Câmara dos
EUA aprova confisco de ativos russos para serem usados pela Ucrânia
A
Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou neste sábado (20) o
projeto de lei que permite confiscar os ativos russos congelados pelo Ocidente
para serem usados pela Ucrânia. Os parlamentares também foram favoráveis ao
novo pacote de financiamento de US$ 60,8 bilhões (R$ 316 bilhões) a Kiev.
A
proposta que autoriza o uso dos ativos russos teve 360 votos favoráveis e
outros 58 contrários e o texto segue para votação no Senado, que tem maioria
democrata. Já o texto para o envio de recursos ao regime de Vladimir Zelensky
recebeu 311 votos favoráveis e 112 contrários e também inclui o fornecimento de
Sistemas de Mísseis Táticos do Exército de longo alcance (Atacms, na sigla em
inglês) à Ucrânia.
Um
dos projetos de lei ainda traz a proibição "do descongelamento de ativos
soberanos russos", além de autorizar o envio dos recursos para serem
usados na Ucrânia durante a operação militar especial russa e para a
reconstrução do país.
Após
o início da operação especial em 2022, a União Europeia e os países do G7
congelaram quase metade das reservas cambiais russas, no valor de cerca de 300
bilhões de euros (R$ 1,6 trilhão). Pelo menos 200 bilhões de euros (R$ 1,1
trilhão) estão na UE, principalmente em contas da Euroclear, uma das maiores
empresas de compensação e liquidação do mundo.
O
bloco também discute formas de usar os ativos russos congelados para financiar
a reconstrução da Ucrânia. Porém, o Banco Central Europeu alertou que isso
poderia representar riscos à reputação da moeda europeia a longo prazo, e
incentivou a "olhar além desse conflito específico" e buscar outras
maneiras de financiar Kiev.
Já
a Rússia declarou que a adoção de tais decisões "será mais um passo na
violação de todas as regras e normas do direito internacional". O
Ministério das Relações Exteriores classificou o congelamento de ativos russos
na Europa como roubo, além de destacar que a UE está focada não apenas em
fundos de particulares, mas também em ativos estatais russos.
O
ministro das Finanças, Anton Siluanov, lembrou que, desde 2022, países
ocidentais impuseram várias sanções contra a Rússia, seus cidadãos e
organizações. Além da discussão na UE e em outros países ocidentais sobre a
criação de condições legais para o confisco de ativos russos congelados, também
foi introduzida uma gestão externa sobre subsidiárias de empresas russas e são
ilegalmente restringidos os direitos de propriedade de pessoas jurídicas e
físicas russas.
Além
disso, o governo russo declarou que vai responder ao possível confisco de
ativos congelados no Ocidente, conforme destacou o ministro das Relações
Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.
Segundo
ele, a Rússia "também tem a possibilidade de não devolver os fundos que os
países ocidentais mantinham na Rússia e que foram congelados em resposta à
apreensão das reservas estatais russas. Não pode haver dúvidas de que agiremos
de forma recíproca".
·
Outros projetos aprovados pelo Congresso
dos EUA
Além
da proposta para confiscar os ativos russos, a Câmara dos Representantes dos
EUA também aprovou outros projetos de lei que obriga o TikTok a se desvincular
da controladora chinesa ByteDance sob pena de ser proibido nos EUA, onde tem
cerca de 170 milhões de usuários.
Os
parlamentares também deram aval ao texto que autoriza o envio de US$ 8,12
bilhões (R$ 42,2 bilhões) aos aliados na região Indo-Pacífico, como Taiwan. De
acordo com o resultado da votação, 385 parlamentares votaram a favor do
projeto. Outros 34 foram contra.
Por
fim, foi aprovado o envio de cerca de US$ 27 bilhões (R$ 140,4 bilhões) para
Israel em meio à escalada das tensões no Oriente Médio e o receio de confronto
direto do país com o Irã, uma das maiores potências militares da região.
Ø EUA aprovam ajuda bilionária: o que esperar na guerra contra
Rússia em 2024
A
Câmara dos Estados Unidos aprovou
neste sábado (20/4) um pacote de ajuda de US$ 60,8 bilhões (R$ 318 bilhões)
para a Ucrânia na guerra contra
a Rússia. A proposta passou com 311 votos a favor e
112 contra. Agora segue para o Senado — onde sua aprovação é aguardada.
Outros
cerca de US$ 35 bilhões irão para Israel e Taiwan.
O
resultado foi confirmado em um momento em que a Rússia vem ganhando bastante
terreno no conflito.
A
aprovação do pacote é solicitada pelo presidente Joe Biden há seis meses.
Deputados ligados ao ex-presidente Donald Trump impuseram anteriormente
dificuldades para sua concretização.
Com
a ajuda, munições poderão chegar ao front ucraniano em até uma semana, segundo
jornais americanos.
O
presidente Volodymyr Zelensky postou no X, o antigo Twitter, que a
proposta de ajuda norte-americana aprovada hoje pela Câmara vai "evitar
que a guerra se expanda, salvar milhares e milhares de vidas e ajudar ambas as
nações a se tornarem mais fortes. Paz e segurança só podem ser conseguidas
através da força".
O
porta-voz do Kremlin disse que o pacote vai "arruinar a Ucrânia mais
adiante".
As
perspectivas para o front ucraniano são bastante pessimistas nesse momento.
O
ex-chefe do Comando das Forças Conjuntas do Reino Unido, general Richard
Barrons, alertou em entrevista à BBC — antes da aprovação do pacote de ajuda
americano — que existem "sérios riscos" de que a Ucrânia perca a guerra contra a Rússia em 2024.
Para
ele, "a Ucrânia pode vir a sentir que não pode vencer. E, quando chega
este ponto, por que as pessoas irão querer lutar e continuar morrendo, apenas
para defender o indefensável?"
A
Ucrânia ainda não chegou a este ponto. Mas suas forças têm muito pouca munição,
tropas e defesas aéreas. E sua tão proclamada contraofensiva no
ano passado não conseguiu deslocar os russos dos terrenos ocupados, enquanto
Moscou agora se prepara para uma ofensiva de verão.
Como
será essa ofensiva russa e quais serão os prováveis objetivos estratégicos do
país?
"A
estratégia da ofensiva russa que está por vir é muito clara", segundo o
general Barrons. "Estamos vendo a Rússia combater na linha de frente,
empregando sua vantagem de 5 para 1 em artilharia, munição e pessoal, reforçada
pelo uso de armas mais novas."
Estas
armas incluem a bomba planadora FAB, uma antiga bomba não teleguiada da era
soviética que foi adaptada com estabilizadores, sistema GPS e 1,5 tonelada de
fortes explosivos. A nova bomba está causando estragos entre as defesas
ucranianas.
"Em
algum momento deste verão [do hemisfério norte], esperamos ver uma forte
ofensiva russa, com a intenção de fazer mais do que pequenos avanços e talvez
tentar atravessar as linhas ucranianas", afirma Barrons.
"E,
se isso acontecer, correremos o risco de ver as forças russas avançarem e
invadirem regiões da Ucrânia onde as forças armadas ucranianas não poderão
detê-las."
Mas
onde?
No
ano passado, os russos sabiam exatamente onde a Ucrânia iria provavelmente
atacar — de Zaporizhzhia para o sul, em direção ao mar de Azov. A Rússia se
planejou e obstruiu com sucesso os avanços ucranianos.
Agora,
a situação se inverteu. A Rússia reúne suas tropas e deixa Kiev tentando
adivinhar onde irá atacar em seguida.
"Um
dos desafios dos ucranianos é que os russos podem escolher onde concentrar suas
forças", explica o pesquisador de guerras terrestres Jack Watling, do
think tank (centro de pesquisa e debates) britânico Royal United Services
Institute (Rusi).
"É
uma linha de combate muito longa e os ucranianos precisam defendê-la
totalmente", segundo ele. O que, é claro, eles não conseguem.
"O
exército ucraniano irá perder terreno", afirma Watling. "A questão é:
quantos e quais centros populacionais serão afetados?"
É
bem possível que o Estado Maior russo ainda não tenha decidido qual direção irá
receber seus principais esforços. Mas é possível classificar suas várias
opções, de forma geral, em três grandes locais.
·
Kharkiv
"Kharkiv
certamente é vulnerável", afirma Watling.
Segunda
maior cidade da Ucrânia e localizada em região perigosa, próxima da fronteira
russa, Kharkiv é um alvo
tentador para Moscou.
A
cidade está sendo bombardeada diariamente por mísseis russos e a Ucrânia não
consegue reunir defesas aéreas suficientes para combater a mistura letal de
drones, mísseis balísticos e de cruzeiro lançados em sua direção.
"Acho
que a ofensiva este ano terá como primeiro objetivo atacar a partir da região
de Donbas", segundo Barrons, "e seu objetivo será Kharkiv, que fica a
cerca de 29 km da fronteira russa — uma conquista importante."
Mas
será que a Ucrânia ainda conseguirá funcionar de forma viável com a queda de
Kharkiv? Os analistas afirmam que sim, mas seria um golpe catastrófico para o
moral e para a economia do país.
·
Donbas
A
região do leste da Ucrânia conhecida
coletivamente como Donbas está em guerra desde 2014, quando separatistas
apoiados por Moscou se declararam "repúblicas populares".
Em
2022, a Rússia anexou ilegalmente os dois oblasts (províncias) de Donbas –
Donetsk e Luhansk. É ali que vem ocorrendo a maior parte dos combates em terra
nos últimos 18 meses.
Em
decisão controversa, a Ucrânia concentrou enormes esforços, tanto em pessoal
quanto em recursos, para tentar manter primeiro Bakhmut, depois Avdiivka. Ela
perdeu as duas cidades na tentativa, junto com algumas das suas melhores tropas
de combate.
Kiev
defende que sua resistência causou quantidades desproporcionalmente altas de
mortes entre os russos, o que é verdade. O campo de batalha nesses locais
recebeu o apelido de "moedor de carne".
Mas
Moscou tem muito mais tropas disponíveis para entrar em combate, ao contrário
da Ucrânia.
O
comandante das Forças americanas na Europa, general Christopher Cavoli, alertou
que, se os Estados Unidos não enviarem quantidades significativas de novas
armas e munição para a Ucrânia, suas forças no campo de batalha ficarão com
menos poder de fogo, em razão de 10 para 1.
O
poderio importa. As táticas, a liderança e o equipamento do exército russo
podem ser inferiores à Ucrânia, mas sua superioridade em números, especialmente
na artilharia, é muito grande. Se nada for feito este ano, a Rússia terá a
opção de continuar fazendo as forças ucranianas se retirarem em direção ao
oeste, ocupando uma cidade após a outra.
·
Zaporizhzhia
Outro
objetivo tentador para Moscou.
A
cidade de mais de 700 mil habitantes (em tempos de paz) localizada no sul da
Ucrânia fica perigosamente perto das linhas de combate russas.
Ela
é também uma espécie de espinho na garganta da Rússia, por ser a capital de um
oblast do mesmo nome que foi anexado ilegalmente pelos russos. E, ainda assim,
a cidade permanece livremente nas mãos da Ucrânia.
Mas
as formidáveis defesas construídas pela Rússia ao sul de Zaporizhzhia no ano
passado, esperando corretamente um ataque ucraniano, agora complicariam o
avanço russo naquela direção.
A
chamada Linha Surovikin consiste de três camadas de defesa, aliadas ao maior e
mais denso campo minado do mundo. A Rússia poderia desmontar parcialmente essas
linhas, mas suas preparações provavelmente seriam detectadas.
O
objetivo estratégico da Rússia este ano pode nem mesmo ser territorial. Poderia
ser simplesmente destruir o espírito de combate da Ucrânia e convencer seus
apoiadores ocidentais de que esta guerra é uma causa perdida.
Jack
Watling acredita que o objetivo russo é "tentar gerar uma sensação de
desesperança".
"Esta
ofensiva [russa] não será decisiva para colocar fim ao conflito,
independentemente dos resultados para qualquer dos lados", explica ele.
Barrons
também duvida que, apesar da situação terrível enfrentada pela Ucrânia, a
Rússia aproveite automaticamente sua vantagem para um avanço decisivo.
"Acho
que o resultado mais provável é que a Rússia consiga alguns ganhos, mas sem
chegar a romper as defesas. Ela não tem forças suficientemente grandes ou
capazes de atravessar todo o caminho até o rio [Dnipro]... mas a guerra terá
virado em favor da Rússia."
Um
ponto é certo: o presidente russo, Vladimir Putin, não tem intenção de desistir
no seu ataque à Ucrânia. Ele é como um jogador de pôquer apostando todas as
suas fichas na vitória.
Putin
aposta que o Ocidente irá deixar de fornecer à Ucrânia os meios necessários
para sua defesa.
E,
apesar de todas as cúpulas da Otan, todas as conferências e todos os discursos
inflamados, existe a possibilidade de que ele esteja certo. É verificar agora
como o pacote de ajuda americano de US$ 61 bilhões poderá mudar esse cenário.
Fonte:
Sputnik Brasil/BBC News Mundo
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