Compromisso
de Elon Musk com a livre expressão é 'piada sem graça', diz jornalista
britânico banido pelo X
Kit
Klarenberg é uma jornalista investigativo que explora o papel dos serviços de
inteligência na formação da política e das percepções, e que trabalha para o
portal de notícias internacional Greyzone. Nesta entrevista exclusiva para o
Brasil 247, ele conta por que acredita que Elon Musk está censurando-o.
- Brian Mier: Você pode explicar quando foi removido do X e
como descobriu isso?
Kit Klarenberg: Fui
removido da plataforma em meados de fevereiro. Entrei no Twitter um dia e fui
informado de que minha conta estava em modo de "apenas leitura", ou
seja, não podia postar nada, nem entrar em contato com ninguém particular ou
publicamente, nem mesmo curtir tweets. Minhas mensagens diretas, nas quais eu
conversava com amigos, fontes jornalísticas e críticos, desapareceram. Recorri
da decisão várias vezes e recebi datas conflitantes sobre quando seria
permitido retornar - um mês, três meses, ou nunca. O Twitter eventualmente
parou de responder aos meus e-mails. Fico lisonjeado e grato pelo fato de que
literalmente todos os dias as pessoas estão perguntando por que fui expurgado e
exigindo minha reintegração. Vi alguém dizer que o Twitter não pode ser um
aplicativo de livre expressão enquanto eu permanecer no exílio, o que
significou muito. E é verdade.
- Brian: Deram-lhe uma razão para a sua remoção da
plataforma? Concorda com ela? Qual é a verdadeira razão pela qual acha que
foi removido?
Kit: A razão oficial foi
incitar à violência. Isso apesar de condenar consistentemente toda a violência
- em particular, o genocídio palestino. Parece que o meu verdadeiro crime foi
confrontar os sionistas que aplaudiam as forças de ocupação israelenses enquanto
elas violavam, saqueavam e assassinavam pelo território de Gaza. Fui alvo de
denúncias em massa - incluindo de usuários que abertamente me advogaram ser
"agredido diariamente" por causa das minhas opiniões políticas, e que
eles próprios não foram banidos - e isso parece ter desencadeado a remoção
automaticamente. Geralmente, porém, este tipo de remoções são temporárias e os
usuários são reintegrados se houver ruído suficiente sobre o assunto. Houve uma
enorme quantidade de ruído sobre a minha suspensão, mas nenhuma ação foi tomada
para corrigir. Isso sugere para mim que palavras podem ter sido trocadas
diretamente com Musk. Poderia ter sido meus caros amigos nos serviços de
inteligência britânicos, que me detiveram e interrogaram por cinco horas sem direito
ao silêncio enquanto eu era digitalmente revistado e cada aspecto da minha vida
pessoal e profissional era examinado minuciosamente, na última vez que voei
para Londres. Quando nós, do The Grayzone, divulgamos arquivos vazados do
Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, o Twitter criou uma etiqueta
especial para quando alguém compartilhava nossas investigações, alertando os
usuários "esses materiais podem ter sido obtidos por meio de
hacking". Um membro da 77ª Brigada, a unidade de guerra nas redes sociais
do Exército Britânico, trabalhava para o Twitter na época, o que eu expus dois
anos antes. Musk os demitiu depois que comprou a empresa. Não seria
surpreendente se ele tivesse algo a remediar como resultado, e eu fui um
cordeiro sacrificial, para provar seu compromisso com a censura da dissidência
online às autoridades.
- Brian: Qual é a sua opinião sobre o compromisso de Elon
Musk com a liberdade de expressão no Twitter?
Kit: É obviamente uma piada
e, particularmente, sem graça. Não me surpreenderia se Musk, um contratado do
Pentágono conectado ao estado profundo, estivesse encorajando as pessoas a
dizerem o que quiserem na plataforma para que isso possa ser usado contra elas
em um tribunal posteriormente. Isso é particularmente preocupante, considerando
que Musk quer que o X seja um aplicativo "tudo em um", no qual as
pessoas usem para serviços bancários, encontros, compras, anúncios de emprego e
mais. Mas claramente, as pessoas não podem dizer o que quiserem de qualquer
maneira; existem limites rigorosos e áreas proibidas não ditas. Por exemplo,
camaradas ainda nesta plataforma infernal me dizem que há um aumento maciço
cada vez maior de conteúdo pró-Israel, com a solidariedade à Palestina
sufocada. É uma ferramenta muito útil de controle da narrativa imperial para
que pessoas que dizem e pensam coisas "erradas" se tornem populares e
sejam ouvidas. Sempre que Musk posta algo bombástico sobre como está salvando a
liberdade de expressão - o que é quase diário - meus aliados perguntam
diretamente a ele por que e como ainda estou suspenso. Até agora, ele não
respondeu. Enquanto isso, ele comentou sobre a suspensão do repugnante
supremacista branco Lucas Gage, corretamente banido por advogar o assassinato
de judeus. Gage foi reintegrado após três meses. Veremos se eu serei.
Ø Think-tank estadunidense avalia que Musk e trumpistas
distorceram a realidade brasileira com "arquivos X"
O
relatório do Comitê de Assuntos Judiciários da Câmara dos Deputados dos Estados
Unidos (EUA) - que criticava as decisões do ministro do Supremo Tribunal
Federal Alexandre de Moraes e uma suposta “censura da liberdade de expressão
online no Brasil” - distorceu a realidade brasileira visando atacar as
investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado que terminou com o 8
de janeiro de 2023. Por trás dessa estratégia, estariam forças da
extrema-direita tentando convencer a opinião pública estrangeira de que o
Brasil está sob um regime de censura.
A
avaliação é da organização não governamental Washington Brazil Office (WBO)
que reúne especialistas brasileiros de diversas áreas nos Estados Unidos com
objetivo de difundir análises sobre temas relacionados a sociedade brasileira
em pauta na opinião pública internacional.
“[O
relatório] distorce aspectos da realidade brasileira e, por isso, ficou claro
que há grupos de interesse induzindo a erro e a uma leitura tendenciosa por
parte dessa importante comissão”, disse Paulo Abrão, diretor-executivo do WBO e
ex-secretário-executivo da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos),
em nota publicada pela organização nessa sexta-feira (19).
Para
Abrão, um dos objetivos é garantir a impunidade para aqueles que promoveram o
movimento que queria anular o resultado das eleições de outubro de 2022.
“Isso
foi uma manobra induzida por membros da oposição de extrema direita brasileira
para fragilizar as investigações dos crimes cometidos dentro do país. É uma
clara estratégia de impunidade deles”, completou.
A
nota da entidade destacou que, em março, parlamentes brasileiros tentaram
vender, nos Estados Unidos, a tese de que há violação à liberdade de expressão
no Brasil por se exigir que plataformas digitais bloqueiem conteúdo com
informação ilícita, mas essa versão não foi aceita pela Comissão de Direitos
Humanos do Congresso dos EUA.
No
início de março, uma comitiva de parlamentares da oposição, liderada pelo
deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foi ao Congresso dos Estados Unidos
denunciar suposto cerceamento à liberdade de expressão no Brasil.
O
coordenador do Programa de Democracia do WBO, Pedro Kelson, disse que, dessa
vez, a Comissão Judiciária foi instrumentalizada por este grupo de interesse
para vazar dados sigilosos da justiça brasileira.
“[Essa
estratégia] tem como objetivo tentar desmoralizar as investigações de
responsabilizações contra os ataques ao Estado Democrático de Direito do Brasil
com informações incompletas e superficiais sobre a realidade brasileira”,
afirmou Kelson.
- Liberdade de expressão
A liberdade
de expressão no Brasil encontra limites legais, ao contrário do que pode ser
interpretado pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que veda limitar a
liberdade de expressão. Nos EUA, por exemplo, pode-se fundar um partido
nazista, que defenda a superioridade racial. No Brasil, tanto racismo quanto a
defesa de uma ideologia nazista são crimes.
“No
Brasil, a ‘liberdade de expressão’ encontra limites na proteção de outros bens
jurídicos individuais, como a honra; ou coletivos, como a segurança e o
equilíbrio eleitoral. Além disso, o Judiciário brasileiro tem respaldo legal e
independência judicial para determinar o bloqueio a perfis e postagens nas
redes sociais”, argumentou Fábio de Sá e Silva, pesquisador associado do WBO.
Ainda
segundo o especialista, perfis ou postagens que sejam usadas para cometer
crimes, como o incentivo a golpe de Estado, pedofilia ou exploração sexual de
crianças, podem ser derrubados de acordo com a lei brasileira. “Embora seja
possível pensar em exemplos de postagens ou contas de que foram banidas e que
não se encaixam nessas hipóteses, é muito fácil pensar em postagens ou contas
que se encaixam”, conclui Sá e Silva.
- Democracia robusta
A
nota da WBO enfatiza que o Brasil é hoje uma democracia pluralista robusta e
não há nada parecido com a versão que a Comissão dos EUA propaga. O pesquisador
associado da organização sediada em Washington André Pagliarini disse que essa
versão busca subverter o governo democraticamente eleito do Brasil.
“Gritar
‘censura’, como têm feito consistentemente os apoiadores radicais do
ex-presidente Jair Bolsonaro, evoca deliberada e dissimuladamente imagens do
passado ditatorial do Brasil. Há muito que está claro para os observadores
interessados na preservação das instituições democráticas do Brasil que o
objetivo dessas pessoas tem sido o de se autoproteger e de fazer oposição
política ao atual governo de Lula da Silva”, disse Pagliarini.
O
especialista acrescentou que existem inúmeros caminhos para os indivíduos que
desejam expressar pontos de vista no Brasil. “Ninguém está sendo preso
por compartilhar sua opinião no Brasil. Ninguém está sendo torturado ou exilado
por causa de suas ideias”, ressaltou.
- Regulação das redes
O
Marco Civil da Internet (Lei 12.965 de 2014), nos seus artigos 18 e 19,
descreve possibilidades para a remoção de conteúdo da internet e possíveis
responsabilidades civis, argumentou David Nemer, também pesquisador associado
do WBO. Segundo ele, as plataformas não estão totalmente imunes à
responsabilização pelo conteúdo que permitem nas redes.
“O
artigo 19 enfatiza o princípio da liberdade de expressão, ao mesmo tempo que
reconhece a necessidade de combater o conteúdo ilegal - o artigo 19 pode
responsabilizar os provedores de internet pelo conteúdo se não seguirem as
ordens judiciais”, especificou Nemer.
Para
a ativista em democracia global Kristina Wilfore, diretora da organização
Reset.Tech, que trabalha com direitos digitais, há interesse da empresa X
(antigo Twitter), controlada pelo bilionário Elon Musk, de distorcer os fatos
sobre a liberdade de expressão no Brasil para dificultar a regulação das redes.
“O
Brasil deve continuar a lutar pela sua própria integridade territorial contra
as big tech, cujo interesse principal não reside no que é bom para
o Brasil, mas sim no que é bom para encher os seus próprios bolsos”, finalizou.
¨
Lindbergh repudia o
'ímpeto imperialista' de Musk: 'faz articulação com a extrema-direita para
sabotar o Brasil'
O
deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) publicou nesta quinta-feira (18) uma
mensagem crítica ao dono da rede social X, Elon Musk, por tentar "se
intrometer em assuntos internos" do Brasil. O bilionário ataca o Supremo
Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes, que também são alvos da
extrema-direita.
"O
bilionário afirmou que existe uma possibilidade do Brasil sofrer sanções
americanas! A justificativa é que Alexandre de Moraes é o chefe de uma
ditadura! A observação dele é absurda e só mostra o desconhecimento da
realidade brasileira e um ímpeto imperialista de Musk. Tudo isso com
articulação de 'patriotas' de extrema direita que agem para sabotar nosso país
e nossa economia! Traidores!", escreveu o parlamentar em uma de suas redes
sociais.
O
empresário tem criticado o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de
Moraes por causa de propostas que têm como objetivo a regulamentação de redes
sociais, para evitar a propagação de fake news e discursos de ódio. A Polícia
Federal está investigando os ataques de Elon Musk ao magistrado.
Relator
do inquérito das fake news, que atinge principalmente aliados de Jair Bolsonaro
(PL), Moraes também está à frente de investigações como a do plano golpista.
Críticas
ao Judiciário são uma estratégia da extrema-direita para tentar passar para a
população a mensagem de que a Justiça atrapalha o governo de alguma liderança
que faz parte deste campo político-ideológico.
Nos
últimos anos, partidos de oposição à gestão bolsonarista (2019-2023)
denunciaram publicamente a hipótese de Bolsonaro tentar um golpe. Atualmente, o
ex-mandatário está inelegível após decisão do Tribunal Superior Eleitoral no
ano passado. Em 2022, o político fez acusação sem provas e disse a
embaixadores, em Brasília (DF), que o sistema eleitoral brasileiro não tem
segurança contra fraudes.
¨
"O golpismo, a
devoção a ditaduras militares e o ódio estão no DNA do bolsonarismo"
Imaginem
se parlamentares brasileiros tivessem divulgado um “relatório” acusando juízes
da Suprema Corte estadunidense de “censura” e “ditadura”, com base em mentiras,
informações propositalmente truncadas, e sustentado em documentos sigilosos dos
EUA? Não seria isso considerado escandaloso, naquele país? Não haveria
consequências?
Mas
foi exatamente isso o que os parlamentares trumpistas fizeram contra o Brasil.
No
entanto, a extrema-direita bolsonarista aplaude essas agressões que os
parlamentares trumpistas e Elon Musk, um confesso defensor de golpes de Estado,
estão cometendo contra as instituições democráticas do Brasil.
Afinal,
a intenção dessa turma “libertária” é a de impor sanções contra o Brasil, com a
alegação disparatada de que o nosso país seria uma “ditadura”. Uma acusação
curiosa e cínica, vinda de quem, há muito pouco tempo, tentou dar um golpe no
Brasil. Até mesmo viajam, com dinheiro público, para defender essa traição no
exterior. O objetivo último, obviamente, é intentar, de novo, o golpe
fracassado. Não desistem e nunca desistirão dos golpes e da ditadura.
Não
tem jeito. O golpismo, a devoção a ditaduras militares, o elogio à tortura, o
ódio, a intenção de destruir os discordantes e o uso desavergonhado das
mentiras estão no DNA do bolsonarismo, que nunca escondeu sua aversão à
democracia e às suas instituições civis.
De
onde se espera, daí é que sai tudo mesmo. Como na famosa fábula, o escorpião
bolsonarista sempre envenenará e intentará matar a rã da democracia que o
carrega nas costas.
Fonte:
Brasil 247/Agencia Brasil
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