Entenda o motivo de a Anvisa manter a
proibição do cigarro eletrônico
A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu, ontem, por unanimidade, manter a
proibição dos cigarros eletrônicos — os "vapes" ou "pods" —
no Brasil. A determinação foi tirada na 6ª Reunião Pública da Diretoria
Colegiada, quando foram analisados argumentos favoráveis e contrários à
restrição.
Cerca de 80
manifestações em vídeo foram apresentadas de profissionais e entidades de
saúde, representantes da indústria do tabaco e autoridades internacionais. Os
principais argumentos favoráveis à proibição do cigarro eletrônico foram de que
tais dispositivos podem aumentar o número de dependentes da nicotina, algo que
está comprovado em experiências internacionais. Para os defensores do produto,
a liberação seria por causa de supostos benefícios para aqueles que desejam
deixar o cigarro convencional — além de contribuir para combater o mercado
ilegal dos "vapes".
A consulta pública da
Anvisa atraiu a atenção de aproximadamente 13 mil pessoas. Última etapa para a
revisão de uma normativa, a questão envolvendo os cigarros eletrônicos vem
sendo analisada desde 2019. Porém, os diretores da agência reguladora não consideram
científicos sob qualquer ponto de vista — do médico ao social — os argumentos
pela liberação do cigarro eletrônico. E mantiveram a proibição.
"Não há nem mais
razão para considerar o cigarro eletrônico uma alternativa segura ao cigarro
comum. Ao contrário: tem uma quantidade grande de nicotina e vicia muito mais
depressa", criticou o oncologista Drauzio Varella, uma das vozes ouvidas
pela manutenção da proibição.
Anselm Hennis, diretor
do Departamento de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas), assinalou que "a indústria do tabaco e
todos aqueles que trabalham para promover seus interesses não diminuíram
esforços para interferir nas políticas públicas e na tentativa de expandir a
comercialização de seus produtos".
• Mercado ilegal
Já os representantes
da indústria do tabaco chamaram a atenção para o fato de que a proibição
estimula o mercado ilegal. "É estimado que mais de 4 milhões de
brasileiros utilizam diariamente esses dispositivos. Elas consomem um produto
que não possui qualquer tipo de controle de qualidade", afirmou Fábio
Sabba, diretor de comunicação da Philip Morris Brasil.
O diretor-presidente
da Anvisa e relator da ação, Antonio Barra Torres, foi enfático ao anunciar a
manutenção da proibição. "A consulta pública realizada não trouxe
argumento científico que alterasse as decisões já ratificadas pelo colegiado.
Segue proibida a fabricação, comercialização, distribuição, transporte,
propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar", frisou.
Além de manter a
restrição, a Anvisa acrescentou 27 pontos a serem aprimorados sobre os cigarros
eletrônicos. Entre eles está uma cooperação com o Ministério da Educação para a
sensibilização de professores sobre os riscos dos "vapes". Também está
previsto intensificar as fiscalizações — principalmente nas regiões de
fronteira — para combater o mercado ilegal dos dispositivos.
Vape vicia? Tem nicotina? Pode causa
câncer? Veja perguntas e respostas sobre cigarros eletrônicos
Os vapes, como são
conhecidos os cigarros eletrônicos, vão seguir com a venda proibida no Brasil.
Foi o que decidiu a Anvisa na sexta-feira (19). A regra vai contra a pressão da
indústria, que pedia a liberação da comercialização sob o argumento de que eles
são menos nocivos é uma opção para quem quer parar de fumar. Mas, o que dizem
os especialistas?
Abaixo, nesta
reportagem, o g1 preparou uma lista de perguntas e respostas sobre os cigarros
eletrônicos para te ajudar a entender o que baseou a discussão no Brasil e o
que diz a ciência sobre o assunto.
<<<<
Cigarros eletrônicos são melhores que cigarro comum?
• O que diz a indústria
A indústria argumenta
que os cigarros eletrônicos funcionam como "redução de danos" para
quem já fuma cigarro comum. Ou seja, de que são uma forma menos prejudicial de
acesso à nicotina para pessoas viciadas. Para isso, apresentam um relatório feito
pelo King's College, do Reino Unido, que diz que vaporizadores são 95% menos
prejudiciais que o cigarro comum.
O documento chega a
essa conclusão a partir de uma revisão de artigos publicados e de pesquisas
feitas anteriormente por outros institutos com pessoas que usaram cigarro
eletrônico, mas durante um curto prazo.
• O que dizem médicos e especialistas
As instituições de
saúde e pesquisadores apontam que não há evidência científica que demonstre que
o cigarro eletrônico é efetivo como contenção de danos.
Reforçam ainda que há
menos tempo no mercado, ele já demonstrou seu potencial de risco com a evali –
uma lesão pulmonar que pode levar à morte em um curto espaço de tempo e é
causada pelas substâncias presentes nos vapes.
Essa classificação de
risco é uma falácia que não tem qualquer evidência científica. Pudemos ver isso
com a crise nos Estados Unidos com pessoas morrendo por doenças associadas aos
vapes. Precisamos lembrar que é um dado que vem de uma indústria que, quando
apresentou o cigarro tradicional, jurou que a nicotina não viciava. Como
podemos confiar? — André Szklo, epidemiologista especialista em controle do
tabaco do Instituto Nacional do Câncer.
O médico e coordenador
da Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB, Ricardo Meireles, explica que não
existe redução de danos para o tratamento do tabagismo, que mata cerca de 400
pessoas por dia no Brasil. A única forma é cessar o uso de qualquer fumo. “Não
existe redução de danos no tabagismo. Estamos vivendo agora o que vivemos um
século atrás, quando o cigarro começou a circular. No começo, as pessoas não
sabiam que o cigarro fazia mal e foram muitas mortes até que soubéssemos a
verdade. Hoje, o cigarro eletrônico está no mercado há poucos anos e já tem uma
doença para chamar de sua, que é a evali. Não podemos deixar a história se
repetir”, explica.
Reproduzir vídeo
<<<< Os
cigarros eletrônicos viciam?
• O que diz a indústria
Os cigarros
eletrônicos têm nicotina e ela é a responsável pelo vício do tabagismo. No site
da Philip Moris, por exemplo, há uma série de perguntas e respostas sobre o
produto, ao clicar na questão “vaporizar vicia?” você é levado a um texto que,
na verdade, traz a resposta para “a nicotina é ruim para você?”. No texto, a
empresa diz: “A nicotina é viciante e não é isenta de riscos. No entanto, são
os elevados níveis de substâncias químicas nocivas libertadas quando o tabaco é
queimado – e não a nicotina – que são a principal causa das doenças
relacionadas com o tabagismo”.
Ou seja, não há uma
resposta clara do setor sobre o risco de vício.
• O que dizem os médicos, entidades e
especialistas
A nicotina é uma
substância altamente viciante e, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde,
não há quantidade segura para o consumo. Segundo os especialistas, é por causa
da nicotina que as pessoas viciam no cigarro.
Os vapes têm sal de
nicotina, o que faz com que o composto seja entregue em concentrações até vinte
vezes maiores no corpo.
Ou seja, fumar a carga
de um cigarro eletrônico no formato de pen drive, pode equivaler a fumar 20 cigarros
convencionais.
Um dos pontos
levantados na análise técnica da Anvisa é de que a forma como são apresentados,
com aromas e sabores, enganam a percepção de quem fuma sobre o vape ter
nicotina e seu potencial de vício.
O cigarro eletrônico
tem a nicotina em forma de sal, isso entrega mais nicotina e, por isso, tem um
potencial muito mais viciante que o cigarro normal. Os relatos são de pessoas
que começam com algumas baforadas e perdem o controle sobre o uso. Ou seja, a
indústria diz que é mais seguro, mas na verdade está colocando a pessoa em uma
armadilha para que ela se torne dependente química. — André Szklo,
epidemiologista especialista em controle do tabaco do Instituto Nacional do
Câncer.
Margareth Dalcomo,
presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisologia (SBPT), diz que a
forma como é feita a divulgação e o próprio produto interfere na percepção de
quem usa de que aquilo é um cigarro e tem nicotina. “Esses dispositivos têm uma
concentração de nicotina muito alta. Com sabores e aromas, eles estão chegando
nos adolescentes que são muito mais impactados por esse alto teor de nicotina.
Os vapes estão criando uma legião de viciados muito precoces”.
<<<< O
vape pode causar câncer?
• O que diz a indústria
O fumo no cigarro
eletrônico não funciona pela queima e sim pela vaporização. Com isso, a
indústria alega que não há monóxido de carbono e, portanto, menos risco já que
seria essa a substância causadora das doenças relacionadas ao tabagismo.
• O que dizem os médicos e especialistas
Há milhares de tipos
de cigarros eletrônicos no mercado e cada um com uma composição, o que
dificulta saber o que, especificamente, há nos vapes. Não há estudos que
relacionem o vape com o câncer, apesar disso, os médicos apontam que há mais de
duas mil substâncias nos cigarros eletrônicos e várias delas tóxicas e
cancerígenas como: glicerol, propilenoglicol, formaldeído, o acetaldeído, a
acroleína e a acetona.
Fonte: Correio
Braziliense/g1
Nenhum comentário:
Postar um comentário