Pires na
mão e sucessivas derrotas: está na hora de Zelensky encarar a realidade sobre a
Ucrânia?
A
cada dia, o cansaço do Ocidente com o conflito na Ucrânia e as mudanças bruscas
no panorama global têm intensificado as pressões sobre Vladimir Zelensky. A
última na conta das consecutivas derrotas do ucraniano no campo de batalha é a
fracassada invasão ao território russo de Kursk.
A
pouco mais de dois meses para as eleições que podem mudar os rumos do principal
fiador da Ucrânia no conflito com a Rússia, Vladimir Zelensky esteve nos
Estados Unidos em meio à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
(ONU) e, como sempre, com o pires na mão em busca de novos recursos.
Do
temor para a possível vitória de Donald Trump, que promete acabar com o
conflito antes mesmo da posse em 2025, para a acusação de usar recursos
públicos norte-americanos em favor da campanha da democrata Kamala Harris —
cujos sinais demonstram seguir o mesmo caminho do presidente Joe Biden, caso
vença —, o ucraniano parece se ver cada vez mais próximo de um beco sem saída.
Em
busca de reanimar os aliados ocidentais para uma improvável vitória da Ucrânia,
Zelensky apostou novas fichas com a invasão das tropas de Kiev na região russa
de Kursk. Porém, a cada dia os confrontos mostram mais um fracasso na conta do
ucraniano, que em breve terá de enfrentar outro inverno, época em que o
Exército do país sofre ainda mais perdas frente aos desafios trazidos pela
estação. Aliado a isso, a mídia ocidental também passou a veicular que até os
militares de Kiev que estão na linha de frente defendem o início das
negociações com a Rússia.
"Neste
momento, estou pensando mais em como salvar o meu pessoal. É muito difícil
imaginar que conseguiremos levar o inimigo de volta para as fronteiras de
1991", chegou a declarar um comandante de batalhão ucraniano.
Enquanto
isso, a fórmula de paz defendida por Zelensky sofre também com a falta de
aderência do Sul Global e até atores da União Europeia, como a Hungria,
enquanto a proposta de Brasil e China ganha fôlego mundo afora e deixa o
ucraniano isolado. Para piorar o panorama, a preocupante escalada da guerra no
Oriente Médio, inclusive com o possível envolvimento do Irã em um conflito com
Israel, voltou a tirar o foco da situação de Kiev. E como essa sucessão de
fatores pode afetar a Ucrânia?
Larissa
Caroline Souza, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Relações
Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pontua à
Sputnik Brasil que todos os cenários estão na mesa.
"Não
sei se tudo isso chega a pressionar Zelensky para conversar com [o presidente
russo Vladimir] Putin, mas claramente aumenta a desconfiança das pessoas com o
governo. Além disso, dependendo do que possa acontecer nos próximos meses e
qual será a resposta da Rússia, podemos, sim, ter maior pressão para Zelensky
se sentar à mesa. E já vemos isso acontecendo em alguns comentários de forças
ocidentais, dizendo que está na hora de Zelensky conversar, mas muitas coisas
podem acontecer. Não dá para dizer se esse ou aquele será o motivo",
afirma.
Para
a especialista, a invasão de Kursk inicialmente trouxe fôlego para a Ucrânia
retomar espaço na mídia, cenário que rapidamente se alterou. "A Ucrânia
queria quebrar um pouco essa fadiga com o conflito e a sua perda de
força", resume.
Já
o pesquisador do Laboratório de Estudos Políticos de Defesa e Segurança Pública
da UERJ Lier Pires Ferreira explica, também em declarações à Sputnik Brasil,
que o eixo Washington-Bruxelas busca a todo momento testar os limites da Rússia
e, para isso, segue apostando na continuidade dos confrontos.
"O
povo ucraniano está sofrendo imensamente, e relatórios da ONU apontam que há
contração econômica, desemprego, fome e muitas outras mazelas, inclusive uma
dívida impagável com o Ocidente", diz.
·
OTAN e a influência na manutenção do
conflito ucraniano
Mais
uma vez, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) aparece como
protagonista para a manutenção de um conflito que já poderia ter sido encerrado
e poupado tantas dificuldades. Ferreira recorda que o acordo de 1990, firmado
pela aliança com a então União Soviética, que se comprometia a não expandir
forças para o leste, não foi cumprido.
"Logo,
assim como os EUA não permitiram a implantação dos mísseis nucleares em
território cubano, gerando nos anos 1960 a Crise dos Mísseis, o arrepio do
direito internacional, do ponto realista e pragmático, a Rússia não permitirá o
ingresso da Ucrânia ou da Geórgia na OTAN", enfatiza.
Mesmo
assim, a entidade dá sinais de que não vai desistir desse plano. Durante a
posse nesta quarta-feira (2), o novo secretário-geral da OTAN, Mark Rutte,
disse que uma das prioridades da aliança militar é justamente a Ucrânia.
Segundo o especialista, nada disso contribui com o diálogo e a negociação entre
Moscou e Kiev.
"O
segundo [obstáculo para a paz] é o próprio Zelensky. O presidente da Ucrânia
apostou todas as suas fichas na resistência, indo muito além do que era
possível prever há quase mil dias — quando o conflito começou. Uma negociação
absolutamente desfavorável aos interesses nacionais ucranianos seria deletéria
ao presidente Zelensky, comprometendo seu futuro político, senão sua própria
vida. Pelo muito que há em jogo, do ponto de vista nacional e pessoal, Zelensky
é um obstáculo à paz neste momento, embora nós saibamos que os interesses
ucranianos serão os menos relevantes em uma futura mesa", afirma.
·
Invasão em Kursk trouxe 'resultados bélicos
pífios'
De
volta à atuação ucraniana em Kursk, o especialista classifica como pífios os
resultados bélicos para o Exército de Kiev, que demonstrou não ter recursos
humanos e financeiros para se sustentar no front.
"Se
o propósito era cortar as linhas logísticas que sustentam as tropas russas no
território ucraniano, isso não só não aconteceu. Para piorar, abriu uma nova
frente em que a Ucrânia não é capaz de se sustentar. Pensando do ponto de vista
militar, não político ou propagandístico, não creio que os estrategistas
ocidentais acreditem hoje na capacidade ucraniana de virar o jogo nos campos de
batalha. Os conflitos em Donbass deixaram muito nítidas as insuficiências
táticas e estratégicas da Ucrânia. A dificuldade de seus pilotos em operar no
limite com os caças F-16 por pura falta de treinamento também. Se os drones
estão mudando os fundamentos da guerra, como declarado recentemente por Putin,
talvez o complexo industrial-militar russo hoje esteja mais preparado para a
guerra do que a OTAN e seus aliados, inclusive os países eslavos e nórdicos do
Leste Europeu", argumenta.
·
Zelensky e seu plano de paz descolado da
realidade
Mesmo
com todos esses fatores que apontam a derrocada de Zelensky, o ucraniano
apresentou um plano de paz em dez pontos que, segundo o pesquisador da UERJ, é
"deslocado da realidade", principalmente do ponto de vista político,
já que desconsidera por completo os interesses russos.
"O
plano de Zelensky só faria sentido se a Ucrânia fosse a vencedora, sendo,
portanto, um plano imposto pelo vencedor ao vencido. Como não é esse o caso, é
insustentável. Para completar, trago à baila que o Plano da Vitória, que
Zelensky também tentou vender ao Ocidente em seu mais recente périplo pelos
EUA, não inspirou confiança e, sem confiança, não há adesão. Só a
intransigência idealista da OTAN e seus aliados sustenta a situação, pois é
certo que Putin não irá recuar. A Rússia aprendeu com os erros do passado,
quando acreditou nas promessas de paz do Ocidente."
E
assim como o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, Vladimir
Zelensky depende da escalada do conflito para se perpetuar no poder, enfatiza o
especialista.
¨
Exército russo avança
na zona da operação em ritmo acelerado graças a novas táticas, diz mídia
Graças
a novas táticas, as Forças Armadas russas estão avançando na zona da operação
militar especial na Ucrânia em um ritmo nunca antes visto, informou o The
Washington Post.
Segundo
o artigo, a tática foi sentida de forma especialmente intensa no território da
República Popular de Donetsk (RPD).
As
perdas recentes pelas tropas ucranianas dos territórios na cidade de Ugledar é
resultado dessa nova tática de combate russa.
"As
forças russas ganharam território em agosto e setembro em um ritmo não visto
desde 2022", cita o jornal um analista finlandês Pasi Paroinen.
Conforme
observado no artigo, as forças russas usam táticas eficazes, como ataques em
pequenos grupos, o que reduz a probabilidade de detecção e a eficácia da
retaliação.
Além
disso, o artigo indica que as forças russas aumentaram a comunicação no campo
de batalha, o que ajuda a coordenar melhor os ataques.
"Os
soldados ucranianos disseram que os russos têm recursos suficientes para manter
a pressão e que a ajuda ocidental não está compensando o déficit de
equipamentos."
Algumas
das maiores perdas das Forças Armadas ucranianas estão ocorrendo agora em torno
da cidade de Ugledar, que se localiza em uma elevação e é um ponto importante
para controlar as planícies ao redor.
As
autoridades da RPD disseram que a cidade está quase cercada, com todas as
estradas sendo controladas por fogo das tropas russas, por isso os ucranianos
precisam ou se render ou escapar por sua própria conta e risco em pequenos
grupos.
<><> F-16 atualizados do Exército ucraniano são
'vulneráveis' aos caças russos, afirma ex-general dos EUA
Os
caças F-16, que a Ucrânia começou a receber de seus aliados, cedem às aeronaves
militares russas em termos de capacidades de combate, disse o general
aposentado do Exército dos EUA, Gordon Davis, ao Business Insider.
Os
países ocidentais aumentaram sua ajuda militar e financeira à Ucrânia desde o
início da operação militar especial da Rússia. Moscou alertou repetidamente
contra entregas de armas a Kiev, dizendo que isso levaria a uma maior escalada
do conflito.
Após
inúmeros apelos e treinamento intensivo, Kiev recebeu alguns F-16 de seus
aliados ocidentais. Entretanto, as aeronaves têm "alguns problemas com
alcance e vulnerabilidade" e "mesmo os melhores sistemas que podemos
colocar nessas aeronaves ainda não as tornarão superiores a algumas das
melhores aeronaves russas", disse Davis.
Ele
lembrou que a Rússia tem "várias centenas de aviões de guerra bastante
avançados", incluindo o caça supermanobrável de superioridade aérea
Su-35S, o caça multifuncional Su-30SM e o avião interceptador supersônico
MiG-31.
"O
ponto principal é que, se você puder dar aos F-16 a capacidade máxima de
munição e de guerra eletrônica, eles ainda serão um tanto vulneráveis à defesa
terrestre e a alguns dos caças mais avançados da Rússia. [...] isso é um
problema e continuará sendo um problema", destacou o general aposentado.
No
final de agosto, a Força Aérea ucraniana confirmou que um caça F-16 de
fabricação norte-americana, que foi transferido para a Ucrânia por seus
parceiros ocidentais, caiu poucas semanas após o primeiro lote de tais
aeronaves ter sido entregue a Kiev.
O
ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, enfatizou que os
F-16 "têm sido há muito tempo o principal meio de entrega no âmbito das
chamadas missões nucleares conjuntas da Organização do Tratado do Atlântico
Norte [OTAN]", então Moscou considera o fornecimento desses sistemas ao
regime de Kiev uma "ação de sinalização deliberada da OTAN na esfera
nuclear". Ele acrescentou que a presença desses caças na Ucrânia não
mudaria a situação no campo de batalha, pois seriam destruídos como outros tipos
de armas.
<><> Kiev está pronta para sacrificar últimos
tanques ocidentais na região de Kursk, diz mídia
Durante
o ataque à região russa de Kursk, a Ucrânia usou seus melhores tanques
fornecidos pelo Ocidente, que provavelmente não podem ser substituídos em caso
de perda, escreve a revista Forbes.
Entretanto,
o Ministério da Defesa russo informou recentemente que as tropas ucranianas já
haviam perdido 135 veículos blindados na direção de Kursk.
De
acordo com a publicação, o ataque envolve a 21ª Brigada Mecanizada das Forças
Armadas ucranianas, que possui veículos de combate de infantaria CV90 e tanques
Leopard 2A6 alemães ou Strv 122, a variante sueca do Leopard.
De
acordo com a Forbes, essas são algumas das melhores peças de equipamento
militar de que Kiev dispõe.
"É
pouco provável que a 21ª Brigada Mecanizada, com seus modelos de tanques mais
novos, receba novos veículos. Os Exércitos sueco e alemão têm dificuldades de
manter suas próprias brigadas de tanques; nenhum deles demonstrou disposição de
se desfazer de seus melhores tanques", diz o artigo.
A
Forbes também admite que as atividades militares na região de Kursk prejudicam
outras cidades vulneráveis e equipamentos ao longo de toda a linha de frente.
Porém,
segundo o artigo, o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia ignorou as
recentes perdas na área de Ugledar, que se localiza em uma elevação e é um
ponto importante para controlar as planícies ao redor, e continua tentando
combater na região de Kursk.
Fonte:
Sputnik Brasil
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