quinta-feira, 18 de abril de 2024

Entenda o que é hemofilia e como a doença pode ser tratada

A hemofilia é uma doença caracterizada pela incapacidade de coagulação do sangue, processo necessário para interromper hemorragias e sangramentos. De acordo com a Federação Mundial de Hemofilia, o Brasil tem a quarta maior população de pacientes com hemofilia do mundo, com cerca de 13 mil pessoas afetadas. Para conscientizar a população sobre essa condição rara, é reconhecido o Dia Mundial da Hemofilia nesta quarta-feira (17).

Essa é uma doença rara, de origem genética e hereditária e é causada por defeitos nos genes que codificam e permitem a produção de proteínas que atuam na coagulação do sangue, estocando hemorragias decorrentes do rompimento de vasos sanguíneos. Com essa falta de produção, a pessoa com hemofilia pode ter sangramentos prolongados externa e internamente, o que pode afetar sua qualidade de vida.

Existem dois tipos de hemofilia: a A e a B. O primeiro tipo, o mais comum da doença, é caracterizado pela deficiência no fator VIII de coagulação, enquanto o tipo B, menos comum, provoca alterações na produção do fator IX de coagulação, sendo também conhecida como doença de Christmas, de acordo com a Federação Brasileira de Hemofilia.

A seguir, entenda mais sobre os sintomas da hemofilia, como ela afeta a vida do paciente, como é feito o diagnóstico e o tratamento.

·        Quais são os sintomas de hemofilia?

A hemofilia A e a hemofilia B têm sintomas semelhantes. “A manifestação clínica depende do quão reduzida é a produção do fator. Geralmente, a hemofilia só se manifesta clinicamente [com sintomas] quando a produção é muito reduzida”, explica Martha Mariana Arruda, hematologista e oncologista do Sírio-Libanês em Brasília, à CNN.

De acordo com a Mayo Clinic, se a deficiência do fator de coagulação do sangue for leve, o sangramento pode ocorrer apenas após cirurgias ou traumas. No entanto, se a deficiência for grave, os sangramentos podem ocorrer facilmente sem motivo aparente.

Os sinais e sintomas de sangramento espontâneo incluem:

  • Sangramento inexplicável e excessivo devido a cortes ou lesões;
  • Sangramento após cirurgia ou tratamentos odontológicos;
  • Hematomas grandes ou profundos;
  • Sangramento incomum após vacinações;
  • Dor, inchaço ou sensação de aperto nas articulações;
  • Sangue na urina ou nas fezes;
  • Sangramentos nasais sem causa conhecida;
  • Irritabilidade sem motivo aparente (em bebês).

“O sangramento pode trazer um problema para a vida desses pacientes. Em particular, o hemofílico tem a hemartrose, que é um sangramento na articulação que, a longo prazo, pode causar a destruição dessa articulação”, explica Arruda. “Também pode ocorrer um hematoma no músculo, trazendo uma consequência para a função muscular e para os nervos que estão passando por ali”, completa.

Além disso, a Mayo Clinic também alerta para o risco de sangramentos no cérebro em pessoas com hemofilia grave. De acordo com a organização, uma simples pancada na cabeça pode causar sangramentos cerebrais que, apesar de raros, representam uma das complicações mais graves em decorrência da doença. Os sinais e sintomas, nesse caso, incluem:

  • Dor de cabeça prolongada;
  • Vômitos frequentes;
  • Sonolência ou letargia;
  • Alterações na visão;
  • Fraqueza repentina;
  • Convulsões.

>>> Como diagnosticar hemofilia?

O diagnóstico da hemofilia costuma ser feito ainda na primeira infância, principalmente no caso da hemofilia grave, conforme explica Arruda. “A criança começa a ter hematomas no corpo; quando começa a engatinhar, pode ter acometimento da articulação ou, eventualmente, um edema articular. Isso pode gerar desconfiança no médico, que solicita um exame”, diz a hematologista.

É o caso do TTPa (Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada), que avalia a coagulação no sangue. “Se esse exame vier alterado, justifica fazer a dosagem dos fatores de coagulação para poder identificar que tipo de hemofilia se trata”, afirma.

·        Hemofilia não tem cura, mas tem tratamento

A hemofilia não tem cura, mas tem tratamento, cujo objetivo é restabelecer a coagulação normal do sangue. Para isso, existem várias formas possíveis. “Até a década de 90, nós fazíamos a transfusão de plasma fresco congelado ou crioprecipitado, a depender da circunstância, que faz a reposição desses fatores que estão faltando”, explica Arruda.

Porém, com esse tipo de tratamento, o paciente com hemofilia era submetido a diversas transfusões, o que poderia aumentar o risco de infecções como HIV ou hepatite B e C. Com o avanço da tecnologia, esse método deixou de ser utilizado.

Hoje em dia, o tratamento é feito por meio da reposição do fator de coagulação deficiente através de concentrados de fator VIII (para hemofilia A) ou IX (para hemofilia B), produzidos em laboratório.

“Atualmente, nós não esperamos mais o hemofílico ter um sangramento para poder tratá-lo; já usamos o fator para evitar o desenvolvimento do sangramento”, explica Arruda.

Outra forma de tratamento disponível atualmente é o medicamento emicizumabe, para indivíduos com hemofilia A. Esse medicamento foi incorporado ao SUS (Sistema Único de Saúde) após recomendação publicada em relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) sobre essa tecnologia.

De acordo com o Ministério da Saúde, a incorporação de emicizumabe amplia as opções de tratamento para pessoas que convivem com a hemofilia, proporcionando qualidade de vida e a possibilidade de viverem novas experiências.

Arruda também cita estudos que avaliam a terapia gênica para hemofilia. “Recentemente, tem sido feitas publicações com terapia com RNA na tentativa de restabelecer o gene que está em deficiência na pessoa com hemofilia. Isso já é estudado há muitos anos, mas ainda não foi passível de uso comercial. Mas, cada vez mais, estamos próximos dessa realidade”, afirma.

 

Ø  O que são plaquetas, indicadores de gravidade da dengue

 

As plaquetas são fragmentos de células presentes no sangue e produzidas pela medula óssea. Elas desempenham um papel fundamental para a coagulação sanguínea, reduzindo o risco de hemorragias e auxiliando no processo de cicatrização. Por isso, o seu nível baixo no sangue representa um risco para a saúde.

“A função das plaquetas está relacionada à membrana celular, que é todo aquele entorno da célula que a protege e é onde ela vai ter contato com o vaso sanguíneo e desencadear o processo de coagulação do sangue”, explica Phillip Bachour, hematologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Para que a coagulação aconteça e um sangramento seja estancado, as plaquetas possuem, em seu interior, substâncias responsáveis por iniciar esse processo. “Toda vez que um vaso sanguíneo sofre pequenas lesões, como se fossem buraquinhos, as plaquetas fazem o ‘tampão’ plaquetário e se grudam, umas nas outras, para que não ocorra o sangramento”, completa Mariana Serpa, onco-hematologista do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.

Esse processo acontece de forma equilibrada, evitando que não haja nem sangramentos excessivos e nem coagulação intensa do sangue. Em um organismo saudável, esse trabalho é feito diariamente no nosso sangue, por exemplo, quando sofremos pequenos sangramentos na pele e logo o sangue se estanca.

No entanto, para que as plaquetas exerçam suas funções adequadamente, é preciso que elas sejam encontradas em uma quantidade razoável no sangue. Quando sua contagem está baixa, ocorre um maior risco de sangramentos excessivos, complicações de saúde e, em casos mais graves, um maior risco à vida.

·        O que causa níveis baixos de plaquetas no sangue?

As plaquetas baixas acontecem quando a contagem dessas células no sangue é inferior a 150 mil/mm³ (milímetro cúbico). Essa condição é conhecida como trombocitopenia ou plaquetopenia e pode ser causada por:

  • Doenças da medula óssea, como leucemia (câncer que afeta as células sanguíneas), mielodisplasia (distúrbio que provoca a produção anormal de células do sangue) e aplasia medular (quando a medula óssea não produz adequadamente células sanguíneas, incluindo as plaquetas);
  • Infecções virais (provocam diminuição no número de plaquetas por alterar a produção de células pela medula óssea e pela destruição dessas células pelo próprio sistema imunológico);
  • Uso de medicamentos específicos, como anti-inflamatórios, anticonvulsionantes e anti-hipertensivos.

>>> Queda no número de plaquetas e dengue: qual é a relação?

A dengue é uma das infecções virais que podem levar à queda no número de plaquetas no sangue.

“Durante uma infecção viral, são liberadas citocinas tóxicas que levam um sinal para a medula óssea para reduzir a produção de plaquetas. Além disso, muitas vezes, o sistema imunológico pode produzir anticorpos contra um vírus ou contra uma bactéria e esse anticorpo grudar na plaqueta, destruindo-a por entender que é um corpo estranho”, explica Serpa.

Isso pode acontecer com qualquer infecção viral, mas é um dos sinais importantes de agravamento da dengue, pois pode levar a manifestações hemorrágicas, incluindo sangramento nasal, gengival e o rompimento dos vasos superficiais da pele (levando à manchas vermelhas chamadas petéquias). Esses sinais de dengue grave costumam aparecer após a remissão da febre, entre o terceiro e o sétimo dia de sintomas.

“A baixa contagem de plaquetas é um dos sinais de alarme da dengue, mas também existem outros sintomas, como dor abdominal, vômitos, acúmulo de líquidos, derrame pleural [acúmulo de fluidos entre o pulmão e o peito], queda na pressão arterial, fadiga, entre outros”, acrescenta Bachour. “A queda nas plaquetas deve estar relacionada a todos esses sinais para confirmar um quadro grave de dengue”, completa.

·        Como identificar plaquetas baixas?

O diagnóstico de plaquetas baixas é feito através do exame físico, que avalia os sintomas, e de exames laboratoriais. O hemograma completo é essencial para checar a contagem de plaquetas e outras células sanguíneas, como glóbulos vermelhos e brancos.

“São dois exames principais que vamos ver no hemograma: o primeiro é o hematócrito, que é a parte vermelha do sangue que costuma aumentar quando há essa disfunção do controle volêmico [relacionado ao acúmulo de líquidos na cavidade abdominal e ao derrame pleural], e as plaquetas, cuja queda pode gerar sangramento de mucosas na dengue”, afirma Bachour.

·        Quando a baixa contagem de plaquetas passa a ser perigosa?

Quanto mais baixo o nível das plaquetas no sangue, maior o risco de complicações graves de saúde e de sangramentos. Os valores de referência são:

  • Entre 150 mil/mm³ e 350 mil/mm³: nível ideal de plaquetas no sangue;
  • Abaixo de 150 mil/mm³: é considerado baixa contagem de plaquetas e deve ser monitorada e investigada a causa. No entanto, ainda não apresenta riscos ao paciente;
  • Até 100 mil/mm³: baixo risco de sangramentos, ainda podem ser realizadas cirurgias mais complexas, sem risco à vida do paciente;
  • Até 50 mil/mm³: aumenta o risco para sangramentos e, por isso, grandes cirurgias devem ser evitadas, podendo ser realizados apenas procedimentos mais simples;
  • Inferior a 20 mil/mm³: risco alto para sangramentos espontâneos, com risco à vida, sendo necessária a transfusão de sangue para aumentar o número de plaquetas.

No caso da dengue grave, a transfusão de sangue deve ser evitada quando ainda não há sangramentos. “O Ministério da Saúde recomenda que seja evitada a transfusão de sangue na maior parte dos pacientes com dengue, pois ela pode estimular o corpo a destruir as plaquetas desse paciente, devido à destruição autoimune que o sistema imunológico faz”, explica Bachour.

No entanto, o hematologista explica que a transfusão pode ser indicada em situações críticas, quando há hemorragias que geram risco de vida. Nesse caso, a transfusão é terapêutica e visa estancar esses sangramentos.

Em outras situações que levam à queda no número de plaquetas, que não estão associadas à dengue, Serpa explica que é possível realizar a transfusão de sangue profilática. “Isso é indicado para evitar que o paciente evolua para um quadro de sangramento grave. Isso pode acontecer quando a contagem está abaixo de 20 mil/mm³”, afirma a onco-hematologista.

·        Como aumentar o número de plaquetas?

O tratamento para a baixa contagem no número de plaquetas varia de acordo com a causa e com a gravidade dos sintomas. Como vimos, em alguns casos em que o nível dessas células está muito baixo e há sangramentos com risco de vida, a transfusão de sangue passa a ser uma medida necessária.

No caso de infecções virais, é preciso tratar a doença que levou à queda na contagem das plaquetas para que a situação se normalize. A dengue, por exemplo, é tratada com repouso, hidratação e uso de medicamentos para tratar os sintomas.

Vale lembrar, porém, que alguns remédios são contraindicados para suspeita e tratamento da dengue, já que podem aumentar o risco de hemorragias. É o caso da aspirina, do AAS e dos anti-inflamatórios não esteroidais, como ibuprofeno, nimesulida, naproxeno, fenilbutazona, diclofenaco, piroxicam e sulindac.

Quando as plaquetas baixas ocorrem devido a doenças autoimunes, podem ser usados imunossupressores para suprimir a resposta imunológica. Em casos graves, a imunoglobulina intravenosa pode ser administrada para elevar temporariamente a contagem de plaquetas.

Nos casos em que a queda nas plaquetas ocorre devido ao câncer, o tratamento envolve as medidas para tratar o tumor, como quimioterapia e, a depender da gravidade da doença, transplante de medula óssea.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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