Eleições
no Rio: Reflexões para 2026
Esta
é uma eleição típica ou atípica? Em política, os termos “normal” e “anormal”
não fazem muito sentido. Porém, sob um prisma analítico, nosso papel como
cientistas políticos é identificar padrões e desvios, de modo a contribuir para
o debate para além da mera factualidade.
Qual
seria, então, o padrão, quando se trata de uma eleição municipal? Em primeiro
lugar, devemos registrar que temas locais e figuras locais importam mais do que
temas e atores nacionais, configurando um ambiente no qual os partidos e suas
alianças nacionais importam menos do que os alinhamentos entre as lideranças
regionais, sabendo que muitos acordos ultrapassam as fronteiras dos municípios.
Essa observação não deve ignorar, contudo, que a polarização nacional — Lula
versus Bolsonaro — contingencia a formação de alianças. Não é trivial mencionar
que a federação Brasil da Esperança — formada por PCdoB, PT e PV — não está
coligada com o PL em nenhum município do estado.
Em
segundo lugar, os alinhamentos e acordos são celebrados entre famílias em sua
imensa maioria chefiadas por patriarcas. Há poucas mulheres, poucas pessoas
negras, poucas minorias, mesmo sendo um pleito marcado por uma maior taxa de
renovação, na medida em que a vereança é a porta de entrada na carreira
política, quando a concebemos de maneira linear. No caso dos municípios do
estado do Rio de Janeiro explorados no Guia Lappcom Eleições Municipais 2024,
todos esses componentes se fazem presentes. Em nenhum dos municípios, exceto
Campos dos Goytacazes, há mulheres encabeçando chapas efetivamente competitivas
à Prefeitura, figurando nas últimas pesquisas com mais de 10% de intenção de
votos.
Os
posicionamentos reacionários acerca da família, das mulheres, das minorias e
dos direitos civis que nos surpreenderam ao serem anunciados e reivindicados
publicamente de modo despudorado e orgulhoso nas eleições de 2016 e 2020 já não
são novidades. Hoje, concorrem com outros posicionamentos menos radicais na
disputa pela preferência do eleitor.
Nas
eleições municipais de 2024, a política tradicional e os políticos
profissionais saem na frente. Essa tendência já é esperada nos pleitos
municipais, menos atravessados pelos condicionantes ideológicos das grandes
discussões nacionais e mais suscetíveis aos vínculos de pertencimento e
interação direta entre lideranças locais e eleitores. O que se percebe é que os
eleitores estão mais interessados em discutir as questões do seu cotidiano, do
seu bairro, da sua comunidade ou, pelo menos, votar em quem parece mais capaz
de fazê-lo.
É
por este motivo que essas lideranças têm sido objeto da cobiça dos grandes
partidos nacionais para serem colocadas como cabeça de chapa nas candidaturas à
Prefeitura, ou como puxadores de voto nas eleições para a Câmara Municipal.
Mesmo
um partido com alta carga de centralização, como o PT, tem aberto mão de lançar
candidatos próprios em prol do apoio a líderes locais bem avaliados pelos
eleitores de suas cidades.
Esta
estratégia decorre de um raciocínio e de uma estratégia. O primeiro diz
respeito a um entendimento de que esta eleição funcionará como um plebiscito
acerca dos prefeitos incumbentes. Aqueles que forem bem avaliados permanecerão
no poder ou elegerão seus indicados. A estratégia é análoga à que observamos
nas eleições francesas, em que a extrema-direita foi contida por alianças
realizadas em cada circunscrição pelos partidos de esquerda e de centro que
renunciaram a seus candidatos em prol daqueles mais bem cotados para derrotar a
extrema-direita.
No
Brasil, convencionou-se definir essa estratégia como “Frente Ampla”. Resta
saber se nessas eleições municipais estão sendo construídas as bases para essa
frente ampla em 2026 no estado.
• Campos
políticos em disputa para o governo do Rio de Janeiro em 2026
Já
virou lugar-comum dizer que as eleições municipais conformam um ensaio geral
para as eleições estaduais que se seguem. Não que haja uma relação automática
entre o resultado das eleições municipais e o das estaduais, mas os prefeitos
eleitos configuram variável importante na organização dos campos em disputa
para o governo do estado. Se isso é verdade, vale a pena avaliarmos quais são
os candidatos e partidos com mais chances de vitória em outubro de 2024 e em
quais campos eles tendem a se organizar.
Vejamos
o caso do estado do Rio de Janeiro: Tudo indica que a eleição para governador
será uma batalha entre três grandes campos políticos: (1) o campo lulista, que
gostaria de ter como seu candidato o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD) —
embora ele negue, até o momento, essa intenção; (2) o campo do atual governador
Claudio Castro (PL), que pode ter como candidato o deputado federal Dr.
Luizinho (PP); (3) e o campo liderado pelo presidente da Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil).
O
primeiro campo é aquele que pode reunir forças da esquerda (PCdoB), da
centro-esquerda (PSB, PDT, PT e PV) e da centro-direita (PSD, Solidariedade,
Podemos, PRD, DC, Agir, Avante) do espectro político do estado. De acordo com
as pesquisas que temos até o momento (15/09), Paes deve ser reeleito prefeito
do Rio com mais de 60% dos votos da cidade. Há também uma grande chance desse
campo eleger Rodrigo Neves (PDT) prefeito de Niterói, Zito (PV) prefeito de
Duque de Caxias, Washington Quaquá (PT) prefeito de Maricá e Andrezinho
Ceciliano (PT) prefeito de Paracambi.
O
segundo campo é o que possui a máquina do estado e, provavelmente, o maior
número de prefeitos que serão eleitos em 2024. Castro não pode tentar a
reeleição como governador, mas é um forte candidato a senador. Nos bastidores,
o que se diz é que o candidato ao governo será o deputado federal Dr. Luizinho
(PP). Essa aliança entre PL e PP, que também pode contar com o MDB, deve
reeleger o prefeito de São Gonçalo, Capitão Nelson (PL), com mais de 70% dos
votos, o prefeito de Campos dos Goytacazes, Wladimir Garotinho (PP), com cerca
de 60%, o prefeito de Magé, Renato Cozzolino (PP), e eleger Dudu Reina (PP) em
Nova Iguaçu e Dr. Serginho (PL) em Cabo Frio. Embora a disputa esteja mais
apertada, é provável a reeleição do prefeito Neto (PP) em Volta Redonda. Esse
campo também deve levar ao segundo turno Valdecy da Saúde (PL) em São João de
Meriti e Hingo Hammes (PP) em Petrópolis.
Também
localizado à direita do espectro político, o terceiro campo tende a ter como
candidato a governador o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil).
Hoje, a principal aposta desse grupo é na eleição do deputado federal Márcio
Canella (União Brasil) como prefeito de Belford Roxo com o apoio do
ex-presidente Jair Bolsonaro e a reeleição do prefeito Alfredão (União Brasil)
em Itaperuna.
Claro,
o que algumas das pesquisas avaliadas indicam pode mudar nas próximas duas
semanas, e o resultado de outubro pode ser outro. Contudo, numa avaliação de
tendências, não seria tão equivocado dizer que esse é o cenário que se desenha
para 2026.
Fonte:
Por Mayra Goulart e Theófilo Rodrigues, em Outras Palavras
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