Noblat: Se Lula não fizer o que ele quer,
Arthur Lira ameaça pegar em armas
Espelho dele, espelho
dele: haverá presidente da Câmara mais absolutista e voltado para o próprio
umbigo do que Arthur Lira (PP-AL)? Talvez Eduardo Cunha, cassado e preso por
corrupção à época da Lava Jato, e do qual Lira foi o melhor aluno.
Lira está a nove meses
e poucos dias do fim do seu segundo mandato como presidente da Câmara. Quer
porque quer eleger um sucessor que obedeça às suas ordens e lhe assegure uma
posição de destaque na próxima legislatura. Receia perder importância.
Há uma maldição que se
confirma a cada dois ou quatro anos: ex-presidente da Câmara perde a reverência
dos seus pares e passa a ser apenas um dos 513 deputados. Está nos planos de
Lira se eleger senador em 2026, mas terá pela frente o clã dos Calheiros.
Renan (MDB), o
patriarca, é senador há quatro mandatos consecutivos, e certamente deverá se
reeleger. Alagoas é governado por um afilhado de Renan. O ministro dos
Transportes, Renan Filho (MDB), também é senador. Parada indigesta para Lira.
Mas não impossível de
ser vencida por ele. Vai depender do seu adversário apoiado pelos Calheiros.
Por enquanto, Lira tem outro adversário para combater: Lula e o seu governo.
Não foi Lula que escolheu Lira para adversário, foi Lira que o escolheu.
Lira tenta mandar no
governo, mas Lula não permite. Então, Lira briga com ele, uma vez que brigar
com o Supremo Tribunal Federal, o outro dos Poderes da República, seria
arriscado. Lira está sempre em débito com a Justiça, mas julga-se credor de
Lula.
Ganhou a presidência
da Caixa Econômica para chamar de sua, além de algumas diretorias; ganhou
outros cargos no segundo e terceiro escalões do governo, mas acha pouco. Lira
queria a coroa do governo, o Ministério da Saúde, onde há muito dinheiro.
Mas Lula acha que Lira
cobra muito caro por uma adesão ao governo que não seria completa nem
confiável. Mudará de opinião mais adiante? A ver. A não ser que doravante Lira
e o Centrão que ele comanda o deixassem governar em paz. A luta continua.
Cunha inviabilizou o
governo da presidente Dilma Rousseff pondo em votação na Câmara as chamadas
“pautas-bomba” – projetos de lei que contrariavam os interesses do governo. Por
fim, abriu o processo de impeachment que acabou por derrubar Dilma.
Na semana passada,
açulado por Cunha, que não tem mandato, mas continua influente na Câmara, Lira
deixou correr solta a votação que por pouco não tirou da cadeia o deputado
Chiquinho Brazão (ex-União Brasil), suspeito de ter mandado matar Marielle
Franco.
Não fosse o empenho de
última hora do governo e de ministros do Supremo, Brazão estaria solto. Lira
descontou em Alexandre Padilha (PT-SP), ministro das Relações Institucionais,
socorrido por Lula no dia seguinte. E, furioso, prometeu retaliar.
Zangou-se ainda mais
quando soube que o governo demitiu um primo dele que era superintendente do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas. Junto à
bancada bolsonarista na Câmara, prepara uma dura resposta ao governo.
A primeira ideia de
Lira é abrir Comissões Parlamentares de Inquérito com um duplo propósito: acuar
o governo com denúncias e investigações e atrasar a votação de projetos
prioritários. Outra linha de ação: pautar projetos que afetem a agenda do
governo.
Lira tem força para
isso e não renuncia a usá-la. É o administrador de parte do Orçamento Secreto
da União e, por isso, conduz seus colegas pela coleira. Em ano eleitoral, o
Congresso se esvazia nos últimos meses. Mas foi Lira o inventor da votação a
distância.
Um deputado não
precisa mais estar presente na Câmara para que seu voto seja computado. Vota de
longe, ou dá sua senha a um assessor para que vote por ele.
¨ Lira contra-ataca e aprova urgência para PL que criminaliza MST
A Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta terça-feira (16), um requerimento
de urgência para o projeto de lei 895/23, que criminaliza
qualquer invasão ou ocupação de terras. A aprovação acontece logo após o Movimento Sem Terra (MST) iniciar
sua Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária e ocupar diversas terras improdutivas pelo
país.
O texto é oriundo da
extinta CPI do MST, que buscava
criminalizar o movimento, e prevê que tanto invasores quanto ocupantes percam
o direito de receber qualquer auxílio ou benefício do governo, assim como
ocupar cargos públicos ou fechar contratos com a União, estados ou municípios,
de forma direta ou indireta. O PL tem autoria do deputado
bolsonarista Zucco (PL-RS).
Os parlamentares da
base do governo manifestaram surpresa com a votação do regime de urgência. O
deputado José Guimarães (PT-CE), líder
governista, afirmou que o requerimento não foi discutido na última
reunião dos líderes e não estava previsto na pauta. "Não podemos
aceitar isso. Me chamaram ali às presas. Eu não estava nem no plenário. Não
podemos permitir isso", reclamou durante a votação.
"Eu
não estou nem entrando no mérito do projeto ainda. É que, no afã de votarem de
qualquer jeito, fazem agitação no plenário. Como votar uma matéria tão polêmica
como essa sem acordo? Como votar uma matéria dessa hoje? Isso não pode. Não é o
desejo de vocês que pode sacrificar o funcionamento democrático desta Casa e do
colégio de líderes, não", acrescentou o deputado.
A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) também
se manifestou contra a votação, que recebeu como uma "desagradável
surpresa". "Isso não foi tratado na reunião. Nós fomos pegos de
surpresa porque tínhamos entendido que a pauta que estaria no plenário neste
momento era uma pauta tranquila, quase consensual, e de repente voltam
os projetos de criminalização dos movimentos sociais", manifestou.
"É um
projeto descabido, que ataca os direitos humanos, um projeto que não deveria
estar como primeiro item da pauta. Qual é a finalidade dos acordos que nós
fazemos como líderes para sermos surpreendidos aqui com estes projetos nefastos
e horrorosos?", finalizou a deputada.
Com a aprovação da
urgência, os parlamentares têm o aval para aprovar o projeto a qualquer momento
no plenário.
·
Resposta de Lira
O PL estava parado,
mas ganhou a urgência com apoio do presidente da Casa Legislativa, Arthur Lira
(PP-AL), o que foi visto como uma resposta à exoneração do primo de Lira,
Wilson Cesar de Lira Santos, do cargo de superintendente do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas.
A expulsão do cargo
aconteceu após Lira afirmar que tinha um "desafeto pessoal" com o
ministro das Relações Internacionais, Alexandre Padilha, ao qual também chamou
de "incompetente".
·
Votação na CCJ
Na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, a ala bolsonarista e ruralista também
se organiza, principalmente com a presença de Caroline de Toni (PL-SC) como
presidente da comissão, para aprovar o "pacote anti-invasão"
que, na prática, impede a atuação política do MST. Um dos projetos de lei é o PL 8.262 de 2017, que autoriza
o uso da força policial contra os manifestantes do MST sem ordem
judicial.
¨ Lira quer sessão no plenário com jornalista do “Twitter Filles”
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), avisou
a lideranças partidárias que pretende realizar uma sessão geral no plenário da
Casa para debater a situação do Twitter e as liberdades de parlamentares nas
redes sociais.
Segundo líderes, Lira
deve acatar um requerimento do deputado Mendonça Filho (União-PE) que propõe a realização de sessão no plenário
para discutir a liberdade de expressão e imunidade constitucional de
parlamentares nas redes.
A ideia é convidar
para a sessão o jornalista americano Michael Schellenberg, autor das
reportagens que ficaram conhecidas como “Twitter Files Brazil”. As matérias
foram usadas como munição por Elon Musk para
atacar Alexandre de Moraes.
O jornalista já
participou nesta terça-feira (16/4) na Câmara de uma audiência na Comissão de
Relações Exteriores. Na audiência, ele falou sobre os e-mails trocados entre
autoridades do Judiciário brasileiro e dirigentes do X (antigo Twitter).
Schellenberg tem
acusado, nas redes sociais, autoridades brasileiras de pedir dados pessoais ao
Twitter. O jornalista relata ainda uma suposta censura e monitoramento de
políticos e cidadãos brasileiros pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo relatórios de
e-mails do X divulgados por Shellenberger, funcionários da plataforma teriam
relatado internamente a pressão imposta pela Justiça brasileira para que a
empresa divulgasse informações confidenciais de seus usuários.
O jornalista cita
especificamente o ministro do STF Alexandre de Moraes, o qual diz “liderar um
caso de ampla repressão da liberdade de expressão no Brasil”. Segundo
Shellenberger, Moraes emitiu decisões via TSE para intervir em publicações de
parlamentares.
·
Provocação ao STF
A iniciativa de Lira
seria uma “provocação” ao Supremo Tribunal Federal (STF),
após lideranças do Centrão reclamarem da prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão, suspeito
de ser um dos mandantes da morte de Marielle Franco.
Ø
Bolsonaro explode com Valdemar por causa de
ação contra Moro
O ex-presidente Jair Bolsonaro reagiu
duramente, nas últimas horas, à decisão do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de
prosseguir com a ação que pode cassar o mandato de Sergio Moro (União-PR) no
Senado.
Em conversa com
aliados na sede do PL, em Brasília, nessa terça-feira (16/4), Bolsonaro
disparou duras críticas a Valdemar e avaliou que a justificativa dada pelo
cacique para prosseguir com a ação não se sustenta.
Ao jornal O Globo o
presidente do PL alegou que teria de continuar com a ação contra o ex-juiz da Lava Jato porque, caso desistisse,
teria de pagar multa de mais de R$ 1 milhão aos advogados contratados pelo
partido para atuar no caso.
Na semana passada,
o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do
Paraná absolveu Moro em ação por meio da
qual o PL e o PT pediram a cassação do mandato do ex-juiz no Senado por suposto
abuso de poder econômico nas eleições de 2022.
Assim como o PT, o PL,
por decisão de Valdemar, anunciou que deverá recorrer ao TSE. Bolsonaro, porém,
chegou a pedir ao presidente de seu partido que desistisse da ação. Ou seja,
que não recorresse. Valdemar, porém, ignorou o apelo.
Na avaliação de
auxiliares de Bolsonaro, o presidente nacional do PL tem se aproveitado da
proibição de manter contato direto com o ex-presidente da República para
ignorar os apelos para não recorrer ao TSE no caso do ex-juiz.
Como noticiou a
coluna, o entorno de Bolsonaro avalia que Valdemar insiste com a ação porque
estaria sofrendo suposta pressão de ministros do STF que veem Moro como
desafeto político desde a época da Lava Jato, o que o cacique nega.
Fonte: Metrópoles/Fórum
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