Entenda porque o Subúrbio de Salvador é tão
cobiçado pelas facções CV e BDM
Nas últimas duas
semanas a região do Subúrbio de Salvador vem sendo palco de uma guerra
protagonizada pelas facções criminosas Comando Vermelho (CV), que tenta
expandir território, e o Bonde do Maluco (BDM), até então, detentor do controle
de venda de entorpecentes em vários trechos da localidade.
A situação se intensificou
no último dia 10 deste mês, quando vários integrantes do CV invadiram a região
do bairro de Mirantes de Periperi para tomar o controle das localidades. A
ação, inclusive, resultou na morte de um morador que estava de folga e foi
atingido dentro de sua residência por uma 'bala perdida'. Desde então, não só
em Mirantes, mas em várias localidades, o confronto se tornou rotina.
"Dia 10 teve a
primeira investida do Comando Vermelho numa região que era controlada pelo BDM.
Uma entrada muito violenta e com muitos homens. Isso é o que chamou muita
atenção e acabou causando todo o transtorno e pânico na população. Muitos
disparos de armas de fogo, de calibres diversos, principalmente armas de uso
restrito das forças armadas. Eles picharam paredes, invadindo casas, expulsando
moradores e tudo mais", destacou o Major João Daniel, comandante da 18ª
Companhia Independente da Polícia Militar, em conversa com o Portal A TARDE.
Mas porque o
território do Subúrbio é tão cobiçado pelas facções criminosas? Para o oficial,
a busca pelo controle da localidade é explicada pelas características
"territorialistas" destas organizações criminosas e pela posição
estratégica do Subúrbio, que fica próximo à Estrada do Derba, BA 528 e BR 324,
além da vasta área de vegetação, que dificulta a ação das forças policiais.
"Eles são
territorialistas. Se você ver a identificação no mapa vai ver que existe uma
área de vegetação densa. Então, quem detém o todo daquela localidade acaba
detendo também toda a localidade de zona de matagal. Só que essa zona de mata
faz ligação com o Derba, e o Derba faz ligação direta, praticamente, com a
BR-324. Então, acaba sendo um ponto de chegada e de escoamento, tanto de
drogas, quanto de armas, rotas de fuga, e tudo mais. Então a questão do
territorialismo é exatamente isso daí: questões geográficas que, para eles,
terminam sendo um facilitador para as ações criminosas diversas que eles possam
pensar. Então, eles querem ter o total domínio do território, de forma que a
vida criminosa deles", salientou.
A 18ª é responsável
pela cobertura dos bairros de Periperi, Rio Sena, Coutos, Praia Grande, Vista
Alegre, Alto da Teresinha e Nova Constituinte. No entanto, a região é muito
mais complexa. Só a Avenida Afrânio Peixoto, popular Suburbana, com ligação com
a estrada do Derba, atravessa o território coberto por mais três CIPMs; 14ª
CPIM (Lobato), 19ª CIPM (Paripe) e 31ª CIPM (Valéria).
Lá, a disputa pelo
domínio é algo histório. No ano passado, em um dos territórios mais cobiçados
pelas facções, valéria, um policial federal morreu e outros dois agentes da
Força Integrada de Combate ao Crime Organizado - FICCO/ BA, ficaram feridos. Na
ocasião, os agentes estavam seguindo para uma ação no bairro, quando foram
surpreendidos por um dos grupos que se preparava para invadir o território
inimigo.
Parte da região,
inclusive, e dominada por uma terceira facção criminosa, a Katiara. "A
localidade é estratégica. Ali é a saída e a entrada da cidade, um ponto
interestadual. Um local de grande interesse, tanto que há uma disputa entre
duas ou três facções criminosas que tentam controlar a região", disse o
delegado da Polícia Federal, Ricardo Andrade.
Apesar de considerar a
área de atuação, o delegado da Delegacia de Repressão a entorpecentes e o Grupo
de Investigações Sensíveis da Polícia federal, Diego Gordilho, salientou, em
uma matéria publicada em agosto do ano passado, que os domínios dos grupos
criminosos costumam ser sazonais."Isso não é uma coisa fixa. Esses
territórios são sempre alvos de disputas".
• Após onda de terror, Subúrbio volta à
“total normalidade”, diz major
Após duas semanas de
terror, com uma escalada abrupta na violência em bairros do Subúrbio de
Salvador, o major PM João Daniel, comandante da 18ª Companhia Independente da
Polícia Militar (18ª CIPM/Periperi) afirmou em entrevista ao Portal A TARDE,
que a região está retomando sua rotina usual.
“Já está voltando a
total normalidade dentro do bairro, da Baixada do Mirante, Colinas de Periperi,
Mirantes de Periperi, toda aquela área que foi afetada por essa horda de
insurgentes criminosos que estavam no local”, afirmou o major, que destacou que
atuação da PM na região permanece.
“O policiamento
continua, o policiamento ordinário. Nós seguimos acompanhando, através de
operações de inteligência, a movimentação desses grupos criminosos, e
continuaremos atuando na área devidamente e, se necessário, com alguns apoios.
Se necessário, vamos fazer algumas operações”, acrescentou.
A “guerra” começou na
tarde do dia 10 de abril, quando uma facção criminosa invadiu o bairro de
Periperi, cujo tráfico era controlado por um grupo rival. A partir daí, o
terror foi instaurado na região. Ainda no dia 10, um garçom que estava de folga
foi vítima de bala perdida e morreu na localidade de Mirantes de Periperi.
“Foi uma entrada muito
violenta, que foi o que chamou muita atenção e acabou causando todo o
transtorno e pânico na população. Foi uma entrada muito violenta, com muitos
homens, muitos disparos de armas de fogo de diversos calibres, principalmente
armas de uso restrito das Forças Armadas, e implementando o terror, pichando
casas, invadindo casas, expulsando as pessoas das casas e tudo mais”, relatou o
major João Daniel.
Dois dias depois, uma
escola e postos de saúde foram fechados no bairro, por causa da violência. No
mesmo dia, o secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner, determinou
reforço por tempo indeterminado no combate às facções na região do Subúrbio
Ferroviário, com uso de veículos e aeronaves pelas Polícias Militar e Civil no
patrulhamento e em ações de inteligência.
Durante os dias de
terror, que atingiu principalmente o bairro de Periperi, casos de violência
extrema ocorreram na região. Um deles foi o corpo encontrado decapitado em
Mirantes de Periperi. No dia anterior, uma cabeça humana havia sido encontrada
dentro de uma lata de tinta.
No bairro de Alto de
Coutos, um criminoso invadiu uma casa e fez de refém a família que morava no
imóvel. A PM foi até o local negociar, o criminoso tentou fugir, entrou em
confronto com os policiais e acabou morto.
Ainda durante as
operações policiais no Subúrbio, dois policiais foram baleados - um caso
ocorreu no Lobato, enquanto o outro foi em Mirantes de Periperi. As ações
policiais ainda apreenderam um arsenal de armas de uma facção, em Periperi.
De acordo com o
comandante da 18ª CIPM, desde o início, a PM iniciou o combate às facções que
disputavam a área na região.
“Havia uma guerra
entre as duas facções, e o número de marginais acabou se alastrando mais, e aí
a gente já começou a fazer algumas operações já contando com o apoio de outras
unidades, principalmente unidades especializadas. Durante a semana, a gente veio
fazendo algumas operações - operações terrestres, operações aéreas -,
utilizando tudo o que a polícia tem de melhor, para poder debelar essa
situação. Então foi utilizado o Batalhão Patamo, Batalhão de Choque, Rondesp,
Cipe Polo, Grupamento Aéreo, que foi fantástico, foi importantíssimo na
situação”, destacou o major João Daniel.
Para o PM, a
estratégia de reforçar o policiamento com as unidades especializadas foi de
extrema importância para restauração da normalidade no Subúrbio de Salvador. “A
gente acabou tendo êxito na apreensão de armas, principalmente fuzis; muitos
carregadores, muita munição, drogas, e a prisão de pelo menos cinco pessoas,
sendo que houve dois resistentes e algumas pistolas, três ou quatro pistolas;
munição farta, muitos carregadores, principalmente carregadores de fuzis,
carregadores de pistolas que davam para colocar mais de 50 munições em um só
carregador”, relatou.
Em uma coletiva de
imprensa realizada na terça-feira, 23, a Secretaria de Segurança Pública
apresentou os números das operações policiais no primeiro trimestre. Segundo a
SSP-BA, 35 líderes de facções foram localizados em Salvador. No encontro,
também foram apresentados números de operações em bairros do Subúrbio.
Em Periperi: cinco
presos, um adolescente apreendido, quatro suspeitos que resistiram às
abordagens policiais e morreram em confronto, além da apreensão de fuzil,
espingarda, duas pistolas, granada, 79 carregadores, 218 munições e dois
coletes balísticos. [Veja vídeo abaixo]
No Lobato: Foragido da
Justiça integrante do Baralho do Crime localizado, uma prisão em flagrante,
além da apreensão de pistola, munição e carregador.
• PM retira pichações de facções
criminosas na região do Subúrbio
Pichações de facções
criminosas, responsáveis pela onda de violência nos últimos dias na região do
Subúrbio de Salvador, estampadas nas paredes de casas e comércios começaram a
ser cobertas. A ação teve apoio de policiais militares do Comando de Policiamento
Regional da Capital - CPRC/BTS, 18ª Companhia Independente de Polícia Militar-
Periperi e Base Comunitária de Segurança do Rio Sena deram apoio.
A ação foi realizada
na Baixada de Mirantes de Periperi, Rua Daniel Além e Transversais, Rua
Lindaura Borges, e Travessa 8 de maio.
Além da retirada dos
símbolos das organizações, a região também teve o policiamento reforçado.
Segundo a PM, o objetivo desta ação consiste em realizar a contenção do avanço
da incidência criminal visto os fatos ocorridos na última semana passada, onde
ocorrera uma guerra entre duas facções a fim de estabelecer domínio
territorial.
Fonte: A Tarde
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