sábado, 5 de outubro de 2024

Como Pablo Marçal — e até a cadeirada — viraram estratégia de campanha para candidatos fora de SP

"Brenão é irmão, anda com a gente, é de confiança, pode colocar ele nessa cadeira, ele é candidato vereador e vai mudar essa cidade".

A fala é de Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, em vídeo gravado para as redes sociais de Breno Ferreira, candidato a vereador em Curitiba pelo PL.

Em seu Instagram, Ferreira se vangloria por ser o "único candidato de Pablo Marçal" e até acusa adversários de fingirem ser "candidatos do Pablo" sem ter, de fato, tal apoio.

Os "únicos candidatos" de Pablo Marçal têm surgido em várias cidades pelo Brasil nas eleições deste ano.

Embora concorra por uma vaga na cidade de São Paulo, Marçal virou uma espécie de cabo eleitoral para campanhas de digitais dos candidatos, dentro e fora de São Paulo.

Em alguns casos, ele aparece em vídeos gravados por ele mesmo. Em outros, citado como uma referência ou apenas mencionado em hashtags como #pablomarcal, com o objetivo de surfar no engajamento de suas redes sociais - ele tem mais de 5,5 milhões de seguidores só no Instagram. Há até mesmo candidatos que usaram o episódio da cadeirada dada em Marçal pelo candidato José Luiz Datena, do PSDB, durante um debate na TV Cultura, para criar conteúdo em suas páginas.

A BBC News Brasil encontrou cerca de 3 mil publicações com impulsionamento pago e registradas como de teor político, no Facebook e no Instagram, que citam "Pablo Marçal", incluindo candidatos filiados ao PL, sigla do ex-presidente da República Jair Bolsonaro.

Foi considerado somente o período de propaganda eleitoral, a partir de 16 de agosto. Os dados foram coletados no dia 3 de outubro.

O número ainda fica longe do total de menções ao nome do ex-presidente. Pelos mesmos critérios, a reportagem identificou cerca de 26 mil anúncios pagos que citam o termo "Bolsonaro" - nove vezes o alcançado por Marçal.

Para a especialista em marketing político da ESPM Natália Mendonça, essas menções estão mais ligadas ao fato que de Marçal se tornou o grande assunto dessas eleições neste momento, e não necessariamente uma conexão ideológica entre candidatos.

"Candidatos tentam surfar em ondas de assunto na internet para chamar a atenção. Quando encontram alguém com muita visibilidade orgânica na rede, imaginam que isso também vai trazer atenção para eles. Isso é acreditar no mito de que ter likes traz voto. Muitas vezes o candidato fica muito feliz porque teve 10, 20 mil visualizações, mas isso não necessariamente traz resultado prático para uma eleição."

A especialista afirma que esse tipo de estratégia pode até colar com alguns candidatos a vereador, mas não para o de prefeito, que exige ter mais de 50% dos votos válidos.

"Em campanhas proporcionais, (para o Legislativo) usa-se desses artifícios para chamar atenção. Hoje é Marçal, mas já foi Tiririca, Frota, cada hora um tipo de polêmica diferente. Para o eleitor, o voto para a prefeitura é mais pragmático e tem mais a ver com os problemas que a pessoa vive, no dia a dia."

·        'Faz o M' vira slogan adaptado

Thiago Navarro, candidato a vereador pelo PP em Indaiatuba, copiou em sua campanha o bordão de Marçal, "faz o M", adaptando-o para o "FAZ o N", frase incorporada até em seu jingle.

Ele patrocinou o impulsionamento de um vídeo com a candidata a vice de Marçal, a policial militar Antônia de Jesus, do PRTB, em um ato político de rua. "Qual é a sua cidade?", pergunta ela. Ele responde que é "Indaiatuba" e ela segue: "alô, Indaiatuba, aqui eu faço M, aí faça o N de Navarro".

Com o mesmo slogan de "Faz o N", Sargento Nantes, candidato a vereador em SP pelo PP, partido que apoia a reeleição do prefeito Ricardo Nunes na cidade, também publicou vídeos junto de Marçal e até fixou em sua página no Instagram um post em que pede votos para Marçal.

A situação do candidato com o partido não é unica: Rubinho Nunes, do União Brasil, e Joice Hasselmann, do Podemos, são outros exemplos que declararam apoio a Marçal, diferentemente de suas siglas.

O próprio Marçal, ao perceber esse movimento, publicou um vídeo em que prometeu gravar apoio a candidatos a vereador em todo o país caso fizessem uma doação de R$ 5 mil para a sua campanha à Prefeitura de São Paulo.

Ao todo, o candidato já recebeu mais de R$ 6 milhões em doações até o momento - ao menos 24 delas no valor exato de R$ 5 mil, mas não é possível afirmar se alguma tem relação com gravação de vídeos de apoios.

"Quero te fazer uma pergunta: você conhece alguém que quer ser vereador e é candidato, que não seja de esquerda, tá? De esquerda não precisa avisar. Se essa pessoa é do bem e quer um vídeo meu para ajudar a impulsionar a campanha dela, você vai mandar esse vídeo e falar 'mano, olha que oportunidade'. Essa pessoa vai fazer o quê? Ela vai mandar um um pix pra minha campanha, de doação. Pix de R$ 5 mil. Fez essa doação, eu mando o vídeo", disse.

·        Apoio à distância e cadeirada

"Fala, Barra Velha! Aqui é o Marçal. Eu quero dedicar esse vídeo sabe pra quem? Pro Bismark, alguém que lutou pelo país, alguém que vai dirigir essa cidade junto com vocês, vai ser um servo desse povo", disse Marçal num vídeo publicado e patrocinado pelo Partido Democracia Cristã no Facebook.

Ele se referia ao influenciador Bismark Fabio Fugazza, candidato a prefeito de Barra Velha (SC), que chegou a ser preso pela Polícia Federal em 2023, alvo da Operação Lesa Pátria, que investigou atos golpistas realizados por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro.

Marçal também gravou um vídeo em apoio a Chico Mendes, do União Brasil, que é candidato à Prefeitura de Diamantino (MT).

Ele é irmão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e tem aparecido como líder nas pesquisas de voto. Mendes também é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a comer um pastel com o candidato na cidade.

Rogério Filho, candidato a vereador em Betim (MG) pelo Novo, diz em uma publicação que viajou para apoiar e aprender com Marçal.

"Acabei de voltar de São Paulo, onde fui apoiar a candidatura de Pablo Marçal, um líder que, assim como eu, defende pilares importantes como família, empregabilidade, inovação e tecnologia".

Para o candidato, o objetivo seria "trazer para Betim práticas de sucesso que estão sendo aplicadas em São Paulo."

Até mesmo a cadeirada dada em Marçal pelo candidato José Luiz Datena, do PSDB, durante um debate na TV Cultura, virou personagem de campanhas patrocinadas.

"Não sou o Pablo Marçal, mas quero uma cadeira na Câmara de Biguaçu", diz a candidata Aline Coutinho, de Biguaçu, em Santa Catarina, em uma postagem com um vídeo que satiriza a cena da agressão.

·        'Mais rápido que cadeirada'

Outro que fez menção ao episódio em propaganda eleitoral foi o candidato do Novo Felipe Keizo, de Florianópolis.

"Cheguei mais rápido que cadeirada do Datena no Marçal", diz ele em um vídeo em que aparece "caindo do céu".

"Assim como um meteoro, vim para o debate para colocar as ideias da esquerda em extinção." A estratégia foi repetida por pelo mais de dez candidatos.

Para o professor de análise política e opinião pública da Fespsp Hilton Cesario Fernandes, não se pode falar em um ideário ligado a Marçal que una esses candidatos.

"Pode ser que surja uma força política depois disso tudo, mas tudo pode se dissipar também. Hoje há muita concentração na imagem do próprio Marçal, mas não existe uma proposta política, um grupo político. O que há é um grupo de oportunistas eleitorais, candidatos que se aproveitam da visibilidade que Marçal conquistou."

Fernandes, que também é sócio de uma empresa de consultoria política, a APPC, que realiza pesquisa para candidatos a prefeito em diversas cidades, já vinha observando que eleitores citam Marçal mesmo fora da capital.

"As notícias [sobre Marçal] chegaram para diversos eleitores, do Brasil inteiro. Claro que os candidatos perceberam essas influência e visibilidade e tentam colar nele."

Ele lembra que essa estratégia já foi usada em diversas outras ocasiões e cita, como exemplo, o ex-deputado federal Enéas Carneiro, imitado por diversos candidatos.

"Esse fenômeno de colarem em nomes mais populares, que puxam voto, tem a ver quase que exclusivamente com isso: conseguir mais votos. São poucos os que realmente representam um ideal ou uma proposta."

 

¨      Nunes rifa Bolsonaro, cola em Tarcísio e mostra pânico com ofensiva digital de Marçal

A campanha de Ricardo Nunes (MDB) ligou o modo desespero às vésperas do primeiro turno das eleições em São Paulo e decidiu rifar de vez Jair Bolsonaro (PL), desconfiada de que o ex-presidente esteja atuando nos bastidores para a migração vertiginosa de aliados rumo a Pablo Marçal (PRTB), que cresce nas trackings, as pesquisas internas diárias feitas pelas coligações.

Em pânico diante de uma prometida ofensiva digital do ex-coach, que vai turbinar as redes sociais a partir da noite desta quinta-feira (4), quando se encerra a propaganda oficial na mídia tradicional, Nunes tem colado cada dia mais sua imagem a do governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que foi tragado para a guerra instaurada no centro do bolsonarismo.

Após cumprir expediente no Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio acompanhou Nunes duas agendas noturnas, em um encontro com profissionais de saúde no Teatro Liberdade e no “3º Congresso Unidas pela Graça”, em Santo Amaro, na zona sul, onde o atual prefeito tenta reverter o crescimento do ex-coach no eleitorado evangélico.

Nas redes, Nunes também tem turbinado vídeos e fotos ao lado do governador, mas o principal temor é nas últimas 72 horas antes da votação.

A partir de sexta-feira (5), Nunes não contará mais com a propaganda no rádio e TV, principal meio que fez com que ele se mantivesse na disputa. A campanha ainda tenta se antecipar à artilharia de Marçal, mas sem saber as cartas que o ex-coach tem na manga.

De outro lado, Marçal tem arregimentado uma série de bolsonaristas radicais, como Nikolas Ferreira (PL-MG) que entrou em rota de colisão com Silas Malafaia - que havia sido escalado por Bolsonaro no 7 de Setembro para abater o ex-coach, mas foi abandonado no meio do caminho após o ex-presidente hastear bandeira branca e abandonar Nunes.

Marçal ainda conta com Ricardo Salles (Novo-SP), que tem atuado em uma batalha para cooptar quadros dentro do governo Tarcísio, como o "tenente" Nelson Sandini, irmão de Vicente Santini, ex-assessor de Bolsonaro que agora atua próximo ao governador paulista.

Bolsonaristas que estão em cima do muro têm cada vez mais se rendido à tese dos marçalistas, de que o ex-coach vem em uma ascendente nas pesquisas e que o segundo turno, contra Guilherme Boulos (PSOL), será uma nova eleição, ainda mais nacionalizada e polarizada entre Bolsonaro e Lula.

O argumento tem convencido mais do que a narrativa de Tarcísio e Nunes, que pregam voto útil alegando que somente o medebista tem condições de vencer Boulos no segundo turno, como mostram todas as pesquisas até agora.

¨      Ex-cunhado de Marcola, do PCC, é chefe de gabinete da gestão Ricardo Nunes em SP

Eduardo Olivatto, irmão de Ana Maria Olivatto, ex-mulher de Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola, principal líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, atua como chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras (SIURB) na gestão Ricardo Nunes (MDB) na Prefeitura de São Paulo.

A informação foi divulgada por Mateus Araújo e Thiago Herdy no portal Uol e confirmada pela Fórum no portal oficial da prefeitura de São Paulo.

Olivatto, que aparece em foto ao lado de Ricardo Nunes e de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, é subordinado ao secretário Marcos Monteiro e à adjunta, Adriana Siano Boggio Biazzi, e atua como uma espécie de número 3 da pasta de Infraestrutura e Obras do atual prefeito, candidato à reeleição.

Ex-mulher de Marcola, Ana Maria foi assassinada em disputas internas do PCC em outubro de 2002. 

Servidor de carreira da prefeitura, Olivatto é vinculado ao empresário Fernando Marsiarelli, que foi quem mais faturou com contratos emergenciais, sem licitação na gestão de Nunes, segundo o Uol.

Marco Antônio Olivatto, irmão de Eduardo e também ex-cunhado de Marcola, é secretário no gabinete do deputado federal Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), que foi preso em novembro de 2017 na operação Caixa D'Água, que investigava crimes eleitorais.

Figura histórica da política paulista, Antônio Carlos Rodrigues teria sido o fiador da negociata entre o PL, de Valdemar da Costa Neto e Jair Bolsonaro, que selou o apoio do partido ao prefeito Ricardo Nunes na tentativa de reeleição.

Ele foi nomeado como secretário parlamentar em 7 de junho deste ano, em meio aos acordos na pré-campanha, com um salário bruto de R$ 9.119,22.

 

Fonte: BBC News Brasil/Fórum

 

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