva", e o ministro da Indústria italiano, Adolfo Urso, insistiu que o plano de redução de emissões da UE fosse cuidadosamente revisto.

Caso contrário, prevê o Hrot24, "centenas de milhares de empregos desaparecerão" na indústria automobilística europeia. Mas se os ICEs forem mantidos, "a introdução de combustíveis sintéticos e biocombustíveis seria possível" e a indústria permaneceria à tona, resume a apuração.

¨      Petrobras terá participação em consórcio para explorar petróleo na África do Sul

O Conselho de Administração da Petrobras aprovou nesta quarta-feira (1º) que a petrolífera brasileira tem atividades na África do Sul, com a aquisição de participação no bloco Deep Western Orange Basin (DWOB), por meio de um processo competitivo conduzido pela TotalEnergies.

O bloco está localizado em águas profundas na Bacia de Orange, na qual recentemente houve descobertas significativas pelas empresas TotalEnergies, Shell e Galp.

A Petrobras terá 10% de participação no bloco DWOB, no consórcio com a TotalEnergies, operadora (40%), QatarEnergy (30%), Sezigyn Pty (20%).

"A operação buscará diversificação do portfólio exploratório com geração de valor e está alinhada com a estratégia de longo prazo da companhia, que visa à recomposição das reservas de petróleo e gás por meio de exploração de novas fronteiras, tanto no Brasil quanto no exterior, e atuação em parceria", diz a nota da companhia.

No comunicado, a estatal informou ainda que a aquisição do bloco DWOB, na África do Sul, observa todos os trâmites internos e de governança da companhia, em consonância com o Plano Estratégico 2024–2028+, e está condicionada à aprovação dos órgãos reguladores locais.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Brasil 247

 

Nenhum comentário: