sábado, 5 de outubro de 2024

Além de destruir empregos, Lava Jato foi prejudicial para soft power brasileiro, apontam analistas

A operação Lava Jato não só atingiu em cheio a economia brasileira, representando a demissão de milhões de trabalhadores e a retração do PIB do país, como também foi um baque no projeto diplomático e no soft power do Brasil, que tinha na internacionalização das empresas de construção civil um dos seus mais fortes braços.

Finalizada oficialmente em 2021, a operação Lava Jato atuou por sete anos no Brasil combatendo a suposta corrupção envolvida nos contratos de obras públicas do Estado sem nenhuma preocupação com os efeitos colaterais que pudessem surgir.

Regida por promotores do Ministério Público, pela Polícia Federal e até mesmo pelos tribunais, através de juízes como Sergio Moro, a Lava Jato causou um grande revertério em todos os terrenos do Brasil.

Na economia, cerca de 4,44 milhões de empregos diretos e indiretos desapareceram entre 2014 e 2017, reduzindo o produto interno bruto (PIB) em 3,6% nesse período, segundo um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Nas áreas de construção civil, engenharia pesada, indústria metalmecânica e indústria naval, as perdas somaram R$ 142 bilhões. As empreiteiras, evidentemente, foram as principais afetadas, vendo sumir mais de 80% de suas receitas. Em seu lugar, construtoras estrangeiras assumiram as grande obras de impacto.

Já na política, a Lava Jato causou um processo de degradação que passa pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (2011–2016), pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela eleição de Jair Bolsonaro (2019–2022) e segue até os dias atuais, com a ascensão de figuras como Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, e Alexandre Ramagem, candidato a prefeito do Rio de Janeiro.

É o que afirma à Sputnik Brasil o professor de ciência política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e coautor do livro "A política no banco dos réus: a Operação Lava Jato e a erosão da democracia no Brasil", Fábio Kerche.

"Foi um marco importante na política brasileira. Houve um processo de criminalização da política, vários partidos sofreram consequências e o sistema político foi fortemente impactado."

•                                         Soft power brasileiro

O período após a presidência Dilma foi de uma queda gradual do protagonismo da diplomacia brasileira ao redor do globo, afirma à reportagem Heitor Erthal, doutorando em relações internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas e pesquisador do Observatório de Regionalismo (ODR).

Durante a presidência dos petistas, Lula e Dilma, o Brasil liderou processos de reforma do sistema de governança global, fosse articulando um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, fosse protagonizando a ascensão do BRICS. Essa tendência é rompida com a chegada de Michel Temer ao poder, cuja principal bandeira diplomática foi a defesa da entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Já com a eleição de Bolsonaro e a escolha de seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o Brasil passou por um período de isolacionismo internacional, afastando-se por motivos ideológicos de fóruns de diálogo onde o Brasil possuía protagonismo, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).

Paralelamente a isso e de maneira silenciosa, uma das consequências mais impactantes da Lava Jato se concretizava. A contração das empreiteiras causada pela operação também deu cabo de um projeto estatal de soft power através da construção civil.

Usada há bastante tempo por nações ocidentais e agora alardeada quando utilizada pela China ou pela Rússia, a internacionalização de empresas de engenharia é uma forma eficaz de projeção de poder e mecanismo diplomático, afirmam os entrevistados.

"A construção civil contribui muito para o soft power, até porque as obras de infraestrutura lidam com questões que vão contribuir muito para o desenvolvimento dessas regiões", explica Erthal.

Entre as obras realizadas por empresas brasileiras estão as hidrelétricas de Manduriacu, no Equador, de Chaglla, no Peru, e de Cambambe, em Angola; a barragem de Moamba Major, em Moçambique; os metrôs do Panamá e de Caracas; o aqueduto de Chaco, na Argentina; o porto de Mariel, em Cuba; e a expansão do metrô em Lisboa.

Há ainda grandes obras nos Estados Unidos, como a expansão do porto e do aeroporto de Miami e do estádio da Universidade Internacional da Flórida.

Erthal explica que para além das relações econômicas, como no uso de insumos e profissionais brasileiros, essa internacionalização das construtoras contribuía também para apresentar o Brasil "como um país que consegue contribuir com modelos de desenvolvimento e como um importante parceiro de cooperação internacional".

"Boa parte dos problemas que esses países têm o Brasil já teve ou ainda tem. Então o Brasil conseguir atuar nessa área com uma certa identidade que ele poderia construir com os países do Sul Global."

Essa política foi um projeto de Estado que demandou muito planejamento e investimento público, articulado principalmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz o pesquisador.

Tudo isso foi impactado diretamente pela Lava Jato, destaca Fábio Kerche.

"O Brasil participava de concorrências internacionais e perdeu muito espaço nesse setor exterior, no qual estava crescendo e ganhando o mercado", lamenta Kerche.

•                                         'Faz falta'

Com o retorno de Lula e uma política mais tradicional do Itamaraty, o Brasil voltou a participar de discussões internacionais, já tendo atuado, por exemplo, na mediação das tensões entre a Venezuela e a Guiana e na articulação de discussões de paz para o conflito ucraniano.

"O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo. É um país muito grande e muito importante, que ficou um pouco escanteado. Agora estamos vendo isso ser retomado", descreve Kerche.

Para Erthal, no entanto, a ausência desse braço de engenharia na diplomacia brasileira "faz falta", sem enfraquecer, por outro lado, a retomada diplomática brasileira.

Em sua perspectiva, houve um potencial perdido em decorrência da operação, que não só "deixou de pensar nos funcionários, que não tinham nada a ver com esses grandes esquemas de corrupção das famílias Odebrecht e Camargo Corrêa"…

"Como também fez com que todos os investimentos que o Estado brasileiro fez para o crescimento dessas empresas fossem por cargas d'água."

 

•                                         BNDES e Vale anunciam gestor de fundo de minerais estratégicos de cerca de R$ 1 bilhão

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a mineradora Vale anunciaram nesta quarta-feira (2) o consórcio vencedor da chamada pública para gerir um Fundo de Investimento em Participações (FIP) para projetos de ativos de minerais estratégicos para transição energética, descarbonização e minerais fertilizantes no Brasil.

Este é o primeiro FIP do BNDES focado em mineração, que será gerido pela empresa de negócios de mineração Ore Investments e pelas gestoras de recursos JGP e BB Asset, esta do Banco do Brasil, vencedoras do certame. A proposta campeã agora participará da rodada final, de avaliação das condições contratuais, regulamento do fundo e diligências legais.

O anúncio teve a participação do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e do presidente da Vale, Gustavo Pimenta.

Anunciado em maio, o edital prevê que a subsidiária BNDES Participações S.A. (BNDESPAR) e a Vale subscrevam cotas no valor mínimo de R$ 100 milhões e máximo de R$ 250 milhões cada, observado o percentual máximo de participação individual de 25% no capital comprometido total do fundo.

"A criação do fundo de minerais estratégicos dá continuidade ao apoio do BNDES ao setor de mineração. Nos últimos dez anos, foram investidos R$ 8,3 bilhões em financiamentos para cerca de 1.800 empresas. A exploração sustentável dos minerais críticos será fundamental para colocar o Brasil na liderança global da transição energética, um dos objetivos centrais do governo do presidente Lula", disse Mercadante.

De acordo com o BNDES, a iniciativa busca mobilizar até R$ 1 bilhão, que poderá ser investido em até 20 empresas júnior e de médio porte que atuem em pesquisa mineral, desenvolvimento e implantação de novas minas de minerais estratégicos no Brasil.

O fundo vai priorizar os minerais para transição energética e descarbonização, sendo eles cobalto, cobre, estanho, grafita, lítio, manganês, minério de terras-raras, minérios do grupo da platina, molibdênio, nióbio, níquel, silício, tântalo, titânio, tungstênio, urânio, vanádio e zinco.

Fosfato, potássio e remineralizadores, minerais fundamentais para a fertilidade do solo, também estão no rol de elementos abrangidos pelo fundo.

<><> Angra 1 reduz carga após problemas em linha de transmissão da Eletrobras

A usina Angra 1 reduziu sua potência nesta quarta-feira (2), devido à abertura dos disjuntores de saída para as linhas de transmissão de 500 kV da Eletrobras, em função de problemas nas linhas de transmissão de propriedade da Eletrobras, de acordo com informações da Eletronuclear.

Como não havia como escoar toda a energia produzida por Angra 1, informou a estatal, ocorreu a imediata redução de geração de energia:

"A carga de Angra 1 foi reduzida de 642 MWe para 22 MWe, de forma a alimentar os barramentos auxiliares de operações e segurança de Angra 1. O evento não teve consequências para a segurança da usina, o meio ambiente, os trabalhadores e a população", garante a nota.

Ainda pela manhã, acrescentou a companhia, após a normalização das linhas de transmissão, foi iniciada a subida de potência da usina Angra 1 em um processo que leva, em média, 24 horas para atingir 100% de carga.

A usina Angra 1 foi fruto de um investimento de 40 anos e, para a extensão da vida útil da usina Angra 1, a Eletrobras obteve o financiamento de R$ 22,2 milhões com parceiros internacionais.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou mais cedo que o governo definirá a conclusão da usina nuclear de Angra 3 ainda em 2024. Em conversa com jornalistas, afirmou que o tema fará parte da pauta da reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em 4 de dezembro.

Silveira disse que o governo ainda aguarda a reavaliação do estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que apontou em setembro para um prejuízo de R$ 21 bilhões caso a União abandone o projeto.

Com duas usinas — Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis —, a matriz nuclear responde atualmente por menos de 3% de toda a energia gerada no país. Angra 3 deve começar suas operações comerciais em novembro de 2026, com a planta em plena capacidade no ano seguinte.

Além das três usinas — duas operando e uma em construção —, o Rio de Janeiro tem três das maiores empresas da área no país: a Eletrobras; a Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep), de construção pesada; e a Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB), de enriquecimento de urânio.

 

Fonte: Sputnik Brasil             

 

Nenhum comentário: