Melatonina
para crianças: entenda principais dúvidas e riscos
A
melatonina é um hormônio produzido naturalmente pelo nosso corpo que é
responsável pelo nosso sono e, por isso, a sua suplementação é muito comum
entre adultos que buscam aliviar os sintomas da insônia. Porém, ainda existem
dúvidas acerca do uso do suplemento por crianças que também têm dificuldades
para dormir: será que é seguro? Quais são as indicações? Há riscos?
De
acordo com especialistas ouvidos pela CNN, a suplementação de melatonina pode
ser segura em crianças, mas deve ser feita com cautela e apenas com indicação
médica. Além disso, ainda não existem evidências científicas sobre os possíveis
efeitos colaterais do uso do hormônio pelos pequenos à longo prazo.
“Apesar
de ser, sim, seguro dar melatonina para a criança, é importante lembrar que
esse é um hormônio, o que significa dizer que, assim como todos os outros
hormônios, pode ter vários efeitos sobre o corpo”, afirma Leticia Soster,
neurologista infantil, médica do sono e membro da SBNI (Sociedade Brasileira de
Neurologia Infantil).
“Embora
haja um perfil de segurança, ainda falta muita pesquisa para dizermos quanto
esses efeitos podem modificar outros fatores do corpo da criança à longo
prazo”, completa.
• O
que é melatonina?
A
melatonina é um hormônio produzido naturalmente pelo corpo, mais
especificamente pela glândula pineal localizada no cérebro. A sua produção é
controlada pelo ciclo circadiano de 24 horas, que se baseia na alternância
entre luz e escuridão. À noite, os níveis do hormônio começam a subir, levando
à sonolência, e seu pico é atingido durante a madrugada, garantindo um sono
profundo e necessário para as funções cerebrais, conforme explica o
neurologista infantil Antônio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe.
“Com
o amanhecer e o aumento da claridade, a produção de melatonina diminui, pois a
luz solar inibe sua produção, sinalizando ao corpo que é hora de despertar e
ficar alerta. Essa oscilação natural é fundamental para regular o ciclo
sono-vigília e manter um padrão saudável de sono”, afirma o especialista.
A
suplementação de melatonina, em adultos, é indicada para auxiliar na regulação
do sono em casos de dificuldade para dormir, desequilíbrios no ciclo circadiano
e problemas para manter um sono profundo.
• Quando
a melatonina pode ser indicada para crianças?
A
AASM (Academia Americana de Medicina do Sono) recomenda que o uso de melatonina
“pode melhorar o sono em crianças cujos relógios biológicos estão ‘fora do
horário’ e em algumas crianças com problemas de desenvolvimento”, em
posicionamento oficial da entidade.
No
entanto, a AASM reforça que os pais devem conversar com um profissional de
saúde antes de dar melatonina e qualquer suplemento às crianças.
De
acordo com de Farias, a suplementação de melatonina em crianças deve ser feita
com a indicação correta, utilização de dosagens adequadas e com atenção às
características individuais da criança, por um tempo de uso não prolongado.
“[São] Aspectos que exigem orientação médica especializada”.
• Quais
são os possíveis riscos da suplementação de melatonina?
A
suplementação de melatonina, quando feita sem orientação médica e em dosagens
inapropriadas, pode levar à sonolência durante o dia, distúrbios
gastrointestinais (náuseas, vômitos ou dores de estômago), além de alterações
de humor. Em crianças, esses efeitos podem variar de acordo com a sensibilidade
individual e podem afetar o desempenho escolar e a rotina da criança, de acordo
com de Farias.
De
acordo com a AASM, a melatonina é o segundo produto “natural” mais popular que
os mais dão aos filhos. Diante desse cenário, ainda segundo a entidade, houve
relatos, nos Estados Unidos, de aumento nos casos de overdose de melatonina e
nos atendimentos de emergência para crianças, principalmente durante a pandemia
de Covid-19.
No
Brasil, em agosto de 2021, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
proibiu a fabricação, comercialização, distribuição e o uso de um suplemento
alimentar de melatonina para crianças, chamado “Soninho Perfeito Melatonina
Kids”, da empresa Oemed. De acordo com a agência, “não há segurança de uso
comprovada junto à Agência para essas faixas etárias”.
Dicas
importantes para melhorar a qualidade do sono das crianças
A
neurologista infantil Leticia Soster explica que “o sono começa na hora que
acordamos”. Ou seja, ele é composto por todas as atitudes que tomamos durante o
dia. “Isso é muito válido para as crianças, principalmente as mais novas”,
afirma.
Portanto,
uma das primeiras dicas essenciais é manter a rotina estabelecida com horários
regulares. “É importante ter horário regular para acordar, para se alimentar,
para realizar atividade física e para dormir. O cansaço é um fator que a gente
chama, tecnicamente, de fator homeostático que, lá no final do dia, vai fazer a
criança adormecer”, explica.
Uma
outra questão importante é saber lidar com a aversão da criança ao sono. “A
criança tem aquela sensação aversiva que é sentir sono, ela se incomoda com
ele, sentir sono é ruim. Esse é um fator comportamental”, complementa. “Para
solucionar essa questão, é preciso fazer a criança relaxar antes de adormecer
para que ela não brigue com a sensação ruim que é ter sono.”
Outras
dicas importantes, segundo os especialistas, incluem:
• Evitar
estímulos próximos da hora de dormir (televisão, música, dispositivos
eletrônicos);
• Proporcionar
atividades relaxantes (música suave, luz com baixa intensidade, leitura de
livros com conteúdos ajustados a faixa etária);
• Evitar
alimentos e bebidas estimulantes, como café, refrigerantes e chocolate;
• Proporcionar
um ambiente confortável, silencioso, escuro, ventilado e com temperatura
adequada para favorecer o início e manutenção do sono.
Dieta
do pai pode impactar na saúde dos filhos, sugere estudo
Uma
nova pesquisa, publicada na Nature Communications no início de abril, mostrou
que a dieta do pai pode influenciar na saúde mental e metabólica dos filhos. O
estudo ajuda a entender como os efeitos da alimentação podem ser transmitidos
de uma geração para outra através do esperma do pai.
Estudos
anteriores, realizados com camundongos, já haviam descoberto que a dieta de
ratos machos poderia ter um impacto não só na sua saúde reprodutiva, mas também
na da sua descendência. Tanto a alimentação excessiva quanto uma dieta pobre em
macronutrientes poderia afetar o metabolismo e o comportamento dos filhotes,
bem como influenciar no risco de câncer.
Para
entender se existem diferentes impactos na saúde da prole dependendo do tipo e
da composição da dieta dos camundongos machos antes da concepção, cientistas do
consórcio GECKO decidiram fazer um novo estudo. Nesta pesquisa, eles
alimentaram ratos machos com uma das dez dietas que variavam nas proporções de
proteínas, gorduras e carboidratos e, em seguida, permitiram que eles
acasalassem com fêmeas criadas com dieta padrão.
Os
cientistas descobriram que os ratos alimentados com dietas pobres em proteínas
e ricas em carboidratos tinham maior probabilidade de ter filhotes machos com
níveis elevados de ansiedade. Também descobriram que ratos machos alimentados
com dietas ricas em gordura tinham maior probabilidade de ter filhas com níveis
mais elevados de gordura corporal e maior risco para doenças metabólicas.
“Nosso
estudo mostra que o tipo de dieta ingerida antes da concepção pode programar
características específicas da próxima geração”, afirma Romain Barrès, co-autor
sênior, líder do consórcio GECKO e professor da Universidade de Copenhague e da
Université Côte d’Azur, Nice, em comunicado à imprensa.
“É
extraordinário que, ao titular misturas de proteínas, gorduras e carboidratos
na dieta do pai, possamos influenciar características específicas da saúde e do
comportamento dos seus filhos e filhas. Há alguma biologia importante em jogo
aqui”, diz o professor Stephen Simpson, co-autor sênior e diretor acadêmico do
Centro Charles Perkins da Universidade de Sydney, também em comunicado.
O
estudo também observou que tanto a quantidade de calorias quanto a composição
de macronutrientes das dietas dos machos podiam influenciar na saúde dos seus
descendentes.
“Acreditamos
que o nosso estudo é um passo no sentido de estabelecer diretrizes alimentares
para os futuros pais, com o objetivo final de reduzir o risco de doenças
metabólicas e distúrbios de humor na próxima geração”, afirma Romain Barrès.
Fonte:
CNN Brasil
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