sábado, 5 de outubro de 2024

Como pode ser reação de Israel a mísseis iranianos — e o que Irã pode fazer em seguida?

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o Irã "cometeu um grande erro" com o lançamento de mísseis contra o território israelense na noite da terça-feira (1/10) e "pagará por isso".

Os bombardeios iranianos aconteceram em meio à escalada de tensões no Oriente Médio com os ataques de Israel contra o Hezbollah no Líbano.

Netanyahu afirmou, após a divulgação pelas forças militares das informações sobre os disparos, que o governo iraniano não entende a "determinação" de seu país em retaliar contra seus inimigos.

"Eles entenderão", ele diz. "Nós manteremos a regra que estabelecemos: a quem quer que nos ataque, nós atacaremos".

A tensão entre Israel e Hezbollah já havia aumentado desde os ataques do grupo palestino Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.

Mas a situação piorou a partir de 17 de setembro desse ano, quando ocorreram explosões de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah no Líbano, matando mais de 30 pessoas e deixando mais de 2 mil feridos. Israel foi acusado pela ação, mas não negou nem confirmou a autoria.

Segundo as forças israelenses, Israel foi alvo de cerca de 180 mísseis — a maioria deles interceptados. Nesta quarta-feira (2/10), o exército de Israel confirmou que oito soldados isralenses morreram na sua invasão terrestre no sul do Líbano.

Mas afinal, qual pode ser a escala de retaliação de Israel ao Irã?

<><> A reação de Israel a mísseis iranianos

Segundo as declarações feitas pelo próprio governo israelense, a resposta virá com força, avalia Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC.

A contenção que os aliados internacionais haviam pedido de Israel após o bombardeio iraniano anterior, em abril, provavelmente não estará em evidência desta vez, diz.

A estratégia de Israel , segundo Gardner, pode ser divida em três categorias:

## Militar convencional – Um alvo inicial e óbvio seriam as bases de onde o Irã lançou os mísseis balísticos. Isso significa plataformas de lançamento, centros de comando e controle, tanques de reabastecimento e bunkers de armazenamento.

Poderia ir além e atingir bases da IRGC, a Guarda Revolucionária iraniana, bem como defesas aéreas e outras baterias de mísseis. Também poderiam tentar assassinar indivíduos-chave envolvidos no programa de mísseis balísticos do Irã.

## Econômico – Essa reação incluiria os ativos estatais mais vulneráveis do Irã, como suas usinas petroquímicas, de geração de energia e, possivelmente, seus interesses no setor naval. Contudo, essa seria uma medida profundamente impopular, já que prejudicaria muito mais a vida da população do que ataques ao setor militar.

## Nuclear – Este é o ponto central para Israel. É um fato conhecido, estabelecido pelo órgão de vigilância nuclear da ONU, a AIEA, que o Irã está enriquecendo urânio muito além dos 20% necessários para energia nuclear de uso civil.

Israel e outros países suspeitam que o Irã esteja tentando atingir o "ponto de ruptura", no qual estaria a um passo de poder construir uma bomba nuclear.

Entre os possíveis alvos de Israel estão Parchin, o epicentro do programa nuclear militar do Irã, reatores de pesquisa em Teerã, Bonab e Ramsar, além de grandes instalações em Bushehr, Natanz, Isfahan e Fordow.

Gardner explica que Israel se prepara há muito tempo, com respostas prontas para o caso de ataques ao Irã.

Agora, os oficiais responsáveis pela defesa do país avaliarão quando e com que força retaliarão.

Os alvos militares mais óbvios são as bases terrestres de onde foram lançados os mísseis balísticos de terça-feira.

Isso inclui não apenas os silos, mas os centros de comando e controle e até mesmo as instalações de reabastecimento, diz o correspondente da BBC.

Segundo ele, Israel poderia até mesmo tentar ativar sua rede de agentes dentro do Irã para ir atrás daqueles que ordenaram e executaram o ataque com mísseis.

"Além disso, se Israel decidir escalar ainda mais, poderia mirar nas instalações nucleares do Irã", diz.

"De qualquer forma, um contra-ataque iraniano seria quase inevitável, com ambos os países perpetuando o atual ciclo de ataque e vingança."

<><> Qual a capacidade de resposta do Irã?

O Irã não pode derrotar Israel militarmente, diz Garner. "Sua força aérea está obsoleta, suas defesas aéreas são frágeis e o país teve que lidar com anos de sanções ocidentais", afirma o correspondente da BBC.

Mas o país ainda possui uma grande quantidade de mísseis balísticos e outros tipos, além de drones explosivos e várias milícias aliadas em todo o Oriente Médio.

O próximo ataque de mísseis iranianos pode ter como alvo áreas residenciais israelenses, em vez de bases militares.

"O ataque de uma milícia apoiada pelo Irã às instalações petrolíferas da Arábia Saudita em 2019 demonstrou o quão vulneráveis seus vizinhos são a ataques", lembra Gardner.

A Marinha da Guarda Revolucionária, que opera no Golfo, possui grandes frotas de pequenos barcos de ataque com mísseis rápidos que poderiam, potencialmente, sobrecarregar as defesas de um navio da 5ª Frota da Marinha dos EUA em um ataque em "enxame".

"Se receber ordens, também poderia semear minas no Estreito de Ormuz, interrompendo o fluxo de até 20% das exportações diárias de petróleo do mundo, o que teria um grande impacto na economia global."

E, além disso, há as bases militares dos EUA espalhadas pela costa árabe do Golfo, de Kuwait a Omã.

O Irã advertiu que, se for atacado, não retaliará apenas contra Israel, mas contra qualquer país que perceba como cúmplice.

¨      O complexo sistema de defesa antiaérea de Israel

Israel usou seu elaborado sistema de defesas aéreas para combater centenas de mísseis e drones lançados pelo Irã na noite de terça-feira (1/10), no horário local.

Os vários elementos do sistema antiaéreo são usados ​​para lidar com diferentes ameaças.

Ele também foi implantado nos últimos meses para defender os ataques do Hamas em Gaza, do Hezbollah no Líbano e dos rebeldes houthis no Iêmen.

Quais são os diferentes níveis do sistema de defesa antimísseis de Israel?

Israel tem vários sistemas de defesa aérea, cada um projetado para interceptar mísseis em diferentes altitudes e distâncias.

Fim do Matérias recomendadas

O Domo de Ferro, o mais conhecido dos escudos antimísseis de Israel, é projetado para interceptar foguetes de curto alcance, assim como projéteis e morteiros, a distâncias entre 4 km e 70 km do lançador de mísseis.

O Estilingue de Davi foi criado para destruir foguetes de longo alcance, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos de médio ou longo alcance a uma distância de até 300 km.

Os sistemas Arrow 2 e Arrow 3 defendem contra mísseis balísticos de médio e longo alcance quando estão a até 2.400 km de distância.

Acredita-se que Israel usou todos os seus sistemas de defesa antimísseis para conter o último ataque do Irã, que contou com o lançamento de cerca de 180 mísseis, alguns dos quais atingiram o território israelense.

O Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC, por sua sigla em inglês) disse que 90% de seus projéteis atingiram seus alvos. Israel disse que a maioria foi interceptada.

É o segundo ataque do Irã este ano, depois de disparar centenas de mísseis e drones contra Israel em abril.

·        Como funciona o Domo de Ferro?

O Domo de Ferro se tornou o sistema de defesa aérea mais testado em combate do mundo, devido ao número de mísseis disparados contra Israel nos últimos anos pelo Hamas e outros grupos militantes em Gaza, além do Hezbollah no Líbano.

Existem baterias Domo de Ferro espalhadas por Israel. Cada bateria compreende três ou quatro lançadores, cada um contendo 20 mísseis interceptadores.

O Domo de Ferro detecta e rastreia foguetes por meio de seu radar e calcula quais deles provavelmente cairão em áreas povoadas. Em seguida, ele dispara mísseis contra esses foguetes, enquanto os outros são deixados para cair em campo aberto.

As Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) alegaram anteriormente que o Domo de Ferro destrói 90% dos foguetes que ele mira. Acredita-se que seus mísseis "Tamir" custem cerca de US$ 50 mil cada (cerca de R$ 272 mil).

O sistema foi desenvolvido após a "Guerra de Verão" em 2006 entre Israel e o Hezbollah. O grupo armado baseado no Líbano disparou quase 4.000 foguetes contra Israel, causando enormes danos e matando dezenas de cidadãos.

Projetado pelas empresas israelenses Rafael Advanced Defense Systems e Israel Aerospace Industries — com algum apoio dos EUA — o Iron Dome foi implantado em 2011.

Ele foi usado pela primeira vez em combate naquele ano, interceptando um foguete disparado a partir de Gaza.

Desde outubro de 2023, os mísseis Domo de Ferro interceptaram dezenas de milhares de foguetes disparados pelo Hamas e outros grupos militantes de Gaza.

·        Como funciona o Estilingue de David?

Desenvolvido em conjunto pela Rafael Advanced Defense Systems de Israel e pela Raytheon dos EUA, ele começou a operar em 2017.

Seus mísseis "Stunner" são projetados para abater mísseis balísticos de curto, médio e longo alcance em baixas altitudes. Assim como o Domo de Ferro, o Estilingue de Davi só tem como alvo mísseis que ameaçam áreas haitadas.

Tanto o Estilingue de David quanto o Domo de Ferro são projetados também para interceptar aeronaves, drones e mísseis de cruzeiro.

Cada míssil Estilingue de David custa cerca de US$ 1 milhão, o equivalente a R$ 5,5 milhões.

O sistema foi usado em setembro de 2024 para abater um míssil balístico disparado pelo Hezbollah do Líbano.

A IDF disse que este era um Qadr-1 de fabricação iraniana — um míssil balístico de médio alcance que pode carregar uma ogiva de 700 kg a 1.000 kg.

O Hezbollah disse que o míssil tinha como alvo a sede do Mossad em Tel Aviv, mas a IDF disse que ele estava indo em direção a uma área residencial.

O Estilingue de David também foi usado em maio de 2023 quando a Jihad Islâmica Palestina, um grupo militante em Gaza, lançou mais de 1.100 mísseis contra Israel. Israel diz que derrubou 96% dos foguetes que representavam uma ameaça.

·        Como funcionam o Arrow 2 e o Arrow 3?

O Arrow 2 foi projetado para destruir mísseis balísticos de curto e médio alcance enquanto eles voam pela atmosfera superior — cerca de 50 km acima da superfície.

O trabalho no sistema começou após a Primeira Guerra do Golfo em 1991, quando o Iraque disparou dezenas de mísseis Scud de fabricação soviética contra Israel. Ele entrou em serviço em 2000.

Ele pode detectar mísseis a 500 km de distância. Ele os intercepta em um alcance relativamente curto — a distâncias de até 100 km do local de lançamento.

Seus mísseis viajam a nove vezes a velocidade do som e podem disparar em até 14 alvos de uma vez.

O Arrow 2 foi supostamente usado em combate pela primeira vez em 2017, para abater um míssil terra-ar sírio.

O Arrow 3 foi implantado pela primeira vez em 2017 e foi projetado para interceptar mísseis balísticos de longo alcance enquanto viajam no topo de seu arco, fora da atmosfera da Terra. Ele tem um alcance de 2.400 km.

Ele foi usado pela primeira vez em combate em 2023, para interceptar um míssil balístico que os rebeldes houthis no Iêmen atiraram contra a cidade costeira de Eilat, no sul de Israel.

O sistema foi desenvolvido pela estatal Israel Aerospace Industries, com ajuda da empresa norte-americana Boeing.

¨      Israel não considera ataques às instalações nucleares do Irã, diz mídia

Israel não está considerando lançar ataques às instalações nucleares do Irã e o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os Estados Unidos se oporiam a tal ataque, informou o jornal Financial Times (FT) nesta quinta-feira (3), citando uma pessoa familiarizada com a situação.

No início da semana, o The Wall Street Journal informou que Israel havia alertado o Irã de que responderia a qualquer ataque em seu território, independentemente de sua escala, e se o Irã atacasse o território de Israel, Israel lançaria ataques diretos contra a infraestrutura nuclear e petrolífera do Irã.

O FT informou que Israel estava avaliando várias opções de resposta para retaliar o Irã, incluindo ataques a lançadores de mísseis ou infraestrutura petrolífera. Algumas autoridades israelenses teriam pedido ataques contra as instalações nucleares do Irã, embora a pessoa familiarizada com o assunto tenha dito que isso não estava sendo considerado.

Ainda na quarta-feira (2), o presidente dos EUA, Joe Biden, falou com os outros líderes do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) para coordenar sanções a Teerã pelo ataque e aconselhar Israel sobre sua resposta.

"Discutiremos com os israelenses, o que eles farão [...], todos os sete concordamos que eles têm o direito de responder, mas devem responder proporcionalmente", disse Biden aos repórteres após a ligação, segundo apuração do FT, afirmando ainda que se oporia a ataques à infraestrutura nuclear do Irã.

As fontes disseram que os EUA e outros aliados ocidentais, em vez disso, pediram que Israel se concentrasse em alvos militares, acrescentando que, ao mesmo tempo, Israel estava se tornando mais autoconfiante após o recente assassinato do líder do movimento libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, e outros altos funcionários. As autoridades israelenses podem estar preparadas para assumir perdas militares e políticas para estarem do lado vencedor, disse a apuração.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse na quarta-feira que os EUA se opõem fortemente a quaisquer ações que possam levar a um grande conflito militar no Oriente Médio, acrescentando que o país estava em negociações com Israel sobre uma possível resposta ao último ataque de mísseis do Irã.

Na terça-feira (1º), o Irã disparou uma enorme quantidade de mísseis contra Israel, chamando-a de um ato de autodefesa. Os militares israelenses disseram que cerca de 180 mísseis balísticos foram disparados, a maioria dos quais foi interceptada. Em resposta, o Irã lançou cerca de 400 mísseis em direção a Israel, dizendo que tinha como alvo as principais instalações militares e de segurança em Israel.

O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, alertou que o Irã enfrentaria "consequências severas" pelos ataques, que ele descreveu como "derrotados e ineficazes", acrescentando que os EUA "trabalhariam com Israel para lidar com a situação".

 

Fonte: BBC News Mundo/Sputnik Brasil

 

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