sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Pepe Escobar: ‘Vendo o rio da China correr’

A importante página da web Guancha publicou a transcrição da excelente palestra proferida na Universidade de Renmin sobre as relações China/ Estados Unidos por Martin Jacques, autor de When China Rules the World (Quando a China dominar o mundo). Jacques é um dos pouquíssimos ocidentais com experiência no terreno que de fato entendem a psique e o modo de vida chineses em comparação com o Ocidente.

Um trecho particularmente intrigante dessa palestra trata da pesquisa realizada por Danny Quah, reitor do amplamente respeitado Instituto Lee Kuan Yew, de Cingapura. O assunto é dinheiro:

“Entre 1980 e 2020, a participação da Europa no PIB global caiu de 26% para 15%. Em outras palavras, caiu 11 pontos percentuais, uma queda muito significativa. Embora o declínio nos Estados Unidos tenha sido menor, verificou-se uma queda de 21% na década de 1980 a menos que 16% em 2020. De uma outra perspectiva, a Ásia e o Leste Asiático estão em permanente ascensão. Sua participação em 1980 era de 11,5%, subindo para 25% em 2020. Nesses 25%, a maior parte corresponde à China, que reponde por 18%”.

O que isso ilustra de forma patente é o agudo deslocamento do centro de gravidade econômica mundial – independentemente dos tsunamis retóricos vindos do Hegêmona. Em 1980, o centro econômico era atlanticista. Quah, no entanto, acredita que o centro econômico só atingirá a fronteira sino-indiana em 2050.

Quando acrescentamos à China os 10 membros da ASEAN, sem ao menos levar em conta o Sul da Ásia, pode-se afirmar que o centro econômico já estará no Leste em 2030, e será sino-indiano até 2040.

Jacques está correto quanto a que, nessa época, a “Idade Asiática” irá substituir a “Idade Ocidental”, vigente no mundo desde 1750. Falando em termos pessoais, depois de viver e trabalhar na Ásia pela maior parte das últimas três décadas, considero nosso século o “Século Eurasiano”.

E, resumindo, essa é a razão de as elites hegemônico/atlanticistas estarem em modo Pânico Profundo. O almoço grátis – de explorar as riquezas do Sul Global – está chegando ao fim.

·        Hong Kong de novo sob holofotes

A China já formulou o plano-mestre de seu desenvolvimento até 2035, e em vários aspectos, indo até 2049. A atual conjuntura, entretanto, é extremamente complexa.

O Banco Popular da China vem levando muito a sério os tão necessários ajustes na economia. No início desta semana, o Banco anunciou cortes nas taxas das hipotecas existentes e na taxa de reserva obrigatória: esse é o montante de dinheiro que os bancos comerciais têm que manter como reserva. O Banco Popular da China também efetuou cortes na política cambial de referência e reforçou os mercados de capital.

Então o Politburo, presidido pelo Presidente Xi Jinping em pessoa, interveio com força total, comprometendo-se a proteger a iniciativa privada chinesa, a finalmente estabilizar o sempre claudicante mercado imobiliário e a adotar as despesas fiscais necessárias.

Isso no que concerne o front interno. No front externo, a China vai de vento em popa. A prioridade mais alta é a lenta mas segura internacionalização do yuan. E é aí que entra o papel crucial de Hong Kong – tal como detalhado em um relatório da Universidade Renmin.

A China já vem desdolarizando em ritmo vertiginoso. A participação do dólar dos Estados Unidos no comércio bilateral caiu de 80% para menos de 50%.

O comércio externo chinês vem sendo conduzido principalmente em yuan – e o petroyuan nem ao menos atingiu força máxima. Desde o início da Operação Militar Especial da Rússia na Ucrânia, em fevereiro de 2022, o yuan se converteu de fato na moeda de reserva asiática para a Rússia. Paralelamente, Pequim vem acelerando os swaps de moeda por todo o espectro e designado um maior número de bancos de compensação por todo o mundo.

Hong Kong está em uma categoria incomparável quando se trata de instituições financeiras estado-da-arte. Daí a conexão ser inevitável para os investidores globais: acordos de todo o tipo são possíveis na China por intermédio de Hong Kong, com o bônus adicional de evitar as sanções do Hegêmona.

De agora em diante, portanto, Hong Kong se tornará, mais que nunca, o Santo Graal para todos os tipos de transações denominadas em yuan. Temos aí um ímã para os craques em tecnologia financeira.

Hong Kong já é o maior mercado do mundo para o yuan offshore – processando quase 80% de todos os pagamentos. Três meses atrás, segundo a Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA), a Região Administrativa Especial tinha 151,7 bilhões em depósitos offshore.

Não foi por acidente que um alto executivo da HKMA participou do Fórum Econômico do Leste em Vladivostok, no início deste mês. Com os altos juros praticados nos Estados Unidos e os baixos juros do Banco Popular da China, títulos em yuan offshore serão emitidos como se não houvesse amanhã.

·        Destruição nuclear ou a evolução de uma nova ordem imperfeita

De Pequim a Hong Kong, as elites político-econômicas chinesas sentem-se perfeitamente confortáveis com o fato de que, pela primeira vez na história, a ascensão de uma grande potência não vem sendo condicionada por imperialismo, guerra, escravidão e pilhagem e todos os citados acima, mas sob aquilo que foi codificado pelas reformas de fins da década de 1970, do Pequeno Timoneiro Deng Xiaoping, como “desenvolvimento pacífico.

Isso se espelha em conceitos como ganha-ganha, prosperidade mútua, igualdade, “comunidade de um futuro em comum para a humanidade” e, como projeto-mestre geoeconômico, os corredores de conectividade entrelaçados cruzando a Iniciativa Cinturão e Rota (ICR).

Enquanto a China investe em desenvolvimento de infraestrutura por todo o mundo, o Hegêmona impõe sanções, bombardeia, apoia variações das Guerras Eternas e financia e arma revoluções coloridas.

A “estratégia” do Hegêmona, que mal se qualifica como mediocridade extrema, vai de o governo dos Estados Unidos financiar uma campanha de 1,6 bilhões de dólares para difamar a China até os republicanos se dividirem sobre a questão de uma mudança de regime em Pequim ser sua meta suprema, e o embaixador democrata em Pequim estar convencido de que a política de Washington para a China não é demasiado belicista.

Temos então aquele insignificante funcionário e Secretário de Estado Adjunto Kurt Campbell – o homem que inventou o “pivotar para a Ásia” no primeiro mandato de Obama – ordenando que os europeus hostilizem a China e definindo Pequim, em frente à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, como “o maior desafio de nossa história”.

Na Ásia, muito poucos QIs acima da temperatura ambiente dão atenção a esses palhaços. Muito diferente é o que vem emergindo em discussões informadas do Sul ao Sudeste da Ásia, de que o avanço dos BRICS não será suficientemente seguro se a ênfase continuar recaindo em decisões consensuais.

Vem surgindo uma proposta ousada, de que a Rússia e a China – que atualmente lideram os BRICS – devem anunciar na cúpula a ter lugar em Kazan, no próximo mês, que eles apoiam uma aliança yuan/rublo/ouro: o que quer dizer que se o mundo tem que escolher entre a hegemonia do OTANistão ou a alternativa dos BRICS, é melhor começar com dinheiro sólido (real).

Mais além da praticabilidade dessa proposta, há uma séria crítica à Utopia. A Maioria Global deve ser forçada a encarar a dura realidade que tem pela frente – destruição nuclear ou a evolução de um nova ordem ainda imperfeita – e tomar posição, urgentemente.

Enquanto isso, como um rio imperturbado cortando terreno inóspito e rochoso, a China flui silenciosamente em seu caminho rumo à primazia pacífica.

 

¨      Laços entre Rússia e China garantem a estabilidade 'na Eurásia e em todo o mundo', diz Putin

O presidente russo Vladimir Putin disse que os laços entre a Rússia e a China estão a um nível sem precedentes, com os países coordenando esforços no interesse de construir uma ordem mundial justa.

O telegrama enviado ao líder chinês Xi Jinping por ocasião do 75º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois Estados foi publicado no site do Kremlin.

"Atualmente, os laços entre a Rússia e a China estão a um nível elevado sem precedentes. Nossos países cooperam ativamente nas esferas política, comercial e econômica, científica e técnica e em muitas outras esferas, coordenando efetivamente os esforços em assuntos regionais e internacionais no interesse da construção de uma ordem mundial multipolar justa", disse a declaração.

Putin expressou confiança de que a implementação dos acordos bilaterais alcançados após as recentes reuniões vai contribuir para fortalecer ainda mais as relações de parceria abrangente e cooperação estratégica entre a Rússia e a China, além de garantir a estabilidade e a segurança na Eurásia e em todo o mundo.

Por sua vez, o presidente chinês Xi Jinping disse que está pronto para expandir a cooperação pragmática abrangente entre a China e a Rússia.

Xi acrescentou que a parceria russo-chinesa implica uma promoção conjunta do "desenvolvimento e modernização de alta qualidade dos dois países".

"Atribuo grande importância ao desenvolvimento das relações sino-russas e estou pronto para trabalhar com o presidente Putin para usar o 75º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países como uma oportunidade para garantir firmemente a direção das relações bilaterais, expandir continuamente a cooperação pragmática abrangente entre a China e a Rússia, promover conjuntamente o desenvolvimento e a modernização de alta qualidade dos dois países e dar novas contribuições para manter a paz e a estabilidade em todo o mundo", disse.

A Rússia e a China comemoram o 75º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas em 2 de outubro.

A União Soviética se tornou o primeiro país a reconhecer a República Popular da China no dia seguinte à sua proclamação.

¨      Xi Jinping promete maiores conquistas e contribuições da China à paz e ao desenvolvimento da humanidade

Uma recepção para celebrar o 75º aniversário da fundação da República Popular da China (RPCh) foi realizada na noite desta segunda-feira (30), hora local, no Grande Palácio do Povo em Beijing.

O presidente chinês, Xi Jinping, participou da solenidade e fez um pronunciamento importante. Xi Jinping reiterou que, desde a fundação da República Popular da China há 75 anos, o nosso Partido uniu e liderou o povo de todos os grupos étnicos do país a trabalhar incansavelmente, criou dois milagres de rápido crescimento econômico e estabilidade social duradouro, trazendo uma grande transformação ao país e um processo histórico irreversível para a revitalização da nação.

Na nova era e nova jornada, o povo chinês alcançará mais conquistas notáveis e fará maiores contribuições para a nobre causa da paz e do desenvolvimento da humanidade, declarou o presidente.

O líder chinês apontou ainda que a construção de uma nação forte e revitalizada, por meio da modernização, constitui a tarefa central do Partido e do Estado na nova era e nova jornada.

A grande revitalização da nação chinesa é uma aspiração comum de todos os chineses, incluindo os compatriotas de Hong Kong, Macau e Taiwan, acrescentou Xi Jinping.

O presidente chinês reiterou que Taiwan é um território sagrado da China. A reunificação completa do país é uma tendência inevitável que representa a justiça e a vontade da população, afirmou em seu discurso.

Xi Jinping salientou que, depois de 75 anos de trabalhos árduos, a modernização chinesa já apresenta um futuro promissor. Entretanto, o líder chinês afirmou que é preciso pensar nos cenários piores, permanecer vigilantes contra os perigos, mesmo em tempos de calmaria, e estar determinados a superar todos os riscos e desafios incertos. Nenhuma dificuldade pode impedir o povo chinês de avançar ainda mais, reiterou o presidente da China.

·        China desenvolve modelo de IA com trilhões de parâmetros em chips próprios

A gigante chinesa de telecomunicações China Telecom desenvolveu dois grandes modelos de linguagem de IA utilizando chips de produção própria, sendo um deles com 1 trilhão de parâmetros, informou o jornal South China Morning Post nesta segunda-feira.

O modelo de código aberto TeleChat2-115B e um segundo modelo, ainda sem nome, foram testados em dezenas de milhares de chips de produção própria, marcando um importante avanço em meio ao aumento das restrições dos EUA ao acesso da China a semicondutores avançados, incluindo os chips de inteligência artificial mais recentes da Nvidia, segundo o jornal.

O desenvolvimento foi conduzido pelo instituto de pesquisa em IA da China Telecom. O TeleChat2-115B contém mais de 100 bilhões de parâmetros, enquanto o modelo sem nome possui 1 trilhão de parâmetros. O número de parâmetros envolvidos no processo de treinamento determina a complexidade e eficiência dos modelos de IA.

Em outubro de 2022, os Estados Unidos anunciaram uma série de regras restringindo a exportação de equipamentos e componentes para a produção de chips avançados para empresas localizadas na China. Um ano depois, o Departamento de Comércio dos EUA emitiu novas restrições à exportação de tais semicondutores. Essas regras alteraram a definição de chips de IA e introduziram requisitos adicionais de licenciamento para seu envio a mais de 40 países, a fim de evitar sua revenda para a China.

Na China, existem mais de 100 LLMs (modelos de linguagem de grande escala) com mais de 1 bilhão de parâmetros. Eles podem ser usados em transmissão de informações eletrônicas, saúde, transporte e em várias outras áreas. Em dois anos, o tamanho dos modelos de linguagem de grande escala aumentou milhares de vezes, e o custo da potência computacional continua a cair. A tecnologia LLM está avançando rapidamente e pode lidar com texto, linguagem e visão, mas, para alcançar a AGI (inteligência artificial geral, que pode pensar e agir como um humano), os modelos de próxima geração devem ser maiores, mais complexos e com pensamento lógico de múltiplos níveis.

 

Fonte: Brasil 247/Sputnik Brasil     

 

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