Nas mãos de Toffoli, o segredo mais bem
guardado da República de Curitiba
Está nas mãos do
Ministro Dias Toffoli desvendar um dos segredos mais bem guardados da República
de Curitiba: as fitas e vídeos gravados por Sérgio Costa, de contatos polêmicos
com desembargadores, inclusive na famosa “festa da cueca”.
Costa era sócio do
advogado Roberto Bertholdo – suspeito de ter grampeado o juiz Sérgio Moro.
Desconfiado de que estaria sendo passado para trás por Bertholdo, Costa passou
a gravar todos os encontros com desembargadores do TRF4 (Tribunal Regional
Federal da 4a Região), inclusive quem supostamente combinaria a tal “festa da
cueca”.
Costa foi alvo de
represálias de Bertholdo e acabou saindo do Brasil, indo se refugiar no Chile.
Bertholdo entrou na alça de mira do juiz. Quando Moro conseguiu enredar o
empresário Tony Garcia, e obrigá-lo a colaborar com ele, Garcia convenceu Costa
a entregar o material gravado. Segundo Garcia, foi firmado um acordo de
imunidade, então, com os procuradores Januário Paludo e Santos Lima, homologado
por Sérgio Moro.
O material ficou
escondido nos arquivos físicos da 13a Vara Federal, de Moro. Segundo Garcia,
Moro teria utilizado o material para pressionar desembargadores. Nesses 18
anos, por várias vezes foi solicitado acesso ao material.
Depois da saída de
Eduardo Appio, a 13ª Vara foi entregue ao juiz Danilo Pereira Junior,
estreitamente ligado a Sérgio Moro e aos sistemas de poder que atuam no TRF4.
Tony Garcia denunciou-o, por estar envolvido nos problemas do Consórcio
Garibaldi e, por isso, ser suspeito para investigar ações de Moro. Danilo foi
convocado, então, para atuar junto à presidência do TRF4 e seu lugar foi
ocupado pelo juiz Guilherme Roman Borges.
Aproveitando a
mudança, Garcia entrou com pedido para ter acesso às gravações de Sérgio Costa.
Borges levou dois meses para encontrar, escondido nos arquivos físicos da 13a
Vara. Provavelmente Sérgio Moro foi alertado por antigos membros de sua equipe.
Por alguma razão, mudou de opinião e se negou, inclusive a encaminhar o
material para o Ministro Toffoli.
Agora há receio de que, havendo alguma demora, algo
possa inutilizar o material, especialmente porque todos os funcionários da 13a
Vara são da época de Moro. Para prevenir, Garcia fez uma petição ao Ministro
Toffoli solicitando o resgate das gravações.
• Appio revela bastidores da 13ª Vara e
lembra esqueletos no armário de Sergio Moro
Em primeira entrevista
ao jornalista Luis Nassif desde sua ascensão e queda da 13ª Vara Federal de
Curitiba, o juiz federal Eduardo Appio revelou detalhes dos batidores da
batalha para tentar passar um pente-fino na Operação Lava Jato.
Appio foi removido em
definitivo da Lava Jato após um acordo com o CNJ (Conselho Nacional de
Justiça), motivado por uma representação com as digitais de Sergio Moro e do
desembargador Marcelo Malucci (pai do genro e sócio do canal Moro). Hoje, Appio
atua numa vara cível, enquanto Moro aguarda julgamento no CNJ por atos
envolvendo o “orçamento secreto” de cerca de 5 bilhões que ele mantinha sob
sigilo na 13ª Vara.
Na entrevista
exclusiva para o GGN, Appio avaliou que a imprensa foi a principal responsável
por catapultar as figuras salientes da Lava Jato, como Moro e Deltan Dallagnol.
O empoderamento artificial subiu à cabeça e levou a uma série de
irregularidades que ainda hoje são investigadas e reavalidas pelo Judiciário.
Para Appio, “Sergio
Moro é um peão no tabuleiro, como outros agentes políticos foram. Ele não é o
homem por trás da cena. Não é o articulador maior que detém o domínio de tudo
que acontece no Brasil. Isso é uma redução da complexidade dos fatos. Existe uma
conjulgação – e o título do seu livro não poderia ser mais apropriado, ‘a
cospiração lava jato’ – uma conjunção de fatores que levaram a tudo que
ocorreu.”
Sem rabo preso com o
lavajatismo, Appio sofreu resistência da turma leal a Moro e Dallagnol desde o
momento em que decidiu se candidatar para substituir Luis Antonio Bonat. Houve
pedido de remoção impugnado por lavajatistas que usaram, entre outros motivos,
a participação de Appio no programa semanal TVGGN Justiça, onde Appio, como
professor de Direito, fazia análises críticas a Lava Jato.
Uma vez dentro da 13ª
Vara de Curitiba, Appio constatou que não teria vida fácil como juiz titular.
“Os servidores eram a memória viva da Lava Jato desde 2014”, mas seu time de
assessores diretos foi esvaziado de propósito.
“O fato é que eu
cheguei e só tinha uma assessora, que tive que colocar em indisponibilidade
porque o Tacla Duran alegou que ela cometeu uma espécie de infidelidade
funcional”, jogando nas mãos da Gabriela Hardt uma ação que questionava
justamente sua atuação no caso dele, comentou Appio.
Depois de meses
sobrecarregado, Appio pediu reforços à direção geral, à superintendência, ao
TRF-4. “Eles nunca ajudaram em nada, lavaram as mãos. Depois tiraram as
gratificações aos servidores da Vara, deixando todos com o salário pela metade
de uma hora para outra. Depois, mandaram distribuir mais processos para a vara.
Foi o caos. Em 2023 eu notifiquei o CNJ de que estávamos entrando em colapso e
não sabia mais o que fazer.”
Mas tampouco o CNJ
agiu para desafogar o juiz que prometia revirar os esqueletos no armário de
Sergio Moro.
TACLA DURAN
Entre os esqueletos
deixados por Moro em Curitiba, está o caso Tacla Duran, que acabou sendo o pivô
do afastamento de Appio da Lava Jato.
Tacla Duran foi
advogado da Odebrecht, uma das empresas investigadas na Lava Jato, e acusou
Moro e seu padrinho de casamento, Carlos Zucolotto, de ter tentato extorção em
troca de negociar um acordo de delação premiada com os procuradores liderados
por Dallagnol.
Appio tentou
viabilizar as condições para Tacla Duran depor sobre o caso, mas o
desembargador Malucelli – cujo filho é sócio e genro do casal Moro – passou a
decidir contrariamente. Foi quando Appio tentou apurar as ligações familiares
entre os Moro e os Malucelli, colocando a suspeição do desembargador em pauta.
Quando lembra do caso
Tacla Duran, Appio se pergunta: “se Tacla Duran não tivesse nada de relevante,
por que essa resistência titânica em ouvi-lo?”
O juiz também
conversou com Nassif sobre outros casos embaraçosos para Moro, como o do
doleiro Dario Messer, do empresario Tony Garcia e do advogado Roberto
Bertholdo.
Segundo Appio, a Lava
Jato fez investigações seletivas, muitas vezes poupando doleiros ou grandes
bancos, e em outras, perseguindo seus desafetos ou alvos políticos. E o pior:
desvirtuando a aplicação das leis e lançando mão de expedientes como a tortura,
para conseguir os famigerados acordos de delação premiada.
Appio lembrou que ao
tomar posse da 13ª Vara, se deparou com casos de réus qe ficavam cinco dias sem
tomar banho ou tomar sol, e eram isolados nas piores condições possiveis na
carceragem da PF do Paraná, tendo familiaes ameçados pelas autoridades o tempo
tudo. Tudo com a finalidade de induzir o investigado a delatar. “Chegamos a
esse tipo de selvageria”, disse.
Para o juiz, foi o
trabalho do ministro Luis Felipe Salomão que abriu caminho para que as figuras
mais proeminentes da Lava Jato respondam por eventuais erros. “Agora uma luz se
abriu.”
Appio narrou mais
bastidores da Lava Jato no livro “Tudo Por Dinheiro: a ganância da Lavajato
segundo Eduardo Appio”, de autoria de Salvio Kotter, a ser lançado pela editora
Kotter a partir de outubro.
• Tony Garcia encontra o vídeo da festa da
cueca e teme armação de Sergio Moro
O empresário e
ex-deputado Tony Garcia reafirmou nesta quarta-feira (2) que o ex-juiz,
declarado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal, Sergio Moro, está envolvido
no escândalo da chamada "festa da cueca", em Curitiba (PR), onde o ex-magistrado e atual senador pelo União
Brasil-PR teria usado o evento para chantagear o Tribunal Regional Federal da
Quarta Região (TRF4), que foi responsável pelos julgamentos de segunda
instância da Lava Jato. A chantagem seria para que magistrados do tribunal
atendessem aos interesses do ex-juiz parcial.
Conforme revelou com
exclusividade o jornalista Joaquim de Carvalho, repórter especial e
documentarista do 247, a defesa do empresário protocolou no Supremo Tribunal
Federal (STF) uma petição que pode trazer mais detalhes sobre o evento. A festa
teria contado com a participação de prostitutas na suíte presidencial do Hotel
Bourbon, em Curitiba, em 2003, antes da Lava Jato.
Segundo os relatos de
Garcia, o advogado Sérgio Renato da Costa Filho gravou a festa dos
desembargadores com as garotas de programa. Ele era sócio do advogado Roberto
Bertholdo. Em entrevista ao 247, publicada nesta quarta-feira, Tony Garcia
confirmou que foi discutido o oferecimento de propina a desembargadores do
TRF4. "A primeira coisa que Moro fez quando eu saí da prisão foi me chamar
em seu gabinete: 'você pode propor imunidade se ele nos entregar as
gravações'", relatou.
O advogado Roberto
Bertholdo, outro perseguido por Moro, confirmou as revelações feitas por Garcia
de que integrantes do Judiciário participaram da chamada "festa da
cueca". "Houve algumas ocasiões de festa e gravações
clandestinas", afirmou Bertholdo ao jornalista do 247 em setembro do ano
passado.
Em dezembro, o
ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli determinou a abertura de
inquérito na Corte contra Moro e os procuradores que atuaram no acordo de
delação de Tony Garcia. Moro vem negando as acusações de ter atuado de forma
ilegal quando juiz.
Fonte: Jornal
GGN/Brasil 247
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