Musk financiou organização de
extrema-direita antes de apoiar Trump, revelam fontes
Elon Musk, o
bilionário por trás de empresas como Tesla e SpaceX, financiou secretamente uma
organização conservadora, revelaram quatro fontes familiarizadas com as
doações. A descoberta ilustra o apoio financeiro de Musk a causas de direita,
anos antes de declarar publicamente seu apoio à candidatura de Donald Trump
para a reeleição.
Duas dessas fontes
informaram que as doações de Musk para a organização Building America's Future
começaram por volta de 2022. Uma delas, juntamente com uma terceira fonte,
afirmou que as contribuições foram de milhões de dólares, dando um impulso
significativo ao grupo, cujas campanhas publicitárias e nas redes sociais
criticaram duramente o governo de Joe Biden. “Esse tipo de financiamento
demonstra um claro alinhamento com políticas conservadoras,” afirmou uma das
fontes.
O grupo Building
America's Future, classificado como uma organização sem fins lucrativos
501(c)(4), não é obrigado por lei a divulgar seus financiadores, sendo
comumente chamado de grupo de "dinheiro escuro". Apesar de não poder
financiar campanhas eleitorais, a organização pode promover causas políticas,
uma brecha frequentemente usada por operativos de ambos os partidos para
mascarar as origens de campanhas de influência política.
Segundo fontes
próximas à organização, as doações de Musk foram mantidas em sigilo absoluto.
"Ele sempre foi muito discreto em relação a suas contribuições
financeiras," disse uma das pessoas com conhecimento do caso. O grupo,
cujas receitas aumentaram de US$ 11 milhões em 2021 para US$ 53 milhões em
2022, concentrou parte de seus esforços em temas polêmicos, como a imigração
ilegal, um tópico que Musk frequentemente aborda em suas redes sociais.
Nos últimos dois anos,
o Building America's Future lançou campanhas contra a vice-presidente Kamala
Harris, acusando-a de “liderar uma invasão” de imigrantes pela fronteira do
México e colocando “ilegais em primeiro lugar”. O grupo também investiu US$ 10
milhões em uma campanha publicitária que buscava diminuir o apoio da população
negra a Harris, criticando o esforço da Casa Branca para banir cigarros
mentolados.
Musk, que
anteriormente se mostrou cauteloso em demonstrar apoio a qualquer um dos
principais partidos políticos dos EUA, foi se inclinando cada vez mais à
direita. Em postagens recentes na rede social X (antigo Twitter), ele
compartilhou teorias conspiratórias sobre imigração e afirmou que os Estados
Unidos enfrentam uma possível "guerra civil". A relação de Musk com o
ex-presidente Donald Trump também se fortaleceu. Trump, inclusive, chegou a
sugerir que, caso reeleito, Musk poderia liderar uma comissão de eficiência
governamental.
O financiamento de
Musk ao America PAC, um comitê de ação política que busca apoiar eleitores
esporádicos a votarem em Trump, também foi reportado recentemente. Embora o
valor exato de suas contribuições seja desconhecido, o grupo já gastou US$ 77
milhões em campanhas, segundo registros eleitorais.
Com o apoio de figuras
como Generra Peck, ex-gerente de campanha do governador da Flórida Ron
DeSantis, o America PAC tem sido parte de uma crescente rede de influência
conservadora, na qual Musk se tornou uma peça fundamental. Até o momento, nem
Musk nem seus representantes comentaram publicamente sobre as doações, mantendo
um ar de mistério sobre o envolvimento do empresário em campanhas políticas.
¨ 'Não tomamos posição a favor ou contra empresa privada', diz
Departamento de Estado dos EUA sobre X
Dias depois de o
presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva usar seu discurso na Assembleia
Geral da ONU, em NY, para defender a soberania dos país ante "indivíduos,
corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei", em uma alusão
velada ao bilionário Elon Musk, dono do X (Twitter), a porta-voz do
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Amanda Roberson, afirmou à BBC News
Brasil que o governo americano não tomou e nem tomará posição a favor do
empresário ou da rede social, que trava uma disputa com o Supremo Tribunal
Federal (STF).
"Estamos
acompanhando a situação. O X, como uma empresa privada com negócios em muitos
países, tem que conduzir seus negócios independemente. Não é algo em que o
governo americano se envolva", disse Roberson.
A BBC News Brasil
questionou a porta-voz sobre uma nota divulgada pela Embaixada dos EUA em
Brasília, em 30/8, pouco depois que o ministro Alexandre de Moraes determinou a
derrubada do X no país, onde a rede deixou de ter um representante legal. Na
nota, a embaixada afirmou que estava "monitorando a situação entre o
Supremo Tribunal Federal e a plataforma X. (..) Por política interna, não
comentamos decisões de tribunais ou disputas legais".
Além disso, a nota
dizia: "Ressaltamos que a liberdade de expressão é um pilar fundamental em
uma democracia saudável".
Segundo apurou a BBC
News Brasil, integrantes do governo e da diplomacia brasileiros viram nesta
frase um indireto comentário pró-Musk.
Questionada
especificamente sobre isso, Roberson afirmou que "as pessoas vão
interpretar as informações como quiserem. É certo que a liberdade de expressão
é muito importante para a democracia. Não tomamos posição a favor ou contra uma
empresa privada, não é nosso papel".
O próprio Musk acusou
o Brasil de ferir a liberdade de expressão ao retirar do ar a plataforma e
demandar a derrubada de posts e perfis considerados desinformação pelo STF.
Veículos estrangeiros como a revista britânica The Economist endossaram ao
menos parcialmente as críticas do bilionário.
Roberson afirmou que
os dois países seguem trabalhando na agenda de cooperação para preservação da
democracia e combate à desinformação, especialmente online.
Segundo o
brasilianista Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly, o fato
de que Musk aterrissou no discurso do líder brasileiro na ONU é prova de que,
para Lula, o bilionário "foi capaz de atingir a reputação internacional do
Brasil".
Lula usou a queda de
braço entre Musk e a Justiça Brasileira como um exemplo bem sucedido de
resposta das instituições contra a direita radical transnacional.
E definiu a questão
como uma defesa da soberania do Brasil, reafirmando as prerrogativas do país de
regular o ambiente das redes sociais, o que ainda não foi feito por lei.
Nos últimos dias, Musk
parece ter recuado na escalada de tensões em relação ao país ao cumprir ao
menos parcialmente as decisões judiciais proferidas em relação ao X.
A rede quer retomar as
operações no Brasil e informou judicialmente, nesta terça, 1/10, que cumprirá integralmente
todas as determinações de Moraes e do STF.
Moraes determinou o
desbloqueio de contas bancárias do X mas ainda não levantou a suspensão da rede
em território nacional.
• Reforma do Conselho de Segurança
Quanto ao principal
recado de Lula na ONU, sobre a necessidade de reformar instituições
multilaterais para aumentar a representatividade dos países em desenvolvimento,
os EUA estariam dispostos a apoiar parcialmente o pleito do país.
"Somos favoráveis
à expansão do Conselho de Segurança e do ingresso de Brasil, Alemanha, Índia,
além de dois países da África" como membros permanentes do colegiado,
afirmou Roberson.
Atualmente, o Conselho
de Segurança é composto por 15 membros, mas apenas cinco permanentes: EUA,
China, Rússia, França e Reino Unido.
Conhecidos como P5, as
potências também são os únicos países a contar com poder de veto sobre qualquer
decisão aprovada pelo grupo.
A reforma do Conselho
é uma demanda histórica do Brasil — e há enorme ceticismo sobre a possibilidade
de que ela se concretize em algum momento.
Em reunião conjunta
entre G-20 e a Assembleia Geral da ONU, Lula detalhou algumas das propostas do
Brasil sobre o tema. Uma delas é o fim do poder de veto.
"O que nós
estamos desejando é que haja uma nova geopolítica para que a gente possa ter a
totalidade dos continentes representados na ONU, incluindo no Conselho de
Segurança, acabando com o direito de veto e aumentando o poder de comando das
Nações Unidas. Se isso acontecer, eu penso que a gente poderia evitar muitos
conflitos de hoje", afirmou Lula — que citou Ucrânia e Gaza como exemplos
da disfuncionalidade do Conselho.
Roberson deixa claro
que os EUA não são nem a favor de expandir o poder de veto, nem de aboli-lo.
"Não somos a
favor de expandir o poder de veto porque ele não ajuda o funcionamento do
Conselho de Segurança", afirmou a porta-voz, reconhecendo a paralisia do
órgão dado o antagonismo entre posições de EUA e China e Rússia.
"Também não somos
a favor da abolição do poder de veto. Mas quando chegarem as propostas
concretamente vamos avaliar em detalhes novamente. O que temos feito é
convidado outros países a começar esse processo. Tem havido muitas palavras
ditas na ONU, mas até agora nada por escrito", afirmou Roberson, sugerindo
um processo formal de reforma, que também interessa ao Brasil.
No discurso ao G-20 na
ONU, Lula chegou a cogitar a evocação do Artigo 109 da Carta da ONU, capaz de
dar início a uma espécie de processo constituinte das Nações Unidas.
A porta-voz do
Departamento de Estado dos EUA não soube informar se os americanos endossariam
a medida, caso o governo brasileiro a leve adiante.
• Encontro entre Lula e Biden no Brasil
Roberson confirma que
os planos da Casa Branca incluem uma visita de Biden ao Brasil, em novembro,
para participar do encontro de líderes do G-20, no Rio de Janeiro.
A equipe de Lula,
porém, convidou o americano também para um tour na Amazônia, algo parecido com
a visita guiada feito com o líder francês Emmanuel Macron recentemente.
O passeio na Amazônia
tem sido tratado pela diplomacia brasileira como uma das principais ferramentas
de soft power do Brasil sob Lula.
"Não tenho como
confirmar, mas certamente seria interessante", disse Roberson sobre a
possível visita de Biden à Amazônia.
A BBC News Brasil
apurou que a data em negociação entre as equipes para o evento seria 17 de
novembro, depois da eleição americana e quando se espera que o resultado já
seja conhecido. Biden encerra seu mandato em janeiro de 2025.
A se concretizar, a
visita de Biden será a primeira de um presidente americano ao Brasil desde
2011, quando Barack Obama esteve no país.
Fonte: Reuters/BBC
News Brasil
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