sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Fantoche dos EUA? Novo chefe da OTAN não mudará política beligerante do grupo, afirmam analistas

Mark Rutte assume, nesta terça-feira (1º), o cargo de secretário-geral da OTAN. Diante de um mundo em que o bloco militar europeu perde proeminência e o foco geopolítico se direciona à Ásia, o ex-primeiro-ministro holandês não só continuará a política beligerante da organização como seguirá tomando ordens dos EUA.

Jens Stoltenberg, ex-secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), passou o bastão nesta terça-feira (1º) para o ex-primeiro-ministro holandês Mark Rutte, que assume o posto em um momento de inflexão para o bloco militar.

Frente a uma mudança do palco geopolítico da Europa para a Ásia — muito em decorrência do desenvolvimento da China enquanto segunda maior potência mundial, assumindo o antigo posto da União Soviética —, a OTAN repensará sua atuação?

À reportagem, Rubens de Siqueira Duarte, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME) afirma que "os principais desafios de Rutte são os mesmos que a OTAN enfrenta nos últimos anos", como o embate à Rússia e a falta de cooperação interna.

"A crise de legitimidade deixada pela péssima atuação da OTAN nos Balcãs parece ter sido superada diante de um inimigo externo em comum: a Rússia."

·        Criada para conter a Rússia

Em entrevista à Sputnik Brasil, Vinicius Modolo Teixeira, professor de geopolítica da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e especialista em organizações de tratados militares entre países, explica que desde que foi criada, a OTAN tem como intuito conter o que Estado que atualmente conhecemos como Rússia.

Desde antes da Segunda Guerra Mundial, a Europa via com preocupação a extensão do território russo, seja na forma de Império Russo, seja como União Soviética, e seu domínio da "heartland", conceito do teórico Halford John Mackinder — usado para definir o centro euro-asiático, região que possui vastos recursos naturais.

"Esse território é considerado o mais importante e efetivamente quem o governasse dominaria o mundo", explica Teixeira.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a ascensão da União Soviética como potência anti-hegemônica, a política de contenção foi implementada pelas potências ocidentais, postulada por George F. Kennan.

A medida se deu de diversas maneiras, mas a de maior destaque foi a criação de blocos militares, dentre os quais a OTAN é o mais célebre, mas também podem ser mencionadas a Organização do Tratado Central (CENTO, na sigla em inglês) e a Organização do Tratado do Sudeste Asiático (SEATO, na sigla em inglês).

Depois da Guerra Fria, destaca Teixeira, que é também coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Territorial e Geopolítica (DTG-LAB), da Unemat, houve ainda uma tentativa de separar a Federação da Rússia em pequenos territórios, como prova do medo que a extensão territorial da recente federação causava nas mentes ocidentais.

Hoje, com a proximidade gradual da OTAN das fronteiras russas e o início da operação especial na Ucrânia, as conversas sobre a fragmentação do Estado russo retornaram na mídia e na política por forças que veem na pluralidade étnica do país uma desculpa para a balcanização da Rússia.

"A União Soviética deixou de existir, mas a teoria do 'heartland' e o poder que a sua dominação adviria ainda existem. E a existência da OTAN é justificada por essa perseguição, pelo domínio do território do centro da Eurásia."

·        OTAN: nova chance sob Rutte?

Eleito para um mandato de cinco anos e podendo ser reeleito por mais cinco, o cargo de líder da organização é geralmente concedido a um diplomata ou político europeu, enquanto o controle militar é dado a um general estadunidense, o mesmo que chefia o Comando Europeu.

Como adianta Rubens Duarte, que coordena o Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo), Rutte não terá muita margem de ação para mudar os rumos da OTAN, uma vez que os problemas que enfrenta são os mesmos historicamente enfrentados pela organização.

Teixeira, por sua vez, concorda em parte com a opinião do professor da ECEME. Segundo o professor da Unemat, o secretário-geral atua mais como um porta-voz das vontades dos países integrantes, em vez de realmente ditar os rumos da organização militar.

"O secretário-geral da OTAN atua de maneira a responder aos anseios de quem está por trás dele, que são esses países mais poderosos: Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha."

O histórico de Rutte, no entanto, é conhecido pelos países-membros da OTAN e, portanto, deve ser levado em consideração para a sua escolha como novo líder do grupo.

Nesse sentido, Vinicius Molodo Teixeira destaca que o político é conhecido por sua personalidade "negociadora" e por ter "pouca experiência na área de defesa". Ou seja, sua eleição pode significar um novo capítulo no conflito ucraniano, se assim for o desejo das potências ocidentais.

No entanto, esse não parece ser o caminho que os países líderes da OTAN querem seguir. Em seu primeiro discurso como secretário-geral, Rutte destacou que uma Ucrânia forte e integrante do bloco militar é necessária para a segurança europeia e direcionou suas críticas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, e à China.

As falas, infelizmente, retomam a ideia de contenção euro-asiática contra a Rússia e, agora, a China.

¨      Novo secretário-geral da OTAN continua política de Stoltenberg em relação à Rússia, diz especialista

O novo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte, continuará a seguir a política de seu antecessor, Jens Stoltenberg, em relação à Rússia, disse Oleg Ivanov, professor do departamento de segurança nacional e internacional da Academia Diplomática do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, à Sputnik.

Hoje (1º), na sede da OTAN em Bruxelas, é realizada a cerimônia formal de posse do novo secretário-geral.

O especialista observou que Rutte é conhecido como um pragmático e está na política há dez anos.

Tem uma grande experiência em construir pontes entre pessoas com visões diferentes e, assim, pode suavizar as tensões existentes entre membros do bloco, segundo Ivanov.

O especialista se referiu em particular à questão da aquisição do sistema de mísseis antiaéreos russo S-400 pela Turquia e sua aproximação do BRICS.

Isso irrita os Estados Unidos que também quiseram obter acesso ao S-400, mas Ancara recusou.

"Sobre a Rússia, a situação é conhecida, ele disse uma vez em uma das entrevistas que estava se esforçando para chegar a esse cargo por causa do que ele chama de guerra no território da Ucrânia com a Rússia, foi um incentivo para chegar a esse cargo, acho que nas relações com a Rússia isso [a chegada de Rutte] não vai afetar, a OTAN vai manter a mesma posição em relação ao nosso país", disse Ivanov.

Recentemente, têm surgido no Ocidente mais e mais ideias sobre um conflito armado direto entre a Aliança Atlântica e a Rússia.

O Kremlin, por outro lado, observou que a Rússia não representa uma ameaça, não ameaça ninguém, mas não vai ignorar ações potencialmente perigosas para seus interesses.

Além disso, nos últimos anos, tem se notado uma atividade sem precedentes da OTAN perto das fronteiras russas ocidentais.

A aliança está expandindo as iniciativas e as chama de "dissuasão da agressão russa".

¨      Kremlin diz não esperar que política da OTAN mude com Mark Rutte; novo líder cita China em discurso

A OTAN não mudará seu rumo nem suas atividades com a nomeação do ex-primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, como novo secretário-geral da Aliança Atlântica, disse nesta terça-feira (1º) o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Rutte assumiu o cargo de chefe da OTAN hoje (1º), em um momento crítico do conflito na Ucrânia, onde as forças russas estão avançando no leste do país, e pouco mais de um mês antes da eleição presidencial dos Estados Unidos.

"Nossas expectativas são de que a OTAN continue trabalhando na mesma direção em que vem trabalhando [...]. Houve um tempo em que havia esperanças de construir boas relações pragmáticas — pelo menos, tal diálogo foi conduzido, mas posteriormente sabemos que os Países Baixos assumiram uma posição um tanto irreconciliável, uma posição de exclusão completa de qualquer contato com nosso país, portanto, não acreditamos que algo significativamente novo acontecerá na política da aliança", afirmou o porta-voz.

As declarações de Peskov, feitas mais cedo, acabaram indo de encontro ao discurso feito por Rutte em sua posse, ao receber de Jens Stoltenberg o bastão para liderar o cargo.

O "apoio à Ucrânia e o aumento dos gastos para fortalecer a capacidade militar da aliança" serão as maiores prioridades do novo secretário-geral.

"Manteremos as mesmas prioridades no futuro. Temos de garantir que a Ucrânia emerja como uma nação soberana, independente e democrática. Em relação à dissuasão e à defesa, temos de gastar mais, temos de fortalecer a nossa defesa coletiva", disse Rutte em seu discurso de posse.

Ao mesmo tempo, Rutte afirmou que vai trabalhar para que consequências à reputação da China aconteça por "alimentar o maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial", disse ele, segundo a Reuters.

¨      Lula volta a criticar Conselho de Segurança da ONU: é 'inexplicável' não convencer Israel a dialogar

Em meio ao aumento das tensões no Oriente Médio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a atuação de Israel nos confrontos na Faixa de Gaza e, mais recentemente, no Líbano. A declaração ocorreu horas antes do ataque do Irã contra Tel Aviv, o que acendeu o temor de uma guerra total na região.

Para o presidente Lula, é "inexplicável" a falta de autoridade do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para fazer com que Israel dialogue sobre os conflitos em curso no Oriente Médio, principalmente com o Hamas e o Hezbollah. O petista também comentou a respeito da operação para repatriar brasileiros que vivem no Líbano — são mais de 25 mil pessoas, a maior comunidade do país na região.

"Nós vamos fazer isso [repatriação] em todos os lugares em que for preciso. Agora, o que eu lamento profundamente é o comportamento do governo de Israel. Sinceramente, é inexplicável que o Conselho da ONU não tenha autoridade moral e política de fazer com que Israel sente em mesa para conversar, em vez de só saber matar", declarou Lula após ser questionado por jornalistas ao se dirigir para a posse da presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, nesta terça-feira (1º).

Formado por cinco países com assento permanente — França, China, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia —, o Conselho de Segurança da ONU também foi criticado por Lula em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU). Há décadas, o Brasil tem defendido a inclusão de novos países da América Latina e África no principal órgão da entidade, além de condenar o poder de veto.

<><> EUA repreendem Israel, que declarou secretário-geral da ONU persona non grata

A decisão de Israel de declarar o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, persona non grata, é improdutiva, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, nesta quarta-feira (2).

"Não vemos que seja produtivo de forma alguma", disse o porta-voz sobre o gesto do governo israelense.

 

No início do dia, o Ministério das Relações Exteriores de Israel declarou Guterres persona non grata e o proibiu de entrar no país.

Segundo o chanceler israelense, Israel Katz, Guterres não condenou o ataque com mísseis promovido pelo Irã e, portanto, "não merece colocar os pés em solo israelense".

Além disso, Guterres foi acusado de apoiar combatentes do Hamas no ataque contra Israel em 7 de outubro de 2023.

Na última terça-feira (1º), o Irã lançou dezenas de mísseis contra o território israelense. Segundo a mídia iraniana, os projéteis atingiram vários alvos militares e de segurança.

Segundo o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, o ataque foi uma resposta legítima às ações israelenses, "em prol da paz e da segurança do Irã e da região".

¨      Chanceler da Índia diz que país não compartilha visão do novo premiê do Japão sobre OTAN asiática

O novo primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, prometeu nesta terça-feira (1º) reforma política e ajuda às famílias à medida que os preços sobem, ao mesmo tempo que enfatizou buscar laços mais profundos com nações aliadas.

O ex-ministro da Defesa, de 67 anos, que na semana passada venceu uma disputa acirrada para liderar o Partido Liberal Democrata (LDP, na sigla em inglês), foi confirmado no início do dia como primeiro-ministro pelo parlamento.

A abordagem de seu governo à diplomacia com o aliado mais próximo do Japão, os Estados Unidos, estará em foco, já que ele tem repetidamente pedido um relacionamento mais equilibrado com Washington, incluindo maior supervisão das bases no Japão usadas pelos militares dos EUA.

Ishiba também propôs a criação de uma versão asiática do grupo de segurança coletiva OTAN para dissuadir a China, uma ideia que pode atrair a ira de Pequim e já foi descartada por uma alta autoridade dos EUA como precipitada, relata a Reuters.

Nesta terça-feira (1º), o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, disse que não compartilha a visão de uma "OTAN asiática" pedida por Shigeru Ishiba.

Jaishankar disse em um evento no Carnegie Endowment for International Peace, em Washington, que, diferentemente do Japão, a Índia nunca foi aliada de outro país por tratado.

"Não temos esse tipo de arquitetura estratégica em mente. Temos [...] uma história diferente e uma maneira diferente de abordar [...]", afirmou Jaishankar quando perguntado sobre a ligação de Ishiba.

Índia e Japão, junto com Estados Unidos e Austrália, fazem parte do chamado grupo do Diálogo de Segurança Quadrilateral (também conhecido como Quad) de países estabelecido como um contrapeso à China.

Além da criação de uma OTAN asiática, o novo premiê pediu o estacionamento de tropas japonesas em solo norte-americano e até mesmo o controle compartilhado das armas nucleares de Washington como um impedimento contra os vizinhos do Japão que possuem armas nucleares, nomeadamente China, Rússia e Coreia do Norte.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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