De Bukele a Tarcísio: o terror como trunfo
eleitoral
Em fevereiro deste
ano, Nayib Bukele foi reeleito presidente de El Salvador com 82,66% dos votos.
No Brasil, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, teria, em Santos,
uma aprovação de 72,0%. O que une esses atores, apesar das situações diferentes
e distantes, é o tema da segurança. Em El Salvador, a Bukele é atribuído o
feito de ter pacificado o país, visto que reduziu uma dais maiores taxa de
homicídio do mundo para o patamar de 2,4 mortes por 100 mil habitantes. Por
outro lado, em São Paulo, a Tarcísio é conferido o mérito de estar endurecendo
o combate ao crime organizado na Baixada Santista. Em El Salvador e São Paulo,
a pauta da segurança não se resume à criminalidade. É uma trama
político-eleitoral.
Em El Salvador, Bukele
implantou um estado policial para levar à frente a estratégia de enfrentamento
às facções. Para tanto, seu governo, com o estabelecimento de um regime de
exceção, tem derrogado direitos individuais e realizado aprisionamento em massa
de prováveis envolvidos em facções. Como símbolo da política repressiva de
Bukele, destaca-se a megaprisão Centro de Confinamiento del Terrorismo (Cecot),
com capacidade para 40.000 detentos. Com essas medidas, o governo de Bukele tem
sido visto como modelo de enfrentamento à criminalidade. Nota-se que, numa
entrevista concedida ao jornal El País, em 28 de setembro de 2023, o diretor da
Polícia Nacional, Mauricio Arriaza Chicas, afirmava com altivez: “somos o país
mais seguro das Américas, uma referência internacional”.
Já no estado de São
Paulo, no Brasil, muito antes da era Tarcísio, resultados positivos nos
indicadores de criminalidade estavam sendo verificados, sobremodo com reduções
nas taxas de homicídio e de letalidade policial. Mesmo assim, sob a gestão de
Tarcísio o tema segurança reassumiu posto proeminente e sob a lógica
repressiva. Prova dessa linha foi a nomeação de Guilherme Derrite para o
comando da Secretaria de Segurança Pública, justamente um ex-integrante da
polícia militar paulista conhecido por ter “matado muito ladrão”. Assim, num
contexto de tiro, porrada e bomba, executou-se a Operação Verão na região da
Baixada Santista, a qual acumulou as mortes de três policiais e as de 56
pessoas da comunidade em situações de supostos confrontos. Questionado sobre a
letalidade policial na referida operação, o secretário Derrite disse: “Olha, eu
nem sabia que eram 56, eu não faço essa conta”. Reação parecida com a de seu
chefe, Tarcísio, que disse noutra ocasião não estar “nem aí” para as denúncias
de abusos ocorridas na Operação Verão.
As narrativas e
táticas de Bukele e de Tarcísio na seara da segurança fazem parte do mesmo
espectro, em termos de fundamentação ideológica e de estratégias de ação,
apesar das diferenças entre eles e das dinâmicas da criminalidade dos
territórios que estão governando. Em regra, eles erigem o problema de
criminalidade à categoria de guerra e advogam poderes especiais às corporações
para atacá-lo. Nessa batalha, direitos de pessoas intituladas criminosas podem
ser relativizados, afinal são tratados como inimigos. Com essas medidas, Bukele
lá e Tarcísio aqui, vão conduzindo a segurança sob a política do medo a fim de
justificar suas ações autoritárias. Assim, a segurança deixa a arena das
políticas públicas e se torna basicamente ação policial.
Portanto, discursos e
ações de endurecimento à criminalidade de Bukele e de Tarcísio tendem a
repercutir na dimensão eleitoral. Em El Salvador, hoje Bukele e seu partido são
dominantes, com absoluta vantagem frente aos adversários da esquerda. Agora, em
São Paulo, Tarcísio vem tendo popularidade pontual e seu interesse é aprovar
aliados nas eleições municipais no estado de São Paulo, o que pode ser um teste
para investidas dele em âmbito nacional. Com efeito, por meio dos aparatos das
forças de ordem e segurança, Bukele, e, em algum grau, Tarcísio, vão firmando a
marca linha dura em suas gestões a fim de anunciá-la nos mercados eleitorais.
Em geral, estratégias
populistas de enfrentamento à criminalidade têm sido manejadas com fins
eleitorais. Ora, diferentemente de outras áreas governamentais, como educação,
saúde e economia, cujos resultados podem demorar ou são incertos, no tema da
criminalidade, operações policialescas podem ser divulgadas como efetivas
intervenções estatais. Com efeito, os dividendos políticos de ações na
segurança tendem a ser distribuídos mais diretamente aos seus promotores do que
os de outras áreas. Esse receituário não é novidade, mas vem realinhando atores
do campo da direita extremista. É justamente nesse front político que Bukele e
Tarcísio buscam se posicionar.
Carla Zambelli é acusada pela PGR por
invasões ao sistema eletrônico do Judiciário
A deputada federal
Carla Zambelli (PL-SP) foi acusada, no dia de hoje, 23 de abril, pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) de ser a “autora intelectual” do hacker
Walter Delgatti e ter desempenhado “papel central” na invasão dos sistemas
eletrônicos do Judiciário brasileiro. De acordo com a PGR, Zambelli
“arregimentou” Delgatti com promessas de benefícios em troca dos serviços.
Tanto Zambelli quanto
Delgatti foram denunciados por 10 crimes, sendo 7 relativos à invasão de
dispositivo informático e 3 à falsidade ideológica. A PGR acrescenta na
acusação a confissão de Delgatti sobre o crime.
“Walter Delgatti
afirmou ter executado as invasões, por ordem de Carla Zambelli, explanando o
modo pelo qual teve acesso ao sistema”, disse Paulo Gonet, procurador-geral da
República. Ele também confirmou que o hacker Delgatti “asseverou ter tido
acesso aos ‘códigos fonte do CNJ e que estava explorando a plataforma, a fim de
encontrar vulnerabilidade que lhe desse acesso direto à INTRANET’”. Delgatti
também confirmou que acessou a internet do CNJ e emitiu um mandado de prisão em
nome do ministro Alexandre de Moraes e uma solicitação de quebra bancária de
Moraes.
A ação de Delgatti
tinha o intuito de gerar um ambiente de desmoralização no sistema Judiciário
brasileiro que servisse aos objetivos específicos da extrema-direita
bolsonarista. A ideia de Zambelli era, por meio da desmoralização pela invasão
cibernética, criar um caldo político para a capitalização movida por Jair
Bolsonaro na agitação golpista.
As primeiras invasões
ocorreram ainda em novembro de 2022. Já em janeiro de 2023, Delgatti inseriu
documentos falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como um
mandado de prisão contra Alexandre de Moraes, assinado pelo próprio ministro. Segundo
Delgatti, o mandado foi redigido por Zambelli, mas a parlamentar nega.
A PGR esmiuçou ainda
que os pagamentos de Delgatti foram feitos de forma intermediada, tudo para
impedir acusações contra Zambelli. Um funcionário do gabinete da deputada, Jean
Hernani, era quem operava o dinheiro do pagamento. Por meio da empresa de sua
esposa, que prestava serviços para doze candidatos do PL, era feita a
transferência ao hacker.
• De bolsonaristas a generais
O desdobramento é uma
confirmação de que a extrema-direita realmente usou Delgatti para seus
propósitos no final de 2022 e início de 2023. Esse não foi o único serviço
pró-golpe prestado por Delgatti naquela época.
No mesmo ano, Delgatti
também foi acusado de ter se reunido com Jair Bolsonaro e com diferentes
militares, como o então ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira, e
com o coronel reservista Marcelo Jesus para atacar também as urnas eletrônicas.
Bolsonaro e Nogueira
foram acusados de ter recebido Delgatti pessoalmente, o primeiro no Palácio da
Alvorada e o segundo na sede da pasta da Defesa. Os encontros faziam parte do
mesmo plano de questionamento das urnas. Delgatti afirmou que se reuniu com Nogueira
para discutir uma forma de hackear o código-fonte das urnas eletrônicas para
comprovar a vulnerabilidade dos equipamentos
Já Marcelo Jesus era
responsável por fazer a ponte entre Delgatti e o Alto Comando do Exército,
segundo as informações que o hacker deu às investigações. Delgatti também já
admitiu que fez tudo o que fez pela promessa de que Bolsonaro lhe daria indulto
caso fosse reeleito.
Tudo isso são
evidências claras que uma parcela dos militares do Alto Comando das Forças
Armadas não somente conhecia os planos da extrema-direita, mas atuava junto com
ela pela ruptura institucional, enquanto uma outra parte dos generais buscava
evitar a ruptura, mantendo a tutela sobre o velho Estado, principalmente pela
falta de apoio do imperialismo norte-americano (USA) para o rompimento.
Dessa forma, não só
Delgatti e Zambelli merecem ser acusados, mas toda a súcia que tomou parte na
trama. Até agora, não está claro se a PGR vai levar as investigações sobre o
hacker para além de Delgatti, para entender e comprovar também o papel do cabecilha
da extrema-direita, Jair Bolsonaro, e dos militares do Alto Comando das Forças
Armadas, na articulação golpista.
Carla Zambelli teria tentado soltar
Sandro Louco, líder do Comando Vermelho condenado a 200 anos de prisão
Em denúncia
encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (23), o
procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, aponta que a deputada federal
Carla Zambelli (PL-SP), com a ajuda do hacker Walter Delgatti, teria tentado
soltar da cadeia Sandro Silva Rabelo, líder da facção criminosa Comando
Vermelho conhecido como "Sandro Louco" que foi condenado a 200 de
anos de prisão e que está preso na Penitenciária Central de Cuiabá. A
parlamentar nega [veja nota oficial ao final desta matéria].
Sandro Louco foi preso
há 20 anos e suas penas chegam a 200 anos de encarceramento pelos crimes de
falsificação, roubo, homicídio, latrocínio, sequestro e cárcere privado e porte
de arma de fogo.
De acordo com Paulo
Gonet, que emitiu sua denúncia baseado em investigação da Polícia Federal (PF),
Zambelli pagou Walter Delgatti para invadir o sistema do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) e falsificar decisões, entre elas emitir uma ordem de prisão contra
o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Entre outras
falsificações, Delgatti teria forjado um alvará de soltura para Sandro Louco em
5 de janeiro de 2023, através do Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP),
supostamente assinado pelo juiz Leonardo de Campos Costa e Silva Pitaluga, da
2ª Vara Criminal de Cuiabá. A falsificação do alvará foi descoberta poucos dias depois da emissão
e, por pouco, o líder do Comando Vermelho não se livra da cadeia.
"No mesmo dia
5.1.2023, o denunciado promoveu a inclusão de um alvará emitido com as
credenciais do magistrado Leonardo de Campos Costa e Silva Pitaluga, Juiz da 2-
Vara Criminal de Cuiabá/MT. Conforme Informação n. 12/2023-DAPI, formalizada no
âmbito do TJMT em 11.1.2023, o Departamento de Aprimoramento de Primeira
Instância, após alertado pela assessoria da 7ª Vara Criminal de Cuiabá/MT,
realizou busca ao sistema BNMP, em 10.1.2023, por volta das 13h, e apurou que
ali constava, em elaboração no sistema, minuta de alvará vinculado à 2ª Vara
Criminal do TJ/MT, em nome do custodiado Sandro Silva Rabelo", diz trecho
da denúncia oferecida pela PGR.
"O pronunciamento
técnico ressaltou que o documento poderia ser acessado por todo usuário comum
do BNMP, já que a peça estava inserida no "modo público".
Consequentemente, qualquer usuário do tribunal poderia conferir os dados, como
número de processo, órgão judiciário e a peça alcançada pelo alvará. O alvará
poderia ter alcançado o efeito da soltura de sentenciado a duas centenas de
anos de reclusão. WALTER DELGATTI, assim, sob o comando da denunciada CARLA
ZAMBELLI, invadiu o BNMP, no dia 5.1.2023, e, após a invasão, inseriu minuta de
alvará de soltura ideologicamente falso", prossegue o documento da
procuradoria [Confira a íntegra ao final desta matéria].
• Zambelli forjou pedido de prisão de
Moraes
O procurador-geral da
República (PGR) Paulo Gonet denunciou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP)
ao Supremo Tribunal Federal (STF) por ordenar a invasão ao sistema do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) operada por Walter Delgatti Neto.
Em janeiro do ano
passado, o hacker acessou o sistema do Conselho Nacional de Justiça sob
instruções de Carla Zambelli para incluir documentos falsificados no espaço
digital.
Zambelli tinha a
intenção de adicionar ao sistema um mandado de prisão falso contra o ministro
do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, com uma assinatura
falsificada no nome do magistrado.
A denúncia contra
Zambelli possui uma evidência muito forte contra a deputada: o mandado de
prisão estava no celular da própria parlamentar.
O mandado de prisão
foi enviado do computador de Delgatti para Zambelli, que abriu o documento.
Ambos também trocaram outro arquivo, que teria uma outra falsa ordem de quebra
sigilo bancário contra Moraes, segundo a PGR.
"Dessa dinâmica é
possível inferir que, logo após emitir o arquivo, Walter Delgatti o encaminhou
para Carla Zambelli, em cumprimento ao acordo que haviam entabulado",
escreveu o procurador-geral da República, Paulo Gonet.
"A denunciada
Carla Zambelli exerceu papel central na prática dos delitos relatados. Ela
arregimentou o executor dos delitos, Walter Delgatti, mediante promessa de
benefícios, com o objetivo de gerar ambiente de desmoralização da Justiça
Brasileira, para obter vantagem de ordem política, propondo-se, desde o
princípio, à invasão a dispositivo informático, que, afinal, determinou,
participando ativamente de produção de ordem judicial ideologicamente
falsa", declarou o procurador-geral.
Zambelli nega as
acusações e afirma que Delgatti é um "mitômano".
Ambos responderão por
dez crimes caso a denúncia seja recepcionada pela primeira turma do Supremo,
composto por Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Carmen Lúcia e
Luiz Fux.
• O que diz Carla Zambelli
Em nota oficial, a
defesa de Carla Zambelli negou as acusações contra a deputada apontadas na
denúncia oferecida pela PGR ao STF. Veja a íntegra abaixo:
"A defesa da
Deputada Carla Zambelli recebeu com surpresa o oferecimento da denúncia em seu
desfavor, já que inexiste qualquer prova efetiva que ela tivesse de alguma
forma colaborado, instigado e ou incentivado o mitômano Walter Delgati a
praticar as ações que praticou. A narrativa dele acusando a Deputada e
terceiras pessoas foi desmentida pela própria investigação, e a defesa irá
exercer sua amplitude para demonstrar que ela não praticou as infrações penais
pelas quais foi acusada"
Fonte: Ponte
Jornalismo/A Nova Democracia/Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário