Na Bahia, meninas violentadas pelo pai
revelam rotina de tortura
Filhos esperam
encontrar nos pais segurança, carinho e confiança. E quando esse elo é quebrado
pela parte mais forte da relação? É uma história envolvendo possíveis crimes,
que vem sendo investigada pela Delegacia Especializada de Repressão a Crimes
Contra a Criança e o Adolescente (Dercca). O suspeito de estuprar, torturar,
sequestrar e manter em cárcere privado as próprias filhas é um empresário de 50
anos com atuação em vários municípios da Bahia.
O homem foi preso no
último dia 4 de abril em uma mansão localizada em Vilas do Atlântico, bairro de
classe média na cidade de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador
(RMS). Após audiência de custódia, as provas apresentadas pela polícia fizeram
o juiz converter a prisão que era em flagrante para preventiva. O irmão do
empresário teve acesso a uma carta escrita por uma das sobrinhas, a qual revela
todos os abusos que elas sofriam. Com a carta em mãos, ele buscou a Dercca para
realizar a denúncia.
A equipe do Portal A
TARDE teve acesso, com exclusividade, aos depoimentos das duas crianças, que
trazem detalhes chocantes pelas práticas supostamente cometidas pelo pai. A
reportagem manterá o nome do empresário em sigilo, a fim de salvaguardar a
identidade das filhas, que são menores de idade. A criança de 11 anos será
tratada como “filha 01” e a adolescente de 13 anos será tratada como “filha
02”.
• Falsa denúncia e ameaças
Durante depoimento na
Dercca, a filha 01 detalhou o período em que teria sofrido os abusos praticados
pelos pais. Diante da delegada, ela informou que as práticas eram cometidas
desde quando ela tinha 9 anos, sendo iniciada após a separação dos pais. As crianças
estavam desde janeiro desse ano com o homem no imóvel em Lauro de Freitas e
eram mantidas em cárcere privado.
“Ele esperava eu
dormir para começar a passar a mão em mim"
“Ele esperava eu
dormir para começar a passar a mão em mim. Me obrigava a viajar com ele e me
forçava a dormir junto com ele. Quando a gente veio para cá (Vilas), ele disse
que era para passar férias, mas eu sabia que não era isso. Ele me enfiou dentro
do carro e veio. Não deixava eu falar com minha mãe”, revelou.
De acordo com as
investigações da Polícia Civil, a filha 01 morava em Serrolândia com a mãe e
após o empresário registrar um Boletim de Ocorrência contra o avô materno da
criança, ele a sequestrou e a trouxe para Lauro de Freitas. Ainda segundo as
investigações, ele acusou falsamente o avô da criança de estupro contra ela. A
história seria uma forma de desviar o foco dele.
“Ele me ameaçou com
uma arma e fez eu mentir dizendo que meu avô me abusou. Menti para família e
para polícia. Ele me forçou a dizer que meu avô era um monstro”, relembrou a
filha 01 durante o depoimento.
"Ele me dava
remédio para dormir e eu acordava com dor"
A garota ainda contou
que a primeira vez que foi estuprada. “Foi em uma roça. Ele me dava remédio
para dormir e eu acordava com dor e com um líquido pegajoso, com um cheiro
estranho, bem fedido”, disse.
• Um rotina de abusos
Os abusos sexuais
teriam iniciado com a filha 02, que hoje
tem 13 anos. Durante depoimento na unidade policial, a criança contou que
lembra que as práticas criminosas começaram quando ela tinha 5 anos. “Ele
mandava fazer massagem nas partes íntimas dele, utilizando um creme. Tomava
banho comigo pelado, passava a mão em mim e não deixava dormir sozinha”.
“Ele mandava fazer
massagem nas partes íntimas dele"
A filha 02 contou que
sempre morou com o pai. Informações obtidas pela equipe do Portal A TARDE dão
conta que a mãe da criança morreu quando ela tinha quatro anos e desde então
ela mora com o pai na cidade de Lauro de Freitas, tendo se mudado por um período
para cidade de Serrolândia. A criança revelou durante o depoimento que passou
por uma cirurgia de coluna em 2021 na cidade de São Paulo, quando percebeu que
o pai parou de lhe abusar e começou a rotina com a irmã.
“Tentei contar às
pessoas no hospital, fiz desenhos sobre o que ele fazia. Ele descobriu e parou.
Quando voltei para cá, minha irmã me contou que ele fazia as coisas com ela.
Ela começou a me falar e percebi que ele começou a fazer as mesmas coisas com ela”,
disse.
• O caso
O pai das meninas, um
homem de 50 anos, foi preso em flagrante no dia 4 de abril por suspeita de
estuprar as filhas e mantê-las em cárcere privado. A prisão aconteceu em Vilas
do Atlântico, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.
As investigações
tiveram início quando o suspeito, para tentar ocultar o crime praticado por
ele, registou uma ocorrência na unidade especializada denunciado o avô das
crianças. Ele acusava o idoso de estupro. A denúncia foi desmentida pela filha
do idoso e mãe de uma das garotas, que apontou o ex-companheiro como autor dos
abusos.
A titular da Delegacia
Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e ao Adolescente
(Dercca), delegada Simone Moutinho, contou que uma informação inicial seria de
que o suspeito estaria em Feira de Santana, a 100 km de Salvador. No entanto,
quando as equipes chegaram no endereço o suspeito já tinha ido embora.
As investigações
seguiram e os policiais rastrearam o carro alugado pelo suspeito em Feira de
Santana até a sua nova localização, em Lauro de Freitas. "Ainda vamos
interrogá-los para obter mais detalhes. Ele não tinha pouso certo, perambulava
de cidade em cidade com essas meninas, obviamente para se afastar das ações
policiais", disse a delegada.
Informações iniciais
apontam que as filhas eram constantemente ameaçadas de morte. "Elas não
estudavam há três anos e eram tratadas como escravas sexuais para
satisfazê-lo", falou também a delegada.
No momento do resgate,
as meninas estavam assustadas e correram em busca de ajuda quando viram os
policiais. As investigações ainda apontam que o homem tinha dois simulacros de
revólveres e os utilizava para fazer terror psicológico contra as filhas. O inquérito
ainda aponta que as crianças eram amedrontadas a não contar a história para
familiares.
• Meninas estupradas pelo pai abraçaram
policiais durante resgate
A delegada Simone
Moutinho, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a
Criança e ao Adolescente (Dercca), disse que as crianças que eram mantidas em
cárcere privado pelo pai, no bairro de Vilas do Atlântico, na cidade de Lauro
de Freitas, Região Metropolitana de Salvador, estavam assustadas quando foram
encontradas e quando viram os policiais correram em busca de ajuda.
"Assim que os
policiais chegaram ao veículo em que as meninas estavam no interior, elas
saíram do veículo e abraçaram os policiais, aliviado por estarem sendo
resgatadas", falou ao Portal A TARDE.
Ainda segundo a
delegada, na residência em que as meninas estavam haviam armas de fogo, que
eram simulacros, utilizados para amedontrar as crianças. Foram encontradas
também duas pessoas, que negaram socorro para as garotas e por isso também
foram detidas pela Polícia Civil.
• A descoberta
De acordo com a
delegada, o homem, de 50 anos, registrou um falso crime de estupro contro o avô
materno de uma das crianças, mas no decorrer das investigações, o empresário
não levou a filha à delegacia para prestar depoimento. A partir daí, foi
iniciada investigação contra ele.
Ainda de acordo com a
delegada, a filha mais velha enviou mensagens para mãe pedindo socorro. O homem
fugiu da cidade de Serrolândia com as crianças para a cidade de Feira de
Santana (BA) e posteriormente para Lauro de Freitas.
Fonte: A Tarde
Nenhum comentário:
Postar um comentário