sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Nas mãos de Toffoli, o segredo mais bem guardado da República de Curitiba

Está nas mãos do Ministro Dias Toffoli desvendar um dos segredos mais bem guardados da República de Curitiba: as fitas e vídeos gravados por Sérgio Costa, de contatos polêmicos com desembargadores, inclusive na famosa “festa da cueca”.

Costa era sócio do advogado Roberto Bertholdo – suspeito de ter grampeado o juiz Sérgio Moro. Desconfiado de que estaria sendo passado para trás por Bertholdo, Costa passou a gravar todos os encontros com desembargadores do TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4a Região), inclusive quem supostamente combinaria a tal “festa da cueca”.

Costa foi alvo de represálias de Bertholdo e acabou saindo do Brasil, indo se refugiar no Chile. Bertholdo entrou na alça de mira do juiz. Quando Moro conseguiu enredar o empresário Tony Garcia, e obrigá-lo a colaborar com ele, Garcia convenceu Costa a entregar o material gravado. Segundo Garcia, foi firmado um acordo de imunidade, então, com os procuradores Januário Paludo e Santos Lima, homologado por Sérgio Moro.

O material ficou escondido nos arquivos físicos da 13a Vara Federal, de Moro. Segundo Garcia, Moro teria utilizado o material para pressionar desembargadores. Nesses 18 anos, por várias vezes foi solicitado acesso ao material.

Depois da saída de Eduardo Appio, a 13ª Vara foi entregue ao juiz Danilo Pereira Junior, estreitamente ligado a Sérgio Moro e aos sistemas de poder que atuam no TRF4. Tony Garcia denunciou-o, por estar envolvido nos problemas do Consórcio Garibaldi e, por isso, ser suspeito para investigar ações de Moro. Danilo foi convocado, então, para atuar junto à presidência do TRF4 e seu lugar foi ocupado pelo juiz Guilherme Roman Borges.

Aproveitando a mudança, Garcia entrou com pedido para ter acesso às gravações de Sérgio Costa. Borges levou dois meses para encontrar, escondido nos arquivos físicos da 13a Vara. Provavelmente Sérgio Moro foi alertado por antigos membros de sua equipe. Por alguma razão, mudou de opinião e se negou, inclusive a encaminhar o material para o Ministro Toffoli.

Agora há  receio de que, havendo alguma demora, algo possa inutilizar o material, especialmente porque todos os funcionários da 13a Vara são da época de Moro. Para prevenir, Garcia fez uma petição ao Ministro Toffoli solicitando o resgate das gravações.

 

•        Appio revela bastidores da 13ª Vara e lembra esqueletos no armário de Sergio Moro

Em primeira entrevista ao jornalista Luis Nassif desde sua ascensão e queda da 13ª Vara Federal de Curitiba, o juiz federal Eduardo Appio revelou detalhes dos batidores da batalha para tentar passar um pente-fino na Operação Lava Jato.

Appio foi removido em definitivo da Lava Jato após um acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), motivado por uma representação com as digitais de Sergio Moro e do desembargador Marcelo Malucci (pai do genro e sócio do canal Moro). Hoje, Appio atua numa vara cível, enquanto Moro aguarda julgamento no CNJ por atos envolvendo o “orçamento secreto” de cerca de 5 bilhões que ele mantinha sob sigilo na 13ª Vara.

Na entrevista exclusiva para o GGN, Appio avaliou que a imprensa foi a principal responsável por catapultar as figuras salientes da Lava Jato, como Moro e Deltan Dallagnol. O empoderamento artificial subiu à cabeça e levou a uma série de irregularidades que ainda hoje são investigadas e reavalidas pelo Judiciário.

Para Appio, “Sergio Moro é um peão no tabuleiro, como outros agentes políticos foram. Ele não é o homem por trás da cena. Não é o articulador maior que detém o domínio de tudo que acontece no Brasil. Isso é uma redução da complexidade dos fatos. Existe uma conjulgação – e o título do seu livro não poderia ser mais apropriado, ‘a cospiração lava jato’ – uma conjunção de fatores que levaram a tudo que ocorreu.”

Sem rabo preso com o lavajatismo, Appio sofreu resistência da turma leal a Moro e Dallagnol desde o momento em que decidiu se candidatar para substituir Luis Antonio Bonat. Houve pedido de remoção impugnado por lavajatistas que usaram, entre outros motivos, a participação de Appio no programa semanal TVGGN Justiça, onde Appio, como professor de Direito, fazia análises críticas a Lava Jato.

Uma vez dentro da 13ª Vara de Curitiba, Appio constatou que não teria vida fácil como juiz titular. “Os servidores eram a memória viva da Lava Jato desde 2014”, mas seu time de assessores diretos foi esvaziado de propósito.

“O fato é que eu cheguei e só tinha uma assessora, que tive que colocar em indisponibilidade porque o Tacla Duran alegou que ela cometeu uma espécie de infidelidade funcional”, jogando nas mãos da Gabriela Hardt uma ação que questionava justamente sua atuação no caso dele, comentou Appio.

Depois de meses sobrecarregado, Appio pediu reforços à direção geral, à superintendência, ao TRF-4. “Eles nunca ajudaram em nada, lavaram as mãos. Depois tiraram as gratificações aos servidores da Vara, deixando todos com o salário pela metade de uma hora para outra. Depois, mandaram distribuir mais processos para a vara. Foi o caos. Em 2023 eu notifiquei o CNJ de que estávamos entrando em colapso e não sabia mais o que fazer.”

Mas tampouco o CNJ agiu para desafogar o juiz que prometia revirar os esqueletos no armário de Sergio Moro.

TACLA DURAN

Entre os esqueletos deixados por Moro em Curitiba, está o caso Tacla Duran, que acabou sendo o pivô do afastamento de Appio da Lava Jato.

Tacla Duran foi advogado da Odebrecht, uma das empresas investigadas na Lava Jato, e acusou Moro e seu padrinho de casamento, Carlos Zucolotto, de ter tentato extorção em troca de negociar um acordo de delação premiada com os procuradores liderados por Dallagnol.

Appio tentou viabilizar as condições para Tacla Duran depor sobre o caso, mas o desembargador Malucelli – cujo filho é sócio e genro do casal Moro – passou a decidir contrariamente. Foi quando Appio tentou apurar as ligações familiares entre os Moro e os Malucelli, colocando a suspeição do desembargador em pauta.

Quando lembra do caso Tacla Duran, Appio se pergunta: “se Tacla Duran não tivesse nada de relevante, por que essa resistência titânica em ouvi-lo?”

O juiz também conversou com Nassif sobre outros casos embaraçosos para Moro, como o do doleiro Dario Messer, do empresario Tony Garcia e do advogado Roberto Bertholdo.

Segundo Appio, a Lava Jato fez investigações seletivas, muitas vezes poupando doleiros ou grandes bancos, e em outras, perseguindo seus desafetos ou alvos políticos. E o pior: desvirtuando a aplicação das leis e lançando mão de expedientes como a tortura, para conseguir os famigerados acordos de delação premiada.

Appio lembrou que ao tomar posse da 13ª Vara, se deparou com casos de réus qe ficavam cinco dias sem tomar banho ou tomar sol, e eram isolados nas piores condições possiveis na carceragem da PF do Paraná, tendo familiaes ameçados pelas autoridades o tempo tudo. Tudo com a finalidade de induzir o investigado a delatar. “Chegamos a esse tipo de selvageria”, disse.

Para o juiz, foi o trabalho do ministro Luis Felipe Salomão que abriu caminho para que as figuras mais proeminentes da Lava Jato respondam por eventuais erros. “Agora uma luz se abriu.”

Appio narrou mais bastidores da Lava Jato no livro “Tudo Por Dinheiro: a ganância da Lavajato segundo Eduardo Appio”, de autoria de Salvio Kotter, a ser lançado pela editora Kotter a partir de outubro.

 

•        Tony Garcia encontra o vídeo da festa da cueca e teme armação de Sergio Moro

O empresário e ex-deputado Tony Garcia reafirmou nesta quarta-feira (2) que o ex-juiz, declarado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal, Sergio Moro, está envolvido no escândalo da chamada "festa da cueca", em Curitiba (PR), onde o  ex-magistrado e atual senador pelo União Brasil-PR teria usado o evento para chantagear o Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF4), que foi responsável pelos julgamentos de segunda instância da Lava Jato. A chantagem seria para que magistrados do tribunal atendessem aos interesses do ex-juiz parcial.

Conforme revelou com exclusividade o jornalista Joaquim de Carvalho, repórter especial e documentarista do 247, a defesa do empresário protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma petição que pode trazer mais detalhes sobre o evento. A festa teria contado com a participação de prostitutas na suíte presidencial do Hotel Bourbon, em Curitiba, em 2003, antes da Lava Jato.

Segundo os relatos de Garcia, o advogado Sérgio Renato da Costa Filho gravou a festa dos desembargadores com as garotas de programa. Ele era sócio do advogado Roberto Bertholdo. Em entrevista ao 247, publicada nesta quarta-feira, Tony Garcia confirmou que foi discutido o oferecimento de propina a desembargadores do TRF4. "A primeira coisa que Moro fez quando eu saí da prisão foi me chamar em seu gabinete: 'você pode propor imunidade se ele nos entregar as gravações'", relatou.

O advogado Roberto Bertholdo, outro perseguido por Moro, confirmou as revelações feitas por Garcia de que integrantes do Judiciário participaram da chamada "festa da cueca". "Houve algumas ocasiões de festa e gravações clandestinas", afirmou Bertholdo ao jornalista do 247 em setembro do ano passado.

Em dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli determinou a abertura de inquérito na Corte contra Moro e os procuradores que atuaram no acordo de delação de Tony Garcia. Moro vem negando as acusações de ter atuado de forma ilegal quando juiz.

 

Fonte: Jornal GGN/Brasil 247

 

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