sexta-feira, 26 de abril de 2024

As armas que os EUA estão enviando secretamente à Ucrânia

Ucrânia começou a usar mísseis balísticos de longo alcance fornecidos secretamente pelos EUA contra as forças invasoras russas, confirmaram autoridades americanas.

As armas fazem parte de um pacote de ajuda de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) aprovado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em março e chegaram este mês à Ucrânia.

Os equipamentos militares já foram usados pelo menos uma vez para atacar alvos russos na Crimeia ocupada, segundo a mídia americana.

Biden assinou na quarta-feira (24/4) um novo pacote de ajuda de US$ 61 bilhões (R$ 330 bi) para a Ucrânia.

Os EUA forneceram anteriormente à Ucrânia uma versão de médio alcance dos Sistemas de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS, na sigla em inglês), mas mostraram-se relutantes em enviar algo mais poderoso, em parte devido às preocupações sobre o comprometimento da prontidão militar do país diante de outras ameaças.

No entanto, Biden parece ter aprovado secretamente o envio do sistema de longo alcance — capaz de disparar mísseis a distâncias de até 300 km — em fevereiro deste ano.

"Posso confirmar que os Estados Unidos forneceram à Ucrânia ATACMS de longo alcance sob orientação direta do presidente", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel.

Os EUA "não anunciaram [o envio] no início, para manter a segurança operacional da Ucrânia", acrescentou ele.

Não está claro quantos equipamentos do tipo já foram enviados, mas o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que Washington planeja enviar mais.

"Eles farão a diferença. Mas, como eu disse antes, não existe solução mágica", disse ele.

Os mísseis de longo alcance foram usados pela primeira vez na semana passada para atacar um campo de aviação russo na Crimeia ocupada, reportou a agência de notícias Reuters, que citou como fonte uma autoridade norte-americana não identificada.

Os novos mísseis também foram usados num ataque às tropas russas na cidade portuária ocupada de Berdyansk durante a noite de terça-feira (23/4), segundo o jornal The New York Times.

Nos últimos meses, Kiev aumentou os apelos por ajuda internacional, à medida que os seus estoques de munições se esgotavam e a Rússia registra ganhos constantes em batalhas.

O novo pacote de ajuda americano foi aprovado após meses de impasse, pois havia uma oposição de alguns membros do Congresso.

"Isso tornará a América mais segura, tornará o mundo mais seguro”, disse Biden após sancionar a medida.

Após a notícia do pacote, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse: "Agora faremos tudo para compensar esse meio ano que foi gasto em debates e dúvidas."

"O que os invasores russos foram capazes de fazer durante este tempo, o que Putin planeja, agora devemos nos voltar contra eles."

Zelensky alertou recentemente que uma ofensiva russa era esperada nas próximas semanas, após a Ucrânia perder a cidade de Avdiivka durante o inverno.

As forças ucranianas sofreram com a escassez de munições e de sistemas de defesa aérea nos últimos meses — e as autoridades culparam os atrasos na ajuda militar dos EUA e de outros aliados ocidentais pela perda de vidas e de território.

Sullivan disse na quarta-feira (24/5) que era "certamente possível que a Rússia obtivesse ganhos táticos adicionais nas próximas semanas".

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de Fevereiro de 2022, dezenas de milhares de pessoas — a maioria soldados — foram mortas ou feridas em ambos os lados e milhões de pessoas fugiram das suas casas.

Ø  Após novo pacote de ajuda militar aprovado, Pentágono confirma início do envio de armas à Ucrânia

Os Estados Unidos iniciaram o processo de transferência de armas e munições para a Ucrânia. A expectativa é que as primeiras entregas cheguem dentro de alguns dias, se não antes, disse o porta-voz do Departamento de Defesa, Patrick Ryder, nesta quinta-feira (25).

"Já iniciamos o processo de movimentação de algumas das armas, munições e equipamentos, que estarão lá em alguns dias, se não antes", disse Ryder, quando questionado sobre quando os EUA acreditam que a primeira carga de munições chegará à Ucrânia.

Em um comunicado recente, Ryder destacou a robusta rede logística que permite ao Pentágono movimentar os materiais rapidamente, em questão de dias.

"Temos uma rede logística muito robusta que nos permite movimentar o material rapidamente, como fizemos no passado, numa questão de dias. Por questões de segurança operacional não darei detalhes sobre o que este pacote de assistência poderá incluir. Há materiais importantes, defesa aérea e capacidade de artilharia", explicou.

No início desta quinta-feira, coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou que a defesa aérea continua a ser uma "grande prioridade" para os Estados Unidos, ao responder a uma pergunta sobre o possível envio de mísseis Patriot para a Ucrânia.

Na quarta-feira (24), o presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma lei de defesa nacional, aprovada recentemente pelo Senado, após meses de debate, que atribui US$ 95 bilhões (R$ 490,27 bilhões) em ajuda à Ucrânia, a Israel e às suas operações no Indo-Pacífico.

A divisão exata dos valores contemplam a Ucrânia com US$ 61 bilhões, Israel com US$ 26 bilhões e outros US$ 8 bilhões para iniciativas de segurança na região oceânica do Indo-Pacífico.

Do dinheiro atribuído à Kiev, US$ 23,3 bilhões destinam-se à reposição de artigos e serviços de defesa para a Ucrânia, US$ 13,8 bilhões para a compra de sistemas de armas avançados e US$ 11,3 bilhões para operações militares dos EUA na região.

Os regulamentos também contêm uma medida para fornecer sistemas de mísseis táticos do Exército de longo alcance (ATACMS) à Ucrânia.

A Ucrânia é apoiada militarmente pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o bloco de guerra liderado pelos Estados Unidos e composto pela maioria dos países da União Europeia.

A Rússia considera que os envios de armas para Kiev dificultam a solução do conflito e alerta que a OTAN está "brincando com fogo".

 

Ø  Scott Ritter: nova ajuda dos EUA à Ucrânia não vai eliminar vantagem da Rússia

 

Ex-inspetor de armas da ONU e analista político Scott Ritter diz à Sputnik que "armas mágicas" de Washington não vão alterar a superioridade militar de Moscou no conflito nem enviar as forças russas de volta às fronteiras de 1991.

Nenhuma das "armas mágicas" de Washington pode ajudar Kiev a conter o avanço das forças russas em sua ofensiva, afirmou à Sputnik o ex-inspetor de armas da Organização das Nações Unidas (ONU) e analista político Scott Ritter.

Nesta semana, o Senado dos EUA aprovou um novo pacote de ajuda a Ucrânia, Israel e Taiwan no valor de US$ 95 bilhões (cerca de R$ 490 bilhões). O financiamento recebeu 75 votos favoráveis e 17 contrários, sendo necessários no mínimo 60 senadores para a aprovação da proposta.

Do total dos recursos, cerca de US$ 61 bilhões (cerca de R$ 315 bilhões) são para a Ucrânia, outros quase US$ 26 bilhões (cerca de R$ 134 bilhões) para Israel e US$ 8 bilhões (cerca de R$ 41 bilhões) são destinados a Taiwan.

Do montante destinado ao regime de Kiev, pelo menos US$ 13,8 bilhões (R$ 71,2 bilhões) serão usados para compra de armamentos, como mísseis de longo alcance ATACMS e caças F-16.

"Os US$ 13,8 bilhões em assistência militar que serão fornecidos à Ucrânia serão insuficientes para basicamente deter o avanço russo em curso e mudar o resultado no campo de batalha", afirmou Ritter.

Ele acrescentou que a soma não ajudará Kiev a "virar a maré para enviar as forças russas de volta, de acordo com a fórmula de [Vladimir] Zelensky, às fronteiras de 1991". Segundo o analista, ele não é o único a pensar dessa forma.

"Essa é a avaliação do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, [Dmitry] Kuleba, que disse que nesta fase final do jogo não há quantidade de assistência militar que possa impedir o avanço russo. Ele está correto", ressaltou Ritter.

Segundo Ritter, a Rússia goza atualmente de "superioridade militar, senão de supremacia absoluta, ao longo de toda a linha de combate, não apenas nas linhas da frente, mas estendendo-se até às áreas de retaguarda das defesas ucranianas".

Ele explicou ainda que depois que as armas dos EUA forem entregues à Ucrânia e levadas para a linha de frente, o armamento estará sujeito a constantes interdições.

"Muito pouco dessa assistência militar chegará realmente aos soldados ucranianos na linha da frente, e quando isso acontecer, esse equipamento militar será destruído de forma relativamente rápida pelos russos, que vão rastrear o equipamento", destacou Ritter.

 

¨      EUA alocam dinheiro para Kiev apenas 'para salvar sua reputação' e isto não muda nada, diz analista

 

A maior parte do dinheiro projetado na nova lei de defesa nacional que contém assistência a Kiev ficaria nos Estados Unidos, disse o cineasta Regis Tremblay à Sputnik. Na sua opinião, a atual política antirrussa do presidente dos EUA, Joe Biden, apenas procura fortalecer a sua posição nas próximas eleições.

Segundo cineasta Regis Tremblay, que atualmente reside na Crimeia, a resposta da opinião pública russa à aprovação pelos EUA da lei de defesa nacional que prevê, entre outras coisas, milhões de dólares em assistência a Kiev, tem sido muito mais discreta do que no país da América do Norte.

A lei de ajuda à Ucrânia, a Israel e ao Indo-Pacífico gerou uma controvérsia significativa. A maioria dos legisladores do Partido Democrata, agora totalmente ligados aos interesses do complexo militar-industrial nacional, votou a favor do financiamento, enquanto o Partido Republicano permanece fortemente dividido sobre a questão. Assim, alguns conservadores propuseram a remoção do presidente da Câmara, Mike Johnson, do cargo por apoiar gastos massivos.

"Aqueles que prestam atenção [à lei de ajuda aprovada] sabem que a maior parte desses US$ 61 bilhões [cerca de R$ 315,7 bilhões] nunca chegará à Ucrânia. Eles sabem que acabarão no complexo militar-industrial dos EUA para reabastecer os arsenais dos EUA. E agora? Quanto é que vai chegar à Ucrânia? Bem, acho que as pessoas podem ter certeza de que parte desse dinheiro vai acabar nos bolsos do [presidente ucraniano Vladimir] Zelensky e de seus comparsas", enfatizou Tremblay.

O pouco que acabará por ser atribuído a Kiev e às suas Forças Armadas não mudará a situação no front, sublinhou ele. Em sua opinião, a atual política do presidente dos EUA, Joe Biden, procura criar uma imagem forte do presidente que se esforça para "vencer esta guerra contra a Rússia".

"É tudo fanfarronice, tudo foi pensado para garantir que Joseph Biden continue a ser um candidato viável nas próximas eleições", sublinhou.

Quanto ao desenvolvimento do conflito ucraniano, Tremblay acredita que "esta guerra basicamente acabou". Ele observou que atualmente não há verba ou armas que possa ser despejada na Ucrânia para ajudá-la a vencer. Ao mesmo tempo, a única coisa que poderá criar "um verdadeiro problema para o mundo" é se os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) decidirem enviar as suas tropas para lá, o que foi levantado em discursos do presidente da França, Emmanuel Macron, e de vários outros líderes.

"A outra parte é que o dinheiro [projetado na lei de ajuda] é realmente insignificante quando se trata das necessidades da Ucrânia. Os sistemas de defesa aérea Patriot custam bilhões de dólares. Não sei quem nos EUA quer enviar mais Patriot para a Ucrânia que vai ser destruído, penso que os EUA estão a enviar este dinheiro apenas para não perderem reputação e respeito."

Tremblay chamou a atenção para o fato de o mundo estar se tornando multipolar. Neste contexto, destacou o papel do grupo BRICS, da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) e da Iniciativa Cinturão e Rota que impulsionam o processo.

"Esta situação se tornou mais perigosa e imprevisível devido à relutância dos EUA em aceitar o seu legítimo lugar na ordem mundial como um entre iguais", comentou.

 

Fonte: BBC News/Sputnik Brasil

 

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