sábado, 5 de outubro de 2024

Fernando Horta: ‘Netanyahu, O “Mad Man”’

Netanyahu é um autêntico “mad man” que mesmo tendo recebido inúmeros avisos contra a continuidade dos ataques em Gaza, seguiu como se nada estivesse acontecendo

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Ao longo de toda a segunda metade do século XX os EUA e o mundo ocidental criaram teorias de Ciência Política, Relações Internacionais e Geopolítica para convencer o mundo que o maior perigo que poderia existir seria um “homem louco” (mad man, em inglês). A política, para esses cientistas, tinha algumas regras, poderia ser compreendida longe dos indicadores éticos que estavam presentes nos séculos anteriores. Agora, estava privilegiada a lógica economicista, o “ator racional” e outros modelos que literalmente “ensinavam” os agentes a pensarem a “nova configuração” de poder no mundo.

Durante a Guerra Fria esse modelo do “mad man” foi descrito como parte da falta de civilização do Oriente. Os “mad men” eram figuras que, sem o estudo das “teorias científicas” sobre política, eram capazes de oferecer riscos reais ao mundo. Por isso os EUA, Inglaterra, França e até Israel (?) poderiam ter armas nucleares que a “democracia” se encarregaria de que eles tomariam sempre a “melhor decisão”. Já o oriente “incivilizado”, a américa latina “atrasada” e os países comunistas (cuja lógica economicista eram diferentes) eram “ameaças” ao “mundo livre” exatamente porque não respondiam à “racionalidade científica” do Ocidente.

O primeiro líder a receber essa pecha (e talvez até mesmo construir uma política em torno dela) foi Nikita Kruschev. E neste período, entre Kruschev e John Foster Dulles (secretário de Estado dos EUA entre 53 a 59), realmente se estabeleceu um período do terror, com ameaças de uso irracional da força por meio das bombas atômicas. Depois, daí, contudo, o trauma na política internacional estava sacramentado. Vários outros líderes recebiam – ao gosto dos discursos do Ocidente – o rótulo de “mad man”. “Homens maus” que deveriam nunca poder alcançar o poder e, se alcançassem deveriam ser privados de capacidades destrutivas (e até mesmo de sua vida) pelo “bem da humanidade”.

Essa foi a tônica das ações dos EUA ao longo de todo o século XX e início do XXI. Saddam Hussein, Muamar Kadaffi, Fidel Castro, Ho-Chi-Minh, Mao Zedong e tantos outros foram encaixados nessa definição do ocidente cujo único ponto em comum entre eles era serem contrários aos interesses geopolíticos dos EUA em algum momento. O que os EUA não esperavam é que teriam que enfrentar os “mad man” criados por eles mesmos e agora, vestidos de terno e gravata e falando inglês.

A primeira experiência que os EUA tiveram foi exatamente Osama Bin Laden. Treinado e armado pela CIA para lutar contra os soviéticos na guerra entre a URSS e o Afeganistão, Bin Laden acabou sendo o responsável pelo ardiloso atentado ao WTC em 2001. Embora toda a investigação sobre os atentados mostre que houve despreparo, falha e falta de comunicação interna das forças norte-americanas, a narrativa que se plasmou no mundo é a do “homem louco”, irracional, incivilizado e monstruoso.

Hoje, o mundo está às portas de um novo conflito mundial e – agora sim – com a figura de um “mad man” que não responde a nenhuma condição teórica de racionalidade. Se, com Bin Laden, ao menos foi mantida a lógica do “ocidente heróico e racional contra o oriente bestial e monstruoso”, como explicar agora Benjamin Netanyahu? Netanyahu é sim um autêntico “mad man” que mesmo tendo recebido inúmeros avisos de Kamal Harris, Joe Biden e até Donald Trump contra a continuidade de suas atrocidades em Gaza, seguiu como se nada estivesse acontecendo. Netanyahu, um judeu que resolveu – em fala pública – perdoar e desculpar Adolf Hitler, dizendo que ele “não queria” matar judeus no holocausto, mas teria sido incitado por lideranças muçulmanas. Netanyahu, que na última semana atacou quatro países vizinhos em busca de consolidar a sua “Grande Israel” sagrada mostrada em mapas no púlpito da ONU e defendida em artigos jornalísticos de seus ministros.

A verdade é que enquanto Netanyahu não for apeado do poder, por qualquer meio possível, a vida de todas as pessoas no Oriente Médio corre perigo. O líder do governo israelense joga com a vida dos próprios israelenses, criando uma condição de insegurança tal que pede para que Israel seja atacada para que ele se banhe no sangue das vítimas e possa jogar o mundo num conflito mundial.

A segurança de Israel anda de mãos dadas com a segurança das populações de Gaza, do Líbano e da Síria. O destino de um será partilhado pelos outros e é preciso reconhecer que hoje o Irã exercita sua máxima constrição política ao fazer retaliações tópicas e simbólicas contra o território israelense. O Irã sabe que se atacar Israel como Netanyahu quer o “mad man” terá vencido e um conflito mundial de proporções incalculáveis estará quase consolidado.

É preciso resistir a Netanyahu até a eleição dos EUA. Uma vez definido ali o presidente (ou presidenta) e Netanyahu será retirado do poder. A forma que isso se dará ainda é negociável, mas esperamos que ele pague por todos os crimes cometidos. Crimes contra Israel, contra Gaza, contra o Líbano, Síria e Irã. Crimes contra essas populações e crimes contra a humanidade. Hoje, o panteão dos monstros já tem um representante vivo. Netanyahu já está ao lado de Adolf Hitler e um seleto grupo de monstruosidades com o seu nome gravado na História.

¨      Conflito no Líbano se alastra e cessar-fogo em Gaza deixa de ser prioridade, diz mídia

Com o alastramento do conflito no Oriente Médio para o Líbano, os palestinos temem que a nova crise esteja desviando a atenção do mundo de Gaza, diminuindo ainda mais as perspectivas de um cessar-fogo no enclave já destruído.

De acordo com a Reuters, uma escalada no conflito entre Israel e o grupo militante xiita Hezbollah, apoiado pelo Irã, levou as forças israelenses e do Hezbollah nas duas últimas semanas a um confronto direto dentro do Líbano, alimentando temores de uma guerra regional mais ampla.

Enquanto alguns analistas dizem que o conflito de Israel no Líbano tem potencial para encerrar de uma vez com a guerra em Gaza, autoridades de países mediadores e moradores do enclave palestino estão céticos de que um cessar-fogo seja atingido mesmo ante a pressão norte-americana por contenção por parte do governo de Benjamin Netanyahu.

"O foco está no Líbano, o que significa que a guerra em Gaza não vai acabar tão cedo", disse Hussam Ali, um morador de 45 anos da cidade de Gaza que disse que sua família foi deslocada sete vezes desde que o conflito entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro do ano passado, à Reuters.

Na noite de terça-feira (1º), após o lançamento de mísseis balísticos do Irã contra Israel — aclamados por Teerã como direito à autodefesa, os israelenses prometeram uma resposta "dolorosa", enquanto moradores de Gaza celebraram a resposta iraniana.

Segundo a apuração, Sami Abu Zuhri, um alto funcionário do Hamas, disse que as perspectivas de um acordo de cessar-fogo em Gaza com a troca de reféns israelenses por presos palestinos era distante antes da escalada no Líbano, mas acredita que a conflagração regional poderia aumentar à pressão sobre Israel para fechar um acordo em Gaza.

Entretanto, ainda segundo a apuração, é pouco provável que após toda a pressão da comunidade internacional — recentemente expressa em manifestações nas redes sociais e em órgãos multilaterais, como as mais diversas instâncias da ONU — Tel Aviv ceda em seu objetivo de prosseguir com o conflito na região.

 

¨      Ataque do Irã a Israel: 5 pontos para entender retaliação iraniana

O Irã disparou dezenas de mísseis contra Israel e alguns deles atingiram o território israelense na terça-feira (1/10). Este é o segundo ataque do Irã neste ano, depois que o país disparou dezenas de mísseis e drones em abril.

Militares israelenses dizem que o ataque parece ter terminado e não há sinais de ameaças do Irã "por ora", mas não se sabe exatamente qual foi o dano causado até agora.

O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, alertou que o ataque terá "consequências". O ataque acontece em meio à uma ofensiva de Israel no Líbano.

Confira o que se sabe até agora.

1. Qual foi o tamanho do ataque do Irã?

Irã lançou cerca de 180 mísseis contra Israel, segundo o exército israelense. Segundo esse dado, o ataque realizado agora seria um pouco maior do que o realizado em abril, quando o Irã disparou 110 mísseis balísticos e 30 mísseis de cruzeiro contra Israel.

Imagens exibidas pela televisão israelense mostram mísseis sobrevoando a área de Tel Aviv pouco antes das 19h45 no horário local (13h45 no horário de Brasília) na terça-feira.

A maioria dos mísseis foi derrubada pelo sistema de defesas de Israel, segundo uma fonte militar israelense. Um correspondente da BBC News em Jerusalém disse que restaurantes e escolas foram atingidos, e que algumas bases militares podem ter sido atingidas.

A Guarda Revolucionária do Irã afirma que 90% dos projéteis disparados atingiram seus alvos, e que mísseis supersônicos foram usados pela primeira vez. Fontes iranianas dizem que três bases militares israelenses foram atacadas.

A autoridade palestina de defesa civil na cidade de Jericó, na Cisjordânia, disse que um homem morreu durante o ataque de mísseis iranianos.

Segundo a agência de notícias AFP, que conversou com o governador Hussein Hamayel, a vítima foi morta por destroços de foguete.

Autoridades israelenses não noticiaram nenhum ferimento grave como resultado do ataque de terça-feira, mas médicos israelenses disseram que duas pessoas ficaram levemente feridas com estilhaços.

2. Por que o Irã atacou Israel?

A Guarda Revolucionária do Irã disse que os ataques foram em resposta ao ataque de Israel que matou alguns dos principais comandantes e aliados na região.

O Irã citou dois nomes de pessoas que foram mortas em Beirute no dia 27 de setembro: o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e o comandante das Guardas Revolucionárias, Abbas Nilforoshan.

O Irã também fez referência ao assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã em julho. Israel não reconheceu estar por trás da morte de Haniyeh, mas é amplamente aceito que o país orquestrou seu assassinato.

Uma autoridade do governo iraniano disse à agência de notícias Reuters que o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, deu pessoalmente a ordem para o ataque de terça-feira.

O Irã não reconhece o direito de Israel de existir, e luta pela sua erradicação. O país passou anos apoiando organizações paramilitares que fazem oposição a Israel.

Israel acredita que o Irã é uma ameaça existencial e há anos opera missões secretas contra Teerã.

3. O Domo de Ferro de Israel interceptou os mísseis iranianos?

Israel possui um sofisticado sistema de defesas aéreas. O mais conhecido deles é chamado de Domo de Ferro. Ele foi concebido para interceptar foguetes de curto alcance disparados pelo Hamas e pelo Hezbollah.

Apesar de ele ter sido usado para defender Israel de ataques realizados pelo Irã em abril, a maior parte do esforço de defesa provavelmente foi realizada por outros sistemas.

Um sistema americano e israelense chamado Funda de Davi é usado para interceptar foguetes de médio a longo alcance, além de mísseis balísticos e de cruzeiro. Para interceptar mísseis balísticos de longo alcance, que voam fora da atmosfera da Terra, Israel possui interceptores chamados de Arrow 2 e Arrow 3.

4. Como reagiram os aliados de Israel?

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reafirmou o apoio americano a Israel e disse que o ataque com mísseis foi "derrotado e inefetivo".

Ele ordenou que suas forças na região ajudem na defesa de Israel e derrubem mísseis iranianos.

Um porta-voz do Pentágono disse que destróieres dispararam cerca de uma dúzia de interceptores contra mísseis iranianos que estavam a caminho de Israel.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, confirmou "múltiplas" interceptações pelos EUA e condenou o que chamou de "ato revoltante de agressão pelo Irã".

A BBC também verificou imagens de mísseis sendo interceptados sobre a capital da Jordânia, Amã. O país também derrubou alguns mísseis durante o ataque iraniano em abril.

A BBC verificou que jatos britânicos estiveram envolvidos no apoio a Israel na terça-feira, assim como aconteceu em abril.

O secretário de Defesa britânico, John Healey, disse que forças britânicas "desempenharam seu papel nas tentativas de impedir maior escalada" na noite de terça-feira, mas não forneceu mais detalhes.

O premiê britânico, Keir Starmer, disse que o Reino Unido está do lado de Israel e reconheceu o "direito de auto-defesa" do país.

França e Japão também condenaram os ataques do Irã, e pediram que todas as partes evitem escalar tensões.

5. O que acontece agora?

Netanyahu disse que o Irã cometeu um "grande erro" e que vai "pagar por isso".

"Nós temos planos e vamos agir no lugar e no momento que decidirmos", disse o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Haggari.

As Guardas Revolucionárias do Irã disseram que a resposta de Teerã será "mais esmagadora e arrasadora" se Israel reagir.

Israel realizou novos ataques aéreos em Beirute contra alvos do Hezbollah na noite de terça para quarta-feira, e fez um alerta para que os cidadãos deixem subúrbios do sul, onde o grupo está mais concentrado.

O editor internacional da BBC News, Jeremy Bowen, disse que o humor de Israel mudou com o ataque, e que existe maior disposição para uma retaliação maior.

O ex-premiê de Israel Naftali Bennett, — tido por alguns como possível candidato para voltar ao cargo — disse na plataforma X que "esta é a melhor oportunidade em 50 anos para se mudar a cara do Oriente Médio". Ele defendeu que Israel ataque instalações nucleares do Irã para "atingir fatalmente este regime terrorista".

 

Fonte: Brasil de Fato/Sputnik Brasil/BBC News

 

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