segunda-feira, 22 de abril de 2024

Adesão da Colômbia ao BRICS fortalece luta contra hegemonia dos EUA na América Latina, diz analista

A decisão do presidente colombiano Gustavo Petro de solicitar a entrada no BRICS deve ser entendida dentro de um contexto regional turbulento, explicou a especialista Carolina Jiménez à Sputnik.

A intenção de a Colômbia aderir ao BRICS foi um dos pedidos que Petro fez ao seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a reunião realizada em 17 de abril em Bogotá. Se finalizado, o Estado colombiano será o segundo país sul-americano do bloco, visto que a Argentina voltou atrás em sua adesão após o começo do governo de Javier Milei.

Na visão da professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Nacional da Colômbia (UNAL), Carolina Jiménez, um dos efeitos positivos da entrada de Bogotá no BRICS "é econômico".

Jiménez sinalizou que, embora o bloco ainda não seja "uma zona de comércio livre e não tena uma margem clara de isenções fiscais", poderia ser benéfico para a Colômbia ter "acesso a condições preferenciais" ao Banco do BRICS, especialmente para obras de infraestruturas.

"Trata-se de fortalecer um ator que emerge como uma das maiores economias do mundo e esta opção, em um contexto de crise hegemônica, pode ajudar a fortalecer uma perspectiva mais multipolar. Para a Colômbia, estar nesse movimento pode ser interessante em termos de como anda a disputa hegemônica no mundo", afirmou a analista em entrevista à Sputnik.

A especialista também sublinhou que, assim como conversou com Lula, Petro também dialogou com Andrés Manuel López Obrador do México e todos têm defendido a necessidade de "voltar a ter uma estratégia latino-americana que permita gerar margens de autonomia e ação no contexto geopolítico contemporâneo".

Para Jiménez, o presidente colombiano demonstrou "a amplitude da margem de relações internacionais que lhe interessa ter" e sobretudo Petro tenta "gerar uma lógica de articulação com governos progressistas da região" em um cenário que apresenta uma "direita reforçada" e vários países que atravessam processos de instabilidade.

"Acho que este compromisso com o BRICS deve ser lido no quadro deste contexto, tanto na geopolítica regional como no cenário internacional", afirmou a professora.

Ainda em sua visão, é fundamental vincular o compromisso regional do governo Petro com a sua vontade de abertura ao BRICS, seguindo sempre "um jogo geopolítico de distanciamento de uma hegemonia que tem vacilado nas últimas décadas".

A abordagem colombiana ao BRICS consolidaria uma mudança de rumo para o país em comparação aos seus últimos anos, quando emergiu como um dos principais parceiros dos Estados Unidos na região.

No entanto, a analista descartou que Washington possa responder com algum tipo de sanção a Bogotá por começar a olhar mais para o BRICS e especialmente para a China.

"A China tem negócios importantes com a Colômbia no domínio das infraestruturas, da mineração e de certos desenvolvimentos agro-industriais e sinto que esta é uma possibilidade para continuar a fortalecer essas relações com Pequim", observou.

Nesse sentido, Jiménez sustentou que Petro "tem procurado ser muito cuidadoso e ter equilíbrio, mantendo um bom relacionamento com os EUA".

"O importante é que a agenda externa da Colômbia se diversificou um pouco. Embora tenha bons laços com os Estados Unidos, também tem bons laços com a China e os países da região", complementou a professora.

¨      Paraguai considera BRICS união totalmente econômica, mas exclui ingressar no bloco

O ministro das Finanças paraguaio destacou as características econômicas do BRICS, afirmando que elas "são a única coisa que deve ser levada em conta".

O Paraguai considera o BRICS uma associação totalmente econômica, disse o ministro das Finanças do país à Sputnik.

"Acreditamos que o BRICS é um clube totalmente econômico e que as considerações econômicas são a única coisa que deve ser levada em conta", disse Carlos Fernández Valdovinos à margem de uma conferência do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

Ao mesmo tempo, ele disse que o Paraguai não vê a possibilidade de ingressar no BRICS devido à falta de relações diplomáticas com a China, apontou ele.

"Não achamos que seja possível para o Paraguai entrar no grupo. O Paraguai tem relações diplomáticas com Taiwan, então não vejo a China abrindo as portas para o BRICS, pois não temos relações diplomáticas com eles", disse ele à margem da conferência do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, apesar de reconhecer que a China é um dos principais parceiros comerciais do Paraguai.

Para Valdovinos, o Paraguai deve integrar grupos econômicos regionais.

A Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia e o Irã aderiram ao BRICS em 1º de janeiro de 2024, se juntando à África do Sul, o Brasil, a China, a Índia e a Rússia.

Ø  Sanções do Ocidente geram perdas ao Paraguai no comércio com a Rússia, lamenta ministro

As sanções ocidentais estão levando a perdas do Paraguai no comércio com a Rússia, mas o país espera restaurar rapidamente a receita, disse nesta quinta-feira (18) o ministro das Finanças paraguaio, Carlos Fernández Valdovinos, em entrevista à Sputnik, durante a conferência de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

"Mesmo que a carne bovina paraguaia possa estar indo para a Rússia neste momento, a Rússia provavelmente está pagando um preço muito mais alto do que deveria pagar pela carne paraguaia, e o Paraguai está recebendo muito menos dinheiro do que deveria receber em circunstâncias normais. Mas acreditamos que no final tudo ficará resolvido", enfatizou.

Valdovinos destacou que a Rússia é atualmente um dos principais mercados das exportações de carne bovina paraguaia e que, embora as sanções ocidentais não tenham surtido o efeito desejado, complicaram o comércio entre os países.

Outros países também têm sentido o peso das sanções contra a Rússia na queda de rendimentos comerciais. O maior centro de comércio de diamantes do mundo, na cidade belga de Antuérpia, enfrenta atrasos burocráticos e perdas devido às restrições a diamantes de origem russa.

O êxodo corporativo da Rússia desde o começo da operação especial na Ucrânia custou às empresas estrangeiras mais de US$ 107 bilhões (R$ 534 bilhões) em baixas contáveis e perda de receitas, segundo matéria da Reuters divulgada em março.

Moscou exige descontos de pelo menos 50% nas vendas de ativos estrangeiros e tem reforçado continuamente os requisitos de saída, aceitando frequentemente taxas nominais de apenas 1 rublo (R$ 0,056).

As nações ocidentais congelaram cerca de US$ 300 bilhões (R$ 1,4 trilhão) das reservas de ouro e divisas do Banco da Rússia após a operação. A Alemanha nacionalizou a Gazprom Germania, passando a chamá-la de Sefe, e colocou a refinaria Schwedt sob tutela alemã.

Segundo dados da Castellum.AI, a Rússia é o país mais punido por sanções, à frente do Irã, Síria, Coreia do Norte, Belarus e Venezuela, já que desde fevereiro de 2022 foram alançadas mais de 16,5 mil novas medidas restritivas contra Moscou, além das 2.695 que já estavam em vigor.

 

Ø  'Nada na geopolítica é de graça ou sem efeito', diz analista argentino sobre parceria Argentina-OTAN

 

Na quinta-feira (18), o ministro da Defesa argentino, Luis Petri, anunciou a entrega de uma carta de intenções à OTAN para Buenos Aires e tornar seu parceiro global. O anúncio ocorreu apenas 48 horas após o país adquirir 24 caças F-16 norte-americanos.

Se a carta de intenção for aceita, a Argentina se tornará o segundo parceiro regional da aliança depois da Colômbia. Após as recentes adições da Suécia e da Finlândia à OTAN, o bloco contém agora 32 países-membros, tornando-se a maior aliança militar do mundo.

Para o sociólogo, analista internacional e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina, Sebastián Schulz, os movimentos do governo Milei "terão consequências profundas. Nada é de graça na geopolítica".

"A medida [carta à OTAN] promoveu rupturas com a neutralidade histórica que o país teve, quando o mais coerente provavelmente teria sido ficar fora de disputas e promover o diálogo. A Argentina se envolveria em um contexto de conflito global como o entre Irã e Israel. Passaria a fazer parte do grupo de países que promovem a guerra e não a paz", afirmou o analista em entrevista à Sputnik.

As dúvidas manifestas por Schulz também são partilhadas pelo especialista internacional Juan Venturino.

Segundo Venturino, o anúncio do ministro da Defesa "é precipitado, pois não está muito claro o que a Argentina ganha ou de que ameaça externa o país estaria se protegendo. Uma posição tão drástica contra a tradição nacional no nível diplomático é surpreendente".

"Uma aliança traria consigo um guarda-chuva defensivo, mas também obrigações, como a transferência de recursos materiais e humanos para a aliança. O discurso é muito bombástico, mas, visto em detalhes, representa um forte condicionamento da política externa do país", observou o especialista em entrevista à Sputnik.

O anúncio argentino da OTAN surge imediatamente após o ministro da Economia, Luis Caputo, ter se reunido novamente com o vice-diretor do FMI para fechar um novo programa de financiamento.

Nesse sentido, Schulz afirmou que "o governo Milei procura sustentar o apoio dos principais bancos globais, e por isso, envia um aceno que vem depois do acordo com a Casa Branca para o estabelecimento de uma base militar".

Embora o aceno à Casa Branca represente uma aproximação ao FMI em um contexto marcado pela necessidade de moeda estrangeira, a decisão em si traz consigo um outro lado específico: distanciar Buenos Aires de potências econômicas de crescente relevância, como China, Índia ou a Rússia.

Pequim é o segundo parceiro comercial da Argentina, superando apenas o Brasil. Ambos fazem parte do BRICS, bloco do qual Milei optou por renunciar assim que chegou ao poder. Schulz colocou em palavras a armadilha que o governo enfrenta.

"Os principais parceiros da Argentina estão reunidos no BRICS, mas são justamente aqueles contra quem Milei decidiu se opor e desqualificar seus presidentes. de mais um momento para promover investimentos benéficos para a Argentina [...]. O governo optou por esfriar a relação com a China e até maltratar diplomaticamente o país com piscadelas para Taiwan, por exemplo. Definitivamente, isso, somado ao desejo de aderir à OTAN, vai prejudicar os investimentos chineses", afirmou Schulz.

Questionado sobre o assunto, Venturino considerou que o custo da definição terá efeitos na economia real.

"Se houver consequências comerciais, como um distanciamento desses parceiros, isso terá naturalmente um impacto direto […] A maior questão é por que razão se aproximar dos Estados Unidos em detrimento do afastamento da China em um contexto crescente de multilateralismo”, complementou o pesquisador.

Desde o começo da administração de Javier Milei, incluindo o período de campanha, o presidente tem demonstrado sua inclinação às políticas e ações norte-americanas.

O auge do alinhamento entre os dois países no quesito defesa aconteceu no último dia 5, quando o presidente viajou até Ushuaia, no extremo sul do país, para se encontrar com a general Laura Jane Richardson, do Comando Sul dos EUA, onde juntos anunciaram a abertura de uma "base naval conjunta" na Patagônia, conforme noticiado.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

 

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